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Iracema - Repositório Institucional UFC

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2.8 <strong>Iracema</strong>, a heroína “dos lábios de mel”<br />

O nome da protagonista do romance fundacional de Alencar significa “virgem dos<br />

lábios de mel” 193 .<br />

O mel é o produto simbólico da civilização romana, na ótica<br />

virgiliana: uma sociedade harmoniosa (o Bem comum) para a qual contribuem todos os<br />

cidadãos (as abelhas) com o seu trabalho (labor), com a paz resultante da justiça e da<br />

obediência às leis, na ordem social (a obediência das abelhas à abelha-mestra). É colhido<br />

por estes insetos a partir do pólen e do néctar das flores. Ora, o néctar é a bebida dos<br />

deuses, com a ambrósia, símbolo da imortalidade.<br />

Segundo Jean Chevalier e Alain Gheerbrant 194 , é o símbolo da<br />

doçura, por oposição à amargura do fel, da terra feliz e fecunda, a "terra<br />

prometida". Pode ser também símbolo da sedução artificial, destilado pelos<br />

lábios da meretriz, como no Livro dos Provérbios ou, como pretende S. Clemente de<br />

Alexandria, o símbolo da cultura grega, profana. Nas tradições órficas, representa a<br />

sabedoria. Segundo a lenda, Pitágoras só se alimentava de mel. Para Virgílio, é um dom<br />

celeste do orvalho, que significa a iniciação.<br />

No Budismo, significa a bem-aventurança no Nirvana: símbolo de todas as doçuras,<br />

realiza a abolição da dor. Em Isaías 195 , Emanuel, nascido da Virgem, alimentar-se-á de leite<br />

e mel até aprender a rejeitar o mal e escolher o bem. O Salmo 19 (18) atribui à palavra<br />

divina a doçura do mel 196 . Os Atenienses ofereciam à Grande Serpente bolos de mel, para<br />

que permanecesse na sua gruta (símbolo de proteção e apaziguamento). Porfírio, no Antro<br />

das Ninfas, fala da utilização do mel nos rituais de purificação. No Hinduísmo, o mel é<br />

exaltado como princípio de fecundação, fonte de vida e imortalidade 197 . No Cântico dos<br />

Cânticos 198 , o leite e o mel têm conotação erótica, de amor místico e imortal. Na psicanálise<br />

193 Cf. Cap.I, p. 12, nota 2.<br />

194 e Cf. Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Dictionnaire des Symboles, 5 ed., Paris, Seghers, 1974.<br />

195 Cf. Livro de Isaías, 7, 14-15<br />

196 “são mais desejáveis do que o ouro, / muito ouro refinado; / suas palavras são mais doces do que o mel /<br />

escorrendo dos favos" (Salmo 19 (18), 11.<br />

197 Atharva Veda, 91.<br />

198 Cântico dos Cânticos,4,11; 5,1.<br />

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