Uma Igreja na trilha do Cristo pastor - Arquidiocese de Maringá

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<strong>Uma</strong> <strong>Igreja</strong> <strong>na</strong><br />

<strong>trilha</strong> <strong>do</strong> <strong>Cristo</strong> <strong>pastor</strong><br />

Formação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças cristãs jovens para um mun<strong>do</strong> em mudança.<br />

Primeiro BR3 (Base <strong>de</strong> Reencontro e Reflexão Religiosa), 1975.


Não será exagero <strong>de</strong>clarar que, em 1º <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1956, quan<strong>do</strong> foi anunciada a criação da diocese<br />

<strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, o Norte <strong>do</strong> Paraná assemelhava-se muito mais à terra <strong>de</strong>scoberta por Cabral no seu <strong>de</strong>sembar-<br />

que <strong>do</strong> que à região como a conhecemos em nossos dias. Há consenso em reconhecer que o Brasil alcançou,<br />

nos últimos 50 anos da sua história, <strong>de</strong>senvolvimento incomparavelmente superior ao consegui<strong>do</strong> nos 450<br />

anteriores. Isso é ainda mais exato se aplica<strong>do</strong> ao Norte <strong>do</strong> Paraná. Não ape<strong>na</strong>s quan<strong>do</strong> se consi<strong>de</strong>ra o progresso<br />

econômico-social da região. No tocante à vida inter<strong>na</strong> da <strong>Igreja</strong> e à sua ação evangeliza<strong>do</strong>ra, as cinco<br />

últimas décadas atestam uma transformação realmente notável. Se, por algum artifício <strong>de</strong> mágica impossível,<br />

um túnel <strong>do</strong> tempo sugasse hoje um católico norte-para<strong>na</strong>ense <strong>de</strong> volta a 1956 ou 1957, ele teria dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> reconhecer a sua terra e, até com maior razão, a sua <strong>Igreja</strong>. Por mais que alguns insistam <strong>na</strong> idéia <strong>de</strong> que a<br />

<strong>Igreja</strong> Católica estacionou no tempo, é preciso reconhecer que ela empreen<strong>de</strong>u mudanças não peque<strong>na</strong>s, em<br />

especial, a partir da década <strong>de</strong> 1960.<br />

Ao tempo da criação e instalação canônica da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, a <strong>Igreja</strong> Católica orientava-se por um<br />

referencial <strong>do</strong>utrinário e evangeliza<strong>do</strong>r liga<strong>do</strong> fortemente às diretrizes <strong>do</strong> Concílio <strong>de</strong> Trento (1545-1563).<br />

Era compreensível, <strong>de</strong> vez que não se fizera sentir ainda o impacto que iria provocar em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> o<br />

Concílio Vaticano II (1962-1965), <strong>na</strong>sci<strong>do</strong> não “como um fruto <strong>de</strong> prolongada consi<strong>de</strong>ração, mas como uma<br />

flor <strong>de</strong> inesperada primavera”, no dizer <strong>de</strong> João XXIII, a quem ocorreu a inspiração <strong>de</strong> convocá-lo. A diocese<br />

<strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> foi instalada cinco anos antes daquele que se tor<strong>na</strong>ria o mais importante evento eclesial <strong>do</strong> século<br />

XX. O Concílio Ecumênico Vaticano II surpreen<strong>de</strong>u-a engatinhan<strong>do</strong>, ainda em fase <strong>de</strong> organização.<br />

A quem participa da vida eclesial <strong>de</strong> nossos dias talvez pareçam <strong>de</strong>scabidas disposições em vigor <strong>na</strong><br />

época. Normas que às gerações <strong>de</strong> hoje configuram <strong>de</strong>smedida concentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r eram então admitidas<br />

como praxe não só <strong>de</strong> roti<strong>na</strong> senão por inteiro justificadas. Encerra<strong>do</strong> às pressas, por causa da situação<br />

política rei<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> Itália, o Concílio Vaticano I (1869-1870) conseguiu elaborar a <strong>do</strong>utri<strong>na</strong> <strong>do</strong> prima<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

romano pontífice, mas não dispôs <strong>de</strong> tempo necessário para aprofundar a teologia <strong>do</strong> episcopa<strong>do</strong>. Se, <strong>de</strong> uma<br />

parte, <strong>de</strong>finiu a infalibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> papa, quan<strong>do</strong> este se pronuncia ex cathedra sobre questões <strong>de</strong> fé e costumes,<br />

<strong>de</strong> outra, não levou adiante questões vitais para a <strong>Igreja</strong>, a exemplo da sacramentalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> episcopa<strong>do</strong>, da<br />

evangelização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> confiada aos bispos, e <strong>do</strong> múnus <strong>do</strong> bispo como pai e mestre <strong>de</strong> sua <strong>Igreja</strong>... Por<br />

conseqüência, não foi difícil, durante longo perío<strong>do</strong>, encontrar quem visse no bispo uma categoria <strong>de</strong> auxiliar<br />

ou representante <strong>do</strong> papa, em vez <strong>de</strong> legítimo sucessor <strong>do</strong>s apóstolos, responsável, juntamente com o colégio<br />

episcopal e por força <strong>do</strong> mandato <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong>, pela evangelização <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os povos, razão <strong>de</strong> ser da <strong>Igreja</strong>. Era<br />

225<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


226<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

justificável, assim, que o recém-empossa<strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> solicitasse à Santa Sé licença para conservar o<br />

Santíssimo Sacramento em capela particular da sua residência. A eclesiologia hodier<strong>na</strong> estranha que um bispo<br />

em comunhão com o sucessor <strong>de</strong> Pedro requeira autorização para conservar a sagrada Eucaristia que ele,<br />

liturgo maior <strong>de</strong> sua <strong>Igreja</strong>, tem como encargo presidir e confeccio<strong>na</strong>r em favor <strong>de</strong>la.<br />

Na cédula nº 8521, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1957, a Nunciatura Apostólica respon<strong>de</strong>u remeten<strong>do</strong> em anexo<br />

“o Rescrito N. 2280/57, <strong>de</strong> 7 <strong>do</strong> corrente”, pelo qual Roma concedia a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservar o Santíssimo<br />

Sacramento <strong>na</strong> “Capela particular <strong>do</strong> Palácio Episcopal”. Quem conheceu em 1957 a residência <strong>do</strong> bispo não<br />

contém o riso ao ler os termos “capela” e “palácio”. A capela não passava <strong>de</strong> um cubículo imitan<strong>do</strong> um armário<br />

embuti<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> só cabiam um mini-altar e <strong>do</strong>is genuflexórios minúsculos. Para usá-la havia que <strong>de</strong>ixar as<br />

portas abertas; fechadas, encostavam nos genuflexórios. De palácio, por sua vez, a casa não guardava a mais remota<br />

aparência. Se, passa<strong>do</strong>s 50 anos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> inúmeras reformas, ainda é impossível chamá-la assim, menos<br />

ainda em 1957, quan<strong>do</strong> era muito mais acanhada. O rescrito redigi<strong>do</strong> em latim apresenta o seguinte teor:<br />

Sagrada Congregação <strong>do</strong>s Sacramentos<br />

Prot. N. 2280/57<br />

Beatíssimo Pai<br />

O Exmo. e Revmo. Dom Jaime Luiz Coelho, bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, humil<strong>de</strong>mente requer a<br />

Vossa Santida<strong>de</strong> licença para conservar o divino Sacramento em sacrário <strong>na</strong> residência<br />

episcopal da referida diocese.<br />

A Sagrada Congregação para a discipli<strong>na</strong> <strong>do</strong>s Sacramentos, em virtu<strong>de</strong> das faculda<strong>de</strong>s a<br />

ela concedidas pelo Santo Padre, nosso papa Pio XII, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao exposto, conce<strong>de</strong><br />

ao Excelentíssimo Ora<strong>do</strong>r a licença pedida, a vigorar durante seu encargo <strong>na</strong> referida<br />

diocese, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a capela seja <strong>de</strong>vidamente preparada e <strong>do</strong>tada <strong>de</strong> suficiente mobiliário,<br />

aí seja, ao menos uma vez por sema<strong>na</strong>, celebra<strong>do</strong> o santo sacrifício da missa, seja<br />

manti<strong>do</strong> sob chave o tabernáculo, dia e noite esteja acesa a lâmpada diante <strong>do</strong> SSmo.<br />

Sacramento, sejam as sagradas Espécies renovadas conforme as rubricas, e se observe<br />

tu<strong>do</strong> o mais conforme o costume. Revogam-se quaisquer disposições contrárias.<br />

Da<strong>do</strong> em Roma, no edifício da mesma Sagrada Congregação, no dia 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1957.<br />

(assi<strong>na</strong>tura ilegível) (SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS SACRAMENTOS, 1957, 1 f.).<br />

Eram outros os tempos, sem dúvida. O cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> bispos e padres centrava-se <strong>na</strong> manutenção e incremento<br />

da vida sacramental, praticamente a única maneira então em voga <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar um católico comprometi<strong>do</strong><br />

com sua <strong>Igreja</strong>. Tanto é assim que, ainda em nossos dias, para boa parte das pessoas, a distinção entre<br />

bom e mau católico resi<strong>de</strong> <strong>na</strong> diferente freqüência aos ritos litúrgicos celebra<strong>do</strong>s no interior <strong>do</strong> templo.<br />

Dever primordial <strong>de</strong> um bispo, portanto, ao tomar posse <strong>de</strong> sua diocese, era prover as paróquias <strong>de</strong><br />

padres em número suficiente para “aten<strong>de</strong>r o povo”, aí compreendi<strong>do</strong> gastar seu tempo em conferir batismos,<br />

ouvir confissões, celebrar missas, assistir casamentos, visitar enfermos portan<strong>do</strong> a sagrada unção e o viático,<br />

oficiar exéquias, ministrar bênçãos, aconselhar pessoas... No exercício <strong>de</strong>ssas funções sagradas praticamente<br />

se esgotavam as atribuições <strong>de</strong> um padre para com os fiéis entregues ao seu zelo <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>. Respeita<strong>do</strong>s, a par<br />

disso, os momentos para cultivo <strong>de</strong> sua vida interior e exercício da administração paroquial, o tempo quiçá<br />

ainda disponível <strong>de</strong>via bastar para o cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong> “catecismo” das crianças e <strong>do</strong> imprescindível acompanhamento<br />

das pias associações <strong>de</strong> fiéis.<br />

Datam <strong>de</strong>sse tempo − os mais antigos o recordam − algumas organizações que marcaram fortemente a<br />

história <strong>de</strong> nossas paróquias. Desti<strong>na</strong>vam-se a segmentos distintos da comunida<strong>de</strong> e tinham como característica<br />

visível uma fita colorida que or<strong>na</strong>va o peito <strong>do</strong>s seus membros. Para as crianças havia a Cruzada Eucarística<br />

Infantil, com sua fita amarela e ativida<strong>de</strong>s voltadas ao catecismo e ao grupo <strong>de</strong> coroinhas. A<strong>do</strong>lescentes e<br />

jovens <strong>do</strong> sexo feminino reuniam-se <strong>na</strong> Pia União das Filhas <strong>de</strong> Maria, i<strong>de</strong>ntificadas pela fita azul, enquanto o<br />

Apostola<strong>do</strong> da Oração, que usava fita vermelha, reunia <strong>na</strong>quela época quase exclusivamente senhoras casadas;<br />

ainda existente, o AO é integra<strong>do</strong> hoje também por senhores, além <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong> ambos os sexos. Para homens<br />

mais maduros e pie<strong>do</strong>sos, existia um sodalício conheci<strong>do</strong> como Irmãos <strong>do</strong> Santíssimo Sacramento; em vez <strong>de</strong>


fita, portavam uma opa vermelha. Aos rapazes e homens adultos era franqueada a congregação maria<strong>na</strong>, com<br />

a inconfundível fita azul, que representou um marco <strong>na</strong> atuação apostólica <strong>do</strong>s cristãos leigos. Diferentes das<br />

Or<strong>de</strong>ns Terceiras, mais ligadas a mosteiros e a Or<strong>de</strong>ns religiosas; diferentes <strong>do</strong>s Oratórios, com uma forma <strong>de</strong><br />

vida mais festiva e pouco estruturada; distintas ainda das conferências vicenti<strong>na</strong>s, cuja atuação prioriza a visita<br />

<strong>do</strong>miciliar a famílias necessitadas, as congregações maria<strong>na</strong>s distinguiam-se por seu caráter estritamente laical,<br />

embora sob condução hierárquica <strong>de</strong> um diretor espiritual nomea<strong>do</strong> pelo provincial jesuíta mais próximo, e<br />

que, <strong>na</strong>s paróquias, evi<strong>de</strong>ntemente, era função <strong>do</strong> padre.<br />

Criada pelo jesuíta belga Jean Leunis para os alunos <strong>do</strong> Colégio Romano, a primeira congregação<br />

maria<strong>na</strong> recebeu aprovação da <strong>Igreja</strong> em 1584, quan<strong>do</strong> Gregório XIII propôs as normas da Prima Primária,<br />

como ficou conhecida, erigin<strong>do</strong>-se em mo<strong>de</strong>lo para todas as <strong>de</strong>mais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro. O papa confiou a<br />

nova associação à responsabilida<strong>de</strong> direta <strong>do</strong> superior geral <strong>do</strong>s jesuítas, ligan<strong>do</strong> indissociavelmente as congregações<br />

maria<strong>na</strong>s à Companhia <strong>de</strong> Jesus. Com tal patrocínio cresceram <strong>de</strong> forma notável propician<strong>do</strong> aos<br />

seus membros vida espiritual intensa, garantida pelos exercícios espirituais <strong>de</strong> Santo Inácio. Juntamente com<br />

a Companhia <strong>de</strong> Jesus acabaram supressas, em 21 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1773, as 2.500 congregações filiadas à Prima<br />

Primária <strong>de</strong> Roma. Quan<strong>do</strong>, em 7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1814, a Companhia <strong>de</strong> Jesus foi restaurada, elas voltaram a<br />

existir, mas enfrentaram não poucas dificulda<strong>de</strong>s até que, em 1948, Pio XII publicou a constituição apostólica<br />

Bis saeculari die, que lhes <strong>de</strong>volveu as características <strong>de</strong> origem e restabeleceu os exercícios i<strong>na</strong>cianos como<br />

espinha <strong>do</strong>rsal <strong>de</strong> sua espiritualida<strong>de</strong>.<br />

Ao longo <strong>de</strong> décadas, antes <strong>do</strong> advento <strong>do</strong> Concílio Vaticano II, a congregação maria<strong>na</strong> impôs-se como<br />

única escola <strong>de</strong> formação <strong>do</strong>s leigos, além <strong>de</strong> celeiro on<strong>de</strong> os vigários garimpavam os melhores agentes paroquiais.<br />

Não se voltava sobre si mesma, antes, preparava os congrega<strong>do</strong>s para ação apostólica <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>da a setores<br />

específicos da paróquia e da socieda<strong>de</strong>: crianças <strong>do</strong> catecismo, jovens, atletas, operários, encarcera<strong>do</strong>s, enfermos,<br />

indigentes, prostitutas etc. Em muitos lugares os marianos se tor<strong>na</strong>vam conheci<strong>do</strong>s ainda por bom time<br />

<strong>de</strong> futebol e por competente banda <strong>de</strong> música. Na organização inter<strong>na</strong>, um <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s <strong>do</strong> êxito repousava<br />

no papel exerci<strong>do</strong> pela instrução, verda<strong>de</strong>ira catequese <strong>de</strong> aprofundamento da fé católica. Dentre os cargos da<br />

diretoria um <strong>do</strong>s mais importantes era o <strong>de</strong> instrutor; a partir <strong>de</strong>le se <strong>de</strong>lineava o perfil <strong>de</strong> uma congregação.<br />

À semelhança da congregação maria<strong>na</strong> para homens e moços, também a Pia União − sob orientação <strong>do</strong><br />

sacer<strong>do</strong>te ou <strong>de</strong> religiosas, on<strong>de</strong> as havia −, constituía para jovens <strong>do</strong> sexo feminino uma escola <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

vida. Por ela passavam as moças “<strong>de</strong> família” que, uma vez casadas, normalmente ingressavam no Apostola<strong>do</strong><br />

da Oração.<br />

Congregação Maria<strong>na</strong>, Pia União das Filhas <strong>de</strong> Maria e Apostola<strong>do</strong> da Oração com padre Teófilo Carlos Almazán, primeiro vigário da<br />

Paróquia Santíssima Trinda<strong>de</strong> (atual Catedral). O coroinha <strong>do</strong> centro, <strong>de</strong> mãos postas, é hoje padre José Olavo Pires Trinda<strong>de</strong>. Foto<br />

227<br />

<strong>do</strong> dia 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1951, em frente à antiga casa paroquial, espaço hoje ocupa<strong>do</strong> pela Cúria Metropolita<strong>na</strong>.<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


228<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Com sua participação eficiente e discreta, o AO não fazia notar sua presença <strong>na</strong> vida paroquial. Era<br />

claramente visível, por outro la<strong>do</strong>, a sua ausência lá on<strong>de</strong> não existia. No AO agrupavam-se as melhores li<strong>de</strong>ranças<br />

femini<strong>na</strong>s maduras das comunida<strong>de</strong>s sobre cujos ombros repousava o peso maior <strong>de</strong> trabalhos que<br />

muita gente temia enfrentar. Impossível encontrar um único templo católico no Norte <strong>do</strong> Paraná que se tenha<br />

ergui<strong>do</strong> sem a colaboração <strong>de</strong>dicada <strong>do</strong> AO. A sua <strong>de</strong>voção ao Sagra<strong>do</strong> Coração <strong>de</strong> Jesus e a prática das nove<br />

primeiras sextas-feiras tor<strong>na</strong>ram-<strong>na</strong> uma das associações mais conhecidas da <strong>Igreja</strong> nos últimos tempos. Sobre<br />

o cinqüentenário da encíclica Haurietis acquas (15/05/1956) <strong>do</strong> papa Pio XII, que fala da <strong>de</strong>voção ao Sagra<strong>do</strong><br />

Coração <strong>de</strong> Jesus, manifestou-se recentemente o car<strong>de</strong>al Martini, arcebispo <strong>de</strong> Milão:<br />

Ela (a <strong>de</strong>voção) me havia si<strong>do</strong> infundida por minha mãe, com a prática das primeiras sextas-feiras<br />

<strong>do</strong> mês. Nesse dia, minha mãe nos fazia levantar ce<strong>do</strong> para ir à igreja paroquial<br />

e tomar a comunhão. [...] Um gran<strong>de</strong> mérito <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>voção foi, portanto, ter chama<strong>do</strong><br />

a atenção para a centralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> amor <strong>de</strong> Deus como chave da história da salvação. Mas,<br />

para perceber isso, era necessário apren<strong>de</strong>r a ler as Escrituras, a interpretá-las <strong>de</strong> maneira<br />

unitária, como uma revelação <strong>do</strong> amor <strong>de</strong> Deus pela humanida<strong>de</strong>. A encíclica Haurietis<br />

acquas marcou um momento <strong>de</strong>cisivo <strong>de</strong>sse caminho (MARTINI, 2006, p. 34).<br />

Conta <strong>do</strong>m Jaime que, em visita <strong>pastor</strong>al a uma paróquia, reuniu as diversas associações para ouvir relato<br />

<strong>do</strong> trabalho que realizavam <strong>na</strong> paróquia. Deixou, <strong>de</strong> propósito, o AO por último. À sua vez, muito humil<strong>de</strong>,<br />

a presi<strong>de</strong>nte disse: “Nós não fazemos <strong>na</strong>da, <strong>do</strong>m Jaime. Só rezamos”. E o bispo, sorrin<strong>do</strong>: “Pois são vocês<br />

que sustentam tu<strong>do</strong> que os outros fazem. Se não fosse a oração <strong>de</strong> vocês, eles não fariam <strong>na</strong>da daquilo que<br />

contaram”.<br />

Até nos centros maiores, mas <strong>de</strong> forma pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte no interior <strong>do</strong> Brasil, congrega<strong>do</strong>s marianos,<br />

filhas <strong>de</strong> Maria e Apostola<strong>do</strong> da Oração eram praticamente os únicos espaços humanos com que contavam<br />

então os sacer<strong>do</strong>tes para a <strong>de</strong>scoberta e o cultivo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças laicais.<br />

O Concílio Vaticano II recuperou para a <strong>Igreja</strong> o conceito <strong>de</strong> povo <strong>de</strong> Deus e restituiu ao cristão leigo,<br />

<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> especial no <strong>de</strong>creto Apostolicam Actuositatem, a sua missão <strong>de</strong> evangeliza<strong>do</strong>r juntamente com os<br />

ministros or<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>s, recordan<strong>do</strong>-lhe que “existe <strong>na</strong> <strong>Igreja</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços, mas unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> missão”<br />

(AA 2). Para quem veio <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s anos 60 e convive com as tantas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação à disposição<br />

