Iracema - Repositório Institucional UFC
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O amor que Enéias desperta em Dido, constitui a grande passagem lírica do imortal<br />
poema. Entretanto, Júpiter envia Mercúrio ao encontro de Enéias para lembrar-lhe que ele<br />
tem a missão de encontrar o Lácio e fundar uma nova cidade que substitua a cidade de<br />
Tróia perdida.<br />
O herói é lembrado pelo mensageiro dos deuses de que tem uma tarefa a cumprir:<br />
governar no futuro a Itália e assegurar ao seu filho Ascânio um reino a herdar, não<br />
podendo, se prender por mais tempo ao amor que a Rainha lhe devotava, pois o Destino o<br />
chamava. Enéias tenta sair de Cartago sem que Dido se aperceba, pensando assim aliviar a<br />
dor da separação para ambos. Contudo, ela percebe que os estrangeiros se preparam para o<br />
embarque.<br />
Dido, acometida de grande paixão, roga a Enéias que não a deixe. O herói, surdo às<br />
súplicas, resolve continuar viagem. A pobre amante, não resistindo ao abandono, busca<br />
alívio no suicídio, para sua desventura. Não podendo mais viver sem o Troiano, num gesto<br />
desesperado, suicida-se com a espada que o próprio Enéias lhe deixara, não sem antes<br />
predizer, ressentida, que as cidades de Cartago e a futura Roma, que está para nascer, se<br />
tornarão inimigas mortais, pois "nenhuma amizade ou aliança" será possível entre elas:<br />
“Que de nossos ossos saia um vingador,/ que persiga com fogo e ferro os colonos<br />
dardânios,/ agora, mais tarde, sempre, enquanto houver forças para a luta./ Litorais contra<br />
litorais, ondas contra ondas, armas contra armas,/ possam os dois povos combater, eles e<br />
seus descendentes” 31 , são estas as palavras da amante abandonada. Enquanto isto, Enéias<br />
levanta ferros a caminho do litoral italiano.<br />
E assim, após um ano aportado em Cartago e já refeito dos estragos do naufrágio,<br />
Enéias retoma a rota em direção à Itália, para dar continuidade ao seu destino grandioso.<br />
No canto V, o herói segue para a Sicília. Os ventos levam sua frota de volta ao<br />
Monte Érix onde estão as cinzas de seu pai Anquises. Cultua a memória do pai, honrando-o<br />
com os jogos fúnebres, pois já decorrera um ano da morte do ente querido. “Lá, segundo o<br />
rito das libações, derrama no solo dois copos de vinho puro, dois outros de leite fresco, dois<br />
outros de sangue sagrado; a seguir lança flores vermelhas”(canto V)’, em homenagem ao<br />
pai amigo.<br />
31 Aen., IV, 676-690.<br />
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