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Iracema - Repositório Institucional UFC

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dos encantos do romance, sempre extraídos da lição da Natureza. A mímesis homérica e<br />

virgiliana confere, por sua vez, ao romance-poema um tom épico difícil de superar.<br />

Variadíssimos exemplos se poderiam aduzir desta profusão de símiles e imagens.<br />

Citemos, apenas, o do colibri 331 , do imbu 332 , a queda das folhas da árvore viçosa 333 , o mel de<br />

cana 334 , a jati e a irara 335 , a seca raiz da murta e o jacarandá 336 , a água fresca que brota da<br />

areia ardente 337 , o canto da sabiá e o coaxar da rã 338 , entre outros.<br />

331 “O colibri sacia-se de mel e perfume; depois adormece em seu branco ninho de cotão, até que volta no<br />

outro ano a lua das flores. Como o colibri, a alma do guerreiro também satura-se de felicidade, e carece de<br />

sono e repouso” (Cap. XXV, p. 68).<br />

332 “O imbu, filho da serra, se nasce na várzea porque o vento ou as aves trouxeram a semente, vinga, achando<br />

boa terra e fresca sombra; talvez um dia cope a verde folhagem e enflore. Mas basta um sopro do mar, para<br />

tudo murchar. As folhas lastram o chão; as flores, leva-as a brisa.<br />

Como o imbu na várzea, era o coração do guerreiro branco na terra selvagem. A amizade e o amor o<br />

acompanharam e fortaleceram durante algum tempo, mas agora longe de sua casa e de seus irmãos, sentia-se<br />

no ermo. O amigo e a esposa não bastavam mais sua existência, cheia de grandes desejos e nobres ambições”<br />

(Cap. XXVII, p. 74).<br />

333 “O pranto desfiava de seu belo semblante; e as gotas que rolavam a uma e uma caíam sobre o regaço, onde<br />

já palpitava e crescia o filho do amor. Assim caem as folhas da árvore viçosa antes que amadureça o fruto”<br />

(Cap. XXVIII, p. 75).<br />

334 “- Teu lábio secou para a esposa; assim a cana, quando ardem os grandes sóis, perde o mel, e as folhas<br />

murchas não podem mais cantar quando passa a brisa. Agora só falas ao vento da praia para que ele leve tua<br />

voz à cabana de teus pais” (Ib., p. 76).<br />

335 “- A jati fabrica o mel no tronco cheiroso do sassafrás; toda a lua das flores voa de ramo em ramo,<br />

colhendo o suco para encher os favos; mas ela não prova sua doçura, porque a irara devora em uma noite toda<br />

a colméia. Tua mãe também, filho de minha angústia, não beberá em teus lábios o mel do teu sorriso” (Cap.<br />

XXX, p. 80).<br />

336 “- Não vêem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai subindo às nuvens? A seus pés ainda está a seca<br />

raiz da murta frondosa, que todos os Invernos se cobria de rama e bagos vermelhos, para abraçar o tronco<br />

irmão. Se ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto. <strong>Iracema</strong> é a folha escura que faz<br />

sombra em tua alma; deve cair, para que a alegria alumie teu seio” (Cap. XXVIII, pp. 76-77).<br />

337 “Do seio das brancas areias escaldadas pelo ardente sol, manava uma água fresca e pura; assim destila a<br />

alma do seio da dor lágrimas doces de alívio e consolo” (Cap. XXVII, p. 74).<br />

338 “- Quando a sabiá canta, é o tempo do amor; quando emudece, fabrica o ninho para sua prole: é o tempo do<br />

trabalho.<br />

- Meu irmão fala como a rã quando anuncia a chuva; mas a sabiá que faz seu ninho não sabe se dormirá<br />

nele” (Cap. XXV, p. 69).<br />

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