<strong>do</strong>s leigos tor<strong>na</strong>-se difícil avaliar a importância <strong>de</strong> filhas <strong>de</strong> Maria, <strong>de</strong> congrega<strong>do</strong>s marianos e <strong>do</strong> AO <strong>na</strong> evangelização<br />

<strong>do</strong> Brasil e particularmente no Norte <strong>do</strong> Paraná.<br />

Como qualquer <strong>pastor</strong> <strong>de</strong> <strong>Igreja</strong> jovem, também o bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a posse, em 1957, inquietou-se<br />

com o reduzi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> padres face à multidão <strong>de</strong> diocesanos que recebeu. Para uma área <strong>de</strong><br />

14.902,67km² − que compreendia 24 municípios, 14 paróquias instaladas e uma criada, ainda por prover <strong>de</strong><br />

vigário −, seu clero diocesano não ia além <strong>de</strong> 7 padres. Importa não esquecer que a quase totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s que<br />

vinham adquirir terra por estes la<strong>do</strong>s tinham em mente o plantio <strong>de</strong> café, monocultura da época e carro-chefe<br />

<strong>na</strong> pauta <strong>de</strong> exportações brasileiras para o merca<strong>do</strong> inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Diferentemente da pecuária e da produção <strong>de</strong><br />

outros grãos, o café sempre exigiu abundante mão-<strong>de</strong>-obra. Tu<strong>do</strong> fazia prever para a região nos anos futuros<br />

um forte crescimento populacio<strong>na</strong>l. A comprovação ficou <strong>de</strong>monstrada <strong>na</strong> gritante diferença <strong>do</strong> número <strong>de</strong><br />

municípios existentes entre a criação da diocese e a sua instalação, um ano <strong>de</strong>pois. A bula <strong>de</strong> criação relacionou<br />

somente oito, to<strong>do</strong>s instala<strong>do</strong>s até o ano <strong>de</strong> 1952. Para quem conhece como se <strong>de</strong>ram os fatos, o motivo é óbvio:<br />

a mobilização em torno da nova diocese teve início após a reunião provincial convocada por <strong>do</strong>m Manuel<br />

da Silveira D’Elboux, em 1953. Os estu<strong>do</strong>s relacio<strong>na</strong>ram os municípios existentes <strong>na</strong> ocasião; não mais que<br />

os oito cita<strong>do</strong>s <strong>na</strong> bula papal. No momento da instalação canônica, porém, em março <strong>de</strong> 1957, a mesma área<br />

abrigava um total <strong>de</strong> 24 municípios. Conclui-se que, em menos <strong>de</strong> quatro anos, o número triplicou.<br />

Longe <strong>de</strong> se entusiasmar com esse da<strong>do</strong>, o novo bispo viu crescerem motivos <strong>de</strong> preocupação. Como<br />

aten<strong>de</strong>r com sete padres <strong>do</strong> clero diocesano uma região que se expandia nessa proporção? Não obstante o<br />

fato <strong>de</strong> contar também com 22 sacer<strong>do</strong>tes <strong>do</strong> clero regular, a experiência, como ficou <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong>, não<br />

lhe trouxe gran<strong>de</strong> alento, pelo menos nos primeiros encontros. Além <strong>de</strong> que, sabia-o bem, o atendimento


paroquial por religiosos significava uma etapa provisória <strong>do</strong> seu governo; <strong>de</strong>via prolongar-se ape<strong>na</strong>s até que a<br />

nova <strong>Igreja</strong> diocesa<strong>na</strong> estivesse <strong>de</strong>vidamente estruturada. Daí a busca incessante por novos colabora<strong>do</strong>res e a<br />

criação, quan<strong>do</strong> se oferecia o ensejo, <strong>de</strong> novas paróquias, embora sempre em quantida<strong>de</strong> longe da i<strong>de</strong>al.<br />

Em face das necessida<strong>de</strong>s, comunida<strong>de</strong>s paroquiais novas foram surgin<strong>do</strong>. Em 1958, o bispo criou três:<br />

Para<strong>na</strong>city, São Jorge <strong>do</strong> Ivaí e Floraí; em 1959, quatro: Santa Isabel <strong>do</strong> Ivaí, Marumbi, São Pedro <strong>do</strong> Ivaí e<br />

Itambé; em 1960, oito: Cruzeiro <strong>do</strong> Sul, Ivatuba, Santo Antônio <strong>de</strong> Pádua (<strong>Maringá</strong>), Graciosa, Pla<strong>na</strong>lti<strong>na</strong> <strong>do</strong><br />

Paraná, Santa Cruz <strong>do</strong> Monte Castelo e Floresta; em 1961, Atalaia; em 1962, Santo Cura d’Ars (Paiçandu);<br />

em 1964, quatro paróquias novas: Nossa Senhora das Dores (Para<strong>na</strong>vaí), São Carlos <strong>do</strong> Ivaí, I<strong>na</strong>já e Santa<br />

Maria Goretti (<strong>Maringá</strong>); em 1965, duas: Kaloré e Querência <strong>do</strong> Norte.<br />

O ano <strong>de</strong> 1965 assi<strong>na</strong>la também a implantação <strong>de</strong> importante medida administrativo-<strong>pastor</strong>al. Depois<br />

<strong>de</strong> muita reflexão e consulta, foram cria<strong>do</strong>s cinco <strong>de</strong>ca<strong>na</strong>tos ou regiões <strong>pastor</strong>ais em que se subdividirá, <strong>do</strong>ravante,<br />

a diocese. Cada <strong>de</strong>ca<strong>na</strong>to agrupará um número aproximadamente igual <strong>de</strong> paróquias, ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

uma, erigida como cabeça <strong>de</strong> região. Estabeleci<strong>do</strong>s em função <strong>do</strong> melhor governo e <strong>do</strong>s melhores frutos no<br />

trabalho <strong>pastor</strong>al, os cinco <strong>de</strong>ca<strong>na</strong>tos receberam como se<strong>de</strong>s as paróquias: Catedral, Jandaia <strong>do</strong> Sul, Loanda,<br />

Nova Esperança e São Jorge <strong>do</strong> Ivaí.<br />

A partir <strong>de</strong> 1968, criada a diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí, a área <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Alto Paraná até o rio Paraná acabou subtraída<br />

à administração <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. No território que lhe restou, porém, foi sentin<strong>do</strong>, ao longo <strong>de</strong><br />

seu governo, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implantar outras 20 paróquias: Bom Pastor (Mandaguari, 1968); <strong>Cristo</strong> Ressuscita<strong>do</strong><br />

e Divino Espírito Santo (<strong>Maringá</strong>, 1969); Presi<strong>de</strong>nte Castelo Branco e Aquidaban (1970); Doutor<br />

Camargo (1971); São Miguel Arcanjo (<strong>Maringá</strong>, 1975); São Francisco <strong>de</strong> Assis (<strong>Maringá</strong>, 1978); Nossa Senhora<br />

das Graças (Sarandi, 1979); Sagra<strong>do</strong> Coração <strong>de</strong> Jesus (<strong>Maringá</strong>, 1980); Menino Jesus <strong>de</strong> Praga/São<br />

Francisco Xavier, Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s/São Judas Ta<strong>de</strong>u, Santa Isabel <strong>de</strong> Portugal (<strong>Maringá</strong>, 1990) e<br />

Santa Teresinha <strong>do</strong> Menino Jesus (Sarandi, 1990); Nossa Senhora <strong>de</strong> Guadalupe (<strong>Maringá</strong>, 1992); São Silvestre<br />

I, Papa (<strong>Maringá</strong>, 1994); Nossa Senhora da Liberda<strong>de</strong> e Beato Pedro Jorge Frassati (1995), e as três<br />

últimas em 1997, seu último ano como arcebispo metropolitano: Santa Rosa <strong>de</strong> Lima (Iguatemi), Jesus Bom<br />

Pastor (Paiçandu) e São Mateus Apóstolo (<strong>Maringá</strong>).<br />

Em seu perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 40 anos à frente da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, <strong>do</strong>m Jaime criou 41 novas paróquias, das<br />

quais 7 (sete) passaram a compor, a partir <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1968, a diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí, integralmente <strong>de</strong>smembrada<br />

<strong>do</strong> território da diocese origi<strong>na</strong>l.<br />

Por sua i<strong>na</strong><strong>de</strong>quação ao novo contexto, também a divisão administrativa da <strong>Igreja</strong>-mãe exigiu reformulação.<br />

Assim, no segun<strong>do</strong> semestre <strong>de</strong> 1968, a partição em <strong>de</strong>ca<strong>na</strong>tos, que vigorava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1965, sofreu<br />

mudança passan<strong>do</strong> a três regiões <strong>pastor</strong>ais ape<strong>na</strong>s, nucleadas em torno das paróquias da Catedral, <strong>de</strong> Jandaia<br />

<strong>do</strong> Sul e <strong>de</strong> Nova Esperança, absorven<strong>do</strong> esta as paróquias <strong>do</strong> antigo <strong>de</strong>ca<strong>na</strong>to <strong>de</strong> São Jorge <strong>do</strong> Ivaí. Foi também<br />

admitida nova sistemática para reuniões <strong>do</strong> clero: estabeleceram-se duas reuniões gerais, uma em cada<br />

semestre, e reuniões mensais em cada setor ou região <strong>pastor</strong>al.<br />

Ao mesmo tempo em que diligenciava para conseguir mais padres e criava novas paróquias lá on<strong>de</strong><br />

verificava a premência, o bispo empenhou-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua chegada, em suscitar nos diocesanos uma clara consciência<br />

vocacio<strong>na</strong>l. À época, a palavra “vocação” guardava quase exclusivamente a conotação sacer<strong>do</strong>tal e<br />

religiosa, e ele esforçou-se para que os fiéis se sentissem comprometi<strong>do</strong>s com o número e com a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

ministros sagra<strong>do</strong>s. Incentivou as paróquias a promoverem sema<strong>na</strong>s vocacio<strong>na</strong>is, além <strong>de</strong> voltar constantemente<br />

ao assunto nos programas radiofônicos, em artigos <strong>de</strong> jor<strong>na</strong>l e, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> particular, <strong>na</strong>s visitas <strong>pastor</strong>ais<br />

em seus encontros com crianças e jovens. Sua pregação incessante se fazia em torno da oração e trabalho por<br />

“numerosos e santos” operários para a messe.<br />

Mesmo que houvesse, algum dia, sacer<strong>do</strong>tes em gran<strong>de</strong> número (e não era o caso), com certeza não<br />

bastaria dissemi<strong>na</strong>r paróquias por to<strong>do</strong>s os cantos. Existia, já <strong>na</strong>quele tempo, clareza bastante sobre os limites<br />

da <strong>pastor</strong>al paroquial praticada, capaz <strong>de</strong> reunir os converti<strong>do</strong>s, mas não <strong>de</strong> atrair à conversão os afasta<strong>do</strong>s.<br />

Conquanto apresente conteú<strong>do</strong> invariável, a evangelização submete-se às exigências específicas <strong>de</strong> cada parcela<br />

da população. Não escapava ao senso <strong>pastor</strong>al <strong>do</strong> bispo as nuances só conhecidas <strong>de</strong> quem mergulha <strong>na</strong> realida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> seu meio. Des<strong>de</strong> ce<strong>do</strong>, inquietou-o a situação religiosa <strong>do</strong>s japoneses <strong>na</strong>tos e <strong>de</strong> seus filhos, comu-<br />

229<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


230<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

nida<strong>de</strong> numerosa e impermeável para estranhos à sua cultura. Preocupavam-no também os jovens, sobretu<strong>do</strong><br />

estudantes; os professores, muitos vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fora on<strong>de</strong> tinham <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> família; o povo da zo<strong>na</strong> rural, mora<strong>do</strong>r<br />

das extensas plantações <strong>de</strong> café distantes das cida<strong>de</strong>s; os bairros <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, que se esparramavam pelos lotes<br />

<strong>de</strong>smata<strong>do</strong>s, enchen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> gente, enquanto faltava quem lhes levasse a pregação da fé católica. É revela<strong>do</strong>r<br />

penetrar <strong>na</strong> visão que possuía <strong>de</strong> sua <strong>Igreja</strong> Particular, oito meses <strong>de</strong>pois da posse. É sua a <strong>de</strong>scrição:<br />

Na diocese tôda, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, é consola<strong>do</strong>r o espírito religioso. O povo simples <strong>do</strong><br />

campo conserva a religião e a pratica como é possível, diante da falta imensa <strong>de</strong> clero.<br />

Aqui se realiza a palavra da Escritura: o povo pe<strong>de</strong> pão, e não há quem o distribua.<br />

[...] Embora o número <strong>de</strong> acatólicos não seja gran<strong>de</strong>, há, contu<strong>do</strong>, a dissemi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong><br />

êrro entre as camadas mais simples, que laboram em gran<strong>de</strong> ignorância religiosa. Na<br />

chamada alta socieda<strong>de</strong>, salvo honrosas exceções, pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> o catolicismo cômo<strong>do</strong><br />

e inoperante, ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong> tradição, sem a verda<strong>de</strong>ira vida sobre<strong>na</strong>tural. Como por aqui<br />

aportaram visan<strong>do</strong> mais a situação econômica, pouco ou <strong>na</strong>da fizeram para se aproximarem<br />

<strong>de</strong> Deus. Não obstante, com a graça <strong>de</strong> Deus, nota-se um interesse para com a<br />

prática da religião, e os nossos esforços estão volta<strong>do</strong>s para êsse objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a<br />

to<strong>do</strong>s e atraí-los para a <strong>Igreja</strong>.<br />

Quanto à propaganda herética, está como causa principal a angustiante falta <strong>de</strong> clero.<br />

Os sacer<strong>do</strong>tes que trabalham <strong>na</strong> Diocese, embora se lhes reconheça o valor <strong>do</strong> sacrifício,<br />

da abnegação e <strong>do</strong> seu pioneirismo, quase to<strong>do</strong>s estrangeiros, estão a braços com<br />

a <strong>de</strong>sproporção <strong>de</strong> fôrças no campo <strong>de</strong> luta. Poucos sacer<strong>do</strong>tes para imensas paróquias,<br />

tôdas elas num crescimento contínuo, e tôdas com parte <strong>de</strong> sua população flutuante,<br />

que busca num e noutro lugar o seu sustento material.<br />

O Sacer<strong>do</strong>te, percorren<strong>do</strong> a paróquia, algumas <strong>de</strong>las com quatro municípios, v.g Loanda,<br />

Nova Esperança, pouco po<strong>de</strong> fazer em favor <strong>do</strong> crescimento da vida espiritual.<br />

Chega<strong>do</strong> a uma Capela, [...] o Padre aten<strong>de</strong> ràpidamente as confissões, celebra a Santa<br />

Missa, e to<strong>do</strong> o tempo é <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> aos batiza<strong>do</strong>s, aos casamentos ou processos matrimoniais.<br />

Há pouco tempo para Reuniões das Associações Religiosas ou catecismo.<br />

Segue-se, pois, a falta <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira formação da vonta<strong>de</strong> e ilustração da inteligência.<br />

Esta conseqüência – a ignorância religiosa – é campo fértil para propaganda protestante,<br />

espírita, etc. Convergin<strong>do</strong> para o norte <strong>do</strong> Paraná pessoas das mais diferentes<br />

regiões <strong>do</strong> país, e também <strong>do</strong> estrangeiro, cada qual traz a carga <strong>de</strong> seus princípios já<br />

recebi<strong>do</strong>s, e em meio à escassez da vida religiosa, pouco a pouco se abrem às seitas<br />

heréticas, ou se tor<strong>na</strong>m indiferentes (COELHO, 1957, f. 1-2).<br />

A Missão Nipo-BrAsileirA<br />

Alça<strong>do</strong> à fama, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da colonização, pela fertilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas terras, o Norte <strong>do</strong> Paraná tornou-<br />

-se atração agrícola, além <strong>de</strong> campo aberto ao exercício <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s para muitos japoneses e seus<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes originários, em sua maioria, da Alta Paulista, Sorocaba<strong>na</strong> e Noroeste, regiões <strong>do</strong> vizinho Esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo. Conheci<strong>do</strong>s por sua <strong>de</strong>voção ao trabalho e forte discipli<strong>na</strong>, para cá se transferiram dispostos a<br />

melhorar o padrão <strong>de</strong> vida, sem me<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconforto que os esperava no mato e nos incipientes lugarejos,<br />

transforma<strong>do</strong>s, com o passar <strong>do</strong>s anos, em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> porte <strong>na</strong>da <strong>de</strong>sprezível. Há notícia da presença, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

década <strong>de</strong> 1930, <strong>de</strong> grupos nipônicos que, para manter vivos os valores culturais <strong>do</strong> país <strong>de</strong> origem, reuniram-<br />

-se em colônias japonesas, muito atuantes e interessadas em se integrarem à socieda<strong>de</strong> local.<br />

Na área da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, famílias japonesas concentravam-se, com maior intensida<strong>de</strong>, nos municípios<br />

<strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, Marialva, Floresta, Nova Esperança e Para<strong>na</strong>vaí. Em relatório à nunciatura apostólica,<br />

o bispo informava, no ano <strong>de</strong> 1960, a existência <strong>de</strong> uma colônia japonesa composta por aproximadamente<br />

20.500 pessoas. Cerca <strong>de</strong> 12.500 tinham si<strong>do</strong> batizadas, mas ape<strong>na</strong>s 1000 eram católicos praticantes. Destes,<br />

o número mais expressivo (40 famílias) concentrava-se em Floresta, on<strong>de</strong> representava 20% das 200 famílias<br />

ali sediadas; algumas, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s mártires <strong>de</strong> Nagasaki (1597) (COELHO, 1961, f. 10).<br />

Conforme da<strong>do</strong>s da Missão Católica Nipo-Brasileira <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, remontam a 1953 as primeiras informações<br />

<strong>de</strong> atendimento católico a japoneses e nisseis <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>. No dia 24 <strong>de</strong> outubro daquele ano foi reque-


i<strong>do</strong> à Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação e Cultura o funcio<strong>na</strong>mento da Escola Mista São José, a mesma que<br />

em 1960 receberia <strong>do</strong>m Jaime como diretor. Depois, católicos japoneses da diocese foram ocasio<strong>na</strong>lmente<br />

atendi<strong>do</strong>s por frei A<strong>na</strong>cleto <strong>de</strong> Vescova<strong>na</strong>, que atuava em to<strong>do</strong> o Norte <strong>do</strong> Paraná <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> 1955, e<br />

por padre Inácio Shigeo Takeuchi, SJ, que vinha <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Já em 1957, com a mediação <strong>do</strong> núncio apostólico, o primeiro bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> entabulou entendimentos<br />

com o Japão, solicitan<strong>do</strong> o envio <strong>de</strong> um missionário japonês. Obteve feliz resulta<strong>do</strong> com a cessão pelo bispo<br />

<strong>de</strong> Fukuoka <strong>de</strong> um padre <strong>de</strong> sua diocese, Miguel Yoshimi Kimura, que chegou ao Brasil em 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

1958, passan<strong>do</strong> a morar <strong>na</strong> residência episcopal, ao mesmo tempo em que iniciava o aprendiza<strong>do</strong> da língua portuguesa.<br />

Na época, morou também em casa <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, durante alguns meses, o padre espanhol Francisco<br />

Peregri<strong>na</strong> López, mais tar<strong>de</strong> vigário ecônomo <strong>de</strong> Nova Esperança. Com maiores conhecimentos <strong>de</strong> português,<br />

ele colaborava no ensino <strong>de</strong> Kimura. De temperamento galhofeiro, no entanto, divertia-se ensi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> palavras<br />

erradas ao “aluno” que <strong>de</strong>pois, precisava receber <strong>do</strong> bispo paciente correção. Kimura espalhou o seu zelo missionário<br />

por toda a diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> que, <strong>na</strong> época, ainda incluía a <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí. É <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> a<br />

criação da Missão Nipo-Brasileira em <strong>Maringá</strong> num tempo em que havia carência <strong>de</strong> quase tu<strong>do</strong> por aqui. A ele<br />

é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ainda o Centro Cultural e Social São Francisco Xavier, funda<strong>do</strong> em 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1960, e a Escola,<br />

hoje Colégio São Francisco Xavier, cuja pedra fundamental foi lançada em 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1962. Para sua<br />

direção <strong>do</strong>m Jaime conseguiu as Irmãzinhas da Imaculada Conceição, <strong>de</strong>ntre as quais algumas irmãs nisseis. 1 Em<br />

