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Iracema - Repositório Institucional UFC

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compensação às próprias limitações 519 . Andira torna-se porta-voz do humanismo<br />

alencariano, como o de Anquises na Eneida.<br />

A glória dos homens de letras não surge diretamente no romance épico de Alencar.<br />

Mas, no “Prólogo da Primeira Edição”, o autor evoca genericamente o “nome de outros<br />

filhos” cujo mérito “enobrece nossa província na política e na ciência” 520 . Ao lado da<br />

“espada heróica de muito cearense”, cujo movimento “vai ceifando no campo da batalha<br />

ampla messe de glória” 521 , surge outra espécie de heroísmo, não menos importante mas um<br />

tanto diminuído na elegância espiritual da modéstia retórica, que converge e completa o das<br />

armas: “Quem não pode ilustrar a terra natal, canta as suas lendas, sem metro, na rude toada<br />

de seus antigos filhos” 522 .<br />

Segundo G. Dumézil, a função guerreira é uma transposição no mundo dos homens<br />

de um vasto sistema de representações míticas (Indra, o rei etrusco Lucumon, Marte; a<br />

casta indiana dos Kshatriya): “l’ affrontement des forces du Bien et des forces du Mal se<br />

développe jusqu’à un paroxysme destructeur et débouche sur une renaissance” 523 . A<br />

glorificação dos guerreiros não é mais do que a conseqüência dessa transposição mítica,<br />

numa continuidade do culto prestado à divindade. Destruir para recriar, numa espécie de<br />

mito do eterno retorno é o resultado da energia demiúrgica comunicada ao cosmo, como<br />

evidencia o mito de Xiva, no Hinduísmo, e do Espírito Santo, no Cristianismo, cuja ação é<br />

simbolizada pelo fogo purificador, que destrói o Mal e “renova a face da terra”.<br />

122<br />

519 “Desabriu, enfim, Irapuã a funda cólera:<br />

- Fica tu, escondido entre as igaçabas de vinho, fica, velho morcego, porque temes a luz do dia e só bebes<br />

o sangue da vítima que dorme. Irapuã leva a guerra no punho de seu tacape. O terror que ele inspira voa com<br />

o rouco som do boré. O potiguara já tremeu ouvindo rugir na serra, mais forte que o ribombo do mar” (Ib.).<br />

520 “Prólogo da Primeira Edição”, in op. cit., p. 10.<br />

521 Ib.<br />

522 Ib.<br />

523 Georges Dumézil, Mythe et Épopée, I, Paris, Gallimard, 1969, p. 238.

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