Iracema - Repositório Institucional UFC

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20.06.2013 Views

O visitante, por quem Iracema se apaixona, encontra em Irapuã, o chefe da tribo, um rival. Este pretende invadir a cabana de Araquém e matá-lo. Apesar da advertência de Araquém de que Tupã puniria quem machucasse seu hóspede, os guerreiros de Irapuã cercam a cabana, que é protegida por Caubi. Com receio da ira de Irapuã, Iracema esconde Martim numa caverna, nas entranhas da terra, magicamente abertas por Araquém, para afastar o chefe tabajara que insistia em matar o hóspede estrangeiro. Araquém provocou “o ronco da caverna” que os índios acreditavam ser a voz de Tupã quando discordava de algo. Na verdade, o ronco era um efeito acústico que Araquém forjava. Mediante isso, Irapuã se afastou. Enquanto esperam a volta de Caubi, o irmão de Iracema, que reconduziria o guerreiro branco às terras pitiguaras, ela se apaixona por Martim, mas não pode se entregar a ele, porque, “é filha do Pajé , e guarda o segredo da jurema. O guerreiro que possuísse a virgem de Tupã morreria” 186 . Uma noite, Martim pede a Iracema o vinho de Tupã, já que não está conseguindo resistir aos encantos da virgem. O vinho, que provoca alucinações, permitiria que ele, em sua imaginação, possuísse a jovem índia como se fosse realidade. Iracema lhe dá a bebida e, enquanto ele imagina estar sonhando, Iracema torna-se sua esposa, traindo o compromisso de virgem vestal e sacerdotisa da tribo, portadora do segredo da Jurema, o segredo da fertilidade dos Tabajaras. Iracema encontra Poti, que está próximo à aldeia dos tabajaras e deseja salvar o amigo. Planejam, então, a fuga de Martim. No bosque da Jurema, onde os guerreiros podem sonhar vitórias futuras, ocorre a preparação dos guerreiros tabajaras para a guerra contra os pitiguaras. Durante o ritual, Iracema lhes serve o vinho da jurema. Enquanto os guerreiros deliram em sono profundo, ela leva Martim e Poti para longe da aldeia. Mas não conta para Martim que houvera entre ambos o encontro do himeneu, enquanto ele imaginava estar sonhando e só o faz quando já estão em terras pitiguaras, então revela que não pode mais voltar para sua gente, porque agora é sua esposa de fato, e deve acompanhá-lo. Tupã já não possuía mais a sua virgem. Irapuã encontra os fugitivos, trava-se um combate entre os Tabajaras e os melhores guerreiros pitiguaras, conduzidos por Jacaúna, irmão de Poti. Nesse combate, Iracema pede 186 Cap. VIII, p. 28 68

a Martim que não mate Caubi (o Senhor dos Caminhos), seu irmão, e por duas vezes a bela heroína salva a vida do estrangeiro. Os Tabajaras debandam, deixando Iracema triste e envergonhada por ter participado, por omissão, da morte dos seus irmãos, e estar aliada aos inimigos de seu povo. Os três chegam, então, ao território pitiguara, de onde viajam para visitar Batuireté, avô de Poti, o qual denomina Martim de Gavião Branco, fazendo, antes de morrer, a profecia da destruição do povo indígena pelos brancos. Martim e Iracema vão morar no litoral; Poti vai com eles. Durante algum tempo o casal vive muito feliz. Iracema engravida e, acompanhada de Poti, pinta o corpo de Martim, num ritual próprio de sua cultura. Martim passa a ser chamado entre eles Coatiabo, o guerreiro pintado. Mas, com o passar do tempo, Coatiabo tem muitas vezes momentos de grande melancolia, motivados pela saudade da pátria. Iracema já não o fascinava tanto. Ele vivia mais afastado, tomado pelas lembranças do passado anterior à vida na selva. Ficava olhando as embarcações passando ao longe no mar, sem dar muita atenção à esposa. Um mensageiro pitiguara leva a Poti um recado de Jacaúna contando sobre a aliança entre os franceses e os Tabajaras e a preparação para a guerra. Poti e Martim partem para a guerra. Iracema fica triste e só no litoral, em companhia de uma seta envolvida em um ramo e uma flor de maracujá, “a lembrança” deixada por Martim. A seta fincada no solo significa que a esposa deve ficar e esperar por seu amor. Iracema, desolada, respeita o desejo de seu esposo. Para alivio de sua solidão, recebe a visita de Jandaia, antiga companheira que há muito havia esquecido, pelo amor de Martim. Torna-se mecejana (a abandonada) como a Jandaia. Martim e Poti voltam vitoriosos; Martim retorna cheio de amor e a esposa sente-se novamente feliz, mas não demora muito para que ele sinta outra vez saudades de sua pátria, deixando a esposa extremamente triste: "O cristão amou a filha do sertão como nos primeiros dias. Mas breves sóis bastaram para murchar aquelas flores de uma alma exilada da pátria. A amizade e o amor acompanharam e fortaleceram o coração do guerreiro branco durante algum tempo, mas agora, longe de sua casa e de seus irmãos, sentia-se no ermo. O 69

