24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

leur réaccentuation socio-idéologique. Grâce aux virtualités des intentions qu’elles<br />

portent en elles, elles peuvent à chaque époque, sur un fond nouveau de dialogues,<br />

révéler des aspects sémantiques toujours plus nouveaux. Leur corps sémantique<br />

continue, à la lettre, à grandir, à se recréer. (Bakhtine, 1978: 231-232) 8<br />

Mais uma vez, não se trata aqui de nos deslumbrarmos, ou de nos iludirmos com os<br />

encantos da interpretação na “fronteira”, pois assim perder-se-ia algo desta tensão entre<br />

leitura local e global. No entanto, um romance ou uma peça de teatro, por causa das suas<br />

características intrínsecas e <strong>do</strong>s seus códigos, consegue quase de imediato ganhar<br />

significa<strong>do</strong> para o leitor longínquo apesar de eventuais problemas que possam advir <strong>do</strong><br />

vocabulário ou de algumas estruturas sintáticas. Se, por um la<strong>do</strong>, o hermeneuta precisa de<br />

entender o que pode significar, por exemplo, o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> relativamente ao<br />

contexto de referência, por outro la<strong>do</strong>, talvez não precise exclusivamente de instrumentos<br />

analíticos locais. É uma pergunta que colocou Maria Benedita Basto num ensaio publica<strong>do</strong><br />

em 2006 nos Cahiers d’Études Africaines: será necessária uma poética intrinsecamente<br />

africana? Através da leitura atenta de vários teóricos africanos, entre os quais Abiola Irele,<br />

que defendem a necessidade de uma teoria literária africana que supostamente daria melhor<br />

conta de uma especificidade literária africana, Basto constata que o modelo esboça<strong>do</strong> se<br />

torna rapidamente prescritivo, pois selecionam-se os textos que respondem à definição<br />

prévia da identidade africana para excluir em nome <strong>do</strong>s mesmos critérios os que não seriam<br />

genuinamente africanos (Basto, 2006: 180). 9<br />

Este tipo de postura que, consciente ou inconscientemente, remete para uma<br />

postura ideológica, leva alguns críticos a cometerem erros de paralaxe. Como veremos na<br />

análise aos textos de Sony Labou Tansi, por exemplo, é recorrente a interpretação das<br />

especificidades <strong>do</strong> teatro <strong>do</strong> autor como sen<strong>do</strong> uma rutura relativamente a uma norma<br />

8 Não será por acaso que um autor contemporâneo da receção de Bakhtine em França insistiu igualmente<br />

neste aspeto dinâmico <strong>do</strong> texto literário, sempre a ganhar significa<strong>do</strong>s em função <strong>do</strong> contexto de receção<br />

afasta<strong>do</strong> no tempo e no espaço. Roland Barthes, já que é dele que se trata, apontou também para a<br />

plurivocidade inerente ao texto literário: «Chaque époque peut croire, en effet, qu’elle détient le sens<br />

canonique de l’œuvre, mais il suffit d’élargir un peu l’histoire pour transformer ce sens singulier en sens<br />

pluriel, et l’œuvre fermée en œuvre ouverte. La définition de l’œuvre même change: elle n’est plus un fait<br />

historique, elle devient un fait anthropologique, puisqu’aucune histoire ne l’épuise.» (Barthes, 1966: 50).<br />

9 Os critérios utiliza<strong>do</strong>s (a geografia, a raça, a cultura, a tradição) por uma certa crítica, diz Basto, remetem em<br />

última instância para uma essência que permitiria avaliar o grau de africanidade e assim servir para a<br />

legitimação de alguns textos em detrimento de outros. Porém, como o defende, apoian<strong>do</strong>-se noutros teóricos<br />

africanos, o continente é feito de para<strong>do</strong>xos, de contradições, de múltiplas distâncias: «D’où l’intérêt de<br />

s’interroger sur ce qui délimite ou contre quoi se délimite l’expression «littérature africaine». Qu’est-ce qui est<br />

circonscrit à l’intérieur et laissé à l’extérieur de cette expression, non seulement dans l’espace mais aussi dans<br />

un espace-temps?» (Basto, 2006: 182).<br />

10

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!