ACERVO - Arquivo Nacional

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Ohistoriador f r a n c ê s R o q e r Chartier, um dos maiores especialistas na história da leitura, vem desenvolvendo em seus trabalhos E n t i r e v i s t a c o m Ri ox og ge er r C / L a r t i e r temas como práticas e recepção de leituras, sociabilidades intelectuais e edição de livros na França do Antigo Regime, em obras como íiistoire de /'edition française. Pratiques de lecture, Lectures et lecteurs dans Ia France de l'Ancien Regime e A ordem dos livros, entre outras. Mesta entrevista, Roger Chartier ana lisa as possibilidades e dificuldades encon tradas pelos historia dores ao tentarem reconstruir as práticas e a recepção das leituras de uma determinada sociedade. E chama atenção para o fato de que mais importante do que tentar saber o que liam os franceses no século XV11I é tentar perceber como eles liam. Acervo. Rio de Janeiro, v. 8. n 1-2. p. 3-12. jan/dez 1995 - pag.3
A C E Arquivo Nacional. O Senhor considera possível responder ã pergunta: "O que liam os franceses no século XVIII?" Roger Chartier. Hoje já me parece possível responder a essa pergunta. Os trabalhos clássicos dos historiadores franceses permitiram reconstruir a produção, a circulação e a posse dos títulos autorizados graças à utilização maciça e quantitativa dos registros de pedidos de permissão, dos catálogos dos livreiros e das listas de livros presentes nos inventários post-mortem. O que faltou durante muito tempo às conclusões dessas pesquisas foi um bom conhecimento da difusão dos títulos proibidos, que não podiam ser impressos no reino, nem figurar nos catálogos de livraria ou aparecer nos inventários de livros pertencentes por particulares. Graças à exploração sistemática dos arquivos das sociedades tipográficas instaladas ao redor do reino, e que publicavam os 'livros filosóficos' para o mercado francês, agora é possível ter- se uma justa medida da importância e da natureza dessa produção proibida. O grande trabalho de Robert Darnton, desenvolvido a partir dos arquivos excepcionais da Sociedade Tipográfica de Meuchátel, constitui a contribuição mais fundamental. Mas não devemos esquecer outras pesquisas, também feitas por historiadores americanos, como, por exemplo, as de Raymond Birn sobre os arquivos da Sociedade pag.4. jan/dez 1995 Tipográfica de Bouillon. É a partir desse conhecimento que hoje podem ser formuladas novas perguntas: não mais "o que liam os franceses?", mas "como liam os franceses?" E "qual foi o papel do impresso no afastamento dos franceses da Igreja e da monarquia?" Arquivo Nacional. lia introdução de Edição e sediçáo Robert Darnton afirma que este livro pode ser lido como uma resposta ã questão de Daniel Mornet: "o que liam os franceses no século XVIII?" O que o senhor pensa disso? Roger Chartier. Inspirado pelo programa de sociologia da literatura de Lanson, Daniel Mornet foi sem dúvida o primeiro historiador que tentou avaliar a importância da difusão das grandes obras do lluminismo a partir de sua presença (ou ausência) nos inventários de bibliotecas. É este o tema de seu célebre artigo "Os ensinamentos das bibliotecas particulares no século XVIII", publicado na Revue d'histoire littéraire de Ia France, em 1910. A partir desse trabalho pioneiro, multiplicaram-se os estudos monográficos a fim de reconstituir as bibliotecas pertencentes aos diferentes grupos sociais, nos diferentes locais e em diferentes épocas. O ponto fraco dessas mono grafias residia no fato de que as fontes por elas utilizadas (inventários notariais ou catálogos de vendas) subestimavam, ou até mesmo ignoravam, por sua própria natureza, os títulos proibidos,
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