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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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exército pós-<strong>colonial</strong> e que se irá tornar numa espécie de monstro saí<strong>do</strong> das águas<br />

(Nkashama, 1991: 37): «baïonnette émoussée à la main», ele «porte des guenilles comme<br />

dans une armée moderne», «vareuses en loques»…. A silhueta dirá: «C’est cela la gloire de<br />

l’empire. La vaillante armée faite pour tuer, faite pour la terreur» (Nkashama, 1991: 34).<br />

É neste contexto que a Rádio intervém pela quinta vez para continuar o seu retrato<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. Além de se inscrever parcialmente na continuidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>colonial</strong> no que tem a ver com a repressão, também é determina<strong>do</strong> por fatores externos,<br />

entre os quais as políticas decididas pelas Instituições Financeiras Internacionais. Assim, a<br />

Rádio anuncia com entusiasmo as consequências das decisões impostas pelo FMI. Aqui, o<br />

retrato corrobora as descrições de uma Aminata Traoré (Capítulo III), por exemplo:<br />

Les effectifs de la fonction publique seront ‘assainis’. Cela concerne des milliers de<br />

familles qui encombraient inutilement les résidences de l’État. Toutes les personnes<br />

qui fainéantaient dans les couloirs de l’administration vont être lessivées.<br />

(Nkashama, 1991: 38-39)<br />

Todas estas medidas, bem como a desvalorização da moeda nacional, que<br />

provocará o aumento <strong>do</strong>s bens de primeira necessidade, são tomadas em nome da eficácia<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Ao povo é pedida compreensão, o que fará se tiver o «sens de la chose<br />

publique» (Nkashama, 1991: 39). No Esta<strong>do</strong> em questão, o que se adivinha é a apropriação<br />

<strong>do</strong>s recursos por uma minoria: as medidas ditadas pelo FMI não se aplicam à família<br />

presidencial alargada (Nkashama, 1991: 39) e as escolas «<strong>do</strong>tées d’appareillages sophistiqués<br />

seront réservées exclusivement aux familles de ceux qui ont l’honneur et l’avantage de<br />

servir le premier citoyen de la république» (Nkashama, 1991: 44). O que a representação<br />

teatral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> desvenda corresponde, em parte, ao que vimos a propósito<br />

<strong>do</strong> conceito de Esta<strong>do</strong> falha<strong>do</strong>: longe de ter fracassa<strong>do</strong>, o Esta<strong>do</strong> em questão funciona, só<br />

que, dividi<strong>do</strong> por linhas ou fronteiras mais ou menos claras, fá-lo de maneira parcial.<br />

O império das sombras vivas conjuga a representação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com o retrato <strong>do</strong><br />

potenta<strong>do</strong>, um potenta<strong>do</strong> que se encontra desmultiplica<strong>do</strong> noutras obras <strong>do</strong> meu corpus:<br />

distingue-se pela necessidade inextinguível de possuir e de consumir, que também é<br />

necessidade de exibição das suas posses (Nkashama, 1991: 43). Esta sede de ostentação<br />

leva-o a empreender uma série de obras com o propósito de magnificarem o próprio<br />

potenta<strong>do</strong>. Prédios, piscinas e aeroportos, sen<strong>do</strong> símbolos da sua potência, ou, para ser<br />

mais preciso, signos que deveriam atestar a sua potência, designam também, pela sua<br />

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