20.06.2013 Views

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

Iracema - Repositório Institucional UFC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dia”. Como sinais da expansão da fé cristã, “germinou a palavra do Deus verdadeiro na<br />

terra selvagem” e “o bronze sagrado ressoou nos vales onde rugia o maracá” 493 .<br />

Ambas as obras manifestam uma profunda visão religiosa. Enéias e <strong>Iracema</strong><br />

desempenham funções sacerdotais. Como diz Georges Dumézil 494 , a função sacerdotal é a<br />

primeira da sua teoria trifuncional das sociedades indo-européias. O maravilhoso épico<br />

insere-se nesta visão religiosa, marca essencial das civilizações arcaicas, em contraste com<br />

a modernidade secularizada e laica.<br />

3.10 A glória das armas e das letras<br />

O topos clássico da glória das armas e das letras marca de modo profundo a matriz<br />

épica dos autores gregos e latinos. Por um lado, cabe aos escritores fazerem-se eco da justa<br />

fama dos heróis 495 . Por outro, o reconhecimento da glória implica o sacrifício, o<br />

despojamento e a devoção da própria vida 496 .<br />

A noção da glória coletiva ultrapassa a da glória individual, merecendo a apologia<br />

épica, tanto da Eneida como da História liviana. Celebrar a pátria é motivo de orgulho para<br />

o poeta, como reconhece Horácio 497 e se propõe Propércio 498 . Numa consciência messiânica<br />

comparável à da História de Israel, Roma é governada pela égide divina 499 . Mas, em<br />

contrapartida, a reflexão sobre a decadência coletiva constitui um aviso pedagógico que<br />

deriva da consciência ética do escritor 500 .<br />

Na catábasis do Livro VI, Anquises passa em revista proléptica o longo cortejo dos<br />

heróis romanos, introduzindo o seu discurso quase fílmico com a tônica da glória: “Vou<br />

119<br />

493 Ib.<br />

494 Cf. Georges Dumézil, Mythe et Épopée, I, Paris, Gallimard, 1969.<br />

495 Cf. Il., VI, 357-359; Píndaro, Nem.VI, 30 SS ; VII, 11 ss. ; IX, 6 ss.; Pyth., VI, 6 ss.; Cíc., Pro Archia, VI,<br />

IX; Virg., Geórg., III, 46-49; Hor., Epist., I, 3, 7-8; Carm., I, 25, 11; IV, 8, 11 ss; 9, 13 ss.; Ov., Amor, III, I,<br />

25; Pônt., IV, 8, 43 ss.; Sén., Ep., XXI; A. Estácio, Theb., X, 445-446.<br />

496 Cf. Il., VI, 357-359; Cíc., Part. Orat., 25, 90 ; Hor., Ars Poetica, 412 ss ; Ep., I, 11, 22 ss.; Juv., X, 3 ss.;<br />

Marcial, Epigr., V, 13. 16; XI, 3; A. Est., Theb., XII, 72 ss.<br />

497 Cf. Ars Poetica, 285 ss.<br />

498 Cf. Propércio, IV, I, 67 ss.<br />

499 Cf. Cíc. , Catil., III, 9; Salúst., Bell. Jugurth., XIV, 19.<br />

500 Cf. Salúst., De Coniurat. Catilin., II-XIV ; T. Lív., Pref. ; Ov., Metam., XV, 418 ss., Tácito, Hist., II, 26;<br />

Juv., IV, 144 ss. Lucano, Phars., I, 70; VII, 420.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!