Iracema - Repositório Institucional UFC
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"Tudo pelo Brasil, e para o Brasil"<br />
(Gonçalves de Magalhães)<br />
Para se fazer uma leitura dos romances indianistas de Alencar pelo viés de uma<br />
perspectiva mítica, torna-se necessário retomar o sentido atribuído ao conceito de mito,<br />
tarefa que já foi feita no capítulo anterior. Assim, faremos neste momento apenas breves<br />
retomadas conceituais, no sentido de concatenar o pensamento para a leitura deste tópico, já<br />
que o objetivo aqui é colocar em evidência a visão alencariana sobre esta questão.<br />
Alfredo Bosi, ao discutir a trajetória das personagens de O guarani e de <strong>Iracema</strong>,<br />
destaca um “mito sacrificial” que levaria o indígena a se submeter voluntariamente ao jugo<br />
do colonizador (BOSI, 1992); Valeria De Marco, em consistente trabalho, a partir das<br />
distinções estabelecidas por Northrop Frye, compreende a mesma narrativa de O Guarani<br />
como uma “história romanesca que caminha para o mito ” (MARCO, 1993); e Renato<br />
Ortiz, em 1988 analisa O guarani como um “mito de fundação da brasilidade” (ORTIZ,<br />
1988). Isto para citar apenas alguns dos mais conceituados trabalhos de autores que<br />
interpretam a obra indianista de Alencar como uma tentativa de recriar miticamente o<br />
passado nacional.<br />
Segundo Mircea Eliade, o caminho para se chegar a uma definição de mito não é<br />
nada simples, uma vez que, dada a multiplicidade de tipos e funções do mito, dificilmente<br />
poderíamos chegar a um denominador comum apto a unificá-los. Para Eliade, a definição<br />
“menos imperfeita” é a que o descreve como uma história sagrada que narra uma ação<br />
praticada por entes sobrenaturais num tempo primordial, dando origem a alguma coisa (o<br />
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