Iracema - Repositório Institucional UFC
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3.11 A miscigenação e a inculturação<br />
A miscigenação, fenômeno de globalização e comunhão étnica por excelência,<br />
representa a mais sólida garantia de sucesso histórico. Através dela as identidades como<br />
que se fundem numa osmose, mais ou menos profunda, capaz de gerar uma nova<br />
identidade. Valores culturais, como a língua, a história, a religião e os códigos éticos<br />
interagem, juntamente com a comunhão de laços naturais ou de sangue, na constituição de<br />
uma família que passa a habitar o mesmo território, num desígnio fundacional que converge<br />
para a construção de um futuro comum, a nova nação. Deste modo, à miscigenação junta-se<br />
a inculturação. Um e outro são fenômenos que convivem num projeto de grande sintonia<br />
comunitária. Um e outro são realizações do mais amplo e profundo alcance civilizacional,<br />
numa resposta à vocação humana de paz universal. No entanto, infelizmente, a História<br />
regista muito mais exemplos de conflitos e confrontos bélicos do que de convergência<br />
política e comunicacional.<br />
Entre tais exemplos figura o casamento do macedônico Alexandre Magno com a<br />
afegã Roxana, num claro projeto de matrimônio interétnico capaz de garantir a solidez de<br />
um império. Com a morte do grande general, porém, tal império começará a fragmentar-se,<br />
ficando quase limitado ao domínio da Alexandria à região do Mediterrâneo Sul.<br />
Também Enéias, o fugitivo Troiano que desembarca no Lácio, ao casar-se com<br />
Lavínia, a filha do rei Latino, assegura a fundação de um novo reino, que é resultado de<br />
uma miscigenação e de uma inculturação, como veremos.<br />
O casamento de Martim com <strong>Iracema</strong> reproduz uma espécie de aliança entre o<br />
autóctone e o estrangeiro, entre o ameríndio e o europeu, que será símbolo fundacional não<br />
apenas do Ceará, mas também de todo o Brasil. A reforçar esta espécie de aliança política<br />
implícita, o amor que une este jovem casal sela de modo profundamente humano a solidez<br />
histórica deste matrimônio civilizacional, num sacramento ou instituição sagrada que é<br />
participação da própria comunhão e comunidade divinas.<br />
Mas será, sobretudo, a partir da morte de <strong>Iracema</strong>, que pode ser interpretada como a<br />
morte simbólica de sua cultura em nome da implantação dos interesses do branco, portador<br />
da civilização, que da união do Índio nativo com o branco estrangeiro resultará a formação<br />
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