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Iracema - Repositório Institucional UFC

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étnica 254 , a sua ocupação e ligação aos pitiguaras, inimigos do seu anfitrião 255 , a “árvore da<br />

amizade” plantada com Poti 256 , bem como a ocasional razão da sua presença, a perda na<br />

floresta 257 .<br />

No entanto, mostra-se ingrato e indelicado, ao tentar partir clandestinamente, “sem<br />

levar o presente da volta” 258 , justificando habilidosamente a sua indelicadeza com a<br />

“lembrança de <strong>Iracema</strong>” na alma 259 . Sutilmente, a interpelada desmistifica tal justificação,<br />

pois o amor ainda não habita seu coração 260 .<br />

O primeiro contato físico, precedido do elogio a <strong>Iracema</strong>, numa comparação com a<br />

noiva européia 261 , recordada com saudade, é estimulado pela ingestão do licor da jurema 262 .<br />

Depois de reviver, em sonho dourado, o passado pátrio, “segue o rasto ligeiro da virgem<br />

arisca”, pronunciando seu “doce nome” 263 e, num amplexo envolvente, chama o “lábio<br />

amante” num “ósculo ardente” 264 .<br />

254 “meu sangue, o do grande povo que primeiro viu as terras de tua pátria” (Ib.).<br />

255 “Sou dos guerreiros brancos, que levantaram a taba nas margens do Jaguaribe, perto do mar, onde habitam<br />

os pitiguaras, inimigos de tua nação” (Ib.).<br />

256 “Só eu de tantos fiquei, porque estava entre os pitiguaras de Acaracu, na cabana do bravo Poti, irmão de<br />

Jacaúna, que plantou comigo a árvore da amizade” (Ib., p. 20).<br />

257 “Há três sóis partimos para a caça; e perdido dos meus, vim aos campos dos tapajaras” (Ib.).<br />

258 “- Por que, disse ela, o estrangeiro abandona a cabana hospedeira sem levar o presente da volta? Quem fez<br />

mal ao guerreiro branco na terra dos tabajaras?<br />

O cristão sentiu quanto era justa a queixa; e achou-se ingrato” (Cap. IV, p. 20).<br />

259 “ – Ninguém fez mal ao teu hóspede, filha de Araquém. Era o desejo de ver seus amigos que o afastava dos<br />

campos dos tabajaras. Não levava o presente da volta; mas leva em sua alma a lembrança de <strong>Iracema</strong>” (Ib.).<br />

260 “ – Se a lembrança de <strong>Iracema</strong> estivesse n’alma do estrangeiro, ela não o deixaria partir. O vento não leva a<br />

areia da várzea, quando a areia bebe a água da chuva” (Ib.).<br />

261 “-Uma noiva te espera?<br />

[…]<br />

- Ela não é mais doce do que <strong>Iracema</strong>, a virgem dos lábios de mel, nem mais formosa! murmurou o<br />

estrangeiro” (Cap. VI, p. 23).<br />

262 “Martim sentiu perpassar nos olhos o sono da morte; porém logo a luz inundou-lhe os seios d’alma; a força<br />

exuberou em seu coração. Reviveu os dias passados melhor do que os tinha vivido: fruiu a realidade de suas<br />

mais belas esperanças.<br />

Ei-lo que volta à terra natal, abraça a velha mãe, revê mais lindo e terno o anjo puro dos amores infantis”<br />

(Ib., p. 24).<br />

263 Ib.<br />

264 “Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do guerreiro, e ficou ali trêmula e palpitante<br />

como a tímida perdiz, quando o terno companheiro lhe arrufa com o bico a macia penugem.<br />

O lábio do guerreiro suspirou mais uma vez o doce nome e soluçou, como se chamara outro lábio amante.<br />

<strong>Iracema</strong> sentiu que sua alma se escapava para embeber-se no ósculo ardente.<br />

A fronte reclinara, e a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol.” (Ib., pp. 24-25).<br />

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