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Iracema - Repositório Institucional UFC

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tradições, dos mitos, da história do grupo. O corpo é um meio material utilizado por estas<br />

tribos como veículo de sua mensagem visual.<br />

Martim, o guerreiro branco, pinta o corpo com as cores representativas da grande<br />

nação pitiguara, tribo à qual pertencia seu fiel amigo Poti: o vermelho forte e o preto. Nesse<br />

gesto, Martim indicia a sua vontade de ser acolhido como novo cidadão na pátria do amigo<br />

Poti e da esposa <strong>Iracema</strong>: “O estrangeiro tendo adotado a pátria da esposa e tribo indígena<br />

do amigo, devia passar por aquela cerimônia, para tornar-se um guerreiro vermelho, filho<br />

de Tupã”. 571<br />

Através dos símbolos e ícones identificados nas representações pictóricas do corpo<br />

pintado, podemos não só concluir quanto à adesão do estrangeiro a uma nova pátria mas<br />

também desvendar significados que contribuem para entender a cultura de um povo em<br />

extinção e, a partir daqui, inferir comportamentos e padrões culturais de uma dada<br />

sociedade.<br />

Vejamos a mensagem das seguintes passagens: “<strong>Iracema</strong> preparou as tintas. O<br />

chefe, embebendo as ramas da pluma, traçou pelo corpo os riscos vermelhos e pretos, que<br />

ornavam a grande nação pitiguara” 572 .<br />

As cores vermelha e preta representam aqui o sentido de pertença a uma<br />

determinada nação. Não são utilizadas apenas como arte ornamental no corpo do guerreiro,<br />

mas como signo indicial de um membro da grande nação pitiguara.<br />

E o ritual continua: “pintou na fronte uma flecha e disse: Assim como a seta<br />

traspassa o duro tronco, assim o olhar do guerreiro penetra n’alma dos povos”. 573 A seta<br />

pintada na testa de Martim é referenciada como símbolo de um olhar, forte, marcante e<br />

determinado, como deve ser o olhar de um líder. Assim também ocorre em cada detalhe<br />

pintado no corpo do novo patriota.<br />

Cada signo e motivo pintados, guardam em si a representação simbólica de uma<br />

qualidade ou virtude guerreira: “no braço pintou um gavião” 574 , simbolizando a rapidez e<br />

precisão bélica com que abateria fatalmente, em um golpe preciso, o inimigo; “no pé<br />

esquerdo pintou a raiz de um coqueiro” 575 , para afirmar quão firme é o pé do guerreiro, ao<br />

571 Cf. cap. XXIV, p. 67<br />

572 Cf. cap. XXIV. p. 67<br />

573 Id.,Ibid.<br />

574 Ib.<br />

575 Ib.<br />

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