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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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tentar organizar o lugar a partir <strong>do</strong> qual se possam ler textos que, numa tensão nunca<br />

resolvida, significam local e globalmente. Contu<strong>do</strong>, se o pensar na “fronteira” se tornou<br />

numa certa reflexão pós-<strong>colonial</strong> (e.g. Mignolo, Sousa Santos) lugar de uma revolução<br />

epistemológica, parece-me igualmente existir perante o pensamento «fronteiriço» um<br />

deslumbramento que deverá ser questiona<strong>do</strong>, pois em certas circunstâncias nem a<br />

“tradução” nem a “fronteira” servem a emancipação.<br />

A necessidade da perspetiva comparada surgiu ce<strong>do</strong> nas hipóteses de trabalho por<br />

várias razões. Em primeiro lugar, a necessidade da perspetiva comparada emergiu da leitura<br />

de historia<strong>do</strong>res e de geopolitólogos que estudavam o <strong>colonial</strong>ismo (os primeiros) e o<br />

Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> (os segun<strong>do</strong>s). A geopolitologia utiliza a perspetiva comparada como<br />

algo supostamente natural, encaran<strong>do</strong> os Esta<strong>do</strong>s de grande parte da África subsariana<br />

como produtos de um Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> deficiente. É o que acontece, por exemplo, com<br />

Mwayila Tshiyembe em Géopolitique de paix en Afrique médiane. Angola, Burundi, République<br />

Démocratique du Congo, République du Congo, Ouganda, Rwanda (2003) ou com Léonard Moïse<br />

Chiadjeu Jamfa em Comment comprendre la «crise» de l’État post<strong>colonial</strong> en Afrique? Un essai<br />

d’explication structurelle à partir des cas de l’Angola, du Congo-Brazzaville, du Congo-Kinshasa, du<br />

Liberia et du Rwanda (2005).<br />

Como se vê, nestes <strong>do</strong>is trabalhos, Angola, a República <strong>do</strong> Congo e a República<br />

Democrática <strong>do</strong> Congo aparecem como sen<strong>do</strong> suficientemente próximos para serem<br />

compara<strong>do</strong>s, apesar de terem si<strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>s por três países diferentes. Porém, a<br />

possibilidade de aproximação entre os três foi-me sugerida antes de mais por um longo<br />

estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r congolês (RDC) Elikia M’Bokolo na sua contibuição para o Livre noir<br />

du <strong>colonial</strong>isme XVI-XXI siècle: de l’extermination à la repentance (Ferro, 2006). Em «Afrique<br />

centrale: le temps des massacres», descreveu a influência desempenhada pelo Congo<br />

Leopoldino nas duas colónias vizinhas. De acor<strong>do</strong> com M’Bokolo, perante os grandes<br />

lucros <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Independente <strong>do</strong> Congo, franceses e portugueses teriam importa<strong>do</strong> os<br />

mo<strong>do</strong>s de exploração desenfreada ali aplica<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> as fontes analisadas no capítulo<br />

dedica<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, a utilização da violência como mo<strong>do</strong> de gestão e de<br />

resolução <strong>do</strong>s conflitos na colónia explicaria em parte a sua reprodução nos três Esta<strong>do</strong>s<br />

pós-coloniais (Mabeko-Tali, 2005).<br />

Nota-se ainda que a comparação entre estes três Esta<strong>do</strong>s pós-coloniais permite<br />

evitar um <strong>do</strong>s erros de paralaxe de muitos comenta<strong>do</strong>res, como notava Chabal (2002: 19ss.)<br />

relativamente ao suposto fracasso <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. Temos aqui regimes apoia<strong>do</strong>s<br />

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