Iracema - Repositório Institucional UFC

nelas. Procurava o ponto de equilíbrio entre a extrema sobriedade da escola ática e a
extrema exuberância da escola asiática.
Ora, Virgílio nunca poderia ser um orador, porque não tinha capacidade de
improvisação. Pelo contrário: como perfeccionista que era, a sua vocação estava talhada
para o discurso escrito e não para o oral. Suetônio (Vita Vergili) diz que ele tinha a
aparência de homem inculto e pouco hábil na conversação: ... in sermone tardissimum eum
ac paere indocto similem fuisse 631 . Com um aspecto de camponês, alto e moreno, mas
muito tímido, tinha dificuldade em conviver em sociedade. A eloqüência não era o seu
forte, mas lia os seus versos com uma elegância admirável. Mas, ainda na juventude,
escreveu um epitáfio irônico a um lanista (mestre de gladiadores na Roma Antiga), de
nome Balista, que era considerado como um perigo social. Este epitáfio é um dístico
elegíaco. Trata-se de utilizar uma forma nobre para fazer um ataque. Esta inadequação
entre a forma e o conteúdo é que torna irônico este epitáfio, numa espécie de paródia.
Trata-se de mais uma poesia de caráter alexandrinista (alexandrinismo pós-catuliano):
Monte sub hoc lapidum tegitur Ballista sepultus;
Nocte die tutum carpe, uitaor, iter 632 .
Os alexandrinistas preconizavam pequenas composições poéticas, insurgindo-se
contra o comprimento exagerado dos poemas homéricos. Surgiram como reação contra o
homerismo.
Virgílio fez a síntese entre o homerismo e o alexandrinismo. A Eneida é um poema
longo, mas não tão longo como a Ilíada. Na Eneida, não se encontram as fórmulas próprias
da composição oral porque os alexandrinistas condenam-nas. Virgílio faz a simbiose,
associando dois contrários, o que parecia impossível.
O alexandrinismo preconiza a forma trabalhada, o requinte da fórmula. Esta característica
está de acordo com o perfeccionismo de Virgílio. O alexandrinismo era erudito, o que
também estava de acordo com o poeta, o erudito dos eruditos.. Dizer o indispensável, mas
dizer tudo sem faltar nada, numa expressão sóbria, mas totalmente plena, era o paradigma
estético do alexandrinismo, seguido pelo autor da Eneida. Como poeta do classicismo da
631 ... que ele foi muito inábil na conversação e quase parecia inculto.
632 Debaixo deste monte de pedras está sepultado Balista;
De noite e dia, ó viandante, toma o [teu] caminho [em] segurança.
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