Iracema - Repositório Institucional UFC
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cabana 273 . E é <strong>Iracema</strong> que vence o seu orgulho guerreiro 274 , mas imprudente, dissuadindo-<br />
o, embora perplexo, de se deixar matar por Irapuã 275 .<br />
Herói hesitante é a marca que Martim deixa no espírito do leitor, na cena do<br />
“himeneu do amor” 276 . Para fugir ao dilema entre a entrega à “onda de ardente chama” 277 e<br />
o respeito para com as leis da hospitalidade 278 , solicita à virgem de Tupã o alucinogênico<br />
licor da jurema 279 . Mas o efeito foi o caminho para a consumação amorosa 280 . Ao acordar,<br />
parecia que o sonho continuava 281 .<br />
Depois de conduzir Martim ao encontro de Poti, <strong>Iracema</strong> resolve, então, tomar a<br />
iniciativa de acompanhar o esposo, mesmo contra a sua resistência 282 , tendo necessidade de<br />
fazê-lo acordar para a realidade do acontecido 283 . Entre a tristeza perante a responsabilidade<br />
do ocorrido e a sedução da beleza e do amor, venceu a última 284 . O guerreiro do mar,<br />
porém, cora de vergonha diante de Poti, ao saber que dormia enquanto o inimigo atacava 285 .<br />
273 “Ainda surpreso do que vira, Martim não tirava os olhos da funda cava, que a planta do velho Pajé abrira<br />
no chão da cabana. Um surdo rumor, como o eco das ondas quebrando nas praias, ruidava ali.<br />
Cismava o guerreiro cristão; ele não podia crer que o deus dos tabajaras desse a seu sacerdote tamanho<br />
poder” (Cap. XI, p. 36).<br />
274 “- O hóspede de Araquém não pode sair desta cabana, porque os guerreiros de Irapuã o matarão.<br />
- Um guerreiro só pede proteção a Deus e a suas armas. Não carece que o defendam os velhos e as mulheres”<br />
(Cap. XII, p. 39).<br />
275 “- Que vale um guerreiro só contra mil guerreiros? Valente e forte é o tamanduá, que mordem os gatos<br />
selvagens por serem muitos e o acabam. Tuas armas só chegam até onde mede a sombra de teu corpo: as<br />
armas deles voam alto e direito como o anajê” (Ib.).<br />
276 “Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro<br />
pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes<br />
amores” (Cap. XV, p. 44).<br />
277 “Volta a serenidade ao seio do guerreiro branco, mas todas as vezes que seu olhar pousa sobre a virgem<br />
tabajara, ele sente correr-lhe pelas veias uma onda de ardente chama. Assim quando a criança imprudente<br />
revolve o brasido de intenso fogo, saltam as faúlhas inflamadas que lhe queimam as faces” (Ib.,45).<br />
278 “O cristão repeliu do seio a virgem indiana. Ele não deixará o rasto da desgraça na cabana hospitaleira.”<br />
(Ib.).<br />
279 “- Virgem formosa do sertão, esta é a última noite que teu hóspede dorme na cabana de Araquém, onde<br />
nunca viera, para teu bem e seu. Faze que seu sono seja alegre e feliz” (Ib.).<br />
280 “Agora podia viver com <strong>Iracema</strong>, e colher em seus lábios o beijo, que ali viçava entre sorrisos, como o<br />
fruto na corola da flor. Podia amá-la, e sugar desse amor o mel e o perfume, sem deixar veneno no seio da<br />
virgem” (Ib., p. 46).<br />
281 “Vendo Martim a virgem unida ao seu coração, cuidou que o sonho continuava; cerrou os olhos para torná-<br />
los a abrir” (Ib.).<br />
282 “- <strong>Iracema</strong> te acompanhará, guerreiro branco, porque ela já é tua esposa” (Cap. XVII, p. 48).<br />
283 “- O guerreiro branco sonhava, quando Tupã abandonou sua virgem. A filha do Pajé traiu o segredo da<br />
jurema” (Ib., p. 50).<br />
284 “A tristeza lhe confrangia o coração; mas a onda de perfumes que deixava na brisa a passagem da formosa<br />
tabajara, açulava o amor no seio do guerreiro. Seu passo era tardo, o peito lhe ofegava” (Ib.).<br />
285 “Enquanto o guerreiro do mar dormia, o inimigo correu. Os que primeiro partiram já avançam além com as<br />
pontas do arco.<br />
A vergonha mordeu o coração de Martim” (Ib., p. 51).<br />
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