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Iracema - Repositório Institucional UFC

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com uma planta medicinal colhida no monte Ida, em Creta 483 . Em oposição, a terrível Juno<br />

persegue o herói troiano até ao final 484 . É ela que suscita a violência de Éolo, pai dos<br />

ventos, enviando-lhe a tempestade 485 , tentando mais tarde reter o inimigo em Cartago 486 . É<br />

ela que, tentando contrariar o Destino, procura, por todos os meios, impedir a fixação dos<br />

Troianos no Lácio 487 , enviando a fúria Alecto a provocar a guerra entre Latinos e<br />

Troianos 488 .<br />

Júpiter, todavia, tenta impedir, em conselho olímpico, a intervenção dos seus pares<br />

na guerra que opõe os Latinos aos Troianos, tentando deixar para mais tarde o verdadeiro<br />

embate entre Cartago e Roma 489 , mas Vênus e Juno não desistem de optar pelo patrocínio<br />

dos respectivos favoritos e o pai dos deuses, perante uma discórdia quase interminável,<br />

procura, numa posição neutra, que o Destino assinale a fortuna a uns e a desgraça a<br />

outros 490 .<br />

O maravilhoso em <strong>Iracema</strong>, apresenta uma dupla face: a indígena e a do narrador,<br />

que coincide com a dos guerreiros estrangeiros. Esta dupla face integra e harmoniza os<br />

povos em presença e respectivas culturas, numa feliz miscigenação.<br />

A face indígena assenta no poder e no culto de Tupã, o deus do trovão, que se<br />

assemelha a Júpiter.<br />

A face do narrador, bem como a dos estrangeiros, tem como suporte o Deus cristão.<br />

O primeiro exprime o desejo de uma intervenção divina a favor da bonança dos mares e da<br />

chegada feliz do “brioso e altivo barco” em que viajam Martim, Moacir e o cão Japi ao<br />

porto do Ceará 491 . Os segundos trazem de Portugal, juntamente com o sacerdote cristão, o<br />

“sagrado lenho”, diante do qual ajoelham, professando a sua fé num só Deus, ”como<br />

tinham um só coração” 492 . Em sinal de conversão ao “Deus verdadeiro”, Poti aufere o<br />

118<br />

sacramento do batismo, recebendo o nome de Antônio Filipe Camarão, do “santo cujo era o<br />

483 Cf. Aen., XII, 411-424.<br />

484 Cf. Aen., XII, 818.<br />

485 Cf. Aen., I, 64-75.<br />

486 Cf. Aen., IV, 90-104.<br />

487 Cf. Aen., VII, 286-320.<br />

488 Cf. Aen., VII, 323-340.<br />

489 Cf. Aen., X, 6-15.<br />

490 Cf. Aen., I, 104-113.<br />

491 “Deus te leve a salvo, brioso e altivo barco, por entre as vagas revoltas, e te poje nalguma enseada amiga.<br />

Soprem para ti as brandas auras; e para ti jaspeie a bonança mares de leite!” (<strong>Iracema</strong>, cap. I, p. 14).<br />

492 <strong>Iracema</strong>, cap. XXXIII, p. 87.

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