Iracema - Repositório Institucional UFC
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moderna, significa a transformação iniciática, a conversão da alma, a integração acabada da<br />
pessoa (Eu superior), como na transmutação bioquímica do pólen efémero na bebida da<br />
imortalidade.<br />
fertilizante).<br />
Os Ameríndios utilizavam o mel nos rituais de medicina (virtude purificadora e<br />
<strong>Iracema</strong> reporta o simbolismo de tais ritos e seu significado cultural. O interdito que<br />
lhe está associado, por guardar “o segredo da jurema” 199 , faz dela uma personagem sagrada:<br />
“O guerreiro que possuísse a virgem de Tupã morreria” 200 . A profecia do Pajé, porém,<br />
corrigirá a consequência do interdito: “Se a virgem abandonou ao guerreiro branco a flor de<br />
seu corpo, ela morrerá” 201 .<br />
<strong>Iracema</strong> é uma personagem híbrida, na autocaracterização que apresenta. A<br />
comparação da sua doçura com o favo de mel da abelha envolve também o veneno 202 . O<br />
simbolismo do mel da açucena remete, todavia, para a sua pureza virginal 203 .<br />
Este hibridismo de mel e veneno caracteriza bem a complexa alma da virgem de<br />
Tupã. O seu sorriso, mais doce do que o favo de mel 204 , contrasta com a sua natureza<br />
“selvagem” 205 . Os seus “lábios de mel” dão particular encanto aos seus longos cabelos<br />
negros 206 e ao seu “pé grácil e nu” 207 .<br />
A sua entrega amorosa ao estrangeiro não tem limites nem subterfúgios, em sintonia<br />
energética com a sua forte tenacidade guerreira. Ela própria se declara “mais forte que o<br />
chefe dos guerreiros” 208 . Em conseqüência de tal entrega, defronta-se com Irapuã, o chefe<br />
guerreiro do seu povo. Por isso, também, não teme as conseqüências do interdito e a<br />
199 Cap. VIII, p. 28.<br />
200 Ib.<br />
201 Cap. XI, p. 35.<br />
202 “O mel dos lábios de <strong>Iracema</strong> é como o favo que a abelha fabrica no tronco da andiroba: tem na doçura o<br />
veneno” (Cap. VIII, p.28).<br />
203 “A virgem dos olhos azuis e dos cabelos do sol guarda para seu guerreiro na taba dos brancos o mel da<br />
açucena” (Ib.).<br />
204 “O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito<br />
perfumado” (Cap. II, p.14).<br />
205 “Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua<br />
guerreira tribo da grande nação tabajara” (Ib.).<br />
206 “<strong>Iracema</strong>, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos<br />
que seu talhe de palmeira” (Ib.).<br />
207 “O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que a vestia a terra com as primeiras águas”<br />
(Ib.).<br />
208 Cap. VII, p. 26.<br />
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