Iracema - Repositório Institucional UFC
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Antes de abordarmos a obra-prima da épica latina, vamos sublinhar alguns<br />
conceitos e tópicos prévios, subjacentes ao seu entendimento como gênero literário e ao<br />
objetivo de cantar a identidade de um povo, a sua gesta e a sua glória.<br />
1.1 Epopéia<br />
Do grego épos, que significa palavra primordial, o vocábulo epopeia (epopoiia),<br />
obra de um epopoiós, produtor de narrativas em verso, ou poeta épico, é um gênero<br />
literário, reconhecido na época alexandrina como celebração de uma gesta ou ação sublime.<br />
Tais vocábulos estão aparentados com o verbo grego eipein, dizer, com vacah (sânscrito) e<br />
uox (latim), voz.<br />
Trata-se da celebração da totalidade original, no dizer de Hegel 7 , ou da palavra<br />
essencial 8 , “nominalização que funda o ser e a essência de todas as coisas” 9 , na expressão<br />
de Heidegger.<br />
No sentido estrito, a epopéia distingue-se da história, que conta sem imitar (a<br />
mímesis aristotélica); do poema dramático, que representa a ação; do poema didático, que<br />
colige orientações e preceitos; dos fastos em versos, que reúnem acontecimentos, sem um<br />
fio condutor.<br />
Gênero sublime (genus grande), por oposição ao baixo e ao médio, a epopéia<br />
celebra o percurso vitorioso de um herói, rasgando um mundo luminoso, a partir da herança<br />
patrimonial e oral de um passado mítico, quase sempre nebuloso, ao mesmo tempo que<br />
celebra ritualmente a identidade cultural de uma comunidade 10 .<br />
7 Hegel, Esthétique, Paris, Aubier-Montaigne, 1944, t. III, 2ª parte, p. 96.<br />
8 Heidegger, Approche de Hölderlin,, Paris, Gallimard, 1962, p. 49.<br />
9 Ib., p. 54.<br />
10 “Somme, totalité, l’epopée expose un monde diurne, lumineux dans sa calme existence,, sans privation et<br />
sans fissure, un espace homogène et sans vacance, saturé de passé mythique et protégé par des règles<br />
restrictives contre l’assaut des préoccupations du présent, amené par le poète à une apparition littéraire<br />
hiératique, solennelle et ritualisée » (Daniel Madelénat, L’Epopée, Paris, PUF, 1ª ed., 1986, p. 51.<br />
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