Iracema - Repositório Institucional UFC
Iracema - Repositório Institucional UFC
Iracema - Repositório Institucional UFC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
É este primeiro contato que suscita o ciúme de Irapuã, numa rivalidade entre<br />
machos que disputam a mesma fêmea 265 , rivalidade que apenas acentua a repulsa de<br />
<strong>Iracema</strong> 266 .<br />
Mas o conflito entre o amor e a consagração a Tupã interpõe-se no desabrochar<br />
desta relação 267 e a revelação do interdito do segredo da jurema induz <strong>Iracema</strong> a afastar o<br />
novo eleito do seu coração 268 . A cena da despedida dos novos amantes ilustra a enorme<br />
dificuldade que ambos enfrentam para procederem à necessária separação, desde a oferta da<br />
rede de <strong>Iracema</strong> 269 , como presente da volta até à lágrima de Martim 270 e ao ósculo da<br />
partida 271 .<br />
Então, por desígnio providencial, a intervenção militar, chefiada por Irapuã, vem<br />
permitir que Martim regresse à taba dos tabajaras para aí defrontar o rival, defendendo o<br />
código de honra herdado de seus antepassados 272 . Aí deixa-se maravilhar com o poder<br />
concedido por Tupã ao seu sacerdote Pajé, ignorando o truque da abertura do chão da<br />
265 “-O coração aqui no peito de Irapuã, ficou tigre. Pulou de raiva. Veio farejando a presa. O estrangeiro está<br />
no bosque, e <strong>Iracema</strong> o acompanhava. Quero beber-lhe o sangue todo: quando o sangue do guerreiro branco<br />
correr nas veias do chefe tabajara, talvez o ame a filha de Araquém” (Cap. VII, pp. 25-26).<br />
266 “- Nunca <strong>Iracema</strong> daria seu seio, que o espírito de Tupã habita só, ao guerreiro mais vil dos guerreiros<br />
tabajaras! Torpe é o morcego porque foge da luz e bebe o sangue da vítima adormecida!” (Ib., p. 26).<br />
267 “Martim amparou o corpo trêmulo da virgem; ela reclinou lânguida sobre o peito do guerreiro, como o<br />
tenro pâmpano da baunilha que enlaça o rijo galho do angico” (Cap. VIII, p. 28).<br />
268 “- Tu levas a luz dos olhos de <strong>Iracema</strong>, e a flor de sua alma” (Ib., p. 29).<br />
269 “- Guerreiro, que levas o sono de meus olhos, leva a minha rede também. Quando nela dormires, falem em<br />
tua alma os sonhos de <strong>Iracema</strong>.<br />
- Tua rede, virgem dos tabajaras, será minha companheira no deserto: venha embora o vento frio da noite,<br />
ela guardará para o estrangeiro o calor e o perfume do seio de <strong>Iracema</strong>” (Cap. IX, p. 30).<br />
270 “A virgem suspirou:<br />
- A tarde é a tristeza do sol. Os dias de <strong>Iracema</strong> vão ser longas tardes sem manhã, até que venha para ela a<br />
grande noite.<br />
O mancebo se voltara. Seu lábio emudeceu, ma os olhos falaram. Uma lágrima correu pela face guerreira,<br />
como as umidades que durante os ardores do estio transudam da escarpa dos rochedos” (Ib., p. 31).<br />
271 “- Estrangeiro, toma o último sorriso de <strong>Iracema</strong>… e foge!<br />
A boca do guerreiro pousou na boca mimosa da virgem. Ficaram ambos assim unidos como dois frutos<br />
gémeos do araçá, que saíram do seio da mesma flor” (Ib.).<br />
272 “- Os guerreiros de meu sangue, chefe, jamais recusaram combate. Se aquele que tu vês não foi o primeiro<br />
a provocá-lo, é porque seus pais lhe ensinaram a não derramar sangue na terra hospedeira” (Cap. X, p. 33).<br />
81