20.06.2013 Views

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

com Peri e Ceci, sobreviventes que dariam origem a uma nova raça - uma nova geração–<br />

que povoaria o Brasil. O segundo, o poema em prosa de Alencar, narra a história de amor<br />

da virgem dos lábios de mel, <strong>Iracema</strong>, e o branco europeu, Martim, que deixam como fruto<br />

de seu amor, Moacir, o elemento que representaria o início de uma nova civilização: a<br />

brasileira. Miticamente, <strong>Iracema</strong> (mãe e esposa), representando a terra fecundada pelo<br />

colonizador europeu. “De longe viram <strong>Iracema</strong>, que viera esperá-los à margem de sua lagoa<br />

da Porangaba. Caminhava para eles com o passo altivo da garça que passeia à beira d'água:<br />

por cima da carioba trazia uma cintura das flores da naniva, que era o símbolo da<br />

fecundidade. Colar das mesmas cingia-lhe o colo e ornava os rijos seios palpitantes. Travou<br />

da mão do esposo, e a impôs no regaço: -Teu sangue já vive no seio de <strong>Iracema</strong>. Ela será<br />

mãe de seu filho. -Filho, dizes tu? Exclamou o cristão em júbilo. Ajoelhou ali e cingindo-a<br />

com os braços, beijou o seio fecundo da esposa” 625 .<br />

“A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tornou o tenro filho nos braços e com ele<br />

arrojou-se às águas límpidas do rio. Depois suspendeu-o à tela mimosa; seus olhos então o<br />

envolviam de tristeza e amor. -Tu és Moacir, nascido de meu sofrimento” 626 .<br />

No terceiro e último capítulo deste trabalho, procuramos estabelecer uma relação<br />

dialogal entre a <strong>Iracema</strong> e a Eneida, na tentativa de mostrar como os autores trabalharam seus<br />

heróis, direcionando-os para a categoria de mito fundacional. Agora, pretendemos responder<br />

aos questionamentos, sem, contudo, dar por esgotados os assuntos aqui tratados. O intento foi o<br />

de estabelecer uma linha de raciocínio, observando como os passos analisados em ambas as<br />

obras nos levam à percepção de um diálogo bastante aproximado, apesar das diferenças, entre<br />

elas, e da longitude temporal que separa os seus autores.<br />

Em primeiro lugar, já o sublinhamos, Enéias é um protagonista masculino. <strong>Iracema</strong><br />

é uma heroína. É de notar, desde logo, a diferença de épocas e de culturas como elemento<br />

preponderante da explicação desta divergência de gênero. Mesmo assim, devemos<br />

perspectivar o pioneirismo cultural de Alencar em relação à sua época. Também não será<br />

descabido apontar também o papel da mulher nas sociedades tupis/guaranis, muito mais<br />

consistente do que igual situação na sociedade européia da época representada.<br />

625 <strong>Iracema</strong>, cap. XXIII, p. 65<br />

626 Ibid. cap.XXX, p. 79<br />

147

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!