Iracema - Repositório Institucional UFC
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“- Vieste?<br />
- Vim: respondeu o desconhecido.<br />
- Bem-vindo sejas” 348 .<br />
Ao hóspede é confiado o domínio sobre a cabana, enquanto é posto sob a proteção<br />
dos guerreiros e é servido por mulheres 349 . A ele cabe-lhe agradecer a hospitalidade e, se<br />
assim o entender, apresentar-se e dizer o motivo da sua visita. O hóspede, porém, é o<br />
enviado de Tupã, a quem o Pajé deve servir 350 .<br />
A morte de Batuireté, avô de Poti, permite ao narrador apresentar o ritual fúnebre<br />
dos pitiguaras. É entoado o canto da morte, enquanto o corpo do morto é ungido com<br />
andiroba e se suspende o vaso fúnebre ao teto da cabana 351 . À porta é plantada urtiga, “para<br />
defender contra os animais a oca abandonada” 352 .<br />
A pintura corporal é um rito de iniciação cultural reservado aos novos guerreiros<br />
vermelhos 353 . Mais uma vez, a analogia com o reino animal estabelece a inspiração da<br />
prática desta “arte da pintura guerreira” 354 . A arte foi evoluindo do ponto de vista cromático<br />
e figurativo 355 . Martim foi submetido a tal rito iniciático 356 . O emblema da nação pitiguara<br />
foi traçado no seu corpo, a tinta vermelha e preta, com as ramas da pluma; na fronte, uma<br />
flecha, com o respectivo simbolismo anímico; no braço, um gavião, índice de garra bélica;<br />
no pé esquerdo, a raiz do coqueiro, base de sustentação do corpo do guerreiro, em contraste<br />
com a velocidade da asa do majoí, figurada no pé direito; a abelha, na folha da árvore, cujo<br />
344 Cap. XVI, p. 48.<br />
345 Cap. III, p. 17.<br />
346 Ib.<br />
347 “Depois a virgem entrou com a igaçaba, que na fonte próxima enchera de água fresca para lavar o rosto e<br />
as mãos do estrangeiro” (Ib.).<br />
348 Ib.<br />
349 “O estrangeiro é senhor na cabana de Araquém. Os tabajaras têm mil guerreiros para defendê-lo, e<br />
mulheres sem conta para servi-lo. Dize, e todos te obedecerão” (Ib.).<br />
“- As mais belas mulheres da grande taba contigo ficam” (Cap. IV, p. 19 ).<br />
350 “- Foi a Tupã que o Pajé serviu: ele te trouxe, ele te levará” (Ib.).<br />
351 Cf. Cap. XXII, p. 63.<br />
352 Ibid.<br />
353 “Foi costume da raça, filha de Tupã, que o guerreiro trouxesse no corpo as cores de sua nação.” (Cap.<br />
XXIV, p. 67).<br />
354 “Traçavam em princípio negras riscas sobre o corpo, à semelhança do pêlo do quati de onde procedeu o<br />
nome dessa arte da pintura guerreira” (Ib.).<br />
355 “Depois variaram as cores, e muitos guerreiros costumaram escrever os seus emblemas de seus feitos”<br />
(Ib.).<br />
356 “O estrangeiro, tendo adotado a pátria da esposa e do amigo, devia passar por aquela cerimônia, para<br />
tornar-se um guerreiro vermelho, filho de Tupã. Nessa intenção fora Poti se prover dos objetos necessários”<br />
(Ib.).<br />
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