Iracema - Repositório Institucional UFC
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Mas <strong>Iracema</strong> prima pela expressão estética de uma civilização inteiramente<br />
ecológica. A evocação constante da flora e da fauna indígenas, num cenário contrastante<br />
entre as “ondas murmurosas” dos “verdes mares e alvas praias” 611 e as margens das “águas<br />
[do rio] da Porangaba” 612 , entre as “amenas campinas” 613 e as “encostas da serra” 614 , cria a<br />
atmosfera sagrada de um locus amoenus, de um habitat ecológico. É este cenário edênico<br />
que tem fascinado cronistas e poetas, romancistas e pintores, como se de um lugar utópico<br />
se tratasse.<br />
3.18 A estrutura formal<br />
A principal diferença entre as duas narrativas aqui confrontadas reside na respectiva<br />
estrutura formal e quantitativa.<br />
Com efeito, o grande fôlego da epopéia virgiliana permitiu-lhe abarcar em doze<br />
livros cerca de dez mil versos. O desenvolvimento narrativo e descritivo, a sucessão das<br />
falas e discursos, fazem deste poema épico uma obra de grande alcance quantitativo, sem<br />
desprimor para a sua alta qualidade estética. Não será alheia a esta opção a mímesis<br />
homérica, bem como as expectativas do próprio Príncipe e do público culto de Roma, numa<br />
época em que ler era um otium nobre e elevado, enquanto, por outro lado, o tempo calmo e<br />
sereno convidava a fazê-lo, sem as pressas da época moderna.<br />
A opção formal pelo hexâmetro homérico também constituía uma exigência da<br />
mímesis do gênero épico, aquele que mais se adequava ao tom sublime e grave do conteúdo<br />
cantado, como o toque da trombeta bélica ou da “tuba canora e belicosa” 615 , no dizer<br />
camoniano.<br />
Alencar também sentiu o apelo épico do canto em verso, tentando uma experiência<br />
que viria a revelar-se pouco consentânea com as novas tendências estéticas. Na Carta ao<br />
611 Iacemar, cap, XX, p. 57.<br />
612 Ir., cap. XXVI, p. 72.<br />
613 Ir., cap. XXIII, p. 64.<br />
614 Ir., cap. XXVI, p. 72.<br />
615 Os Lus., I, 5: 3.<br />
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