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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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O capítulo III da presente dissertação será dedica<strong>do</strong> precisamente a uma<br />

abordagem <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> entendi<strong>do</strong> como fenómeno polimorfo e dinâmico,<br />

presente tanto no Sul como no Norte (pois países como a Bélgica, a França e Portugal<br />

também são Esta<strong>do</strong>s pós-coloniais). Como veremos, várias “fronteiras” percorrem este<br />

Esta<strong>do</strong> que funciona consoante a posição que ocupa um indivíduo, de um la<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> outro<br />

da fronteira. Esta divisão entre uma minoria de cidadãos e uma maioria de sujeitos, com<br />

raízes no Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> (Mamdani, 1996), parece assim desenhar os contornos de um<br />

Esta<strong>do</strong> heterogéneo (Santos, 2003).<br />

No entanto, assim apresenta<strong>do</strong>, o Esta<strong>do</strong> parece antes de mais uma espécie de<br />

motivo recorrente, que um estu<strong>do</strong> temático permitiria apreender nas suas diversas facetas.<br />

Ou seja, tratar-se-ia de uma representação suscetível de ser descrita na sua totalidade<br />

através de personagens-chaves, de fenómenos (por exemplo, a violência), de símbolos ou<br />

de metáforas (por exemplo, a <strong>do</strong> corpo monstruoso <strong>do</strong> potenta<strong>do</strong>), etc. Por útil que seja<br />

esta descrição, faltar-lhe-ia a possibilidade de ler o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> como força<br />

estruturante <strong>do</strong>s percursos de várias personagens. O ponto de partida deste trabalho reside<br />

na hipótese de poder ler o fenómeno dinâmico “Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>” como uma estrutura<br />

que atravessa os textos literários estuda<strong>do</strong>s nesta dissertação, determinan<strong>do</strong> os percursos de<br />

algumas personagens como uma espécie de trágico.<br />

O conceito de trágico será por isso objeto de estu<strong>do</strong> no quarto capítulo desta<br />

dissertação. Note-se desde já que encontro no trágico um dinamismo algo semelhante ao<br />

<strong>do</strong> conceito de Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. Longe de o considerar um conceito homogéneo,<br />

circunscrito a uma prática literária (a tragédia), a alguns momentos da história <strong>do</strong> teatro (a<br />

tragédia grega, Shakespeare, os trágicos franceses), bem como a uma zona geográfica<br />

exclusiva (Europa), uma vasta produção teórica recente vê nele um fenómeno dinâmico,<br />

em evolução constante, alvo de interpretação/reescrita fora <strong>do</strong> seu lugar matricial. Nesta<br />

perspetiva, parece-me cada vez mais difícil falar de um trágico, a não ser como hipótese<br />

heurística, enquanto conceito suscetível de descrição exaustiva. Por um la<strong>do</strong>, a partir de<br />

finais de século XVIII, tem si<strong>do</strong> maciçamente comenta<strong>do</strong> por filósofos europeus que<br />

encontram progressivamente no trágico um conceito que supostamente descreveria algo da<br />

nossa condição. Este trágico filosófico que se enraíza em leituras <strong>do</strong>s trágicos gregos ganha<br />

lentamente a sua autonomia para conseguir com um Maeterlinck (1896) ou um Chirpaz<br />

(2010) pensar o trágico da existência sem passar por uma releitura de Sófocles. Nesta cisão<br />

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