20.06.2013 Views

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O tópico da glória das armas e das letras, tão marcante no Renascimento europeu, é<br />

uma herança da Antiguidade clássica. Por um lado, cabe aos escritores fazerem-se eco da<br />

justa fama dos heróis 67 . Por outro, o reconhecimento da glória implica o sacrifício, o<br />

despojamento e a devoção da própria vida 68 .<br />

A noção da glória coletiva ultrapassa a da glória individual, merecendo a apologia<br />

épica, tanto da Eneida como da História liviana. Celebrar a pátria é motivo de orgulho para<br />

o poeta, como reconhece Horácio 69 e se propõe Propércio 70 . Numa consciência messiânica<br />

comparável à da História de Israel, Roma é governada pela égide divina 71 . Mas, em<br />

contrapartida, a reflexão sobre a decadência coletiva constitui um aviso pedagógico que<br />

deriva da consciência ética do escritor 72 .<br />

1.10 O triunfo romano da guerra ou a via da paz?<br />

O caráter militar dos Romanos, simbolicamente inscrito na lenda da paternidade<br />

belicosa de Rômulo e Remo, é indiscutível. Tal caráter está na base da sua expansão<br />

imperial, desde o século III a.C., sendo o segredo da sua longevidade, até à sua queda em<br />

471 d.C. No entanto, a Literatura Latina, tal como a Grega, equaciona a questão da guerra<br />

em termos de grande complexidade, servindo de paradigma aos nossos tempos.<br />

Ênio, não deixando de cantar a glória do povo romano desde as suas origens,<br />

contrapõe a exaltação do “hórrido soldado” ao desprezo do “bom orador” 73 , segundo o<br />

princípio da supremacia do Direito sobre a Força 74 , iniciando, assim, um dos tópicos mais<br />

67 Cf. Il., VI, 357-359; Píndaro, Nem.VI, 30 SS ; VII, 11 ss. ; IX, 6 ss.; Pyth., VI, 6 ss.; Cíc., Pro Archia, VI,<br />

IX; Virg., Geórg., III, 46-49; Hor., Epist., I, 3, 7-8; Carm., I, 25, 11; IV, 8, 11 ss; 9, 13 ss.; Ov., Amor, III, I,<br />

25; Pônt., IV, 8, 43 ss.; Sên., Ep., XXI; A. Estácio, Theb., X, 445-446.<br />

68 Cf. Il., VI, 357-359; Cíc., Part. Orat., 25, 90 ; Hor., Ars Poetica, 412 ss ; Ep., I, 11, 22 ss.; Juv., X, 3 ss.;<br />

Marcial, Epigr., V, 13. 16; XI, 3; A. Est., Theb., XII, 72 ss.<br />

69 Cf. Ars Poetica, 285 ss.<br />

70 Cf. Propércio, IV, I, 67 ss.<br />

71 Cf. Cíc. , Catil., III, 9; Salúst., Bell. Jugurth., XIV, 19.<br />

72 Cf. Salúst., De Coniurat. Catilin., II-XIV ; T. Lív., Pref. ; Ov., Metam., XV, 418 ss., Tácito, Hist., II, 26;<br />

Juv., IV, 144 ss. Lucano, Phars., I, 70; VII, 420.<br />

73 Ênio, Anais, VIII, 157.<br />

74 “Combatendo com palavras indoutas e malévolas, / entre si se misturam, levantando animosidades: / não<br />

desafiam segundo o direito, mas antes pelo ferro / exigem os bens, reclamam o reino, vão com forte<br />

violência” (Id., ib., 158-161).<br />

37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!