12 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1965 chegaram a <strong>Maringá</strong> as irmãs Teresa Ayako Onichi e Clara Sumiko Ko, das Carmelitas<br />

da Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vedru<strong>na</strong>, que <strong>de</strong>ram inestimável cooperação ao trabalho da Missão Nipo-Brasileira. A primeira<br />

retornou ao Japão para tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em 1972, voltan<strong>do</strong> ao Brasil em 1977. Doente <strong>de</strong> novo, em 1998<br />

regressou ao Japão on<strong>de</strong> faleceu a 25 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006. Irmã Clara, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 40 anos ininterruptos <strong>de</strong> trabalho,<br />

no Colégio Santa Cruz e <strong>na</strong> evangelização <strong>de</strong> japoneses e <strong>de</strong> nisseis, entregou a Deus sua bela alma <strong>de</strong><br />

missionária, <strong>na</strong> madrugada <strong>do</strong> dia 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005, em <strong>Maringá</strong>. O presbitério <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> foi enriqueci<strong>do</strong>,<br />

a 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1966, com a or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>do</strong> primeiro padre nissei, Pedro Watar (Wataru) Makiyama. Ano<br />

seguinte, quan<strong>do</strong> se encontrava em visita a familiares no Japão, monsenhor Kimura foi inter<strong>na</strong><strong>do</strong> no hospital da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kyushu <strong>de</strong> Fukuoka e, no dia 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1967, <strong>do</strong>cemente a morte o levou. Passa<strong>do</strong> ano<br />

e meio, <strong>Maringá</strong> recebeu novo missionário japonês. No dia 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1968 chegou ao Brasil padre<br />

Pedro Ryo Ta<strong>na</strong>ka, da diocese <strong>de</strong> Sapporo. Sob sua coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção, o trabalho inicia<strong>do</strong> por Kimura conheceu<br />

extraordinário avanço, alargan<strong>do</strong>-se a ação da <strong>Igreja</strong> Católica para novos espaços que o fervor missionário <strong>de</strong><br />

Ta<strong>na</strong>ka abriu: núcleos <strong>de</strong> catequese, grupos <strong>de</strong> reflexão, orientação espiritual e psicológica para casais, evangelização<br />

<strong>de</strong> feirantes, atuação sistemática junto ao cemitério municipal etc. A ele se <strong>de</strong>ve a construção da igreja São<br />

Francisco Xavier, <strong>do</strong> Centro Comunitário São Maximiliano Kolbe, no Jardim Tabaetê, da capela da Vila Emília e<br />

<strong>do</strong> santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Fátima. Com ele a Missão Nipo-Brasileira <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> expandiu-se a outras cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> Paraná como Ubiratã, Tole<strong>do</strong>, Assis Chateaubriand, Terra Roxa, Iporã, Guaíra, Jesuítas, Nova Aurora,<br />

Foz <strong>do</strong> Iguaçu, Paraíso <strong>do</strong> Norte, Diamante <strong>do</strong> Norte, ao Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Paraguai e Bahia. Em setembro<br />

<strong>de</strong> 1971, veio trabalhar em <strong>Maringá</strong> padre Lucas Daiju Chiba, da arquidiocese <strong>de</strong> Tóquio. Logo <strong>de</strong>pois, no dia<br />

8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> mesmo ano, com a or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção sacer<strong>do</strong>tal <strong>de</strong> Roberto Takeshi Kuriyama, <strong>Maringá</strong> recebeu o<br />

segun<strong>do</strong> membro nissei <strong>do</strong> seu presbitério. No dia 16 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1972, padre Ta<strong>na</strong>ka sofreu um ataque<br />

cardíaco, submeten<strong>do</strong>-se a tratamento até que, no dia 30 <strong>de</strong> março <strong>do</strong> ano seguinte, em São Paulo, foi opera<strong>do</strong><br />

para implante <strong>de</strong> pontes <strong>de</strong> safe<strong>na</strong> no coração. Não per<strong>de</strong>u, por isso, o bom humor; ao contrário, fazia troça<br />

com o seu “coração vagabun<strong>do</strong>”, parafrasean<strong>do</strong> a melodia brega cantada por Lin<strong>do</strong>mar Castilho. A partir <strong>de</strong><br />

27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1974, com a presença, em Paiçandu, <strong>de</strong> padre Ângelo Banki, a Missão Nipo-Brasileira recebeu<br />

1 Em 1969, a Missão Nipo-Brasileira per<strong>de</strong>u duas religiosas, vítimas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte automobilístico: irmã Josefa Umeki, que faleceu em<br />

10 <strong>de</strong> outubro, quan<strong>do</strong> era conduzida a Sorocaba, e irmã Dionilce Kobata, em novembro, no Hospital Santa Lúcia, <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sema<strong>na</strong>s <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s das co-irmãs e <strong>de</strong> padre Pedro Ryo Ta<strong>na</strong>ka.<br />

231<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


232<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

um reforço precioso. 2 Padre Lucas Chiba <strong>de</strong>ixou <strong>Maringá</strong>, em 8 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1975, in<strong>do</strong> trabalhar em Ribeirão<br />

Preto. Entre 1981 e 1982, com graves problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, Ta<strong>na</strong>ka esteve no Japão durante onze meses, sen<strong>do</strong><br />

substituí<strong>do</strong> por Banki. No dia 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1992 <strong>do</strong>m Jaime conferiu o presbiterato ao terceiro nissei<br />

da arquidiocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, padre Hélio Takemi Sakamoto. Com plano <strong>de</strong> permanecer por seis meses, Ta<strong>na</strong>ka<br />

voltou ao Japão no início <strong>de</strong> 1993 em busca <strong>de</strong> recursos para a Escola São Francisco Xavier. Substituiu-o no<br />

cuida<strong>do</strong> da Missão Nipo-Brasileira, durante esse perío<strong>do</strong>, o padre Sidney Fabril. No Japão, Ta<strong>na</strong>ka a<strong>do</strong>eceu tão<br />

gravemente que pouca esperança restou <strong>de</strong> que viesse a sobreviver. Os seis meses previstos transformaram-se em<br />

três anos, ao fim <strong>do</strong>s quais, surpreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s, ele retornou, sen<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> com festa no dia 21 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 1995. Em vista <strong>do</strong> crescimento da comunida<strong>de</strong>, <strong>do</strong>is meses mais tar<strong>de</strong>, a 24 <strong>de</strong> março, o Oratório São Francisco<br />

Xavier foi eleva<strong>do</strong> a paróquia <strong>de</strong>dicada ao Menino Jesus <strong>de</strong> Praga e São Francisco Xavier, receben<strong>do</strong> como<br />

pároco padre Sidney Fabril e como vigário paroquial monsenhor Pedro Ryo Ta<strong>na</strong>ka. Em vista da peculiarida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> trabalho com japoneses e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, em 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> ano 2000, o arcebispo <strong>do</strong>m Murilo<br />

Krieger criou a paróquia pessoal São Francisco Xavier para japoneses, <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Ta<strong>na</strong>ka como pároco e Sakamoto<br />

como vigário paroquial. No dia 18 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2001, <strong>de</strong>pois das ativida<strong>de</strong>s normais <strong>de</strong> um <strong>do</strong>mingo (até<br />

celebrara duas missas), jantan<strong>do</strong> em casa <strong>de</strong> amigos, às 19h15m, monsenhor Pedro Ryo Ta<strong>na</strong>ka foi acometi<strong>do</strong><br />

por ataque cardíaco, vin<strong>do</strong> a falecer momentos <strong>de</strong>pois, apesar <strong>do</strong> imediato socorro que recebeu. Padre Ta<strong>na</strong>ka,<br />

como era conheci<strong>do</strong>, tinha 64 anos e se encontrava em <strong>Maringá</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1968, à frente da Pastoral<br />

Nipo-Brasileira, <strong>na</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho pioneiro <strong>de</strong> monsenhor Miguel Yoshimi Kimura.<br />

As inúmeras ativida<strong>de</strong>s da Missão Nipo-Brasileira <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> só se tor<strong>na</strong>ram possíveis graças ao espírito<br />

comunitário e participativo da valorosa colônia japonesa. Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> bispos, religiosas, semi<strong>na</strong>ristas, cristãos<br />

leigos e <strong>de</strong> outros padres, <strong>na</strong> caminhada que começou em 1958, merecem recordar-se ainda trabalhos ocasio<strong>na</strong>is<br />

<strong>na</strong> diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> presta<strong>do</strong>s por frei Alécio Broering, OFM, durante muitos anos, responsável<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l pela PANIB – Pastoral Nipo-Brasileira; padres Lino Stahl, SJ, da PANIB <strong>do</strong> Paraná, e Paulo Riichi<br />

Doi, SJ, <strong>de</strong> São Paulo, além <strong>de</strong> padre Haruo Sasaki, <strong>de</strong> abnega<strong>do</strong> trabalho em São Jerônimo da Serra (PR). A<br />

paróquia pessoal São Francisco Xavier para japoneses, em <strong>Maringá</strong>, está hoje entregue aos cuida<strong>do</strong>s <strong>pastor</strong>ais<br />

<strong>de</strong> padres Hélio Takemi Sakamoto e Ângelo Banki, respectivamente pároco e vigário paroquial.<br />

2 Natural <strong>de</strong> Paraguaçu Paulista (SP), Banki, padre jesuíta, estudava <strong>na</strong> Universida<strong>de</strong> Sofia, em Tóquio. Em 1967, sabe<strong>do</strong>r da ida<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime ao Japão, recepcionou-o no aeroporto. De volta ao Brasil, permaneceu algum tempo <strong>na</strong> Companhia, pedin<strong>do</strong>, mais<br />

tar<strong>de</strong>, para ser aceito como padre diocesano em <strong>Maringá</strong>.


MeMóriA, quAse históriA<br />

AcoNteceu <strong>de</strong> Novo<br />

Sacer<strong>do</strong>tum sors improvisa mors – morte repenti<strong>na</strong> é o <strong>de</strong>stino <strong>do</strong>s padres. É um adágio<br />

antigo que os jovens <strong>de</strong> hoje <strong>de</strong>sconhecem. Os mais velhos, <strong>do</strong> tempo em que estudávamos<br />

latim, lembramos <strong>de</strong> memória um punha<strong>do</strong> <strong>de</strong>les. Em menos <strong>de</strong> quatro meses, em <strong>Maringá</strong>,<br />

padres Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong> e Ta<strong>na</strong>ka confirmaram seu <strong>do</strong>loroso acerto. Ambos foram vítimas <strong>de</strong> um coração<br />

que não acompanhava o ritmo <strong>do</strong> seu trabalho pelo Reino <strong>de</strong> Deus.<br />

Ta<strong>na</strong>ka surpreen<strong>de</strong>u pela pouca distância entre seu falecimento e o <strong>de</strong> Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong>. E também<br />

por tê-lo a irmã morte vin<strong>do</strong> buscar quan<strong>do</strong> já tínhamos esqueci<strong>do</strong> as muitas vezes em<br />

que, anteriormente, sua vida estivera por um fio. Ao contrário <strong>de</strong> Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong>, tinha enfrenta<strong>do</strong><br />

situações que si<strong>na</strong>lizavam o fim próximo. Pelo menos em três oportunida<strong>de</strong>s esteve entre a vida<br />

e a morte. Assustou-nos a to<strong>do</strong>s, que o dávamos por morto em poucos dias. Nunca, porém,<br />

encenou drama nenhum por conta disso. A cada vez, voltava ao trabalho como se <strong>na</strong>da houvesse<br />

aconteci<strong>do</strong>. Como se fosse o mais saudável <strong>do</strong>s homens. Sua <strong>de</strong>dicação às pessoas e obras<br />

para as quais vivia não sofria queda no ritmo <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhada sem <strong>de</strong>scanso.<br />

Dava a impressão <strong>de</strong> pressa, como saben<strong>do</strong> que, com aquele coração, não podia contar com<br />

muito tempo para tu<strong>do</strong> o que pretendia realizar.<br />

Amigos testemunham a consciência que manifestava <strong>de</strong> sua partida próxima. Com a<br />

serenida<strong>de</strong> <strong>do</strong> servo fiel, dizia-se pronto para respon<strong>de</strong>r ao chama<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pai. Mas continuava<br />

trabalhan<strong>do</strong>, como quem dispõe <strong>de</strong> uma vida inteira pela frente.<br />

No velório, uma ce<strong>na</strong> chamou a atenção. Pessoas adultas − surpreen<strong>de</strong>ntemente, as mais<br />

humil<strong>de</strong>s − e crianças, muitas, aproximavam-se para fazer um carinho em seu rosto imóvel.<br />

Nenhum si<strong>na</strong>l <strong>do</strong> misterioso me<strong>do</strong> que, às vezes, a morte espalha à sua volta. Era o irmão que<br />

acariciavam. Como a dizer: “Não tive antes a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar quanto você é queri<strong>do</strong><br />

para mim”. Logo para ele que, em vida, até por temperamento, jamais fora da<strong>do</strong> a gran<strong>de</strong>s<br />

arroubos <strong>de</strong> ternura. Os mais simples, <strong>na</strong> clareza <strong>de</strong> quem tu<strong>do</strong> enxerga com o olhar <strong>de</strong> Deus,<br />

conseguiram <strong>de</strong>scobrir a profun<strong>de</strong>za daquele amor que ele ofereceu por toda a vida.<br />

Num mun<strong>do</strong> peja<strong>do</strong> por tantas mostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>samor, experimentamos profunda carência<br />

<strong>do</strong>s si<strong>na</strong>is <strong>do</strong> Reino. Estamos cansa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> grotesco espetáculo da ganância, da se<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

<strong>do</strong> brilho falso das alegrias que o dinheiro imagi<strong>na</strong> comprar. Padre Ta<strong>na</strong>ka provou que há outro<br />

jeito <strong>de</strong> viver. Bem mais sóli<strong>do</strong> e verda<strong>de</strong>iro (ROBLES, 2001, p. 2).<br />

233<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


234<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

A pArticipAção <strong>do</strong>s leigos<br />

Não havia, no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s anos 50, a profusão <strong>de</strong> movimentos eclesiais que hoje reúnem leigos católicos<br />

em multidões capazes <strong>de</strong> lotar estádios. Vivia-se o clima anterior ao Concílio Vaticano II, tempo <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong><br />

mais clerical e voltada sobre si mesma. Era pouco senti<strong>do</strong> o anseio missionário <strong>do</strong> anúncio, a inquietação<br />

<strong>de</strong> levar a fé aos indiferentes e afasta<strong>do</strong>s. Verificava-se, é verda<strong>de</strong>, <strong>na</strong>s pessoas fervorosas o sincero anseio da<br />

santificação pessoal, <strong>de</strong>svincula<strong>do</strong>, porém, <strong>do</strong> encargo <strong>de</strong> transformar o mun<strong>do</strong> a partir da vivência <strong>do</strong>s sacramentos<br />

<strong>do</strong> batismo e da crisma. A vida cristã cultivava a perfeição interior, nem sempre atenta às necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong>s irmãos. Significativamente, no encerramento das missões populares pregadas pelos re<strong>de</strong>ntoristas erguia-se<br />

um gran<strong>de</strong> cruzeiro com a inscrição “Salva tua alma”. Foi preciso o sopro renova<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Concílio Vaticano<br />

II para em seu lugar escrever “Uni<strong>do</strong>s em <strong>Cristo</strong>”, que ilustra o senti<strong>do</strong> comunitário da <strong>Igreja</strong>. Por obra <strong>de</strong><br />

uma teologia tri<strong>de</strong>nti<strong>na</strong> nem sempre bem compreendida, o ex opere operato sacramental facilmente enveredava<br />

por um “sacramentalismo” gera<strong>do</strong>r, como pensavam alguns, <strong>de</strong> uma santificação automática e sem conversão.<br />

Até a década <strong>de</strong> 1920, a política <strong>de</strong> participação <strong>do</strong>s leigos ateve-se, majoritariamente, às<br />

associações <strong>de</strong>vocio<strong>na</strong>is e à religiosida<strong>de</strong> praticada no interior <strong>do</strong> templo. A romanização<br />

contribuiu para a importação <strong>de</strong> cultos e ritos europeus que tinham como objetivo substituir<br />

as <strong>de</strong>voções católicas, historicamente consolidadas e praticadas sem a presença <strong>do</strong><br />

padre. O clero reforma<strong>do</strong>, soma<strong>do</strong> ao europeu, contribuiu para substituir a religiosida<strong>de</strong><br />

pessoal pela sacramental, reforçou a mudança <strong>de</strong> hábitos, implantou <strong>de</strong>voções e crenças<br />

em santos alheios à fé e à cultura <strong>do</strong> povo brasileiro (CHIQUIM, 2005, p. 232).<br />

Com a ascensão ao trono <strong>de</strong> Pedro <strong>do</strong> car<strong>de</strong>al milanês Ambrogio Damiano Achille Ratti, que escolheu<br />

o nome <strong>de</strong> Pio XI (1922-1939), a consciência <strong>do</strong>s cristãos leigos foi sacudida por forte apelo evangeliza<strong>do</strong>r.<br />

Na sua primeira encíclica Ubi Arcano, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1922, criou “a Ação Católica, particularmente<br />

importante para a Itália, que conclama os laicos católicos <strong>de</strong> tôda ida<strong>de</strong>, esta<strong>do</strong> e sexo a participarem <strong>do</strong><br />

apostola<strong>do</strong> da hierarquia, a fim <strong>de</strong> renovar tôda a socieda<strong>de</strong> segun<strong>do</strong> o espírito <strong>de</strong> <strong>Cristo</strong>” (BIHLMEYER;<br />

TUECHLE, 1965, v. 3, p. 611). No Brasil, duas décadas mais tar<strong>de</strong>, em 1935, foi oficializada a Ação Católica<br />

Brasileira (ACB) que, seguin<strong>do</strong> as linhas da matriz italia<strong>na</strong>, tinha como objetivo formar católicos leigos para<br />

transformar o mun<strong>do</strong>. 3<br />

Sob influência <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los belga e francês, a ACB se converteria, em 1950, em Ação Católica Especializada<br />

(ACE), no esforço <strong>de</strong> alcançar uma atuação mais presente e <strong>de</strong>cisiva da <strong>Igreja</strong> no meio <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res,<br />

estudantes e operários. Entre o clero brasileiro havia larga influência <strong>do</strong> pensamento social <strong>de</strong> padre Lebret.<br />

Muitos sacer<strong>do</strong>tes daqui faziam curso <strong>na</strong> França, assim como padres franceses vinham com freqüência ao<br />

Brasil. A ACE ia colher <strong>na</strong>s fileiras da juventu<strong>de</strong> católica os seus membros, agrupan<strong>do</strong>-os em segmentos i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s<br />

pelas cinco vogais: JAC – Juventu<strong>de</strong> Agrária Católica, para o meio rural; JEC – Juventu<strong>de</strong> Estudantil<br />

Católica, para estudantes <strong>do</strong>s antigos níveis secundário e médio; JIC – Juventu<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte Católica, para<br />

a classe média; JOC – Juventu<strong>de</strong> Operária Católica e, fi<strong>na</strong>lmente, JUC – Juventu<strong>de</strong> Universitária Católica. O<br />

méto<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> era invariavelmente o conheci<strong>do</strong> ver-julgar-agir da JOC, fundada em 1923, pelo padre<br />

belga Joseph Cardijn (1882-1967).<br />

No Brasil, a JAC atuou pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntemente no Nor<strong>de</strong>ste e no extremo Sul on<strong>de</strong> fomentou boas li<strong>de</strong>ranças<br />

<strong>na</strong> zo<strong>na</strong> rural. Nos centros industriais revelou-se muito operante a JOC, construtora <strong>de</strong> um espírito cristão<br />

e associativista entre os operários, alia<strong>do</strong> à <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>s seus direitos. A JOC brasileira formou seus primeiros grupos<br />

ainda nos anos 30, mas foi oficializada só em 1948, ano em que Cardijn visitou o país. Nos ambientes universitários,<br />

sobretu<strong>do</strong> das regiões Leste, Su<strong>de</strong>ste e Sul, a presença da JUC foi <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte para a consciência<br />

das transformações político-sociais exigidas pelo pós-guerra e pelo processo <strong>de</strong> urbanização <strong>do</strong> Brasil. A JIC se<br />

3 Em sua estrutura a ACB seguia a italia<strong>na</strong> com movimentos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> e <strong>de</strong> adultos, feminino e masculino: Homens da Ação Católica<br />

(HAC), Liga Femini<strong>na</strong> da Ação Católica (LFAC), Juventu<strong>de</strong> Católica Brasileira (JCB-masc.) e Juventu<strong>de</strong> Femini<strong>na</strong> Católica (JFC). No<br />

setor da juventu<strong>de</strong> surgiram as primeiras especializações com as JEC, JOC e JUC. As outras duas (JAC e JIC) surgiram mais tar<strong>de</strong>.


compôs com moças católicas da classe média <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s aglomera<strong>do</strong>s urbanos; foi a menos expressiva das cinco.<br />

Na fase provisória da a<strong>do</strong>lescência, a JEC mostrou-se vigorosa para meni<strong>na</strong>s e rapazes que, posteriormente,<br />

se <strong>de</strong>finiam pela JUC, no caso <strong>de</strong> ingressarem <strong>na</strong> universida<strong>de</strong>, ou pela JOC, se entravam para o trabalho <strong>na</strong><br />

fábrica. Concentran<strong>do</strong> então o melhor da inconformida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> i<strong>de</strong>alismo juvenil, é fácil compreen<strong>de</strong>r que JOC<br />

e JUC tenham forneci<strong>do</strong> os melhores quadros à resistência juvenil nos anos negros da ditadura militar. Monitoradas<br />

pelos órgãos <strong>de</strong> segurança, <strong>de</strong> vez que a mesma <strong>Igreja</strong> Católica vivia sob vigilância e até perseguição,<br />

não lhes restou, em particular à JUC, outro caminho senão a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> para a qual se ban<strong>de</strong>aram jovens<br />

promessas <strong>de</strong> renovação da socieda<strong>de</strong>. Daí para o ingresso em parti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> esquerda, <strong>de</strong> orientação marxista,<br />

trotskista ou maoísta, ou até mesmo para a luta armada, não foi preciso mais que um passo.<br />

