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Iracema - Repositório Institucional UFC

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Em oposição à valentia para com o inimigo externo, as guerras civis são<br />

consideradas como um “terremoto” devastador, fruto da “competição” e da “discórdia”<br />

entre as facções e os partidos, dos “caprichos” e da arbitrariedade da aristocracia, que<br />

passou a oprimir a liberdade e a força da plebe 87 .<br />

A prática da clemência para com os inimigos é reivindicada por Otávio Augusto 88 , a<br />

par do castigo dos assassinos de Júlio César, seu pai adotivo 89 .<br />

Mas é Virgílio o cantor por excelência da guerra e da paz romanas.<br />

Nas Geórgicas, o canto da Itália, mãe de heróis, já é esboçado, com a<br />

nominalização dos principais guerreiros, culminando em “César, de todos o maior” 90 .<br />

Na Eneida, a proposição identifica o herói da narrativa cantado como o varão que<br />

“sofreu também muito na guerra, até fundar a cidade / e trazer os deuses para o Lácio” 91 .<br />

Rómulo, descendente de Enéias, é o fundador das “mavórcias / muralhas”, o que “dará o<br />

seu nome aos Romanos” 92 , povo glorioso cujo poder e império não terão limites 93 .<br />

87 “Efetivamente, antes da destruição de Cartago, o povo e o Senado romano conduziam a governação entre si<br />

com placidez e moderação e não havia competição entre os cidadãos em glória, nem em predomínio. O medo<br />

do inimigo mantinha a cidade no bom caminho. Mas, assim que esse temor se afastou dos espíritos,<br />

avançaram aqueles defeitos que a prosperidade favorece, a lascívia e o orgulho. E assim, aquela paz que em<br />

situação adversa tinham desejado, uma vez alcançada, foi-lhes ainda mais dura e acerba do que esta. É que a<br />

nobreza começou a submeter aos seus caprichos as suas funções, o povo, a liberdade, e cada um a puxar para<br />

o seu lado, a arrastar, a roubar. E assim, tudo se cindiu em dois partidos, com a república, outrora colocada<br />

entre ambos, dilacerada. De resto, a nobreza estava forte, devido à sua unidade partidária; a força da plebe,<br />

solta e dispersa, sendo numerosa, tinha menos poder. Na guerra e na paz, era o arbítrio de poucos que decidia;<br />

em seu poder estavam o tesouro público, as províncias, as magistraturas, as honrarias, o triunfo; o povo era<br />

oprimido pela milícia e pela indigência; o saque da guerra dilapidavam-no os generais, com um pequeno<br />

número. [...] Assim, a avareza, aliada ao poder, invadiram, poluíram, devastaram tudo, sem limites nem<br />

moderação, sem consideração nem respeito por nada, até que ela caiu por si mesma. Pois, quando se<br />

encontraram, finalmente, elementos da nobreza que fossem capazes de antepor ao poder injusto a glória<br />

v verdadeira, a cidade ficou abalada e, como um terramoto, a discórdia civil começou a surgir” Salústio,<br />

Catilina, II, 2-3.<br />

(Id., Jugurta, XLI, 2-7.9-10).<br />

88 “Muitas vezes fiz guerras, em terra e no mar, civis e com o estrangeiro, em todo o mundo e, uma vez<br />

vencedor, perdoei a todos os cidadãos que imploraram vénia. Aos povos estrangeiros, a quem foi possível<br />

perdoar sem perigo, preferi conservá-los a destruí-los” (Os Feitos do Divino Augusto, 1,3).<br />

89 “Os que assassinaram o meu pai mandei-os para o exílio, vingando com legítimo julgamento o seu crime e,<br />

mais tarde, quando eles vieram fazer guerra à República, por duas vezes os venci em linha de batalha” (Ib.,<br />

1,2).<br />

90 “Ela que produziu uma áspera raça de guerreiros, Marsos e Sabélios, / Lígures ao mal afeitos, e Volscos, de<br />

venábulos armados, / ela que gerou os Décios, os Mários e os grandes Camilos, / os Cipiões valentes na<br />

guerra, e a ti, César, de todos o maior, / que agora, nas plagas extremas da Ásia vitorioso, / afastas das<br />

romanas fortalezas o Índio impotente. / Salve, ó nutriz excelsa de colheitas, terra de Saturno, / mãe de heróis:<br />

é por ti que me lanço neste tema e numa arte / de glória de antanho, ousando desvendar as sagradas fontes, / e<br />

através das cidades romanas canto o poema ascreu” (Virgílio, Geórgicas, II, 167-176).<br />

91 Eneida, I, 1. 5-6.<br />

92 Ib., I, 276-277.<br />

93 Cf. Ib., 277-278.<br />

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