Iracema - Repositório Institucional UFC
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CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS<br />
Procuramos revisitar diferentes tradições de dois povos distintos, patentes no estudo<br />
de duas obras que ora já nos não parecem tão distantes quanto no início deste trabalho.<br />
Revimos lendas, mitos e culturas, relacionados com o indianismo brasileiro e as origens<br />
do povo romano, na tentativa de delinear fronteiras e propor uma interpretação adequada,<br />
através de elos entre a <strong>Iracema</strong> de Alencar e a Eneida de Virgílio, elos estes que perpassam<br />
os textos literários aqui tratados, além de muitos outros existentes, porém não<br />
mencionados, porque preferimos deixá-los para um trabalho futuro.<br />
Como pretendemos dar continuidade a este trabalho em uma próxima oportunidade,<br />
achamos por bem deixarmos registrados neste momento mais alguns pontos de<br />
aproximação que não desenvolvemos nesta dissertação, para não torná-la muito extensa,<br />
tais como: a tipologia dos heróis e a miscigenação de culturas, nas personagens de Enéias e<br />
Lavínia (Troianos e Latinos), em convergência com Martim e <strong>Iracema</strong> (Portugueses e<br />
Tupis); a rivalidade bélica dos Troianos e Latinos, semelhante à dos Tabajaras e Pitiguaras;<br />
a tensão entre Marte e Vénus, entre a guerra e o amor, e a luta interior de <strong>Iracema</strong>, entre o<br />
amor e a razão; a simbologia do espaço e do tempo: de Tróia a Cartago; de Cartago a Itália,<br />
na Eneida, que converge nas oposições do mar versus rio e do litoral versus interior<br />
(interland), em <strong>Iracema</strong>. O herói da Eneida torna-se cativo de vergonhosa paixão pela<br />
rainha de Cartago, assim como vergonhoso é também aos olhos de seu povo, o amor da<br />
heroína de <strong>Iracema</strong> pelo inimigo de seus irmãos. A fuga de <strong>Iracema</strong> tem algo de semelhante<br />
com a fuga de Enéias. Os artifícios usados por <strong>Iracema</strong> para consumar o himeneu com<br />
Martim têm algo a ver com o ardil armado por Juno para aproximar Dido de Enéias.<br />
Podemos aproximar também as festas e ritos religiosos em ambas as obras.<br />
Citamos aqui apenas mais algumas das muitas similitudes que podem ser<br />
encontradas nas duas obras, além daquelas que elegemos para o nosso trabalho.<br />
Como podemos perceber, longe está de se esgotar a rica teia comunicativa entre os<br />
textos para a qual apenas abrimos caminho.<br />
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