Através da JOC e da JUC, a ACE firmava-se em capitais e em centros maiores. Cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> interior,<br />

como a <strong>Maringá</strong> <strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s anos 50, o máximo que podiam almejar era montar um núcleo da JEC. E foi o<br />

que provi<strong>de</strong>nciou o bispo para reunir estudantes não dispostos a engrossarem as fileiras <strong>do</strong>s congrega<strong>do</strong>s marianos<br />

e filhas <strong>de</strong> Maria. Ainda no primeiro semestre <strong>de</strong> 1959, foi realiza<strong>do</strong> um encontro diocesano <strong>de</strong> JEC,<br />

o primeiro da diocese. Os “jecistas” daqui compunham um grupo <strong>do</strong> qual faziam parte, entre muitos outros:<br />

João Wal<strong>de</strong>cir Scramin, Adilson Irineu Schiavoni, Oswal<strong>do</strong> Pereira Ayres, Odival Bettoni, Hugo Hoffmann,<br />

Adroal<strong>do</strong> K<strong>na</strong>bben, José Sversutti, Ben-Hur Maiochi, João Falavig<strong>na</strong>, Massataka Murata, Irineu Muchagata,<br />

Lorete Girardi, Maria Elisa Jarreta, Sandra Valente, Márcia Dutra <strong>de</strong> Oliveira, Djanira K<strong>na</strong>bben, Vanir Cecília<br />

Maiochi e Sulamita K<strong>na</strong>bben. A orientação espiritual assegurava-lhes o próprio bispo e, <strong>na</strong> sua ausência, irmã<br />

Dorilda, 4 religiosa das Missionárias <strong>de</strong> Jesus Crucifica<strong>do</strong> em cuja escola eram feitas as reuniões. Na arquidiocese<br />

<strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, pelo caráter <strong>de</strong> ação evangeliza<strong>do</strong>ra junto aos jovens, a JEC, iniciada em 1958, <strong>de</strong>ve ser<br />

reconhecida como berço da Pastoral da Juventu<strong>de</strong>. Com o advento <strong>do</strong> Concílio Vaticano II e as mudanças<br />

introduzidas, a partir <strong>de</strong> 1964, no panorama político <strong>do</strong> Brasil, não houve mais clima para as ativida<strong>de</strong>s da<br />

JEC. Os jovens se dispersaram, mas a maioria mantém até hoje presença atuante <strong>na</strong> <strong>Igreja</strong>.<br />

JEC <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, primeiro encontro diocesano,<br />

em 1959.<br />

JEC em encontro que reuniu jovens <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> e <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí,<br />

no ano <strong>de</strong> 1960.<br />

Des<strong>de</strong> a posse <strong>do</strong> bispo, foi-se <strong>de</strong>linean<strong>do</strong> a fisionomia da nova diocese <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná. Em 1960<br />

registraram-se importantes eventos. Com a criação, só <strong>na</strong>quele ano, <strong>de</strong> sete novas paróquias, foi atingi<strong>do</strong> o<br />

número <strong>de</strong> trinta, <strong>na</strong>da <strong>de</strong>sprezível para uma diocese <strong>de</strong> três anos. De 24 a 27 <strong>de</strong> março foi celebra<strong>do</strong> o 1º<br />

4 Irmã Dorilda (Dorilva Farias da Costa) trabalhou em <strong>Maringá</strong> <strong>de</strong> 1960 a 1966. Deixou a congregação em maio <strong>de</strong> 1971, segun<strong>do</strong><br />

informação obtida por e-mail, em 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006, junto à se<strong>de</strong> geral da congregação das Irmãs Missionárias <strong>de</strong> Jesus<br />

Crucifica<strong>do</strong>, situada em Campi<strong>na</strong>s (SP).<br />

235<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


236<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Congresso Eucarístico Diocesano, em preparação ao 7º Congresso Eucarístico Nacio<strong>na</strong>l, que aconteceu <strong>de</strong> 5<br />

a 8 <strong>de</strong> maio seguinte, <strong>na</strong> capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. O ano <strong>de</strong> 1957 assi<strong>na</strong>lou ainda a entrega pelos padres palotinos<br />

da catedral à responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> clero diocesano. Em 1960 verificou-se a histórica or<strong>de</strong><strong>na</strong>ção presbiteral <strong>de</strong><br />

Benedito Vieira Telles, primeiro padre das jovens cida<strong>de</strong> e diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. Também é <strong>de</strong>sse ano a instalação,<br />

<strong>na</strong> diocese, <strong>do</strong> MFC – Movimento Familiar Cristão, funda<strong>do</strong> no Uruguai, em 1950, por padre Pedro<br />

Richards e um grupo <strong>de</strong> casais.<br />

regioNAl sul ii<br />

Até 1964 o Paraná pertencia, em termos <strong>de</strong> administração <strong>pastor</strong>al, juntamente com São Paulo, ao<br />

Secretaria<strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul I, que agrupava as dioceses <strong>de</strong> ambos os Esta<strong>do</strong>s. Na terceira fase <strong>do</strong> Concílio Vaticano<br />

II, durante a 6ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Roma, no dia 30 <strong>de</strong> setembro daquele ano, foi<br />

cria<strong>do</strong> o Secretaria<strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II, com se<strong>de</strong> em Curitiba. O coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r, hoje conheci<strong>do</strong> como presi<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>na</strong> época intitulava-se secretário; a atual função <strong>de</strong> secretário era então exercida pelo subsecretário. Dom<br />

Jaime foi eleito primeiro secretário (presi<strong>de</strong>nte) <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II da CNBB, cargo que exerceu durantes os<br />

primeiros seis meses <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l. Eram então distintos os papéis <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho Episcopal Regio<strong>na</strong>l<br />

e <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>do</strong> Secretaria<strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l. Hoje cada um <strong>do</strong>s 17 Regio<strong>na</strong>is da CNBB é regi<strong>do</strong> por um<br />

Conselho Episcopal Regio<strong>na</strong>l, à frente <strong>do</strong> qual se coloca um bispo eleito para o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte. No livro<br />

<strong>do</strong> Tombo da Cúria Metropolita<strong>na</strong> <strong>de</strong> Curitiba o chanceler, monsenhor Pedro Fedalto, anotou em 1974:<br />

Em fins <strong>de</strong> 1964, o Paraná passou a constituir-se Secretaria<strong>do</strong> regio<strong>na</strong>l à parte, <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se<br />

Sul II. Em reunião em Roma, foi escolhi<strong>do</strong> pelo episcopa<strong>do</strong> para<strong>na</strong>ense como<br />

Secretário, Sua Excia. Revma. Dom Jaime Luiz Coelho, bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. A 22 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1965, em reunião <strong>do</strong> Secretaria<strong>do</strong>, foi nomea<strong>do</strong> Sub-Secretário, o Revmo.<br />

Sr. Frei Agostinho <strong>de</strong> Capinzal, capuchinho, Diretor Arquidiocesano das Religiosas e<br />

secretário da CRB – secção <strong>do</strong> Paraná. Em março, o Bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> pedia <strong>de</strong>missão<br />

<strong>do</strong> cargo, em vista das ativida<strong>de</strong>s apostólicas e da distância <strong>de</strong> Curitiba. A 28 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 1965, em reunião <strong>do</strong> episcopa<strong>do</strong> em Londri<strong>na</strong>, foi eleito secretário o Arcebispo <strong>de</strong><br />

Curitiba. O Secretaria<strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II é o setor da Conferência Nacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s Bispos<br />

<strong>do</strong> Brasil que abrange todas as dioceses <strong>do</strong> Paraná. É o centro coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r das ativida<strong>de</strong>s<br />

das dioceses (CHIQUIM, 2005, p. 269).<br />

Des<strong>de</strong> 1963 começou a tomar corpo o movimento pela criação da diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí. Assim que<br />

tomou posse da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, <strong>do</strong>m Jaime <strong>de</strong>u-se conta da ingente tarefa que significava reger uma diocese<br />

com tais dimensões. Se houve, particularmente após a gran<strong>de</strong> geada <strong>de</strong> 1975, forte esvaziamento <strong>do</strong>s<br />

municípios menores, <strong>de</strong>ve-se recordar que, por obra das lavouras <strong>de</strong> café, a população era abundante nos anos<br />

60, ao mesmo tempo em que faltavam veículos automotores com um mínimo <strong>de</strong> conforto, estradas seguras,<br />

telefone, jor<strong>na</strong>l, televisão, e-mail e outros recursos hoje comuns. Tor<strong>na</strong>-se impossível atualmente avaliar<br />

quanto era penoso aten<strong>de</strong>r os diocesanos, <strong>do</strong> continente ou ilhéus, <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s como Querência <strong>do</strong> Norte,<br />

Santa Cruz <strong>do</strong> Monte Castelo, Itaú<strong>na</strong> <strong>do</strong> Sul, Diamante <strong>do</strong> Norte, Porto Rico e outras. Muito ce<strong>do</strong> o bispo<br />

se convenceu da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abrir mão, em vista <strong>do</strong> bem maior <strong>do</strong>s fiéis, <strong>de</strong> uma parte <strong>do</strong> território que<br />

lhe fora consig<strong>na</strong><strong>do</strong>.<br />

Depois <strong>de</strong> exaustivos estu<strong>do</strong>s e da tramitação que prece<strong>de</strong> ações <strong>de</strong>ssa <strong>na</strong>tureza, pela constituição apostólica<br />

Nil gratius (= <strong>na</strong>da mais agradável), em data <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1968, o papa Paulo VI criou a diocese <strong>de</strong><br />

Para<strong>na</strong>vaí. Integralmente <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, o território da nova diocese <strong>na</strong>sceu composto<br />

pelos municípios: Alto Paraná, Amaporã, Diamante <strong>do</strong> Norte, Guairaçá, Itaú<strong>na</strong> <strong>do</strong> Sul, Loanda, Mira<strong>do</strong>r, Nova<br />

Aliança <strong>do</strong> Ivaí, Nova Londri<strong>na</strong>, Paraíso <strong>do</strong> Norte, Para<strong>na</strong>vaí, Pla<strong>na</strong>lti<strong>na</strong> <strong>do</strong> Paraná, Porto Rico, Querência <strong>do</strong><br />

Norte, Santa Cruz <strong>do</strong> Monte Castelo, Santa Isabel <strong>do</strong> Ivaí, Santo Antonio <strong>do</strong> Caiuá, São Carlos <strong>do</strong> Ivaí, São<br />

João <strong>do</strong> Caiuá, São Pedro <strong>do</strong> Paraná, Tamboara e Terra Rica; um total <strong>de</strong> 22 <strong>do</strong>s quais 11, exatamente a meta<strong>de</strong>,<br />

não passavam <strong>de</strong> vilarejos em 1957, quan<strong>do</strong> foi instalada a diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. Em onze anos (1957-1968)


onze novos municípios foram cria<strong>do</strong>s. Poucas regiões <strong>do</strong> Brasil conheceram algo pareci<strong>do</strong>.<br />

A publicação oficial da criação saiu no dia 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1968, juntamente com o nome <strong>do</strong> novo<br />

bispo, cônego Benjamin <strong>de</strong> Sousa Gomes, vigário geral da diocese <strong>de</strong> Sorocaba. No dia 9 <strong>de</strong> junho seguinte,<br />

<strong>na</strong> catedral sorocaba<strong>na</strong>, Gomes recebeu a sagração episcopal, como se dizia <strong>na</strong> época. Sua posse em Para<strong>na</strong>vaí<br />

aconteceu a 7 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1968, <strong>na</strong> igreja matriz <strong>de</strong> São Sebastião, atendida pelos fra<strong>de</strong>s carmelitas que, por<br />

um tempo, funcionou como catedral provisória.<br />

Não foi totalmente sere<strong>na</strong> a criação da nova diocese. Na contramão <strong>do</strong> empenho <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong><br />

e da população interessada, os carmelitas alemães não revelavam entusiasmo pela nova diocese nem concorriam<br />

para a implementação das providências exigidas. No dia 29 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1967, monsenhor Mario<br />

Tagliaferri, encarrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> negócios da nunciatura apostólica, revelou a <strong>do</strong>m Pedro Fedalto, bispo auxiliar <strong>de</strong><br />

Curitiba, com quem se encontrou em reunião no Rio: “A diocese e o bispo <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí não sairão enquanto<br />

não for construída a residência com as <strong>de</strong>pendências para a cúria. Que a culpa não seja lançada à nunciatura<br />

apostólica” (COELHO, 1968, 1 f.). Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime, Fedalto acompanhou-o, no dia 15 <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1968, a Para<strong>na</strong>vaí, quan<strong>do</strong> ambos comprovaram in loco o pouco interesse com que era tratada a<br />

instalação da diocese, e ouviram <strong>do</strong>s carmelitas que a responsabilida<strong>de</strong> cabia ao bispo. Com a capacida<strong>de</strong>, que<br />

to<strong>do</strong>s conhecem, <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões difíceis, <strong>do</strong>m Jaime ameaçou levar a nova se<strong>de</strong> diocesa<strong>na</strong> para Loanda,<br />

cujas li<strong>de</strong>ranças se dispunham a montar a infra-estrutura necessária. O mesmo fez saber, <strong>de</strong>pois, por carta, à<br />

nunciatura apostólica, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> claro, porém, que sua preferência era por Para<strong>na</strong>vaí, pólo regio<strong>na</strong>l mais expressivo<br />

que Loanda. Escreven<strong>do</strong> a <strong>do</strong>m Manuel, arcebispo <strong>de</strong> Curitiba, relatou o episódio:<br />

Estive em Para<strong>na</strong>vaí e coloquei um dilema: ou Diocese em Para<strong>na</strong>vaí ou em Loanda.<br />

Logo to<strong>do</strong>s se <strong>de</strong>cidiram por Para<strong>na</strong>vaí, foi comprada a casa para o Bispo (NCr$<br />

25.000,00), já em construção. Fiz a indicação <strong>de</strong> mudanças necessárias, local para a<br />

Cúria, etc. Dentro <strong>de</strong> 60 dias estará pronta. Já enviei à Nunciatura a planta da casa, bem<br />

como comuniquei já a posse <strong>de</strong> três alqueires para futuro Seminário, terreno (3 datas)<br />

para futura residência, se o Bispo assim o <strong>de</strong>sejar, tu<strong>do</strong> com Escrituras registradas, e o<br />

projeto <strong>de</strong> lei <strong>na</strong> câmara para <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> um terreno em uma praça, para futura catedral.<br />

No próximo dia 29 terei uma reunião com to<strong>do</strong>s os Padres das paróquias que comporão<br />

a futura Diocese, para estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> outras coisas necessárias. Espero, assim, que logo<br />

se resolva a criação da Diocese (COELHO, 1968, 1 f.).<br />

A carta traz a data <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro. Está suficientemente claro que, mais <strong>de</strong> um mês após a visita a<br />

Para<strong>na</strong>vaí, <strong>do</strong>m Jaime acreditava <strong>na</strong> futura criação da diocese. Que, no entanto, estava criada há mais <strong>de</strong> um<br />

mês. Até hoje Fedalto estranha a proximida<strong>de</strong> entre a visita feita a Para<strong>na</strong>vaí e a data <strong>de</strong> criação. “Se no dia<br />

15 <strong>de</strong> janeiro”, argumenta, “a nunciatura esperava as providências que Para<strong>na</strong>vaí tardava em tomar, como a<br />

diocese foi criada no dia 20? Em cinco dias teria si<strong>do</strong> possível fazer tu<strong>do</strong> que normalmente leva meses?” 5 Em<br />

pleno mês <strong>de</strong> fevereiro, Tagliaferri fazia crer que ainda estava em caminho um evento já aconteci<strong>do</strong> em 20<br />

<strong>de</strong> janeiro. A surpresa <strong>de</strong> Fedalto encontra abrigo no teor da carta <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> fevereiro, escrita por Tagliaferri<br />

ao bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, <strong>na</strong> qual diz textualmente: “<strong>na</strong>s circunstâncias em que se encontra agora o processo <strong>de</strong><br />

ereção da diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí”, dan<strong>do</strong> a enten<strong>de</strong>r que ainda se achava em trâmite um processo cuja resolução<br />

se <strong>de</strong>ra quase um mês antes. Posteriormente, no dia 7 <strong>de</strong> março, enviou outra carta, protocolada sob nº<br />

16633, sub secreto pontificio, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>clara:<br />

Tenho o prazer <strong>de</strong> comunicar a Vossa Excelência Reverendíssima que o Santo Padre<br />

se dignou criar a nova diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí, com território <strong>de</strong>smembra<strong>do</strong> da diocese<br />

<strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. Ao mesmo tempo, foi nomea<strong>do</strong> primeiro bispo da recém-criada diocese o<br />

5 Fedalto expressou sua perplexida<strong>de</strong> em conversa telefônica que manteve, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Curitiba, com o autor <strong>de</strong>stas notas, no dia 23 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2006. Prometeu mais <strong>de</strong>talhes no livro que publicará sobre a história da <strong>Igreja</strong> <strong>do</strong> Paraná.<br />

237<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


238<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí<br />

Reverendíssimo Cônego Benjamin <strong>de</strong> Sousa Gomes, atual Vigário Geral da diocese <strong>de</strong><br />

Sorocaba. A publicação se fará no dia 15 <strong>de</strong> março (TAGLIAFERRI, 1968, 1 f.).<br />

20/01/1968<br />

Diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí<br />

20/01/1968<br />

Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong><br />

20/01/1968<br />

Mapa 4 - Com a criação da diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí, em 1968, a diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> assumiu nova configuração.<br />

Depois da posse, em 7 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1968, <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Benjamin, bispo <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí, <strong>na</strong>turalmente mudaram<br />

a vida e os <strong>de</strong>svelos <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. De uma área total <strong>de</strong> 14.902,67km², baixou para 6.203,07km²,<br />

menos da meta<strong>de</strong>, portanto, a extensão <strong>do</strong> território a ser percorri<strong>do</strong>, para o atendimento espiritual. A população,<br />

antes calculada em 1.285.730 pessoas por cuja evangelização se sentia responsável, viu-a <strong>do</strong>m Jaime<br />

reduzida a pouco mais da meta<strong>de</strong>. No momento da instalação da diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí, em seus limites<br />

se enumeravam 15 paróquias, que abrangiam 25 municípios e abrigavam 559.810 habitantes distribuí<strong>do</strong>s<br />

numa área <strong>de</strong> 8.699,60km². Aos cuida<strong>do</strong>s <strong>pastor</strong>ais <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> restou <strong>de</strong>pois um total <strong>de</strong> 725.810<br />

habitantes, <strong>do</strong>s quais três sobre quatro professavam-se católicos, embora só 20% pu<strong>de</strong>ssem consi<strong>de</strong>rar-se<br />

praticantes. Muito esforço, como se percebe, prosseguia sen<strong>do</strong> exigi<strong>do</strong> tanto <strong>do</strong> <strong>pastor</strong> da <strong>Igreja</strong> quanto <strong>do</strong>s<br />

seus colabora<strong>do</strong>res.<br />

coor<strong>de</strong>NAção dA pAstorAl diocesANA<br />

Não se <strong>de</strong>scurou o 1º bispo, como foi dito, <strong>de</strong> levar aos mais distantes pontos da diocese a mensagem da<br />

fé. O gran<strong>de</strong> salto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>na</strong> evangelização da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> teria seu ponto <strong>de</strong> partida numa daquelas<br />

<strong>de</strong>cisões cujos <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos nem ele mesmo era capaz <strong>de</strong> antever. Para receber três novos padres em 7<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1966, data <strong>de</strong> seu jubileu <strong>de</strong> prata sacer<strong>do</strong>tal, obteve da Santa Sé licença <strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>na</strong>r presbítero<br />

Antônio <strong>de</strong> Pádua Almeida no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> 3º ano <strong>de</strong> Teologia. No início <strong>de</strong> 1967, enquanto os recém-or<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>s<br />

padres Pedro Watar Makiyama e Orival<strong>do</strong> Robles foram <strong>de</strong>sig<strong>na</strong><strong>do</strong>s respectivamente para Nova Esperança e<br />

para o Seminário Menor Nossa Senhora da Glória, o jovem padre Almeida voltou a Curitiba para iniciar o 4º<br />

Dio


ano <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Teologia. Quan<strong>do</strong> o concluiu, veio integrar o presbitério maringaense da “ativa”.<br />

Na primeira reunião <strong>do</strong> clero <strong>de</strong> 1968, realizada em 7 <strong>de</strong> fevereiro, no Seminário Diocesano Nossa<br />

