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aliada às práticas sociais emancipatórias a fim de produzir sujeitos históricos e sociais com<br />
possibilidade de transformar a sociedade, é social-histórica.<br />
Podemos inferir, portanto que as tendências natural, racional e histórico-social<br />
aparecem claramente nas categorias centrais de análise. Passemos, então, ao processo de<br />
compreensão destas tendências a fim de delimitarmos mais claramente qual é a educação<br />
ambiental que adotamos no presente trabalho.<br />
A tendência natural decorre do pensamento clássico grego, orgânico por essência<br />
e perdura durante a maior parte da Idade Média. Para Carvalho (2008), a Antiguidade grega<br />
tinha uma palavra especial para designar o cosmos: physis. Essa palavra representa uma<br />
experiência do mundo em que a natureza é parte do cosmos e não se separa dele; ela<br />
independe da vontade humana. Os gregos entendiam o universo como lugar de uma ordem<br />
anterior às decisões humanas. A mitologia buscava explicar os fenômenos naturais.<br />
Na perspectiva de Grün (2007), na Idade Média o tempo fora considerado como<br />
algo que pertencia a Deus, de acordo com essa premissa é a natureza que determina a<br />
dinâmica de todas as coisas, inclusive a humana. Todas as inovações ditas racionais e<br />
científicas eram tidas como heresias e combatidas com veemência pela Igreja católica,<br />
estamos falando da Santa Inquisição.<br />
De acordo Tozoni-Reis (2004), no final do século XVIII o movimento intitulado<br />
Romantismo, retomou a concepção grega e medieval da natureza orgânica. Neste contexto,<br />
White 8 pode ser considerado um dos representantes das ciências naturais opositor ao<br />
mecanicismo racional e favorável ao organicismo.<br />
A tendência racional, segundo Carvalho (2008), foi um dos legados mais<br />
contundentes da modernidade e atingiu sua formulação mais acabada no século XVII com o<br />
filósofo René Descartes e representou uma ruptura com os modelos anteriores (o caso do<br />
mito da antiguidade grega e da religião no período medieval), se transformando no<br />
paradigma dominante. Para Tozoni-Reis (2004), o racionalismo cartesiano constitui a base<br />
da educação moderna.<br />
Apesar da lógica antropocêntrica do paradigma dominante ser fruto de<br />
transformações ideológicas vinculadas à dissolução do sistema feudal da Idade Média e<br />
surgimento do capitalismo moderno e, portanto, contra seu caráter teocêntrico, como afirma<br />
Leff (2001), acabou encontrando também raízes que a legitimaram e a reforçaram no velho<br />
testamento, em Gênesis 26:28, onde se lê: “Deus disse: façamos o homem a nossa imagem<br />
8 O naturalista inglês Gilberto White idealizava uma vida rural simples, modesta e humilde para estabelecer a<br />
harmonia com a natureza e considerava-a ameaçada pela corrupção utilitarista da nova sociedade industrial que<br />
surgia. Para HERCULANO (1992) apud TOZONI-REIS (2008), White é o principal precursor do pensamento<br />
ambientalista por adotar uma concepção naturalista oposta e crítica à ciência moderna; para Grün (2007) apud<br />
Tozoni-Reis (2008, p. 36), o arcaísmo de White inspira a versão atual de oposição ao pensamento científico<br />
cartesiano.<br />
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