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Iracema - Repositório Institucional UFC

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Após o combate em que os tabajaras são vencidos, Martim afasta-se com pudor respeitoso<br />

“para não envergonhar a tristeza de <strong>Iracema</strong>” 286 .<br />

Errante, de missão em missão 287 , o guerreiro branco, chamado Coatiabo, ou<br />

pintado 288 , leva “a esposa do lado do coração e o amigo do lado da força” 289 . A lua-de-mel<br />

visita o casal depois de montar a sua própria cabana junto às praias do mar 290 , quer com a<br />

consolidação da união amorosa 291 , quer com a notícia da gestação de um rebento<br />

promissor 292 . Pela boca de Poti, o conceito de felicidade patriarcal 293 ajusta-se à situação do<br />

guerreiro 294 .<br />

Esta tríade, no entanto, não vai subsistir muito tempo 295 . Apesar do canto da<br />

amizade 296 e da fidelidade conjugal 297 , apesar da proclamação da viabilidade da tríade 298 , a<br />

saturação do amor 299 , por um lado, e a influência de Poti, por outro 300 , levam Martim a<br />

286 Cap. XVIII, p. 54.<br />

287 “-Nada faltou a teu hóspede. Ele era feliz aqui; mas a voz do coração o chama a outros sítios” (Cap. XX, p.<br />

56).<br />

288 “- Coatiabo! Exclamou <strong>Iracema</strong>.<br />

- Tu disseste; eu sou o guerreiro pintado; o guerreiro da esposa e do amigo” (Cap. XXIV, p. 68).<br />

289 Cap. XIX, p. 55.<br />

290 “A filha dos sertões era feliz, como a andorinha, que abandona o ninho de seus pais, e peregrina para<br />

fabricar novo ninho no país onde começa a estação das flores” (Cap. XXIII, p. 64).<br />

291 “Todas as noites a esposa perfumava seu corpo e a alva rede, para que o amor do guerreiro se deleitasse<br />

nela”(Cap. XXIII, p. 63).<br />

292 “Travou da mão do esposo,e a impôs no regaço:<br />

- Teu sangue já vive no seio de <strong>Iracema</strong>. Ela será a mãe de teu filho” (Ib., p. 65).<br />

293 “A felicidade do mancebo é a esposa e o amigo; a primeira dá alegria, o segundo dá força. O guerreiro sem<br />

a esposa é como a árvore sem folhas nem flores: nunca ele verá o fruto. O guerreiro sem amigo é como a<br />

árvore solitária que o vento açouta no meio do campo: o fruto dela nunca amadurece. A felicidade do varão é<br />

a prole, que nasce dele e faz seu orgulho; cada guerreiro que sai de suas veias é mais um galho que leva seu<br />

nome às nuvens, como a grimpa do cedro. Amado de Tupã é o guerreiro que tem uma esposa, um amigo e<br />

muitos filhos; ele nada mais deseja senão a morte gloriosa” (Ib., p. 66).<br />

294 “O guerreiro branco é feliz, chefe dos pitiguaras, senhores das praias do mar; a felicidade nasceu para ele<br />

na terra das palmeiras, onde recende a baunilha; e foi gerada no sangue de tua raça, que tem no rosto a cor do<br />

sol” (Ib.).<br />

295 “A alegria ainda morou na cabana, todo o tempo que as espigas de milho levaram a amarelecer” (Cap.<br />

XXV, p. 68).<br />

296 “- Como a cobra que tem duas cabeças em um só corpo, assim é a amizade do Coatiabo e Poti” (Cap.<br />

XXIV, p. 68).<br />

297 “- Como a ostra que não deixa o rochedo, ainda depois de morta, assim é <strong>Iracema</strong> junto a seu esposo” (Ib.).<br />

298 “- Como o jatobá na floresta, assim é o guerreiro Coatiabo entre o irmão e a esposa: seus ramos abraçam os<br />

ramos do ubiratã, e sua sombra protege a relva humilde” (Ib.).<br />

299 “O colibri sacia-se de mel e perfume; depois adormece em seu branco ninho de cotão, até que volta no<br />

outro ano a lua das flores. Como o colibri, a alma do guerreiro também satura-se de felicidade, e carece de<br />

sono e repouso” (Cap. XXV, p. 68).<br />

300 “- As lágrimas da mulher amolecem o coração do guerreiro, como o orvalho da manhã amolece a terra”<br />

(Cap. XXVI, p. 71).<br />

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