20.06.2013 Views

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

como preconizava o interdito da jurema, é a grande vítima deste amor.<br />

A partir desta revelação, os presságios e pressentimentos de <strong>Iracema</strong> vão repetindo e<br />

concretizando a ameaça deste desenlace trágico.<br />

Em conversa com Caubi, seu irmão, quando a vem visitar à sua nova cabana, numa<br />

das ausências de seu esposo, <strong>Iracema</strong> pressagia a sua própria morte.<br />

-“Meu irmão fala como a rã quando anuncia a chuva; mas a sabiá que faz seu ninho,<br />

não sabe se dormirá nele” 325 .<br />

Novo sinal deste anúncio trágico é deixado por <strong>Iracema</strong>, ao descodificar a<br />

mensagem deixada pelo esposo, quando “Seus olhos viram a seta do esposo fincada no<br />

chão, o goiamum trespassado, o ramo partido, e encheram-se de pranto.<br />

-Ele manda que <strong>Iracema</strong> ande para trás, como o goiamum, e guarde sua lembrança,<br />

como o maracujá guarda sua flor todo o tempo até morrer” 326 .<br />

Mais tarde, com o regresso do marido, volta a anunciar a sua própria morte, como<br />

o abati, depois de dar fruto 327 , ou a “seca raiz da murta frondosa” que se anula para o<br />

jacarandá poder crescer 328 .<br />

Quando nasce Moacir, de novo <strong>Iracema</strong> prediz o seu destino trágico, recorrendo ao<br />

símile da abelha: “A jati fabrica o mel no tronco cheiroso do sassafrás; toda a lua das flores<br />

voa de ramo em ramo, colhendo o suco para encher os favos; mas ela não prova sua doçura,<br />

porque a irara devora em uma noite toda a colméia. Tua mãe também, filho de minha<br />

angústia, não beberá em teus lábios o mel de teu sorriso” 329 .<br />

Outra herança homérica e virgiliana é a cascata de símiles, ou comparações longas,<br />

desenvolvidas. Alencar, na Carta de Agosto de 1865 ao Dr. Jaguaribe, dá-se conta, em<br />

autocrítica, de “algum excesso de comparações, repetição de certas imagens, desalinho no<br />

estilo dos últimos capítulos” 330 . No entanto, esta cascata de símiles e imagens constitui um<br />

325 Cap. XXV, p. 69.<br />

326 Cap. XXVI, p. 72.<br />

327 “- Quando teu filho deixar o seio de <strong>Iracema</strong>, ela morrerá, como o abati depois de que deu seu fruto. Então<br />

o guerreiro branco não terá mais quem o prenda na terra estrangeira” (Cap. XXVIII, p. 76).<br />

328 “- Não vêem teus olhos lá o formoso jacarandá, que vai subindo às nuvens? A seus pés está a seca raiz da<br />

murta frondosa, que todos os Invernos se cobria de rama e bagos vermelhos, para abraçar o tronco irmão. Se<br />

ela não morresse, o jacarandá não teria sol para crescer tão alto. <strong>Iracema</strong> é a folha escura que faz sombra em<br />

tua alma; deve cair, para que a alegria alumie teu seio” (Ib., pp. 76-77)<br />

329 Cap. XXX, p. 80.<br />

330 In op. cit., p. 88.<br />

88

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!