Senhora da Glória, Almeida e Robles foram apresenta<strong>do</strong>s como coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>res diocesanos <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al e passaram<br />

a morar <strong>na</strong> residência episcopal. Explicou <strong>do</strong>m Jaime que ambos estavam, a partir daquela data, libera<strong>do</strong>s<br />

para qualquer ação <strong>pastor</strong>al que um padre quisesse implementar em sua comunida<strong>de</strong>: palestra, curso, encontro,<br />

formação <strong>de</strong> agentes... Quem, além disso, precisasse <strong>de</strong> férias, po<strong>de</strong>ria combi<strong>na</strong>r com eles sua substituição<br />

<strong>na</strong> paróquia pelo tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso.<br />

Era compreensível a falta <strong>de</strong> clareza sobre o papel <strong>do</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r. Fruto <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Pastoral <strong>de</strong> Conjunto,<br />

resposta pioneira <strong>do</strong> Brasil ao pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> planejamento feito por João XXIII à <strong>Igreja</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro,<br />

ninguém conhecia ao certo em que consistia esse serviço. Também aqui, ainda uma vez, o bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong><br />

ousou. Foi o primeiro a liberar não um, mas <strong>do</strong>is padres <strong>de</strong> uma vez, para o serviço da coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da ação<br />

evangeliza<strong>do</strong>ra da sua <strong>Igreja</strong>.<br />

Dúvidas foi o que não faltou aos <strong>do</strong>is coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>res iniciantes. Nomea<strong>do</strong>s para um cargo <strong>de</strong> cuja <strong>na</strong>tureza<br />

não faziam a menor idéia, a eles o bispo confiou três salas no último piso <strong>do</strong> Edifício Três Marias, ponto<br />

central <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da Mitra Diocesa<strong>na</strong>, para montarem o escritório <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se irradiaria a<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al para as paróquias. 6 Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma escrivaninha nua, contemplan<strong>do</strong> as luzes da cida<strong>de</strong><br />

que, lá embaixo, resfolegava após um dia <strong>de</strong> trabalho, por noites e noites seguidas, ambos se questio<strong>na</strong>vam<br />

sobre o que seria coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r a evangelização <strong>de</strong> uma <strong>Igreja</strong> que entrava agora em seu 11º ano <strong>de</strong> vida.<br />

Provi<strong>de</strong>ncialmente, em casa <strong>do</strong> médico Walter Álvaro da Silva, encontrava-se por aqueles dias, seu<br />

cunha<strong>do</strong>, padre José Carlos Bruzzi, da diocese <strong>de</strong> Maria<strong>na</strong> (MG), que informou a realização em Belo Horizonte,<br />

no mês seguinte, <strong>de</strong> um curso justamente sobre coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>pastor</strong>al, esse ainda pouco conheci<strong>do</strong><br />

ministério <strong>na</strong> <strong>Igreja</strong>. Na capital mineira, juntamente com vários outros, igualmente confusos e preocupa<strong>do</strong>s,<br />

os novos coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>res pu<strong>de</strong>ram, fi<strong>na</strong>lmente, compreen<strong>de</strong>r o serviço que lhes fora confia<strong>do</strong>.<br />

Com a feliz escolha <strong>de</strong> Almeida para o cargo, 7 a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> imprimiu, durante a década <strong>de</strong> 1972<br />

a 1982, gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento à sua ação evangeliza<strong>do</strong>ra. Primeiramente, ele teve oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar<br />

Teologia Pastoral <strong>na</strong> Europa pelo espaço <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos: em 1969-1970 <strong>na</strong> Pontifícia Universida<strong>de</strong> Lateranense<br />

<strong>de</strong> Roma; <strong>de</strong>pois, em 1970-1971 no Instituto “Lumen Vitae” <strong>de</strong> Bruxelas, filia<strong>do</strong> à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lovai<strong>na</strong>, <strong>na</strong><br />

Bélgica. Sua dissertação acadêmica versou sobre Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base, iniciativa latino-america<strong>na</strong> que<br />

provocou, durante anos, ácidas manifestações <strong>de</strong> teólogos e <strong>pastor</strong>alistas europeus. Habitua<strong>do</strong>s à secular romanização<br />

da <strong>Igreja</strong> Católica, incapazes <strong>de</strong> admitir que também em outras plagas o Espírito Santo espargisse <strong>do</strong>ns<br />

<strong>de</strong> sabe<strong>do</strong>ria e <strong>de</strong> ciência, homens <strong>de</strong> <strong>Igreja</strong> tentavam, por várias formas, <strong>de</strong>sacreditar o sopro <strong>de</strong> vida que partia<br />

<strong>do</strong> povo pobre <strong>do</strong> pouco valoriza<strong>do</strong> 3º mun<strong>do</strong>. Tornou-se um <strong>de</strong>safio para bispos, padres e cristãos leigos da periferia<br />

convencer a <strong>Igreja</strong> tradicio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> que as CEBs da América Lati<strong>na</strong> diferiam inteiramente das comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> base européias, estas, sim, contestatárias da <strong>Igreja</strong> institucio<strong>na</strong>l e pregoeiras <strong>de</strong> uma pretensa <strong>Igreja</strong> brotada<br />

<strong>do</strong> povo através <strong>de</strong> um “assembleísmo” <strong>de</strong> cunho sócio-político, quan<strong>do</strong> não revolucionário e iconoclasta.<br />

De volta à diocese em outubro <strong>de</strong> 1971, Almeida reassumiu as funções da coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção. Sempre respalda<strong>do</strong><br />

por <strong>do</strong>m Jaime, <strong>de</strong>scortinou para a <strong>Igreja</strong> maringaense os caminhos <strong>de</strong> uma <strong>pastor</strong>al orgânica <strong>de</strong><br />

íntima comunhão com as linhas da CNBB Regio<strong>na</strong>l e Nacio<strong>na</strong>l. Prova-o o 1º Plano <strong>de</strong> Pastoral Orgânica da<br />

Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> – 1973, que o bispo fez questão <strong>de</strong> apresentar não como “um som isola<strong>do</strong> <strong>na</strong> harmonia<br />

da Pastoral <strong>de</strong> Conjunto no Brasil”, mas como inspira<strong>do</strong><br />

<strong>na</strong> meto<strong>do</strong>logia e quadros <strong>de</strong> referência <strong>pastor</strong>al <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Pastoral <strong>de</strong> Conjunto<br />

da CNBB, bem como está uni<strong>do</strong> ao Plano Regio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Pastoral Orgânica <strong>do</strong> Paraná,<br />

6 As salas tinham si<strong>do</strong> transferidas pelas Pauli<strong>na</strong>s à Mitra Diocesa<strong>na</strong>, em pagamento <strong>do</strong> imóvel da Praça Napoleão Moreira da Silva<br />

on<strong>de</strong> instalaram a primeira livraria, precursora da atual.<br />

7 Depois <strong>de</strong> um ano, Robles foi <strong>de</strong>sig<strong>na</strong><strong>do</strong> coopera<strong>do</strong>r da catedral, fican<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s Almeida no serviço da coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da <strong>pastor</strong>al<br />

diocesa<strong>na</strong>.<br />

239<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


240<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Regio<strong>na</strong>l Sul II. Cada linha <strong>do</strong> nosso Plano consta <strong>de</strong> três partes: I – Justificativa e conceituação;<br />

II – Da<strong>do</strong>s da realida<strong>de</strong>; III – Programação. E como fruto <strong>de</strong> um trabalho<br />

<strong>de</strong> reflexão conjunta, chegou-se à meta <strong>de</strong> se estruturar as Paróquias em Comunida<strong>de</strong>s<br />

Eclesiais <strong>de</strong> Base – CEB – <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> as seis áreas da vida da <strong>Igreja</strong> segun<strong>do</strong> o<br />

nosso Plano <strong>de</strong> Pastoral <strong>de</strong> Conjunto, para o sucessivo crescimento <strong>do</strong> Reino <strong>de</strong> Deus<br />

(IGREJA CATÓLICA, 1973, p. 5).<br />

Visto assim à distância, não <strong>de</strong>ixa hoje <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r o corajoso en<strong>do</strong>sso episcopal à proposta das Comunida<strong>de</strong>s<br />

Eclesiais <strong>de</strong> Base num tempo em que não havia suficiente clareza a seu respeito. Brotadas da vida<br />

pobre <strong>do</strong>s cristãos da <strong>Igreja</strong> latino-america<strong>na</strong>, as CEBs não representavam u<strong>na</strong>nimida<strong>de</strong> entre o episcopa<strong>do</strong>.<br />

Se, após reflexão madura, os padres e <strong>de</strong>mais agentes da <strong>pastor</strong>al diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong>cidiram assumi-las como eixo<br />

orienta<strong>do</strong>r da vida cristã local, aí se <strong>de</strong>scobre a luci<strong>de</strong>z da coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>de</strong> Almeida. O mesmo se diga <strong>de</strong> <strong>do</strong>m<br />

Jaime, mestre e evangeliza<strong>do</strong>r primeiro, que sempre respal<strong>do</strong>u o seu trabalho. Poucas vezes terá havi<strong>do</strong> no<br />

Paraná entre bispo e presbitério sintonia tão íntima quanto a diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> conheceu <strong>na</strong>queles <strong>de</strong>z anos<br />

(1972-1982). Anima<strong>do</strong> com a linha seguida, o bispo enviou à Santa Sé o IV Plano <strong>de</strong> Pastoral Orgânica da<br />

Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> – 1976, colhen<strong>do</strong> a satisfação <strong>de</strong> ver estampadas no L’Osservatore Romano <strong>na</strong>da menos<br />

que 14 colu<strong>na</strong>s <strong>de</strong> apreciação <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, além <strong>de</strong> fotos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> e <strong>de</strong> sua catedral. O órgão<br />

oficioso da Santa Sé anotou que com muito gosto dava a conhecer o plano, esperan<strong>do</strong> que ele <strong>de</strong>spertasse o<br />

interesse <strong>de</strong> assi<strong>na</strong>ntes e leitores, “começan<strong>do</strong> por os levar a apreciar a <strong>de</strong>dicação inteligente, metódica e edificante<br />

com que o Episcopa<strong>do</strong> Brasileiro se consagra à implantação e ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Reino <strong>de</strong> Deus<br />

em terras <strong>de</strong> Santa Cruz” (IV PLANO..., 1976, p. 5-8).<br />

Para a configuração <strong>do</strong> “rosto” que a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> apresentou durante segui<strong>do</strong>s anos, foi <strong>de</strong>cisiva<br />

a caminhada feita <strong>na</strong> década <strong>de</strong> 1972 a 1982. Nesse tempo, apesar <strong>de</strong> jovem, a diocese firmou-se como uma<br />

das mais fiéis às diretrizes a<strong>do</strong>tadas em nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e regio<strong>na</strong>l.<br />

O Plano <strong>de</strong> Pastoral <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> <strong>de</strong> 1976, <strong>na</strong> edição em português <strong>do</strong> semanário L’Osservatore Romano, órgão oficioso da Santa Sé, publica<strong>do</strong> em várias línguas.


Pelo tempo que lhe consagrou e pela visão teológico-<strong>pastor</strong>al <strong>de</strong>monstrada, avulta ainda a atuação <strong>de</strong><br />

padre Vicente Costa, antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> no biênio 1985-1986, quan<strong>do</strong> esteve libera<strong>do</strong> para o serviço da coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção<br />

<strong>pastor</strong>al da diocese. Sob seu lúci<strong>do</strong> coman<strong>do</strong> a ação evangeliza<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> atingiu − sem<br />

nenhum ressaibo <strong>de</strong> lisonja − um nível eminente. Sempre em nível <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção, respon<strong>de</strong>u conjuntamente<br />

pelo conselho <strong>de</strong> presbíteros, pelas CEBs, pela catequese e pela <strong>pastor</strong>al <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ministrar<br />

aulas no Seminário Arquidiocesano, em cujo prédio residia. Mostrou-se operário incansável <strong>na</strong> <strong>de</strong>scoberta<br />

<strong>de</strong> respostas <strong>pastor</strong>ais às necessida<strong>de</strong>s, em seu tempo, da <strong>Igreja</strong> local. Em confirmação <strong>do</strong> que vai afirma<strong>do</strong>,<br />

recomenda-se vivamente a leitura <strong>do</strong>s XIII e XIV Planos <strong>de</strong> Ação Pastoral da arquidiocese. Após o <strong>do</strong>utora<strong>do</strong><br />

feito em Roma e Jerusalém, padre Vicente reassumiu o cargo no perío<strong>do</strong> 1993-1997, acumulan<strong>do</strong>-o <strong>de</strong>sta<br />

vez com ofícios <strong>pastor</strong>ais que lhe cobravam <strong>de</strong>masiada atenção e tempo.<br />

Nos perío<strong>do</strong>s intermédios <strong>de</strong>ssa fase e nos últimos <strong>de</strong>z anos, a arquidiocese não reuniu condições <strong>de</strong><br />

liberar um padre unicamente para a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da ação evangeliza<strong>do</strong>ra, o que comprometeu, em parte, a<br />

organicida<strong>de</strong> da <strong>pastor</strong>al. Ainda assim, importa reconhecer o trabalho <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por muitos <strong>de</strong> nossos<br />

presbíteros que, com gran<strong>de</strong> sacrifício, <strong>de</strong>ram o melhor <strong>de</strong> si no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>sse serviço. Acumulan<strong>do</strong>-o<br />

com outras <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>ções (quase sempre as <strong>de</strong> párocos), exerceram a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção arquidiocesa<strong>na</strong>, inclusive em<br />

mais <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong>, os vigários episcopais <strong>do</strong>s anos 80, além <strong>de</strong> padres Júlio Antônio da Silva, Antônio<br />

Alczuk, Luiz Antônio Bento, Sidney Fabril, Antônio <strong>de</strong> Pádua Almeida e Israel Zago.<br />

Não obstante a <strong>de</strong>dicação com que to<strong>do</strong>s se <strong>de</strong>sincumbiram da função existe consenso <strong>na</strong> reconhecida<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um padre libera<strong>do</strong> exclusivamente para esse serviço. Por carência <strong>de</strong> material humano, nessa<br />

condição a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> contou com somente <strong>do</strong>is sacer<strong>do</strong>tes ao longo <strong>do</strong>s 50 anos <strong>de</strong> sua história:<br />

Almeida, por oito anos, e Vicente, por <strong>do</strong>is. Tu<strong>do</strong> indica não haver engano em situá-los como os <strong>de</strong>z mais<br />

produtivos anos da caminhada evangeliza<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> nossa <strong>Igreja</strong> Particular.<br />

cAtequese, A educAção dA fé<br />

Depois <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is anos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> <strong>na</strong> Europa, ao reassumir a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção da <strong>pastor</strong>al diocesa<strong>na</strong>, Almeida<br />

se <strong>de</strong>u conta das mudanças que a diocese experimentara no perío<strong>do</strong>. Muita coisa, inegavelmente, havia<br />

muda<strong>do</strong> para melhor. Mas persistiam falhas pungentes, das quais continuava como mais sentida o reduzi<strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong> padres. As muitas frentes <strong>de</strong> trabalho, que mais e mais se abriam, estavam a reclamar um número<br />

<strong>de</strong> operários maior <strong>do</strong> que o disponível. Por isso, além da evangelização <strong>de</strong> toda a arquidiocese, que lhe competia<br />

orientar globalmente, viu-se obriga<strong>do</strong>, <strong>na</strong> falta <strong>de</strong> outros, a tomar sob seu encargo também a condução<br />

diocesa<strong>na</strong> da catequese infantil, <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e <strong>do</strong>s jovens.<br />

Sua ligação com a catequese vinha <strong>do</strong>s tempos <strong>de</strong> Curitiba, <strong>do</strong> contato que os semi<strong>na</strong>ristas <strong>do</strong> Seminário<br />

Rainha <strong>do</strong>s Apóstolos tiveram a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer com o catequista-mor <strong>do</strong> Paraná, padre<br />

Albano Cavallin, mais tar<strong>de</strong> bispo responsável pela catequese no Brasil e em toda a América Lati<strong>na</strong>. Quan<strong>do</strong>,<br />

em 1965, o Regio<strong>na</strong>l Sul II abriu seu <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> catequese, os ainda semi<strong>na</strong>ristas Almeida e Robles<br />

foram convida<strong>do</strong>s a lecio<strong>na</strong>r no curso para formação <strong>de</strong> catequistas. Coor<strong>de</strong><strong>na</strong>va-o padre Cláudio Ortigara,<br />

missionário saletino cujo nome se inscreveu, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> padre João Batista Megale, CMF, nos primórdios <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> catequese <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l. Ministra<strong>do</strong> no Colégio Divi<strong>na</strong> Providência, em Curitiba, inspiravase<br />

no ISPAC – Instituto Superior <strong>de</strong> Pastoral Catequética, <strong>do</strong> Rio, e <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>va-se a formar catequistas para<br />

as paróquias da capital. Foi o precursor <strong>do</strong> ISPAC <strong>do</strong> Paraná (1968) e da atual “Escola Catequética Emaús”<br />

(1990), <strong>de</strong> reconheci<strong>do</strong>s frutos para todas as <strong>Igreja</strong>s <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II da CNBB. 8<br />

Na diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, os <strong>do</strong>is coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al <strong>de</strong>ram início, em 1968, à formação <strong>de</strong> catequistas<br />

em cursos da<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s paróquias, começan<strong>do</strong> por Santa Maria Goretti, São Jorge <strong>do</strong> Ivaí e Paiçandu.<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1969, estan<strong>do</strong> Almeida já em Roma, irmã Judite Arboite, missionária <strong>de</strong> Jesus Crucifica<strong>do</strong>, e<br />

Robles, coopera<strong>do</strong>r da catedral <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, ministraram <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s <strong>de</strong> cursos para formação <strong>de</strong> catequistas entre<br />

as professoras das escolas pertencentes ao Núcleo Regio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>.<br />

8 Um apanha<strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> caminho percorri<strong>do</strong> pela catequese <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II po<strong>de</strong> ser visto em Chiquim, (2005, p. 290-297).<br />

241<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


242<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

A partir <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1971, no seu retorno, Almeida tornou-se responsável por implantar uma sólida<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção catequética da qual fizeram parte, em épocas diferentes, catequistas como irmãs Judite Arboite,<br />

(†)Anto<strong>na</strong> Dröge, Virma Barion, Petronila Maria Batisti, Maria Oda (Úrsula) Feit, Maria Beatriz Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Ferreira,<br />

Judite Delmassa e cristãs leigas <strong>do</strong> porte <strong>de</strong> Cleuza Garutti, Maria Lúcia Guastala, Maria Aparecida Guelfi,<br />

Marta Maria Ramalho, Gracínia da Silva Batista, Maria <strong>de</strong> Fátima Palioto, Elenice Aparecida Esposte, Cristiane<br />

Gardiolo, e Regi<strong>na</strong> Hele<strong>na</strong> R. F. Mantovani, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> muitas outras <strong>na</strong>s paróquias da hoje arquidiocese.<br />

<strong>Uma</strong> passada <strong>de</strong> olhos, ainda que rápida, sobre a história da catequese diocesa<strong>na</strong> dá a conhecer um semnúmero<br />

<strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> iniciativas, <strong>de</strong> eventos e <strong>de</strong> material produzi<strong>do</strong> − tu<strong>do</strong> en<strong>de</strong>reça<strong>do</strong> a formar para a vida<br />

cristã <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os pequeninos até os adultos <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s.<br />

Nos primeiros quinze anos vigorou a catequese tradicio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong> então. Pelo esforço <strong>de</strong> cada<br />

padre em sua paróquia, com a inestimável colaboração <strong>de</strong> irmãos ou irmãs on<strong>de</strong> os havia, formavam-se catequistas<br />

saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> meio <strong>do</strong>s congrega<strong>do</strong>s marianos, filhas <strong>de</strong> Maria e senhoras <strong>do</strong> Apostola<strong>do</strong> da Oração para<br />

levar as crianças à 1ª comunhão, festa anual que mobilizava as comunida<strong>de</strong>s católicas. Exigia um ano <strong>de</strong> preparação,<br />

durante o qual era estuda<strong>do</strong>, <strong>na</strong> forma <strong>de</strong> perguntas e respostas, o 2º Catecismo da Doutri<strong>na</strong> Cristã<br />

que, <strong>na</strong> 99ª edição, <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1991, esclarecia: “Este Catecismo apresenta substancialmente o mesmo texto<br />

aprova<strong>do</strong> pelos Srs. Bispos <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> Brasil, em 1903, com ligeiras alterações” (SEGUNDO..., 1991, p. 4).<br />

Em 1972, surgiu a 1ª Equipe Diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> Catequese que, por falta <strong>de</strong> prédio da diocese no centro<br />

da cida<strong>de</strong>, instalou-se em sala cedida pela paróquia São José Operário. Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> bispo, as Missionárias<br />

<strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria ce<strong>de</strong>ram irmã Anto<strong>na</strong> Dröge para coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r a catequese diocesa<strong>na</strong>. A<br />

módica remuneração da equipe era garantida pela diocese com ajuda da organização alemã Adveniat. No ano<br />

seguinte, foi cria<strong>do</strong> o Centro Catequético Diocesano. Com esse nome funcionou até 1977, quan<strong>do</strong> passou a<br />

chamar-se Secretaria<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pastoral, sedia<strong>do</strong> junto à igreja São José.<br />

Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> irmã Anto<strong>na</strong>, Almeida lançou-se à produção <strong>de</strong> apostilas, impressas com estafante trabalho<br />

no mimeógrafo Gestetner <strong>de</strong> tantas glórias, consegui<strong>do</strong> também com recursos <strong>de</strong> Adveniat. Ainda em 1972 ele<br />

ofereceu à diocese Adão, on<strong>de</strong> estás? – curso básico para catequistas, apresenta<strong>do</strong> como subsídio <strong>do</strong> Secretaria<strong>do</strong><br />

Diocesano <strong>de</strong> Catequese. É <strong>de</strong>sta época a iniciativa <strong>de</strong> separar a catequese paroquial da catequese escolar. Com<br />

o incentivo à formação <strong>de</strong> catequistas, houve significativo aumento <strong>do</strong> seu número em todas as paróquias. A 1ª<br />

Eucaristia, celebrada <strong>na</strong>s paróquias e comunida<strong>de</strong>s, fazia-se antece<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma preparação <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos.<br />

Eram muitas as frentes a serem atacadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a catequese das criancinhas até a <strong>do</strong>s adultos reuni<strong>do</strong>s<br />

em grupos <strong>de</strong> reflexão. Em 1973, por iniciativa <strong>de</strong> irmã Neli Faccin, <strong>de</strong> Nova Esperança, que veio integrar<br />

a equipe central <strong>de</strong> catequese, aconteceu a primeira concentração diocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes, episódio que<br />

marcou o início da chamada catequese <strong>de</strong> perseverança, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>da aos que tinham feito a 1ª Eucaristia. Foi<br />

também um perío<strong>do</strong> notável <strong>de</strong> produção, sob influxo <strong>do</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al, <strong>de</strong> abundante material<br />

catequético diocesano. Para uso <strong>do</strong> clero <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, Almeida publicou, ainda em 1973, o trabalho Comunida<strong>de</strong><br />

Eclesial <strong>de</strong> Base: Caminhos para a Pastoral <strong>de</strong> uma Diocese, re-elaboração <strong>de</strong> sua dissertação <strong>de</strong>fendida no<br />

Instituto Lumen Vitae <strong>de</strong> Bruxelas. Pela mesma época saiu Para Converter os Batiza<strong>do</strong>s, material <strong>de</strong> catequese<br />

<strong>de</strong> adultos, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>do</strong> a iniciantes.<br />

Entre 1973 e 1975, apareceu o curso <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong><strong>do</strong> Si<strong>na</strong>is e Apelos <strong>de</strong> Deus em Nossa Vida, em duas<br />

etapas, a segunda com um total <strong>de</strong> 43 encontros (ainda chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> aulas), que começou a ser utilizada<br />

em 1975. O material serviu <strong>de</strong> base à catequese infantil preparatória à 1ª Eucaristia, em <strong>do</strong>is anos, <strong>na</strong> época.<br />

Como a segunda etapa continha muitos encontros, alguns começaram a <strong>de</strong>smembrá-la, introduzin<strong>do</strong><br />

uma terceira. Esse curso registra a influência <strong>de</strong> padre Vicente Costa, vigário ecônomo <strong>de</strong> São Jorge <strong>do</strong> Ivaí<br />

(1973-1978): o coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al se encarregava <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r a todas as comunida<strong>de</strong>s as experiências<br />

paroquiais bem sucedidas. No ano <strong>de</strong> 1975, Almeida brin<strong>do</strong>u a diocese com excelente apostila, <strong>na</strong> qual fornecia<br />

orientações e um roteiro mínimo para formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> reflexão, <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>da A todas as gentes:<br />

roteiro <strong>de</strong> curso-encontro missionário. Na sua feitura contribuíram, conforme o autor, “indiretamente, to<strong>do</strong> o<br />

clero da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>; diretamente, padres Berniero Lauria, Vicente Costa, Valério O<strong>do</strong>rizzi e Edwin<br />

Parascandalo” (ALMEIDA, 1975, f. 30).


No ano <strong>de</strong> 1974, a diocese produziu Promover o homem to<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s os homens – subsídios para cursos <strong>na</strong><br />

“linha 6”, com reuniões sobre os temas: higiene, verminose, alimentação, pronto-socorro, obstetrícia e puericultura;<br />

interessante trabalho num tempo em que não se ouvia falar <strong>de</strong> Pastoral da Criança nem <strong>de</strong> Pastoral da<br />

Saú<strong>de</strong>. No dia 22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1976, Almeida apresentou o excelente Família, mão educa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Pai, roteiro<br />

para reuniões <strong>de</strong> pais <strong>do</strong>s catequizan<strong>do</strong>s, produzi<strong>do</strong> por padre Vicente Costa, quan<strong>do</strong> vigário <strong>de</strong> São Jorge<br />

<strong>do</strong> Ivaí, e assumi<strong>do</strong> então pela diocese.<br />

Em 1978, a equipe foi reforçada com a presença <strong>de</strong> irmã Oda Feit que, ainda no mesmo ano, com o afastamento<br />

<strong>de</strong> irmã Anto<strong>na</strong>, assumiu a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção catequética. Nesse ano foi lança<strong>do</strong> Somos Crianças <strong>de</strong> Deus<br />

- manual <strong>do</strong> catequista para pré-catequese, com 26 encontros além <strong>de</strong> rito <strong>de</strong> acolhida <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong>. O cargo<br />

<strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra da catequese foi confia<strong>do</strong>, em 1980, a irmã Beatriz Ferreira, que nele permaneceu até 1985.<br />

Almeida produziu, no início <strong>de</strong> 1979, Pesca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Homens – curso básico para formação <strong>de</strong> catequistas,<br />

em duas etapas, com apostila própria para cada uma, que saíram como publicação mimeográfica, sob égi<strong>de</strong> da<br />

já arquidiocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. Compôs também, com ajuda da equipe arquidiocesa<strong>na</strong>, o manual <strong>de</strong> catequese<br />

infantil preparatório à 1ª Eucaristia − livro <strong>do</strong> catequista e livro <strong>do</strong> catequizan<strong>do</strong> − em <strong>do</strong>is volumes, um para<br />

cada etapa. Com a contribuição <strong>de</strong> padre Vicente Costa, pároco <strong>de</strong> Sarandi (1979-1983), o manual foi aperfeiçoa<strong>do</strong><br />

fixan<strong>do</strong>-se em três etapas (três anos) o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> catequese infantil, como se faz até hoje.<br />

Em 1981 teve início a produção <strong>do</strong> temário anual Ninguém Cresce Sozinho, para reuniões <strong>do</strong>s grupos<br />

<strong>de</strong> reflexão paroquiais. O nome preten<strong>de</strong>u salientar a catequese como crescimento, ao longo <strong>de</strong> toda a vida,<br />

“<strong>na</strong> unida<strong>de</strong> da fé e no conhecimento <strong>do</strong> Filho <strong>de</strong> Deus” até chegarmos “ao esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> adultos, à estatura <strong>do</strong><br />

<strong>Cristo</strong> em sua plenitu<strong>de</strong>” (EFÉSIOS 4, 13). Lembrava também a dimensão comunitária da <strong>Igreja</strong>, corpo <strong>de</strong><br />

<strong>Cristo</strong> (cf. 1CORÍNTIOS 12, 12-31), à qual a catequese <strong>de</strong>ve integrar o catequizan<strong>do</strong>, qualquer que seja sua<br />

ida<strong>de</strong>. Com o mesmo nome e em <strong>do</strong>is volumes, foi publica<strong>do</strong>, no ano <strong>de</strong> 1983, um manual <strong>de</strong> iniciação à vida<br />

cristã comunitária, manual <strong>de</strong> catequese <strong>do</strong>s pequeninos (por volta <strong>do</strong>s 5-6 anos). Para a catequese infantil e<br />

<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes a diocese a<strong>do</strong>tou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o lançamento, a coleção “Crescer em Comunhão”, publicada pelo<br />

Regio<strong>na</strong>l Sul II, a partir da experiência catequética pioneira <strong>de</strong> Francisco Beltrão (PR), acrescida da contribuição<br />

<strong>de</strong> Curitiba e das sugestões <strong>de</strong> todas as <strong>Igreja</strong>s <strong>do</strong> Paraná. Ainda nos anos 80, para formar anima<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

CEBs, Almeida criou o subsídio Deus Mora Aqui.<br />

Em 1984, construídas as instalações da Cúria Metropolita<strong>na</strong>, o secretaria<strong>do</strong> passou a ocupar algumas<br />

salas <strong>do</strong> novo prédio. Irmã Anto<strong>na</strong> voltou a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r a catequese e, ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> padre Vicente Costa, <strong>de</strong> 13<br />

a 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1986, participou da 1ª Sema<strong>na</strong> Brasileira <strong>de</strong> Catequese, em Itaici, município <strong>de</strong> Indaiatuba<br />

(SP). Ano seguinte, em 25-26 <strong>de</strong> junho, preparan<strong>do</strong> a 1ª SEPAC − Sema<strong>na</strong> Para<strong>na</strong>ense <strong>de</strong> Catequese,<br />

<strong>Maringá</strong> sediou o 1º Congresso Provincial <strong>de</strong> Catequese, com a presença <strong>de</strong> padre José Geeurickx, MSC, <strong>do</strong><br />

Regio<strong>na</strong>l Sul II. Participaram cerca <strong>de</strong> 800 catequistas da Província Eclesiástica <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>. A 1ª SEPAC teve<br />

lugar em Curitiba, nos dias 6-10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1988, com 10 catequistas <strong>de</strong> cada diocese <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l. Aí se<br />

afirmou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior formação para os catequistas, <strong>de</strong>cidin<strong>do</strong>-se pela criação da Escola Catequética<br />

Regio<strong>na</strong>l Emaús, coor<strong>de</strong><strong>na</strong>da por irmã Araceli Glória Xavier da Roza.<br />

Em 1989, a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção arquidiocesa<strong>na</strong> contou com o catequista Ivanir Teixeira <strong>de</strong> Carvalho, ao tempo<br />

em que irmã Anto<strong>na</strong> se <strong>de</strong>dicava ao PROMEC, em Sarandi. Entran<strong>do</strong> os anos 90, foram realiza<strong>do</strong>s três<br />

congressos arquidiocesanos <strong>de</strong> catequese, embora sempre se chamassem “diocesanos”: o primeiro, <strong>na</strong> cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Marialva, em 1990; o segun<strong>do</strong>, em Mandaguaçu, em 1992; o terceiro, em Sarandi, no ano <strong>de</strong> 1996. Em<br />

trágico aci<strong>de</strong>nte automobilístico <strong>na</strong> Serra <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>, veio a falecer, no dia 25 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1992, irmã<br />

Anto<strong>na</strong> Dröge, a gran<strong>de</strong> catequista a quem a arquidiocese será para sempre <strong>de</strong>ve<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> gratidão i<strong>na</strong>cabável.<br />

Em 1993, assumiu a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção arquidiocesa<strong>na</strong> irmã Judite Delmassa, que permaneceu até o fi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> 2001.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, Delmassa publicou, em 1995, rico trabalho <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>do</strong> à formação <strong>do</strong> espírito missionário das<br />

crianças, a Noveninha da criança missionária. Com a participação <strong>de</strong> Delmassa, a catequese diocesa<strong>na</strong> completou<br />

30 anos <strong>de</strong> entrega à competência das zelosas Missionárias <strong>do</strong> Santo Nome <strong>de</strong> Maria.<br />

Em 2002, a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção passou às mãos da catequista Regi<strong>na</strong> Hele<strong>na</strong> Mantovani. Dois textos produzi<strong>do</strong>s<br />

em <strong>Maringá</strong> foram assumi<strong>do</strong>s pelo Regio<strong>na</strong>l Sul II e, apresenta<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>m Albano Cavallin, mereceram<br />

publicação pela Editora Vozes, <strong>de</strong> Petrópolis. Em 1994 veio a lume Crescer com Jesus – Iniciação à Catequese,<br />

243<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


244<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

da autoria <strong>de</strong> Josie Agatha Parrilha da Silva e Regi<strong>na</strong> Hele<strong>na</strong> R. F. Mantovani, livro <strong>do</strong> catequista e fichas <strong>do</strong><br />

catequizan<strong>do</strong>. Em 2005 foi publica<strong>do</strong> o livro Semea<strong>do</strong>res da Palavra – Formação <strong>de</strong> Catequistas Iniciantes,<br />

<strong>do</strong>s autores Cacilda Gonçalves Gasparin, Cristiane Gardiollo, Ir. Judite Delmassa, Geral<strong>do</strong> Conte Júnior e<br />

Regi<strong>na</strong> Hele<strong>na</strong> Ribeiro <strong>de</strong> Faria Mantovani.<br />

Ainda no ano <strong>de</strong> 2005, <strong>na</strong> paróquia Santa Maria Goretti, aconteceu o 1º Seminário Arquidiocesano<br />

<strong>de</strong> Catequese que, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Mantovani, em vez <strong>de</strong> seminário, po<strong>de</strong>ria ter si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> como 4° congresso<br />

arquidiocesano.<br />

Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r da ação evangeliza<strong>do</strong>ra, Almeida foi responsável ainda pela serieda<strong>de</strong> com<br />

que a diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> assumiu a preparação <strong>do</strong>s sacramentos, em especial, <strong>do</strong> batismo. As paróquias se<br />

beneficiaram <strong>de</strong> bem elabora<strong>do</strong>s roteiros para pais e padrinhos, que integravam o compromisso batismal à inserção<br />

das pessoas numa comunida<strong>de</strong> concreta. Casavam-se, <strong>de</strong>ssa forma, o interesse <strong>do</strong>s fiéis pelo sacramento<br />

com o mo<strong>de</strong>lo eclesial das CEBs proposto pela diocese. O senso <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> e o pulso <strong>de</strong> <strong>pastor</strong> acompanharam<br />

<strong>do</strong>m Jaime no respal<strong>do</strong> jamais nega<strong>do</strong> às <strong>de</strong>cisões conjuntas <strong>do</strong> presbitério. Os mais antigos recordam a<br />

expressão “paróquias-esgoto”, duro qualificativo cria<strong>do</strong> por ele para con<strong>de</strong><strong>na</strong>r a jamais admitida anomia <strong>de</strong><br />

conferir sacramentos com <strong>de</strong>sprezo das orientações teológico-<strong>pastor</strong>ais diocesa<strong>na</strong>s. À época, em diocese vizinha,<br />

tor<strong>na</strong>ram-se famosas duas paróquias que, aos <strong>do</strong>mingos, recebiam <strong>de</strong>ze<strong>na</strong>s <strong>de</strong> ônibus <strong>de</strong> “pára-quedistas”<br />

interessa<strong>do</strong>s unicamente no rito batismal. Esgotadas as tentativas <strong>de</strong> diálogo com os vigários, as cobranças<br />

<strong>de</strong> providências foram encaminhadas ao bispo. Sem resulta<strong>do</strong>, entretanto. Numa reunião interdiocesa<strong>na</strong>, ao<br />

receber, pela enésima vez, queixa contra um <strong>do</strong>s renitentes padres, o pobre bispo <strong>de</strong>sabafou: “Que vocês<br />

querem que eu faça? Que eu mate o padre?”.<br />

JoveNs, A MoNtAgeM <strong>do</strong> futuro<br />

No tocante à <strong>pastor</strong>al com jovens o papel <strong>de</strong> Almeida revestiu igualmente importância capital. Em<br />

1973, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> CLC – Curso <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança Cristã, que fez em Men<strong>de</strong>s (RJ), <strong>de</strong>u início ao trabalho precursor<br />

<strong>de</strong> uma <strong>pastor</strong>al da juventu<strong>de</strong> daquele tempo. Ao primeiro encontro <strong>do</strong> TLC – Trei<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> Li<strong>de</strong>rança<br />

Cristã levou um grupo pioneiro <strong>de</strong> jovens maringaenses <strong>do</strong> qual participaram, entre outros, Vera Rodrigues,<br />

Sumie Shima, Maria Auxilia<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Souza Pedrosa (Síli), Vitória Maria Bor<strong>na</strong><strong>de</strong>lli, Antônio Mamprin, Pedro<br />

Vier, Edson Canta<strong>do</strong>ri Filho, Pedro Fonzar, José Antônio Sapata e Nelson Elias Aiex (Turco). Alguns voltaram<br />

com Almeida para encontros <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>.<br />

Pela mesma época, em Marialva, Robles <strong>de</strong>senvolvia trabalho paroquial com jovens, a partir <strong>do</strong> “Dia da<br />

Verda<strong>de</strong>”, dirigi<strong>do</strong> por gente <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong>, no fi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> 1972. O grupo londrinense era assisti<strong>do</strong> por padre Trajano<br />

M. Horta, salesiano <strong>de</strong> imensa aceitação entre a moçada daquela cida<strong>de</strong>. De início, Robles participou ocasio<strong>na</strong>lmente<br />

<strong>do</strong>s encontros <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong> promovi<strong>do</strong>s por Trajano. Depois, juntou-se a Almeida para montagem<br />

<strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> jovens da diocese, reclama<strong>do</strong> também aqui. Foi necessário o auxílio <strong>de</strong> rapazes e<br />

moças <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong> ou <strong>de</strong> Apucara<strong>na</strong> que vinham, no começo, colaborar com nossos dias <strong>de</strong> formação. Os mais<br />

vivi<strong>do</strong>s recordam figuras, prenomes e alcunhas que se tor<strong>na</strong>ram caros entre nós, como Macapá, José Antônio,<br />

Tainha, Suzy, <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong>, e Caramori, <strong>de</strong> Apucara<strong>na</strong>. Padre Berneiro Lauria, pároco <strong>de</strong> Nova Esperança, a<br />

quem os jovens <strong>de</strong>dicavam imenso carinho, logo se integrou a Almeida e Robles. Ex-missionário <strong>na</strong> In<strong>do</strong>nésia<br />

e sacer<strong>do</strong>te exemplar, sua presença enriqueceu o trabalho daqueles primeiros tempos. Apesar <strong>do</strong>s diferentes<br />

nomes e peque<strong>na</strong>s variações em cada lugar, o movimento <strong>de</strong> jovens apresentava-se basicamente como reprodução<br />

<strong>do</strong> Cursilho <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong>. Consagrava o esquema <strong>de</strong> encontros masculinos ou femininos em três noites<br />

e três dias <strong>de</strong> curso intensivo, segui<strong>do</strong> pelo engajamento <strong>do</strong>s grupos que continuavam reunin<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> base<br />

paroquial. Coube a Almeida, com sua criativida<strong>de</strong>, elaborar um encontro <strong>de</strong> jovens tipicamente maringaense,<br />

com dinâmica e temário próprios, além <strong>de</strong> inserir <strong>na</strong> sua estrutura a participação <strong>de</strong> pais, mães e também <strong>de</strong><br />

crianças, formatan<strong>do</strong>-o à vida comunitária da <strong>Igreja</strong>, dan<strong>do</strong>-lhe um cunho <strong>de</strong> família. Na busca <strong>de</strong> uma <strong>pastor</strong>al<br />

orgânica, integrou o movimento jovem <strong>de</strong>ntro das seis linhas <strong>do</strong> PPC, possibilitan<strong>do</strong> a formação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ce<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças paroquiais comprometidas com a ação evangeliza<strong>do</strong>ra da <strong>Igreja</strong> conduzida pelos seus legítimos<br />

<strong>pastor</strong>es, os bispos. O “movimento” juvenil da diocese não se caracterizava então por nenhum <strong>do</strong>s senões <strong>de</strong>


que se acoimam por vezes os movimentos; ao contrário, integrava-se harmonicamente às diretrizes da <strong>Igreja</strong><br />

diocesa<strong>na</strong>, regio<strong>na</strong>l e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Além <strong>de</strong> Almeida, Robles e Lauria, no trabalho que se esten<strong>de</strong>u por anos a fio,<br />

também outros <strong>de</strong>ram ajuda preciosa: <strong>do</strong>m Jaime, que no meio <strong>do</strong>s jovens não se mostrava distante nem pela<br />

ida<strong>de</strong> nem pelo cargo, padres Roberto Kuriyama, Vicente Costa, Edwin Parascandalo, Francisco Jobard, Mário<br />

Tesio, José Vieira da Silva, José Bortolotte e, excepcio<strong>na</strong>lmente, outro que mostrasse disposição.<br />

Para garantir aos jovens engaja<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> encontro inicial, a soli<strong>de</strong>z <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res cristãos, lentamente<br />

foi toman<strong>do</strong> corpo algo novo que, por fim, se <strong>de</strong>finiu como “BR3 – Base <strong>de</strong> Reencontro e Reflexão Religiosa”.<br />

