Iracema - Repositório Institucional UFC
Iracema - Repositório Institucional UFC
Iracema - Repositório Institucional UFC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
2.13 A estética romântica<br />
<strong>Iracema</strong> combina sabiamente a técnica narrativa da épica clássica com a estética<br />
tendencialmente romântica. Este equilíbrio na gestão dos recursos literários faz do<br />
romance-poema de Alencar uma verdadeira obra-prima cujo valor transcende uma época e<br />
um espaço linguístico para se inscrever na esfera da universalidade.<br />
A estética romântica é investida no tom e na atmosfera psicológica da descrição das<br />
personagens e dos ambientes, bem como na linguagem.<br />
Martim é uma personagem profundamente tocada pela saudade. Antes da morte de<br />
<strong>Iracema</strong>, o exílio e as saudades da pátria afetam profundamente o seu envolvimento afetivo<br />
com a esposa. Daqui a insegurança e o ciúme que esta várias vezes manifestou. Ao<br />
regressar, o nome da esposa desperta nele uma tristeza irreparável: “O moço guerreiro,<br />
encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar<br />
empanado por ténue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes criaturas,<br />
companheiras de seu infortúnio” 370 . O adjetivo agro, atribuído ao seu sorriso, confirma a<br />
sua tristeza.<br />
Invocando, em nostálgica apóstrofe, o “airoso barco” que o traz de volta à terra do<br />
exílio, o narrador sublinha a tônica espiritual da história que vai narrar: “Enquanto vogas<br />
assim à descrição do vento, airoso barco, volva às brancas areias a saudade, que te<br />
acompanha, mas não se parte da terra onde revoa” 371 .<br />
Ao contemplar pela primeira vez o estrangeiro, <strong>Iracema</strong> observa “nos [seus] olhos o<br />
azul triste das águas profundas” 372 . Martim justifica com a saudade da pátria a tristeza do<br />
seu rosto:<br />
“- Não, filha de Araquém: tua presença alegra, como a luz da manhã. Foi a<br />
lembrança da pátria que trouxe a saudade ao coração pressago” 373 .<br />
370 Cap. I, p. 12.<br />
371 Ib., p. 14.<br />
372 Cap. II, p. 15.<br />
373 Cap. VI, p. 23.<br />
94