Iracema - Repositório Institucional UFC
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primeira grande perda pessoal: morre a esposa. Seu coração dilacera-se. Perdera a pátria, o<br />
lar e a mulher, a bela Creúsa. Atrás deles, abalavam-se outros Troianos sobreviventes.<br />
Entre os sobreviventes, Enéias conseguiu reunir muitos guerreiros e com eles<br />
embarcou em direção às costas da Itália. Marchou com eles bem para o Sul da Frígia, para<br />
o Monte Ida, que se ergue enfrente ao Golfo Adramitium, onde tratou de construir uma<br />
pequena flotilha para pôr-se a salvo do furor dos vencedores.<br />
Tem início a aventura de Enéias: terminada a tarefa de construção das naus, o<br />
Troiano ordenou o embarque com destino à Trácia, em busca de uma nova pátria. Longe,<br />
porém, de encontrar o tão ambicionado sítio de paz, ali começava a grande aventura, cheia<br />
de imprevistos e assombros, que iria conduzir o herói a lançar as sementes do domínio<br />
romano sobre o mundo conhecido. A Trácia foi uma frustração. Enéias decidiu-se então<br />
consultar o oráculo de Delfos, onde o próprio Febo Apolo profetizou-lhe um futuro<br />
prodigioso, desde que procurassem a antiga mãe, “ali a casa de Enéias reinará sobre toda a<br />
região,/ e reinarão os filhos de seus filhos e os que deles nascerem" 27 . Em seguida, porém, a<br />
tripulação da pequena esquadra deparou-se com uma turba das terríveis harpias 28 , que lá do<br />
céu, grasnando, lhes roubou o alimento.<br />
Celeno, uma delas, lançou-lhes um mau agouro, predizendo-lhes ‘fome terrível’ que<br />
os faria ‘roer e devorar as próprias mesas’. E, de fato, assim bem mais tarde aconteceu. Ao<br />
rumarem para Itália, a terra prometida anunciada nas profecias, os sofridos Troianos,<br />
peregrinos do mar, atraíram os furores dos Ventos comandados pela satúrnia Juno, aliada<br />
de Éolo. Surpreendidos em alto mar, em meio a um redemoinho de tufões, seis navios, dos<br />
doze que os Troianos tinham, logo afundaram, levando consigo as tripulações inteiras. Era<br />
uma maldade da deusa Juno, a esposa-irmã de Zeus, que deles tinha ódio mortal. Ela,<br />
sempre ardilosa, tomou como aliado Éolo, o deus dos Ventos, para impedir que os<br />
Troianos arribassem nas costas da Itália. Açoitados de todos os lados, nauseados pela<br />
violência da tempestade, os náufragos não sabiam mais a quem apelar. Foi então que<br />
Netuno, o deus do mar, decidiu socorrê-los. Enfurecido com a intromissão de Éolo nas suas<br />
águas, ordenou aos ventos que dessem a volta e se deixassem novamente aprisionar nas<br />
cavernas do seu rei.<br />
27 Cf. Aen., III, 103-104.<br />
28 "Aves nojosas, com virgínios rosto,/ Magros, pálidos sempre e esfomeados./ Tem laxo imundo<br />
ventre e garra adunca".( Aen., III)<br />
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