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Iracema - Repositório Institucional UFC

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Mas, saturado de felicidade 392 , os olhos do guerreiro voltam a atormentar-se de<br />

saudade: “Viram umas asas brancas, que adejavam pelos campos azuis. Conheceu o cristão<br />

que era uma grande igara de muitas velas, como construíam seus irmãos; e a saudade da<br />

pátria apertou-lhe no seio” 393 . De modo análogo, o emudecimento e os suspiros da futura<br />

mãe, ao tecer “a franja da rede materna, mais larga e espessa que a rede do himeneu” 394 ,<br />

prenunciam um presságio fúnebre: “a sabiá que faz seu ninho, não sabe se dormirá nele” 395 .<br />

Também a filha dos tabajaras, sentindo-se “garça viúva” ao ser abandonada pelo<br />

esposo, sente saudades da pátria 396 . O nome Mecejana, dado ao local, evoca este<br />

abandono 397 . Então, repara na jandaia para quem “tinha sido ingrata”, “esquecendo-a no<br />

tempo da felicidade” e “vinha para a consolar agora no tempo da desventura” 398 .<br />

O regresso do guerreiro cristão reanima a felicidade de ambos os esposos 399 , mas<br />

“breves sóis bastaram para murchar aquelas flores de uma alma exilada da pátria” 400 .<br />

Destilando “do seio da dor lágrimas doces de alívio e consolo”, o coração do guerreiro<br />

branco subia o monte “e lá ficava cismando em seu destino” 401 . A tristeza de <strong>Iracema</strong><br />

acentua-se, em pressentimento trágico, percebendo “que esses olhos tão amados se turbam<br />

com a vista dela”:<br />

“Ai da esposa!... Sentiu já o golpe no coração e como a copaída ferida no âmago,<br />

destila as lágrimas em fio” 402 .<br />

392 “A caça e as excursões pelas montanhas em companhia do amigo, as carícias da terna esposa que o<br />

esperavam na volta, e o doce carbeto no copiar da cabana, já não acordavam nele as emoções de outrora”<br />

(Cap. XXV, p. 69).<br />

393 Ib.<br />

394 Ib..<br />

395 Ib.<br />

396 “A lembrança da pátria, apagada pelo amor, ressurgiu em seu pensamento. Viu os formosos campos do<br />

Ipu, as encostas da serra onde nascera, a cabana de Araquém, e teve saudades, mas naquele instante, ainda não<br />

se arrependeu de os ter abandonado” (Cap. XXVI, p. 72).<br />

397 “Os mesmos guerreiros que a tinham visto alegre nas águas da Porangaba, agora encontrando-a triste e só,<br />

como a garça viúva, na margem do rio, chamavam àquele sítio da Mecejana, que significa a abandonada”<br />

(Ib.).<br />

398 “A linda ave não deixou mais sua senhora; ou porque depois da longa ausência não se fartasse de a ver, ou<br />

porque adivinhasse que ela tinha necessidade de quem a acompanhasse em sua triste solidão” (Cap. XXVII, p.<br />

74).<br />

399 “Como a seca várzea, com a vinda do Inverno reverdece e se matiza de flores, a formosa filha do sertão<br />

com a volta do esposo reanimou-se; e sua beleza esmaltou-se de meigos e ternos sorrisos.<br />

Outra vez sua graça encheu os olhos do cristão, e a alegria voltou a habitar em sua alma” (Ib.).<br />

400 Ib.<br />

401 Ib.<br />

402 Ib., p. 75<br />

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