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Iracema - Repositório Institucional UFC

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Virgílio entrelaça, como Névio e Ênio, os fios do mito e da história, mas não se<br />

limita a relatar o passado. Socorrendo-se do modelo homérico, o poeta coloca na boca de<br />

Júpiter (canto I) a profecia relativa ao futuro próximo dos Troianos e ao cumprimento da<br />

promessa de uma nova pátria na Itália, alargando-se à descendência de Enéias e à fundação<br />

de Roma, cujo destino está associado ao domínio do mundo, culminando com a apoteose de<br />

Augusto e o advento de uma nova idade de ouro. No canto VI, Anquises revela ao filho, no<br />

Hades, o desfile de Romanos ilustres e culmina com Augusto, numa espécie de<br />

reencarnação dos seus descendentes, de acordo com a mentalidade platônico-pitagórica,<br />

fundida com concepções estóicas. No canto VIII, a ecphrasis do escudo do herói, forjado<br />

por Vulcano. Imagens de episódios significativos da história romana, tendo no centro a<br />

batalha de Ácio.<br />

Tal como as histórias fundacionais da poesia helenística, como as de Calímaco e<br />

Apolônio de Rodes, apresentavam as “causas originárias” (aitia) das cidades e dos povos,<br />

assim também a Eneida exprime os aitia romanos, principalmente no canto VIII, quando<br />

Enéias visita os lugares da cidade futura.<br />

Na Eneida, a guerra opõe dois povos destinados a tornarem-se um só povo: “em tão<br />

grande tumulto quis então Júpiter que se opusessem povos que se destinavam a viver em<br />

eterna paz entre si?”, pergunta o poeta antes de descrever a grande batalha do último livro<br />

(XII, 503 s.). Ao renunciar escrever sobre as guerras de Augusto, Virgílio remetia para um<br />

passado distante o problema das guerras civis que irrompe continuamente nas entrelinhas<br />

da narrativa mítica. O combate que Enéias tem de travar é uma espécie de guerra civil ante<br />

litteram. No c. VIII, a iminência da guerra é-lhe anunciada por meio de um prodígio<br />

(relâmpagos no céu sereno, som de trombetas e do fragor das armas em céu aberto) que a<br />

tradição romana reconhecia como o presságio que anunciara as guerras civis. O herói toma<br />

consciência disso com uma amarga exclamação patética (VIII, 536 ss.) que evoca<br />

deliberadamente as palavras de Anquises, no além, contra César e Pompéio, numa<br />

condenação severa das guerras civis (VI, 828 ss.).<br />

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