a Martim que não mate Caubi (o Senhor dos Caminhos), seu irmão, e por duas vezes a bela<br />

heroína salva a vida do estrangeiro. Os Tabajaras debandam, deixando <strong>Iracema</strong> triste e<br />

envergonhada por ter participado, por omissão, da morte dos seus irmãos, e estar aliada aos<br />

inimigos de seu povo. Os três chegam, então, ao território pitiguara, de onde viajam para<br />

visitar Batuireté, avô de Poti, o qual denomina Martim de Gavião Branco, fazendo, antes de<br />

morrer, a profecia da destruição do povo indígena pelos brancos.<br />

Martim e <strong>Iracema</strong> vão morar no litoral; Poti vai com eles. Durante algum tempo<br />

o casal vive muito feliz. <strong>Iracema</strong> engravida e, acompanhada de Poti, pinta o corpo de<br />

Martim, num ritual próprio de sua cultura. Martim passa a ser chamado entre eles Coatiabo,<br />

o guerreiro pintado.<br />

Mas, com o passar do tempo, Coatiabo tem muitas vezes momentos de grande<br />

melancolia, motivados pela saudade da pátria. <strong>Iracema</strong> já não o fascinava tanto. Ele vivia<br />

mais afastado, tomado pelas lembranças do passado anterior à vida na selva. Ficava<br />

olhando as embarcações passando ao longe no mar, sem dar muita atenção à esposa.<br />

Um mensageiro pitiguara leva a Poti um recado de Jacaúna contando sobre a aliança<br />

entre os franceses e os Tabajaras e a preparação para a guerra. Poti e Martim partem para a<br />

guerra. <strong>Iracema</strong> fica triste e só no litoral, em companhia de uma seta envolvida em um ramo<br />

e uma flor de maracujá, “a lembrança” deixada por Martim. A seta fincada no solo significa<br />

que a esposa deve ficar e esperar por seu amor. <strong>Iracema</strong>, desolada, respeita o desejo de seu<br />

esposo. Para alivio de sua solidão, recebe a visita de Jandaia, antiga companheira que há<br />

muito havia esquecido, pelo amor de Martim. Torna-se mecejana (a abandonada) como a<br />

Jandaia.<br />

Martim e Poti voltam vitoriosos; Martim retorna cheio de amor e a esposa sente-se<br />

novamente feliz, mas não demora muito para que ele sinta outra vez saudades de sua pátria,<br />

deixando a esposa extremamente triste: "O cristão amou a filha do sertão como nos<br />

primeiros dias. Mas breves sóis bastaram para murchar aquelas flores de uma alma exilada<br />

da pátria. A amizade e o amor acompanharam e fortaleceram o coração do guerreiro branco<br />

durante algum tempo, mas agora, longe de sua casa e de seus irmãos, sentia-se no ermo. O<br />

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