Escolhi<strong>do</strong> por Almeida, o nome remetia ao sucesso musical <strong>de</strong> Antônio A<strong>do</strong>lfo e Tibério Gaspar, <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong><br />

no V Festival Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l da Canção, em 1970, por Antônio Vian<strong>na</strong> Gomes, conheci<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong><br />

artístico por Tony Tor<strong>na</strong><strong>do</strong>, “porque dançava feito um furacão”. Do BR3 cuidaram tão somente os cria<strong>do</strong>res<br />

Almeida e Robles. Tratava-se <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo básico <strong>de</strong> formação, distribuída por 60 horas praticadas em comunida<strong>de</strong><br />

e distribuídas em estu<strong>do</strong>, oração individual e comunitária, celebrações litúrgicas e para-litúrgicas,<br />

trabalho, teatro e recreação conjunta. Dividi<strong>do</strong> em duas etapas separadas por intervalo <strong>de</strong> um mês, o BR3<br />

integrava rapazes e garotas, ao tempo em que lhes propiciava uma experiência <strong>de</strong> profunda amiza<strong>de</strong>, respeito,<br />

alegria e espiritualida<strong>de</strong> da <strong>Igreja</strong>. Pelo testemunho <strong>do</strong>s seus participantes e pelos frutos que até hoje subsistem,<br />

passa<strong>do</strong>s mais <strong>de</strong> 30 anos, para quem o conheceu o BR3 firmou-se como o mais sóli<strong>do</strong> programa leva<strong>do</strong><br />

a efeito em <strong>Maringá</strong> <strong>na</strong> evangelização <strong>de</strong> jovens <strong>do</strong> meio urbano. A posse como pároco <strong>de</strong> Mandaguaçu, no<br />

fi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> 1979, obrigou Almeida a se distanciar <strong>do</strong> trabalho que, por tanto tempo, tinha <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com<br />

brilhantismo no rumo <strong>de</strong> uma <strong>pastor</strong>al <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> <strong>na</strong> diocese.<br />

A partir <strong>do</strong>s anos 80, a evangelização <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes e jovens <strong>na</strong> arquidiocese foi entregue à responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vários padres, <strong>de</strong> religiosas e <strong>de</strong> cristãos leigos que buscaram, sempre com louvável <strong>de</strong>dicação,<br />

respon<strong>de</strong>r às exigências <strong>pastor</strong>ais <strong>de</strong>ssa rica e <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>ra parcela da <strong>Igreja</strong> e da socieda<strong>de</strong>. Para um conhecimento<br />

<strong>do</strong> atual trabalho com jovens <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela arquidiocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, especialmente a partir<br />

da assessoria <strong>de</strong> padre Ivaldir Camaroti <strong>do</strong>s Reis, po<strong>de</strong>-se recorrer à consulta <strong>na</strong> Internet, acessan<strong>do</strong> o site<br />

http://www.pjbmaringa.pop.com.br.<br />

eNcoNtros <strong>de</strong> JoveNs<br />

Equipe <strong>de</strong> cozinha - 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1973. Masculino - 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1975. Feminino - 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1975.<br />

245<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


246<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

MeMóriA, quAse históriA<br />

crôNicA pArA Nossos MeNiNos<br />

Acostumamo-nos a vê-los como parte da nossa vida. Sua presença ao nosso la<strong>do</strong>, e a nossa<br />

no meio <strong>de</strong>les pareciam-nos as coisas mais <strong>na</strong>turais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Éramos padres jovens, ape<strong>na</strong>s<br />

concluí<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s. Não sentíamos distância <strong>de</strong>les, to<strong>do</strong>s ainda estudantes.<br />

Eles nos tinham como orienta<strong>do</strong>res, mas nós assim não nos consi<strong>de</strong>rávamos. Éramos<br />

tão somente irmãos mais velhos. Viam-nos tão próximos que nunca nos chamavam padres.<br />

Ninguém, no entanto, jamais nos tratou com tamanho respeito.<br />

Ouvíamos suas angústias, discutíamos seus problemas, acompanhávamos suas lutas. Entrávamos<br />

em suas casas como se fossem nossas. Seus pais se habituaram a ver-nos como gente<br />

da família.<br />

Não havia preocupação <strong>de</strong> horário. Era comum começarmos uma reunião às onze da<br />

noite, <strong>de</strong>pois da faculda<strong>de</strong>, como se falava <strong>na</strong> época. Ninguém estranhava que o Lauria¹ voltasse,<br />

às duas da madrugada, para Nova Esperança. Eram outros tempos. Talvez não fôssemos tão<br />

exigi<strong>do</strong>s como hoje. Ou, quem sabe, mais novos, tivéssemos maior disposição para o trabalho<br />

e não nos cansássemos com facilida<strong>de</strong>.<br />

Cresceram conosco. Amadurecemos com eles. Ensi<strong>na</strong>mos e apren<strong>de</strong>mos. Foi uma troca<br />

tão intensa <strong>de</strong> vida que o tempo não conseguiu <strong>de</strong>struir.<br />

Acompanhamos os <strong>na</strong>moros. Abençoamos os casamentos. Batizamos os filhos. Celebramos<br />

a Eucaristia com eles e com as crianças.<br />

A dura batalha da sobrevivência dispersou-os. Encontram-se um pouco por to<strong>do</strong> canto.<br />

Hoje são adultos que, com nosso amor e nossa fraqueza, ajudamos a formar. Para nós, continuam<br />

o que sempre foram: os nossos meninos.<br />

Agora enten<strong>de</strong>mos o que sentem os pais quan<strong>do</strong> os filhos crescem. E, como os pais,<br />

experimentamos quanto po<strong>de</strong> <strong>do</strong>er o carinho que lhes <strong>de</strong>dicamos.<br />

Sempre os alertamos para a ru<strong>de</strong>za da vida. Para a necessida<strong>de</strong> da fortaleza interior. Para<br />

a construção <strong>de</strong> uma perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> sólida, fundada <strong>na</strong> fé, sustentada <strong>na</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> a valores que<br />

não passam. Nunca lhes escon<strong>de</strong>mos que o heroísmo é exigência <strong>de</strong> cada dia.<br />

Lá no fun<strong>do</strong>, porém, provavelmente alimentássemos a esperança <strong>de</strong> que não precisassem<br />

comprová-lo. Ou que o fizessem muito, muito mais tar<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> já não estivéssemos presentes.<br />

Quan<strong>do</strong> não mais precisassem <strong>de</strong> nós <strong>na</strong> hora da cruz.<br />

É <strong>na</strong>tural supor que os mais velhos sejam chama<strong>do</strong>s primeiro. Pensávamos que, como o<br />

Lauria, iríamos também <strong>na</strong> frente. Não podíamos imagi<strong>na</strong>r que nos prece<strong>de</strong>riam à casa <strong>do</strong> Pai<br />

gente jovem como o Singh² e o João Carlos³, que conhecemos meninos. Os nossos meninos<br />

(ROBLES, 1995, p. 12).<br />

___________________<br />

¹ Padre Berniero Lauria, pároco <strong>de</strong> Nova Esperança, faleceu em Eboli, Itália, no dia 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1983.<br />

² José Roberto Singh morreu <strong>de</strong> câncer, em <strong>Maringá</strong>, a 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1995.<br />

³ João Carlos Clemente faleceu, vítima <strong>de</strong> ataque cardíaco, aos 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1995, em Cascavel.


coMuNidA<strong>de</strong>s eclesiAis <strong>de</strong> BAse<br />

Des<strong>de</strong> a chegada a <strong>Maringá</strong>, <strong>do</strong>m Jaime mostrou-se inquieto com o crescimento <strong>do</strong>s bairros, já que não<br />

dispunha <strong>de</strong> padres para encaminhar a novas paróquias que entendia necessárias, mas sem condição <strong>de</strong> erigir.<br />

Buscava a colaboração das religiosas, pedin<strong>do</strong>-lhes que, nos fi<strong>na</strong>is <strong>de</strong> sema<strong>na</strong>, saíssem <strong>de</strong> casa, encaminhan<strong>do</strong>-se<br />

a algum trabalho evangeliza<strong>do</strong>r em áreas afastadas <strong>do</strong> centro da cida<strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong> 1971, fi<strong>na</strong>lmente,<br />

conseguiu aten<strong>de</strong>r ao anseio alimenta<strong>do</strong> por tantos anos. Confiou a responsabilida<strong>de</strong> da assistência <strong>pastor</strong>al<br />

<strong>do</strong>s bairros ao recém-or<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong> padre Valério O<strong>do</strong>rizzi, que recebeu ajuda das comunida<strong>de</strong>s religiosas, cada<br />

uma ocupan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um setor, além <strong>do</strong> reforço <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças leigas suscitadas pelo MCC – Movimento <strong>de</strong><br />

Cursilhos <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong>. Nasci<strong>do</strong> no meio da JACE – Juventu<strong>de</strong> da Ação Católica Espanhola, da diocese <strong>de</strong><br />

Palma <strong>de</strong> Mallorca, com gran<strong>de</strong> incentivo <strong>do</strong> bispo diocesano, <strong>do</strong>m Juan Hervás, o MCC foi organiza<strong>do</strong> a<br />

partir <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1948, em vista da gran<strong>de</strong> peregri<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> jovens para Santiago <strong>de</strong> Compostela. Em 1953,<br />

<strong>do</strong>m Hervás usou pela primeira vez o nome “cursillos <strong>de</strong> cristiandad”, queren<strong>do</strong> referir-se não à cristanda<strong>de</strong><br />

medieval, mas ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida das primeiras comunida<strong>de</strong>s cristãs <strong>do</strong>s Atos. No Brasil o primeiro cursilho<br />

aconteceu em Valinhos (SP), no ano <strong>de</strong> 1962. Em 1970, a diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> começou a encaminhar candidatos<br />

a Londri<strong>na</strong> e Curitiba. A partir <strong>de</strong> 1972, com seu estabelecimento <strong>na</strong> diocese, o MCC entrou a fornecer<br />

agentes <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al que <strong>de</strong>ram sustento ao trabalho <strong>de</strong> O<strong>do</strong>rizzi. Depois <strong>do</strong>s sau<strong>do</strong>sos tempos <strong>do</strong> marianismo,<br />

outra força <strong>de</strong>spertava agora <strong>na</strong> <strong>Igreja</strong> para <strong>do</strong>tar a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res cristãos. 9 Em conexão com o<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al, vivamente interessa<strong>do</strong> <strong>na</strong> implantação <strong>do</strong> novo mo<strong>de</strong>lo eclesial representa<strong>do</strong> pelas<br />

CEBs, O<strong>do</strong>rizzi lançou-se à formação <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s nos bairros. Assim, em 1974, publicou seu I Plano <strong>de</strong><br />

Pastoral Orgânica <strong>do</strong>s Bairros da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, em cuja apresentação, <strong>do</strong>m Jaime escreveu:<br />

Eu tive um sonho [...] quan<strong>do</strong>, em 1957, eu cheguei a <strong>Maringá</strong>, encontran<strong>do</strong> a imensa<br />

cida<strong>de</strong> com ape<strong>na</strong>s duas paróquias e os bairros crescen<strong>do</strong> e se povoan<strong>do</strong>, eu sonhava<br />

como dar assistência religiosa a esses bairros. On<strong>de</strong> encontrar aqueles que pu<strong>de</strong>ssem ser<br />

a longa mão <strong>do</strong> Bispo para chegar a to<strong>do</strong>s esses lares, a essas praças, ruas e vilas. O trabalho<br />

começou lento, com a <strong>de</strong>dicação apostólica das Congregações Maria<strong>na</strong>s, Filhas<br />

<strong>de</strong> Maria e Senhoras <strong>do</strong> Apostola<strong>do</strong> da Oração. Foi acresci<strong>do</strong> com a ajuda das Irmãs,<br />

que foram chegan<strong>do</strong> a <strong>Maringá</strong>. Desenvolveu-se com a abertura <strong>de</strong> Casas Religiosas<br />

nos Bairros, Colégios, Obras <strong>de</strong> Assistência Social e o imenso <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conservar<br />

<strong>Maringá</strong> para <strong>Cristo</strong>. E hoje, posso dizer: Eu tive um sonho que se tornou realida<strong>de</strong>!<br />

É este [...], basea<strong>do</strong> em nosso 2º Plano <strong>de</strong> Pastoral Orgânica da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>,<br />

que tem a sua origem no <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> Padre Valério O<strong>do</strong>rizzi <strong>na</strong> Pastoral<br />

<strong>do</strong>s Bairros, coadjuva<strong>do</strong> pelas <strong>de</strong>dicadas Religiosas e nossos Leigos cristãos que<br />

<strong>de</strong>scobriram o <strong>Cristo</strong> e O querem levar a seus irmãos. Quan<strong>do</strong> hoje se processa uma<br />

renovação <strong>na</strong> estrutura das paróquias, pensan<strong>do</strong>-se <strong>na</strong>s Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base<br />

como ponto váli<strong>do</strong> <strong>de</strong> partida para uma tomada cristã <strong>de</strong> consciência, nos mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong><br />

Vaticano II, só tenho motivos para agra<strong>de</strong>cer a Deus a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> meu sonho − uma<br />

assistência espiritual aos bairros com o <strong>de</strong>spertar da valorização da pessoa huma<strong>na</strong> em<br />

to<strong>do</strong>s os ângulos − e para abençoar o abnega<strong>do</strong> e valoroso trabalho <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s esses<br />

queri<strong>do</strong>s colabora<strong>do</strong>res (ODORIZZI, 1974, p. 1).<br />

O trabalho <strong>de</strong> O<strong>do</strong>rizzi visava, em essência, ajudar os párocos a implantar CEBs em suas paróquias.<br />

Como se tratava <strong>de</strong> proposta nova, muitos acusavam dificulda<strong>de</strong> para a sua execução. Mais <strong>do</strong> que recomendação<br />

teórica sobre seu valor e oportunida<strong>de</strong>, a diocese oferecia, através da Pastoral <strong>do</strong>s Bairros, uma ajuda<br />

prática para o <strong>de</strong>spertar das CEBs. O gran<strong>de</strong> instrumental cria<strong>do</strong> por O<strong>do</strong>rizzi foi o CAC – Curso <strong>de</strong> Atualização<br />

Cristã, on<strong>de</strong> eram forma<strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res para as comunida<strong>de</strong>s. Valen<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> um trei<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> 30 horas,<br />

com estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> básico da fé, <strong>do</strong> PPC e exercícios práticos da criativida<strong>de</strong> comunitária − os “16<br />

9 Na <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, Cursilho <strong>de</strong> Cristanda<strong>de</strong> e MFC revelaram-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, perfeitamente integra<strong>do</strong>s às diretrizes da <strong>pastor</strong>al<br />

diocesa<strong>na</strong>.<br />

247<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


248<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

sistemas” <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> pelo sociólogo Wal<strong>de</strong>mar De Gregori − o CAC capacitava agentes comunitários,<br />

levan<strong>do</strong>-os à responsabilida<strong>de</strong> por uma comunida<strong>de</strong> concreta. A equipe formada por O<strong>do</strong>rizzi compunha-se<br />

<strong>de</strong> 9 religiosas <strong>de</strong> várias congregações e <strong>de</strong> 16 casais <strong>de</strong>sperta<strong>do</strong>s pelo cursilho, <strong>do</strong>s quais fizeram parte nomes<br />

conheci<strong>do</strong>s <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, como Atair Niero, Tomás Negreiros, Ermelin<strong>do</strong> Bolfer, João Penha, Antônio Scramin,<br />

Benedito Souto Maior, Said Felício Ferreira, Paulo Jacomini, Hélio Moreira, Osval<strong>do</strong> Vieira, Luiz Icizuka,<br />

Said Jacob, Wilson Surita, Aníbal Bianchini da Rocha, José Mário Paro, Wan<strong>de</strong>rley Batista da Silva e muitos<br />

outros. Foi a partir <strong>de</strong>sse notável trabalho que surgiram CEBs, ainda hoje atuantes, em bairros como Jardim<br />

Alvorada, Morangueira, Mandacaru e Jardim Santa Isabel.<br />

Escusa<strong>do</strong> dizer que a Pastoral <strong>de</strong> Bairros, assim como qualquer outra iniciativa <strong>de</strong> <strong>Igreja</strong>, mantinha íntima<br />

unida<strong>de</strong> com a coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção diocesa<strong>na</strong>. Os anos 70 representaram para a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> um perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vigor, em parte <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Almeida, auxiliar direto <strong>do</strong> bispo, a quem acompanhava <strong>na</strong>s<br />

gran<strong>de</strong>s reuniões <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> âmbito regio<strong>na</strong>l e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Mais <strong>de</strong> uma vez o episcopa<strong>do</strong> para<strong>na</strong>ense<br />

requisitou a sua liberação para ocupar a secretaria executiva <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II da CNBB, mas a diocese<br />

não podia abrir mão <strong>de</strong> um colabora<strong>do</strong>r indispensável. Por essa razão, seu nome não consta no rol <strong>do</strong>s secretários<br />

executivos <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l, <strong>do</strong> qual fazem parte frei Agostinho Sartori, <strong>do</strong>m Pedro Fedalto, padres Albano<br />

Cavallin, Ives Pouliquen, Miguelangelo Rameiro, Ângelo Perin, Silvino Chiamolera, Filberto Penisson e Carlos<br />

Alberto Chiquim (CHIQUIM, 2005, p. 275). Sua capacida<strong>de</strong> atestam, além <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, muitas dioceses<br />

que o convidaram repetidas vezes para cursos <strong>de</strong> formação e ajuda no processo <strong>de</strong> planejamento <strong>pastor</strong>al. Um,<br />

entre vários exemplos, foi o seminário sobre CEBs, <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II, aconteci<strong>do</strong> em<br />

1972. 10 Conforme previsão <strong>do</strong> 2º Plano Regio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Pastoral Orgânica <strong>do</strong> Paraná (1971-1972), foi realiza<strong>do</strong><br />

em <strong>Maringá</strong>, <strong>de</strong> 1º a 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1972, o Seminário sobre CEBs ao qual se fizeram presentes representantes<br />

da arquidiocese <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong> e das dioceses <strong>de</strong> Apucara<strong>na</strong>, Jacarezinho, <strong>Maringá</strong>, Campo Mourão, Para<strong>na</strong>vaí,<br />

Palmas e Tole<strong>do</strong>. Não enviaram representação: Curitiba, Para<strong>na</strong>guá, Ponta Grossa e Guarapuava. O encontro<br />

constou <strong>de</strong> uma visão da realida<strong>de</strong>, com <strong>de</strong>poimentos sobre as experiências concretas <strong>de</strong> CEBs postas em<br />

prática em uma paróquia-piloto <strong>de</strong> cada diocese <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l. Na seqüência, à luz <strong>de</strong> critérios específicos, foi<br />

apresentada uma interpretação crítica <strong>de</strong>ssas experiências comunitárias. Neste ponto houve necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

recurso a peritos especialmente convida<strong>do</strong>s: para análise teológica, padre Antônio <strong>de</strong> Pádua Almeida; para interpretação<br />

sócio-econômica, professor Oscar Sanches; para aportar critérios meto<strong>do</strong>lógicos, professor Paulo<br />

Simião. Almeida focou a “conceituação da eclesiologia que sustenta a atual <strong>pastor</strong>al das CEBs”. Por atual<br />

entenda-se a situação eclesiológica e <strong>pastor</strong>al <strong>de</strong> então. Com base <strong>na</strong> reflexão <strong>do</strong>s peritos sobre a realida<strong>de</strong><br />

apontaram-se sugestões e diretrizes para as CEBs <strong>do</strong> Paraná.<br />

Como proveitoso sal<strong>do</strong> <strong>de</strong> um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> compromisso explícito com as CEBs, perdura <strong>na</strong> <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Maringá</strong> o cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong> conferir à paróquia o caráter <strong>de</strong> núcleo agluti<strong>na</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s, em vez <strong>de</strong> reduzi-<br />

-la a uma central <strong>de</strong> “produtos” religiosos, como não é difícil <strong>de</strong> encontrar em alguns lugares. Dada a sua <strong>na</strong>tureza<br />

<strong>de</strong> <strong>Igreja</strong> em ponto menor, a CEB assegurou à organização <strong>de</strong> muitas paróquias da diocese uma tônica<br />

<strong>de</strong> direcio<strong>na</strong>mento para a vida comunitária e, ao mesmo tempo, para a <strong>de</strong>scoberta e formação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças<br />

leigas em função da evangelização inculturada, comprometida com suas quatro exigências intrínsecas: serviço,<br />

diálogo, anúncio e testemunho <strong>de</strong> comunhão. Isso, porém, não exclui as provações que a <strong>Igreja</strong>, comunida<strong>de</strong><br />

divino-huma<strong>na</strong> sujeita às leis da história, se vê impelida a enfrentar, malgra<strong>do</strong> toda a proteção que lhe garante<br />

aquele que a sustenta com o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> alto. Apesar <strong>do</strong>s muitos obstáculos, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> caminhou<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong>s anos 70 até 1996, pela senda das CEBs como forma <strong>de</strong> viver a fé, incorporan<strong>do</strong> as novas<br />

situações que a realida<strong>de</strong> ia suscitan<strong>do</strong>. Assim, a gran<strong>de</strong> assembléia arquidiocesa<strong>na</strong> <strong>do</strong> dia 8 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

