Iracema - Repositório Institucional UFC
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sempre interpelada à ressurreição, à luta, à tenacidade no prosseguimento da jornada em<br />
ordem à instauração da Harmonia e do Bem sociais.<br />
A mímesis homérica é essencial na produção de Virgílio: na concepção do poema no<br />
seu conjunto, na construção de episódios e personagens, nas cenas típicas, na linguagem e<br />
no estilo. Esta inspiração não impediu, no entanto, a originalidade do poeta no tratamento<br />
das personagens e dos temas, na linguagem e estilo.<br />
Virgílio sintetiza também as conquistas da criação literária e filosófica da cultura<br />
romana: o sentido da problematicidade profunda da realidade, o caráter furtivo e ilusório da<br />
verdade, a análise psicológica, a atenção aos conflitos intersubjetivos e ao mundo complexo<br />
dos sentimentos humanos, designadamente o da paixão amorosa.<br />
A representação do incêndio de Tróia e do drama passional de Dido recebe<br />
inspiração da tragédia grega e latina. A influência de Apolônio de Rodes e da poesia<br />
helenística e neotérica [Catulo, em particular] cruza-se no canto de Dido, bem como no<br />
tema etiológico. O esboço da relação entre mito e história e a tendência para a<br />
representação monumental derivam dos autores arcaicos, como Névio, Catão e Ênio, bem<br />
como de Lucrécio.<br />
A ação do maravilhoso (“comédia dos deuses”), de acordo com o código épico<br />
homérico, divide o favoritismo dos deuses: Vênus protege o filho; Juno persegue Enéias e<br />
os Troianos, defendendo Turno e os Itálicos.<br />
Numa concepção estóica, o poema representa um mundo governado por uma ordem<br />
providencial, encaminhando os destinos para um fim positivo, justo, e ratificado pela<br />
religião. Júpiter, como divindade olímpica suprema, é o depositário da vontade do Destino,<br />
revestido de majestosa autoridade. A sua profecia revela a antecipação da história gloriosa<br />
da Vrbs, de acordo com esse Destino providencial.<br />
A primeira parte do poema, centrada nas peripécias da viagem, exprime<br />
simbolicamente as peripécias do conhecimento. As várias fases da viagem de Enéias (canto<br />
III) revelam a demanda progressiva de uma meta sempre dificultada.<br />
A catábasis, ou viagem ao reino dos mortos, no c. VI, desvenda, a partir da<br />
entrevista com Anquises, o mistério da verdade do cosmo e do fado: os deuses,<br />
principalmente Apolo, deus dos oráculos e tutelar de Augusto, intervêm continuamente<br />
para guiarem o herói, embora com indicações ambíguas, como é próprio da linguagem<br />
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