Iracema - Repositório Institucional UFC
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[335-263 a. C.] e Crisipo [280-207 a. C.], o mito consistia na divinização das forças da<br />
natureza (alegoria física).<br />
Para o neoplatônico Plotino (205-270 d.C.), o mito representava uma imagem do<br />
mundo (alegoria metafísica).<br />
Para Freud (1856-1936), o mito era a realização gigantesca do que sucede em cada<br />
um de nós (“a essência profunda e eterna do homem é constituída pelas emoções da<br />
primeira infância” (alegoria psicológica) 20 .<br />
Para os teólogos judeus e cristãos, mito é o símbolo, o quadro ou a estrutura em que<br />
a ação humana tem sentido (alegoria religiosa).<br />
Para C. G. Jung (1875-1961), do inconsciente coletivo derivam os arquétipos ou<br />
“possibilidades funcionais da Psique” que afloram à consciência, sob a forma de “imagens<br />
arcaicas”, “símbolos”, ou “mitos” (alegoria psicologista).<br />
Para K. Jaspers (n. 1883), o mito é “o único horizonte possível para o uso total do<br />
conhecimento”; a consciência mítica é o ponto focal da consciência racional e da<br />
consciência existencial, porque a consciência mítica traduz o próprio fundo do homem e<br />
dela partem todas as afirmações da transcendência (alegoria existencialista).<br />
Associado ao verbo grego myeo, que significa instruir, iniciar, o mito tem uma<br />
função pedagógica assinalável na memória cultural dos povos. Com efeito, já no indo-<br />
europeu *meudh / *mudh, que significa lembrar-se, se registra tal função memnônica do<br />
mito, enquanto elemento primordial do patrimônio cultural.<br />
Nem sempre tido em conta pelos historiadores e críticos da História, o mito foi<br />
muitas vezes visto como algo de fabuloso, não fundamentado cientificamente 21 . No entanto,<br />
não se pode estudar uma cultura étnica sem ter em consideração os seus mitos e as suas<br />
lendas 22 .<br />
20 Cf. Moïse et le Monothéisme.<br />
21 “Na linguagem corrente do homem moderno, o mito significa tudo o que se opõe à ‘realidade’. […} Mas<br />
para o homem das sociedades ‘primitivas’ e tradicionais, o mito, pelo contrário, é a única revelação válida da<br />
realidade. Para ele o mito é suposto exprimir uma verdade absoluta, visto que ele relata uma história sagrada,<br />
isto é, um acontecimento primordial que teve lugar no início do Tempo. Narrar um mito é proclamar o que se<br />
passou ab initio. Uma vez ‘dito’, quer dizer, revelado, o mito torna-se uma verdade absoluta” (Mircea Eliade,<br />
La Naissance du Monde, Paris, Le Seuil, 1959, p. 471).<br />
22 “O historiador das religiões sabe que aquilo a que chamam ‘cultura profana’ é um fenómeno<br />
comparativamente recente na história do espírito. Originalmente, toda a criação cultural (utensílios,<br />
instituições, arte, ideologia, etc.) era uma expressão religiosa ou possuía uma justificação ou origem<br />
religiosas” (Mircea Eliade, La Nostalgie des Origines, Paris, Gallimard, 1971, p. 132).<br />
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