Iracema - Repositório Institucional UFC
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Por sua vez, Turno, o antagonista de Enéias, não é um anti-herói, ao contrário de<br />
Mezêncio. Herói dominado mais pelo instinto natural do que pela razão, o rei dos Rútulos<br />
mostra mais a audácia do que a coragem ponderada, mais o furor do que o ardor guerreiro,<br />
chegando a sua força a foros de violência. Ao contrário de Drances, tipo de provocador<br />
eloquente e mesquinho, demonstra nobreza e generosidade, mas, como o herói trágico, é<br />
vítima de forças que lhe são superiores, sendo condenado à catástrofe, mais do que a sua<br />
culpa o merecia.<br />
Apesar de herói guerreiro, o Enéias virgiliano não é um Aquiles homérico. A<br />
guerra, para Virgílio, não é apenas a arena da demonstração de força e coragem militares,<br />
mas também momento de destruição e morte. Assim, o poeta mostra-se particularmente<br />
sensível aos jovens prematuramente ceifados pela guerra (Euríalo, Niso, Palante, Lauso,<br />
Camila), a quem é negado um futuro luminoso. Na composição do herói, percebe-se<br />
claramente a posição do compositor contrária à guerra.<br />
Como sintetiza W. Warde Fowler, Enéias “destina-se a ser uma incarnação da<br />
coragem de um herói antigo, a justiça de um governante paternal, o doce humanismo de um<br />
homem culto que vive numa época de civilização adiantada, a santidade do fundador de<br />
uma nova religião de paz e pura observância, a afeição pelo pai e pelo filho, que era um dos<br />
mais fortes instintos do povo itálico” 156 .<br />
1.13 O maravilhoso virgiliano<br />
Juno e Vênus, versões romanas das deusas gregas Hera e Afrodite, continuam, no<br />
poema virgiliano, a sua rivalidade opositora que já manifestavam na Ilíada, em face da<br />
guerra entre Gregos e Troianos.<br />
Na Eneida, porém, a inimiga dos Troianos não intervém diretamente: serve-se de<br />
Éolo, pai dos ventos, para desencadear a tempestade contra Enéias e seus companheiros, ou<br />
a Erínia Alecto. Por outro lado, Vênus, mãe do herói virgiliano, mais do que a deusa do<br />
amor profano ou erótico, é a doce protetora dos exilados.<br />
156 W.Warde Fowler, The Roman Poets of the Augustan Age. Virgil, Oxford University Press, 1897, reimpr.<br />
1941, pp. 396-397.<br />
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