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Iracema - Repositório Institucional UFC

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Podemos definir o mito como uma história sagrada, com intervenção do<br />

maravilhoso (divino), uma história verdadeira, primordial, original, arquetípica e, como tal,<br />

paradigmática da condição humana, revivida ritualmente, reatualizada 23 .<br />

Podemos também distinguir duas grandes espécies de mitos: os teogônicos, relativos<br />

à divindade; e os cosmogônicos, sobre a criação do mundo 24 . A epopéia contempla os<br />

primeiros no chamado maravilhoso da ação narrativa, mas são os segundos que constituem<br />

a essência da ação épica, instituindo-se como mitos fundacionais.<br />

Assim, a literatura, entre as várias formas de arte, é um repositório inestimável do<br />

patrimônio e da identidade cultural dos povos que a produziram. A cronística, em geral, e a<br />

historiográfica, em particular, bem como os textos da chamada literatura de viagens,<br />

constituem os subgêneros mais representativos da configuração identitária coletiva. Na<br />

verdade, é o confronto com o Outro que permite descobrir, por contraste ou semelhança, a<br />

imagem, mais ou menos fiel, dessa configuração.<br />

Georges Dumézil, na sua teoria da ideologia trifuncional das sociedades indo-<br />

européias, distingue três tipos de heróis míticos: a função sacerdotal, atribuída a Brama, na<br />

Índia, e a Júpiter, em Roma; a função guerreira, ligada a Indra, na Índia, a Marte, em Roma,<br />

e ao rei Lucumon, na Etrúria; a função produtiva, associada a Tácio, entre os Sabinos, e a<br />

Quirino, em Roma 25 .<br />

Virgílio aplica à História de Roma esta visão indo-européia, atribuindo a Enéias e a<br />

Rômulo a função sacerdotal; aos Tirrenos, comandados por Tárcon, defensores dos<br />

Troianos contra os Latinos, a função guerreira; aos camponeses latinos a função<br />

produtiva 26 .<br />

23 “De uma maneira geral, podemos dizer que o mito, tal como ele é vivido pelas sociedades arcaicas, 1º )<br />

constitui a História dos atos dos Seres Sobrenaturais; 2º) que essa História é considerada como absolutamente<br />

verdadeira (porque diz respeito às realidades) e sagrada (porque é obra dos Seres Sobrenaturais); 3º) que o<br />

mito se refere sempre a uma ‘criação’, ele relata como determinada coisa veio à existência, ou como um<br />

comportamento, uma instituição, um modo de trabalhar foram fundados; essa é razão pela qual os mitos<br />

constituem os paradigmas de todo o acto humano significativo; 4º) que, conhecendo o mito, conhece-se a<br />

‘origem’ das coisas e, por consequência, chega-se a dominá-las e a manipulá-las à vontade; não se trata de um<br />

conhecimento ‘exterior’, ‘abstracto’, mas de um conhecimento que se ‘vive’ ritualmente, seja narrando<br />

cerimonialmente o mito, seja efectuando o ritual ao qual ele serve de justificação” (Mircea Eliade, Aspects du<br />

Mythe, Paris, Gallimard, 1963, p. 30).<br />

24 “Toda criação, sendo de origem divina, representa igualmente uma irrupção de energia criadora no mundo.<br />

Toda a criação jorra de uma plenitude. Os Deuses, os Demiurgos, os Antepassados míticos criam devido a um<br />

excesso de poder, uma plenitude transbordante de energia. A criação resulta de uma superabundância<br />

ontológica” (Mircea Eliade, La Naissance du Monde, Paris, Le Seuil, 1959, p. 472).<br />

25 Cf. Georges Dumézil, Mythe et Epopée, Paris, Gallimard, T.I, pp. 42.44.<br />

26 Cf. Aen., VII, 503-521.<br />

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