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Iracema - Repositório Institucional UFC

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grande chefe dos guerreiros brancos, Martim e Camarão partiram para as margens do<br />

Mearim a castigar o feroz tupinambá e expulsar o branco tapuia” 318 .<br />

Assim sendo, o capítulo I é uma espécie de prólogo que introduz “Uma história que<br />

me contaram nas lindas várzeas onde nasci, à calada da noite, quando a lua passeava no céu<br />

argenteando os campos, e a brisa rugitava nos palmares” 319 . A literatura tradicional, de<br />

expressão oral, constitui, pois, a fonte da narrativa em presença. Tem o condão de veicular<br />

o mito fundacional da origem do Ceará numa época sensível à descoberta de uma<br />

identidade coletiva, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo ocidental: o século XIX<br />

institui-se como uma escola e um movimento estético de refundação e remitologização, na<br />

base da recolha dos materiais literários e artísticos oriundos do patrimônio da tradição<br />

cultural de cada povo.<br />

O capítulo II e os restantes constituem uma espécie de analepse ou narrativa do<br />

passado, de acordo com a herança homérica. Começa por apresentar o lugar onde nasceu<br />

<strong>Iracema</strong>, descrevendo em traços rápidos, mas incisivos, a formosura física e moral da<br />

personagem, e o seu primeiro encontro com Martim, o herói branco por quem se apaixona.<br />

É ela quem o acolhe, no capítulo III, na cabana de Araquém, seu pai, o Pajé da sua tribo,<br />

com todas as dádivas devidas à lei sagrada da hospitalidade.<br />

O capítulo VI narra o primeiro contato físico entre os futuros esposos, que motiva a<br />

reação rival de Irapuã, o chefe dos guerreiros. É esta rivalidade que permite a permanência<br />

não prevista do guerreiro branco na cabana do Pajé, ele que ali se encontrava por se haver<br />

perdido na floresta, da companhia de Poti, o guerreiro amigo, da tribo dos pitiguaras.<br />

O capítulo XV, quase a meio do romance, narra a primeira noite de amor entre os<br />

dois amantes, de origens e culturas antípodas, atraídos, por isso mesmo, na teia envolvente<br />

da mútua complementaridade. Tal união representa, porém, a violação da consagração da<br />

virgem a Tupã, desencadeando o terrível interdito do segredo da jurema. Contrariamente ao<br />

oráculo, todavia, será <strong>Iracema</strong> quem morrerá e não o guerreiro que a possuiu.<br />

A história conjugal entre <strong>Iracema</strong> e Martim desenvolve-se de forma singular, isto é,<br />

não a partir da intimidade do casal, mas da conciliação entre o amor e a amizade, numa<br />

tríade que albergava o amigo Poti. É esta tríade que originará a dispersão de Martim, com<br />

várias fugas guerreiras e venatórias para longe do lar, até à mais grave. Não se trata,<br />

318 Cap. XXXIII, p. 87.<br />

319 Cap. I, p. 12.<br />

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