jornal 01 - Exército

O SERVIÇO MILITAR
Frequentes vezes, durante a minha curta vida militar e
não só, ouvi queixas contra o serviço militar obrigatório.
Foi com muito agrado e com alguma surpresa que,
aquando da Instrução Militar Geral ministrada durante o
Tirocínio para Oficiais na Escola Prática de Cavalaria pelos
respectivos Tirocinantes, verifiquei que tais queixas só
poderiam vir de alguém pouco esclarecido, mal formado ou
ambos. E se há quem não acredite que a grande maioria
dos que por aqui vão passando reconhece que a "tropa"
contribui, além de militarmente, para a sua formação moral,
física e ideológica como Homem e como português, aqui
transcrevo algumas frases de cadetes e instruendos
(3 0 T/95) relativas à sua
opinião quanto ao tempo
passado nas fileiras:
-“Não posso deixar de
referir a sensação de
orgulho que senti quando
saí do quartel, no final da
primeira semana, fardado
de nº2. Foi uma sensação
muito boa, que uma
pessoa só tem quando se
sente bem com o que se
está a fazer”.
-“A camaradagem dentro do pelotão e entre todo o
esquadrão é um dos pontos que considero importante, que
vai crescendo à medida que nos vamos cruzando durante o
dia, nas instruções, no refeitório e que vem ao de cima
quando alguém está em dificuldades."
-“0 início é sempre um pouco dramático, pois é um
período da vida de um jovem em que todo o nosso
quotidiano rui, imergindo no seu lugar todo um novo
sistema de vida em que a disciplina fria e cabal procura
singrar, afastando todos os laivos de alguma ociosidade
que tenhamos usufruído na vida civil.”
-“Por vezes somos sujeitos a prestações que nos
esgotam física e psicologicamente, nesses momentos o
pesar e o cansaço abatem-se sobre nós de forma
avassaladora, mas no fim da tarde a união e a
camaradagem logo tratam de nos levantar a moral e trazer
alento para os dias que se seguem.”
-“Disciplina, responsabilidade, camaradagem e lealdade,
um leque de parâmetros que filtram o carácter dos homens
que abraçam a carreira das armas.”
-“É aqui que surge o homem preparado para enfrentar a
DRAGÕES DE ENTRE DOURO E MINHO
“ AVANTE PARA A GLÓRIA ”
vida civil de cabeça erguida, com o sentido do dever
cumprido, com capacidade para se fazer respeitar e com a
dignidade e prontidão para respeitar e ajudar o seu
semelhante.”
-“Eu gostei da recruta e não receio dizer que, se fosse
preciso, repetia-a.”
-“Pude constatar que a tropa não se faz de ideias
mirabolantes que as equipas de instrução possam ter. A
tropa faz-se a partir de uma boa relação entre recrutas e
instrutores.”
-“Na recruta aprendemos a ter mais respeito pela nossa
Pátria e a sentir pela primeira vez um arrepio na espinha
sempre que a Bandeira Nacional sobe no mastro e o Hino
ecoa na nossa alma. Na maior parte das vezes quase que
choro, mas...”
-“Tive a oportunidade de
concluir que o "Universo
Militar" ao contrário da
"dimensão civil" rege-se por
uma panóplia de princípios
que consignam ao ramo
militar a dignidade e o
fervoroso louvor que este
bem merece. Assume-se
esta dignidade pelo
cumprimento de regras de
conduta inalienáveis, que
de forma alguma podem ou devem ser esquecidos ou
contornáveis.”
É lendo e relendo estas frases e com a possibilidade que
o contacto directo com outros militares me oferece dia a
dia, que vejo renovados os desafios de um futuro incerto
que nos exigirá olhar para o lado positivo das coisas,
mesmo que por vezes esse lado pareça não existir. Tal
faculdade permite que pouco a pouco, pela nossa mão,
algumas mentalidades deturpadas dêem lugar a outras,
mais realistas, mais sinceras e mais pedagógicas e
promotoras de progresso.
Se conseguirmos criar, manter e desenvolver o tipo de
mentalidade atrás referido em todos aqueles que, mesmo
obrigados, vêem cumprir o seu serviço militar, então isso
será o bastante para que gerações vindouras partilhem,
compreendam e difundam os nossos ideais com a vontade
expressa de honrar a memória dos nossos antepassados
servindo condignamente no presente e no futuro!
TEN CAV CARVALHO
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