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Iracema - Repositório Institucional UFC

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O bosque de Tupã, desvendado pela sua virgem, acentua, com a sua sombra, com os<br />

“suspiros da brisa” e com a solidão da noite, a alma triste do exilado 374 . Na “mata sombria”,<br />

com a “suave endecha” do sabiá do sertão em fundo, o suspiro da virgem, apontando a<br />

tarde como “a tristeza do sol”, o romântico mancebo deixa cair uma lágrima pela “face<br />

guerreira” 375 . A alma da filha de Araquém soluça, “negra de tristura” 376 .<br />

Mesmo momentos antes da “festa do amor”, “quando as sombras da tarde<br />

entristeciam o dia”, <strong>Iracema</strong> vai “sentar-se longe, na raiz de uma árvore, como a cerva<br />

solitária, que o ingrato companheiro afugentou do aprisco” 377 . A reação de Martim, antes de<br />

murmurar o nome da amada, “ficou mudo e triste, semelhante ao tronco d’árvore a que o<br />

vento arrancou o lindo cipó que o entrelaçava. A brisa perpassando levou um murmúrio:<br />

- <strong>Iracema</strong>!” 378 .<br />

A esposa, porém, não esconde a tristeza que, já na terra dos pitiguaras, lhe mora na<br />

alma 379 . Depois de a justificar com a ausência do companheiro 380 , a filha dos tabajaras<br />

evoca, lacrimosa, o “canto da morte dos cativos”, seus irmãos 381 .<br />

A paisagem do rio das garças, em Uruburetama, ao expirar do dia, conjuga-se com a<br />

“nuvem negra” dos urubus, anunciando “que pastaram nas praias a carniça” 382 . No dia<br />

seguinte, as “ondas murmurosas” dos “verdes mares e alvas praias” “soluçam às vezes e<br />

374 “Antes de penetrar o recôndito sítio, a virgem que conduzia o guerreiro pela mão, hesitou, inclinando o<br />

ouvido sutil aos suspiros da brisa. Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma voz para a selvagem filha<br />

do sertão. Nada havia porém de suspeito no intenso respiro da floresta.<br />

<strong>Iracema</strong> fez ao estrangeiro um gesto de espera e silêncio; logo depois desapareceu no sombrio do bosque.<br />

O sol ainda pairava suspenso no viso da serrania; e já noite profunda enchia aquela solidão” (Ib., p.24).<br />

375 “Desceram a colina e entraram na mata sombria. O sabiá do sertão, mavioso cantor da tarde, escondido nas<br />

moitas espessas da ubaia, soltava os prelúdios da suave endecha.<br />

A virgem suspirou:<br />

- A tarde é a tristeza do sol. Os dias de <strong>Iracema</strong> vão ser longas tardes sem manhã, até que venha para ela<br />

a grande noite.<br />

O mancebo se voltara. Seu lábio emudeceu, mas os olhos falaram. Uma lágrima correu pela face<br />

guerreira, como as umidades que durante os ardores do estio transudam da escarpa dos rochedos” (Cap. IX, p.<br />

31).<br />

376 “O seio da filha de Araquém arfou, como o esto da vaga que se franja de espuma e soluça. Mas sua alma,<br />

negra de tristura, teve ainda um pálido reflexo para iluminar a seca flor das faces. Assim em noite escura vem<br />

um fogo-fátuo luzir nas brancas areias do tabuleiro” (Ib.).<br />

377 Cap. XVII, p. 51.<br />

378 Ib.<br />

379 Cf. Cap. XX, p. 56.<br />

380 “- A alegria para a esposa só vem de ti; quando teus olhos a deixam, as lágrimas enchem os seus.” (Ib.).<br />

381 “- Esta é a taba dos pitiguaras, inimigos de seu povo. A vista de <strong>Iracema</strong> já conheceu o crânio de seus<br />

irmãos espetados na caiçara; seu ouvido já escutou o canto de morte dos cativos tabajaras; a mão já tocou as<br />

armas tintas do sangue de seus pais” (Ib.).<br />

382 Ib., p. 57.<br />

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