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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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conceção religiosa <strong>do</strong>s Gregos antigos. Importam-se então ferramentas antropológicas e<br />

históricas para atribuir, a partir de fora, significa<strong>do</strong>s ao texto: «Le texte est alors transformé<br />

en <strong>do</strong>cument – à moins que la <strong>do</strong>cumentation qu’on en tire ne serve simplement à<br />

déterminer le sens» (Bollack, 2005: 7). O trabalho filológico é então ti<strong>do</strong> como secundário:<br />

«l’analyse du tissu est <strong>do</strong>gmatiquement écartée. L’herméneutique littéraire n’a plus de place»<br />

(Bollack, 2005: 7). Bollack não nega a necessidade de recorrer a outras disciplinas, mas<br />

sempre em articulação com, ou sem perder de vista, a abordagem filológica. Encontro aqui<br />

ilustrada a perspetiva que será a minha no decorrer desta dissertação: ler atentamente um<br />

texto com a consciência das especificidades <strong>do</strong> texto literário, sem contu<strong>do</strong> ignorar o<br />

contexto em que foi escrito.<br />

Por fim, o trágico, além das duas aceções filosóficas e estéticas expostas, é também<br />

incontornável no senso comum, não só, no seu uso adjetiva<strong>do</strong>, como sinónimo de terrível<br />

ou de patético para qualificar a essência de um acontecimento, mas também de um mo<strong>do</strong><br />

mais fundamental para tentar desvendar as origens de tal acontecimento. O que a leitura de<br />

uma certa imprensa evidencia é o recurso, mais ou menos consciente, ao trágico como<br />

efeito de “sintaxe” e a transformação <strong>do</strong> acontecimento numa espécie de tragédia, com<br />

personagens, cenários, reflexão sobre a origem da desgraça. Para além disso, este senso<br />

comum utiliza muitas vezes o trágico a propósito de um acontecimento terrível quan<strong>do</strong><br />

procura as razões <strong>do</strong> mal que assola a(s) vítima(s), o que, de maneira mais ou menos<br />

consciente, permite voltar a uma das questões que a filosofia colocou no âmbito da sua<br />

reflexão sobre o trágico: qual é a origem <strong>do</strong> mal ou <strong>do</strong> sofrimento que assola um ser<br />

humano, e, mais precisamente, a origem <strong>do</strong> mal sem razão aparente.<br />

Porém, o que torna a questão <strong>do</strong> trágico ainda mais premente são as suas presenças<br />

no Sul, pois neste outro contexto colocam-se à categoria perguntas heuristicamente<br />

estimulantes. Ultimamente não têm falta<strong>do</strong> diversas abordagens às presenças <strong>do</strong> trágico e<br />

das tragédias no mun<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. Destaco assim brevemente o volume Classics in Post-<br />

Colonial Worlds, organiza<strong>do</strong> por Hardwick e Gillespie e publica<strong>do</strong> em 2007, no qual<br />

encontramos ensaios sobre as releituras de clássicos gregos no Sul ou as possíveis ligações<br />

entre Antígona e as suas congéneres africanas. Noutro volume coletivo dirigi<strong>do</strong> por<br />

Rebecca W. Bushnell (A Companion to tragedy, 2005), Reiss interessava-se pelos usos<br />

subversivos das tragédias por escritores <strong>do</strong> Sul, nomeadamente Césaire («Using Tragedy<br />

against its Makers»). Num número recente de Research in African Literatures (2011)<br />

inteiramente dedica<strong>do</strong> a Chinua Achebe, Kwaku Larbi Korang dedica um longo ensaio ao<br />

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