Iracema - Repositório Institucional UFC
Iracema - Repositório Institucional UFC
Iracema - Repositório Institucional UFC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O drama trágico caminha para o seu desenlace, adensando-se o páthos de <strong>Iracema</strong>.<br />
As lágrimas rolam em pranto 403 , como na literatura mais elegíaca, lembrando a<br />
Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, entre outra obras da literatura portuguesa. O nome<br />
Moacir exprime este páthos:<br />
original:<br />
“- Tu és Moacir, o nascido de meu sofrimento” 404 .<br />
O morro Mocoripe passa a adquirir uma conotação oposta à da sua significação<br />
“- Tu és o morro da alegria; mas para <strong>Iracema</strong> não tens senão tristeza” 405 .<br />
As lágrimas de <strong>Iracema</strong> são ainda guardadas em segredo pela “areia fria onde esteve<br />
sentada”, durante a visita de seu irmão Caubi 406 , mas o seu fluxo incessante impede a<br />
amamentação do filho 407 . Moacir é “agora duas vezes filho da sua dor, nascido dela e<br />
também nutrido” 408 . Consumida pela tristeza, a vítima do abandono, chamada “infeliz” na<br />
boa linguagem romântica 409 , tem o “gemido e o suspiro” crestados “em sua boca<br />
formosa” 410 . Resta-lhe entregar o filho nos braços paternos, para depois desfalecer. Antes,<br />
porém, a jandaia anunciará com a sua voz triste, suscitando a dúvida e o receio justificado<br />
na mente do esposo regressado: “a voz da jandaia é de tristeza. Achará o guerreiro ausente<br />
a paz no seio da esposa solitária; ou terá a saudade matado em suas entranhas o fruto do<br />
amor?” 411 .<br />
403 “Uma vez o cristão ouviu dentro em sua alma o soluço de <strong>Iracema</strong>: seus olhos buscaram em torno e não a<br />
viram.<br />
A filha de Araquém estava além, entre as verdes moitas de ubaia, sentada na relva. O pranto desfiava de<br />
seu belo semblante; e as gotas que rolavam a uma e uma caíam sobre o regaço, onde já palpitava e crescia o<br />
filho do amor. Assim caem as folhas da árvore viçosa antes que amadureça o fruto.<br />
- O que espreme as lágrimas do coração de <strong>Iracema</strong>?<br />
- Chora o cajueiro quando fico tronco seco e triste. <strong>Iracema</strong> perdeu sua felicidade, depois que te<br />
separaste dela” (Cap. XXVIII, p. 75).<br />
404 Cap. XXX, p. 79.<br />
405 Ib., p. 80<br />
406 “a areia fria onde esteve sentada, guardou o segredo do pranto que embebera” (Cap. XXXI, p. 83).<br />
407 “O sangue da infeliz diluía-se todo em lágrimas incessantes que não lhe estancavam nos olhos; pouco<br />
chegava aos seios, onde se forma o primeiro licor da vida” (Ib.).<br />
408 Ib..<br />
409 Cf. p. 83.<br />
410 “A filha de Araquém sentiu afinal que suas veias se estancavam; e contudo o lábio amargo de tristeza<br />
recusava o alimento que devia restaurar-lhe as forças. O gemido e o suspiro tinham crestado em sua boca<br />
formosa” (Ib.).<br />
411 Cap. XXXII, p. 85.<br />
98