Iracema - Repositório Institucional UFC

Os jovens Lauso e Palante não vão confrontar-se diretamente porque os respectivos
destinos os haviam direcionado para defrontarem inimigos mais fortes: o primeiro seria
morto por Enéias; o segundo por Turno.
Júpiter, na antecâmara do desenlace bélico, proclama-se neutro ante os contendores,
deixando cada qual provar os seus méritos e comprovar o seu destino 478 . Mais uma vez, o
destino de Enéias está associado a altos feitos 479 . O próprio Turno, sentindo-se derrotado,
reconhece que mereceu tal destino 480 .
Segundo a doutrina estóica, o mundo é regido por um desígnio providencial,
estabelecendo a ordem e a justiça nas relações humanas. A insistente tônica da
predestinação na mundividência épica sublinha não apenas a fé no transcendente e sua
intervenção na História dos homens e dos deuses, mas também a visão luminosa da vida
humana, para além de todos os sinais negativos e tenebrosos.
No romance de Alencar, a predestinação é apenas sugerida através da interrogação
que, a partir de Moacir, aponta para a construção do futuro e do desígnio providencial que
lhe subjaz: “O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da pátria. Havia aí a
predestinação de uma raça?” 481 .
3.9 O maravilhoso
Na epopéia clássica, os acontecimentos humanos dependem da ação divina, da
chamada “comédia dos deuses”.
Na Eneida, tal como nos poemas homéricos, os deuses dividem-se na sua função
actancial: uns são adjuvantes do protagonista; outros são oponentes. Vênus, sua mãe,
acompanha e patrocina constantemente a sua missão fundacional. Intervém junto de Júpiter
a favor do filho, arrancando do pai dos deuses a profecia que revela o seu sucesso bélico e
político 482 . É também a deusa do amor que retira o filho ferido do campo de batalha e o cura
478 Cf. Aen., X, 100-113.
479 Cf. Aen., XII, 794-795.
480 Cf. Aen., XII, 931.
481 Iracema, cap. XXXIII, p. 86.
482 Cf. Aen., I, 254-266.
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