1992, conduzida por padre Vicente Costa, ensejou o lançamento <strong>do</strong> XVI Plano <strong>de</strong> Ação Pastoral, que apresentou<br />

no marco operacio<strong>na</strong>l três priorida<strong>de</strong>s <strong>pastor</strong>ais. A primeira e ainda principal forma <strong>de</strong> realizar a <strong>Igreja</strong><br />

10 O seminário, <strong>na</strong> verda<strong>de</strong>, chamou-se <strong>de</strong> Pastoral Rural, mas versava sobre CEBs, com a apresentação <strong>de</strong> paróquias-piloto estruturadas<br />

em CEBs (como Mandaguaçu, paróquia-piloto da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>). Em carta <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1972, padre Élio J. Dall’Agnol,<br />

em nome <strong>do</strong> arcebispo <strong>de</strong> Curitiba, agra<strong>de</strong>ceu a Almeida o “envio das Conclusões <strong>do</strong> Seminário sobre as C.E.B.”, ressaltan<strong>do</strong> o<br />

“trabalho <strong>de</strong> peritos no assunto, principalmente ten<strong>do</strong> como coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>r um mestre sobre C.E.B. que é você, pe. Almeida”.


em <strong>Maringá</strong> continuava apontan<strong>do</strong> para as mesmas Comunida<strong>de</strong>s Eclesiais <strong>de</strong> Base <strong>do</strong>s primeiros tempos <strong>do</strong><br />

serviço <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>pastor</strong>al. As <strong>de</strong>mais priorida<strong>de</strong>s, entretanto, expressavam anseios <strong>de</strong> novos espaços<br />

humanos. Para o perío<strong>do</strong> 1993-1996, a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> <strong>de</strong>finiu como segunda priorida<strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al a evangelização<br />

da cultura urba<strong>na</strong> e, como terceira, a educação. Como notou padre Vicente, a análise da realida<strong>de</strong>,<br />

“feita pelo arcebispo, padres, irmãos e irmãs, leigos e leigas engaja<strong>do</strong>s <strong>na</strong> vida da <strong>Igreja</strong>” marcou essas opções<br />

como priorida<strong>de</strong>s, isto é, como <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>tárias da maior soma <strong>de</strong> recursos espirituais, humanos, intelectuais,<br />

operacio<strong>na</strong>is e fi<strong>na</strong>nceiros da <strong>Igreja</strong> <strong>na</strong> arquidiocese. Essa assembléia arquidiocesa<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>pastor</strong>al concluiu pela<br />

manutenção <strong>do</strong>s três vicariatos episcopais, reconhecen<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subdividir o vicariato centro em 3<br />

grupos <strong>de</strong> paróquias, que passaram a integrar o centro-1, centro-2 e centro-3.<br />

A partir da gran<strong>de</strong> geada <strong>de</strong> 1975, a vitalida<strong>de</strong> das CEBs <strong>na</strong> vida diocesa<strong>na</strong> sofreu duro impacto. Soma<strong>do</strong><br />

à transformação que os governos militares impuseram à economia <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o fenômeno climático<br />

acelerou o esvaziamento da zo<strong>na</strong> rural, <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> mudança drástica no perfil <strong>do</strong>s municípios menores<br />

e inchaço <strong>do</strong>s centros <strong>de</strong> região. Parte consi<strong>de</strong>rável da população da diocese emigrou para novas fronteiras<br />

agrícolas no Triângulo Mineiro, Mato Grosso, Bahia e Maranhão; para áreas industriais da gran<strong>de</strong> Curitiba,<br />

Campi<strong>na</strong>s, America<strong>na</strong>, Jundiaí e São José <strong>do</strong>s Campos, ou ainda <strong>de</strong>cidiu tentar a sorte no exterior, em países<br />

como Japão, Espanha, Portugal, Inglaterra e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América. Em termos regio<strong>na</strong>is, houve forte<br />

mobilização <strong>de</strong> gente <strong>do</strong> interior da diocese e <strong>de</strong> outras origens para a região metropolita<strong>na</strong>, representada por<br />

<strong>Maringá</strong> com as vizinhas Sarandi e Paiçandu (esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se, em menor grau, até Marialva, Mandaguaçu e<br />

Mandaguari). O afluxo <strong>de</strong> novos habitantes ao único pólo regio<strong>na</strong>l da diocese não veio, porém, acompanha<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> atendimento às necessida<strong>de</strong>s huma<strong>na</strong>s fundamentais como emprego, moradia, saneamento, escola, saú<strong>de</strong>,<br />

segurança, transporte e <strong>de</strong>mais exigências <strong>de</strong> uma vida dig<strong>na</strong>. Despojada das antigas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e participação<br />

que conhecia <strong>na</strong>s CEBs, muita gente precisou sujeitar-se à nova situação – <strong>de</strong> perda <strong>do</strong> referencial comunitário,<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senraizamento das origens, <strong>de</strong> solidão e anonimato <strong>na</strong> vida urba<strong>na</strong>, <strong>de</strong> esgarçamento <strong>do</strong>s laços<br />

familiares – e a outros <strong>de</strong>safios para os quais não se encontrava minimamente capacitada.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, também sobre a população da diocese incidiu <strong>de</strong> forma inescapável o fenômeno da<br />

globalização e da chamada “pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” com os conheci<strong>do</strong>s efeitos <strong>de</strong> massificação, busca da eficácia<br />

técnico-científica e da satisfação imediata, individualismo ético, culto <strong>do</strong> subjetivismo e valorização <strong>do</strong> emocio<strong>na</strong>l.<br />

As novas modalida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> agronegócio e <strong>do</strong>s serviços, assim como a corrida atrás <strong>do</strong> sonho <strong>do</strong> milagre<br />

brasileiro, exacerbaram a diferença entre uma minoria bem sucedida e a maioria que ape<strong>na</strong>s sobrevive, às<br />

vezes, mergulhada em sofrimento atroz.<br />

Pelo seu caráter intimista e pela expectativa <strong>de</strong> satisfação imediata das necessida<strong>de</strong>s individuais, as novas<br />

propostas religiosas reforçaram, em não pouco, as dificulda<strong>de</strong>s para o exercício <strong>do</strong> “ethos” solidário e co-<br />

-responsável prega<strong>do</strong> pelas CEBs. Mesmo <strong>de</strong>ntro da <strong>Igreja</strong> Católica, novos movimentos eclesiais aos poucos<br />

foram, senão obscurecen<strong>do</strong>, pelo menos relativizan<strong>do</strong> alguns apelos fortes <strong>do</strong> Concílio Vaticano II, expressos<br />

em particular, <strong>na</strong>s constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes.<br />

Todas essas variáveis apontam para uma <strong>Igreja</strong> em busca <strong>de</strong> posições possivelmente inéditas, reclamadas<br />

pela hora atual. Entran<strong>do</strong> no novo século e novo milênio, cabe-lhe confrontar realida<strong>de</strong>s e situações antes<br />

<strong>de</strong>sconhecidas: a cultura urba<strong>na</strong>; a economia com suas injustiças <strong>de</strong> raiz; as tecnologias <strong>na</strong> comunicação; a<br />

fé para uma socieda<strong>de</strong> pluralista; os questio<strong>na</strong>mentos inéditos para a teologia moral (da bioética, por exemplo);<br />

a situação das minorias; as necessida<strong>de</strong>s vitais da juventu<strong>de</strong>... Tal como a Elias, o anjo <strong>do</strong> Senhor segue<br />

advertin<strong>do</strong> os mo<strong>de</strong>rnos profetas da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>: “Levanta-te e come. Ainda te resta longo caminho a<br />

percorrer” (1REIS 19, 7).<br />

províNciA <strong>de</strong> loNdriNA<br />

Pertence ao início <strong>do</strong>s anos 70, mais precisamente, ao dia 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1970, a criação da arquidiocese<br />

<strong>de</strong> Londri<strong>na</strong>, antigo <strong>de</strong>sejo, entre outros, <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, que sempre consi<strong>de</strong>rou o Norte <strong>do</strong><br />

Paraná i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> muito mais com o vizinho São Paulo <strong>do</strong> que com o Sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Passada a veleida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Para<strong>na</strong>panema, entendia o bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> que <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista eclesial, o Paraná representava<br />

249<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


250<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

pelo menos duas realida<strong>de</strong>s inteiramente distintas a serem, como tais, regidas. Assim, foi com satisfação que<br />

recebeu a criação da nova Província Eclesiástica, caben<strong>do</strong>-lhe a honra <strong>de</strong>, em nome <strong>do</strong>s bispos sufragâneos,<br />

saudar <strong>do</strong>m Geral<strong>do</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s, CMF, <strong>na</strong> sua posse como primeiro arcebispo <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong>, cargo que exerceu<br />

até a morte, ocorrida em 29 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1982. Com a sé vacante, <strong>do</strong>m Jaime foi nomea<strong>do</strong> administra<strong>do</strong>r<br />

apostólico <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong>. Durante <strong>de</strong>z meses governou as duas Províncias Eclesiásticas <strong>do</strong> Norte <strong>do</strong> Paraná,<br />

<strong>de</strong> vez que <strong>Maringá</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1979, era também sé metropolita<strong>na</strong>. Exerceu o múnus <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r apostólico<br />

<strong>de</strong> Londri<strong>na</strong> até 28 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1983, ocasião em que foi empossa<strong>do</strong> o novo arcebispo, <strong>do</strong>m Geral<strong>do</strong><br />

Majella Agnelo, bispo <strong>de</strong> Tole<strong>do</strong> (PR) até àquela data. Na condição <strong>de</strong> arcebispo das duas províncias, <strong>do</strong>m<br />

Jaime foi eleito, em 1978, juntamente com o arcebispo <strong>de</strong> Curitiba, <strong>do</strong>m Pedro Fedalto, para integrar, em<br />

nome <strong>do</strong> Regio<strong>na</strong>l Sul II, o grupo <strong>do</strong>s 37 bispos brasileiros envia<strong>do</strong>s a participar da III Conferência Geral<br />

<strong>do</strong> Episcopa<strong>do</strong> Latino-americano, em Puebla, no México, prevista para o mesmo ano, o décimo <strong>de</strong>pois da<br />

assembléia <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>llín (1968). Ten<strong>do</strong> em vista o falecimento, em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1978, <strong>do</strong> papa Paulo VI, só<br />

no ano seguinte, reassumida e convocada pelo papa João Paulo II, foi possível a realização, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> janeiro<br />

a 13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1979, da conferência <strong>de</strong> Puebla.<br />

proJeto igreJAs-irMãs<br />

Vivamente aconselha<strong>do</strong> pela CNBB, em vista das gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s regio<strong>na</strong>is, o projeto <strong>Igreja</strong>sirmãs<br />

tem por objetivo levar as <strong>Igreja</strong>s mais <strong>do</strong>tadas <strong>de</strong> recursos humanos, <strong>pastor</strong>ais e fi<strong>na</strong>nceiros a assumir<br />

frater<strong>na</strong>lmente <strong>Igreja</strong>s em situação <strong>de</strong> maior carência, prestan<strong>do</strong>-lhes ajuda para superação <strong>de</strong> seus problemas.<br />

Durante a 14ª Assembléia Geral da CNBB, <strong>de</strong> 19 a 27 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1974, em Itaici, <strong>do</strong>m Marcelino<br />

Sérgio Bícego, capuchinho italiano, bispo-prela<strong>do</strong> <strong>de</strong> Caroli<strong>na</strong> (MA), lançou ao plenário um pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> ajuda,<br />

receben<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Jaime a aceitação <strong>de</strong> Caroli<strong>na</strong> como <strong>Igreja</strong>-irmã <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, fraternida<strong>de</strong> oficializada em<br />

julho <strong>do</strong> mesmo ano. O primeiro contato <strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> com a <strong>Igreja</strong>-irmã aconteceu nos dias 16-21<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1975, ten<strong>do</strong>-o Bícego recebi<strong>do</strong> em Imperatriz, única cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Maranhão, além da capital,<br />

a receber aviões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte. Em 1976 <strong>de</strong>u-se intercâmbio <strong>de</strong> visitas, com a vinda <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Marcelino a<br />

<strong>Maringá</strong> no dia 10 <strong>de</strong> maio, aniversário da cida<strong>de</strong>. Visitan<strong>do</strong> a paróquia <strong>de</strong> Marialva, mostrou-se surpreso com<br />

a intensa participação cristã <strong>do</strong>s jovens. Apoia<strong>do</strong> por <strong>do</strong>m Jaime que o acompanhava, praticamente exigiu que<br />

padre Orival<strong>do</strong> Robles, o pároco, acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> jovens da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, se <strong>de</strong>slocasse a Caroli<strong>na</strong><br />

para lá promover <strong>do</strong>is encontros, um masculino, outro feminino, com jovens da prelazia. Tu<strong>do</strong> aconteceu <strong>de</strong><br />

forma muito rápida, fican<strong>do</strong> acerta<strong>do</strong> que, já no próximo mês <strong>de</strong> julho, <strong>de</strong>veriam estar no Maranhão.<br />

O livro <strong>do</strong> Tombo da paróquia <strong>de</strong> Marialva registrou o fato, situan<strong>do</strong> a saída <strong>do</strong>s jovens no dia 6 <strong>de</strong><br />

julho. Nos assentos referentes a julho <strong>de</strong> 1976, lê-se:<br />

6 – Saída para Caroli<strong>na</strong> <strong>do</strong>s jovens que me acompanharão nos encontros que faremos<br />

com jovens <strong>de</strong> lá. Foi uma luta a preparação. Superadas mil dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m<br />

(familiar, econômica, intelectual, <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> transporte etc.), ficou <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>:<br />

Pe. Almeida me substituirá <strong>na</strong> Paróquia, residin<strong>do</strong> <strong>na</strong> mesma casa que eu. Fará companhia,<br />

inclusive, à jovem esposa <strong>do</strong> A<strong>de</strong>mir Boschini, que também irá a Caroli<strong>na</strong>. Cuidará<br />

<strong>de</strong>la, pois está grávida e teve problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Registro o fato, pois me parece<br />

comove<strong>do</strong>r: a amiza<strong>de</strong> e confiança <strong>de</strong>ste casal, a total fraternida<strong>de</strong> com os sacer<strong>do</strong>tes.<br />

Esperam o primeiro filho e aceitam separar-se por quase duas sema<strong>na</strong>s, in<strong>do</strong> ele para<br />

um trabalho apostólico a mais <strong>de</strong> 2.000 km e fican<strong>do</strong> ela confiada aos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

um padre ama<strong>do</strong> e aceito como irmão. Os jovens que vão a Caroli<strong>na</strong> são oito, quatro<br />

rapazes e quatro moças, <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> e Marialva. De <strong>Maringá</strong>: Yassushi Shima, Amauri<br />

Meneghetti, Wilson Saenz Surita Jr e Maria Christi<strong>na</strong> Mace<strong>do</strong> Alves. De Marialva:<br />

A<strong>de</strong>mir Boschini (o único casa<strong>do</strong>), Alice Boschini (sua irmã), Maria Geralda Vieira e<br />

Neuza Maria Dada. Viajam numa camioneta Chevrolet, mo<strong>de</strong>lo Veraneio, alugada para<br />

isso. Viajarei <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> amanhã, <strong>de</strong> avião, in<strong>do</strong> a Imperatriz e, <strong>de</strong> lá, a Caroli<strong>na</strong>.<br />

12-13 – Curso-retiro para jovens no Seminário <strong>de</strong> Caroli<strong>na</strong>. O primeiro para rapazes, o<br />

segun<strong>do</strong> para moças. O comportamento <strong>do</strong>s nossos oito jovens da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


foi alguma coisa <strong>de</strong> grandioso. A presença e atuação <strong>de</strong>sta gente maravilhosa dificilmente<br />

po<strong>de</strong>riam ser melhores. Muito mais que o trabalho que fiz como padre valeu o<br />

testemunho vivo <strong>do</strong>s nossos rapazes e meni<strong>na</strong>s. Dom Jaime passou praticamente to<strong>do</strong><br />

o mês <strong>de</strong> julho visitan<strong>do</strong>, uma por uma, todas as paróquias da <strong>Igreja</strong>-irmã. Sua presença<br />

e companhia trouxeram um colori<strong>do</strong> particular ao nosso trabalho. Dom Marcelino, frei<br />

Defen<strong>de</strong>nte, frei Humil<strong>de</strong> e irmã Hermínia nos renovaram em nossa fé e amor à santa<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Deus. Nosso trabalho serviu-nos como renovação espiritual mais intensa que<br />

um retiro i<strong>na</strong>ciano <strong>de</strong> 30 dias. A <strong>Igreja</strong> é, <strong>de</strong> fato, uma obra <strong>de</strong> amor <strong>do</strong> próprio Deus.<br />

Só ele seria capaz <strong>de</strong> realizar algo assim. Pensávamos levar algo: <strong>na</strong> verda<strong>de</strong>, nós é que<br />

ficamos enriqueci<strong>do</strong>s espiritualmente. Não há o que explique esta experiência <strong>de</strong> vida<br />

cristã: só o vivê-la permite avaliar seu real dimensio<strong>na</strong>mento (PARÓQUIA DE N. S.<br />

DE FÁTIMA DE MARIALVA, 1951, f. 70).<br />

Em Caroli<strong>na</strong> os jovens da diocese e Robles encontraram <strong>do</strong>m Jaime, que passou to<strong>do</strong> o mês <strong>de</strong> julho<br />

em autêntica visita <strong>pastor</strong>al percorren<strong>do</strong> cada uma das comunida<strong>de</strong>s da prelazia. Anteriormente, como representantes<br />

da diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>, já haviam permaneci<strong>do</strong> pelo espaço <strong>de</strong> uma sema<strong>na</strong> em Caroli<strong>na</strong> padre<br />

Almeida, irmã Anto<strong>na</strong> Dröge, Atair e Cláudia Niero, que <strong>de</strong>senvolveram trabalho missionário <strong>na</strong> linha da<br />

catequese e da formação <strong>de</strong> agentes <strong>pastor</strong>ais. Almeida voltou ainda outras vezes para ajudar no processo <strong>de</strong><br />

planejamento <strong>pastor</strong>al. A prelazia <strong>de</strong> Caroli<strong>na</strong> foi elevada à condição <strong>de</strong> diocese no dia 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1979, ao mesmo tempo em que <strong>do</strong>m Marcelino Sérgio Bicego se tornou primeiro bispo diocesano. Convida<strong>do</strong><br />

por este, após participar da assembléia <strong>de</strong> Puebla, entre os dias 11 e 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1979, <strong>do</strong>m Jaime<br />

esteve em Caroli<strong>na</strong> para ministrar curso sobre as conclusões daquela assembléia continental. No dia 23 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1980, conster<strong>na</strong>da, <strong>Maringá</strong> recebeu a notícia <strong>do</strong> falecimento, dia anterior, às 16h00, em Belém,<br />

vitima<strong>do</strong> por leptospirose, <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Marcelino, o bispo que se tornou profundamente queri<strong>do</strong> entre nós. Com<br />

a <strong>Igreja</strong>-irmã sem bispo, <strong>do</strong>m Jaime lá voltou, no dia 19 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1980, para or<strong>de</strong><strong>na</strong>r presbítero o diácono<br />

Tarcísio Car<strong>do</strong>so da Silva, daquela <strong>Igreja</strong>. O segun<strong>do</strong> bispo <strong>de</strong> Caroli<strong>na</strong>, <strong>do</strong>m Alcimar Caldas Magalhães<br />

(1981-1990) também visitou <strong>Maringá</strong>, permanecen<strong>do</strong> aqui por vários dias. Decorri<strong>do</strong> não muito tempo, o<br />

projeto <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> entre as duas dioceses entrou em <strong>de</strong>clínio, até ser aban<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>, conforme <strong>do</strong>m Jaime,<br />

por <strong>de</strong>sinteresse <strong>do</strong> então bispo da <strong>Igreja</strong> maranhense.<br />

Na mesma linha da CNBB <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, entre os anos 1989-1995, o Regio<strong>na</strong>l Sul II cultivou um trabalho<br />

missionário motivan<strong>do</strong> as <strong>Igreja</strong>s Particulares <strong>do</strong> Paraná a se abrirem às carências <strong>de</strong> outras regiões, através <strong>do</strong><br />

“Programa <strong>Igreja</strong>s Irmãs”. O objetivo era colaborar oferecen<strong>do</strong> equipes <strong>de</strong> padres, religioso(a)s e leigo(a)s<br />

para áreas <strong>de</strong> migração populacio<strong>na</strong>l daqueles que, saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Paraná, se transferiram para Rondônia e Mato<br />

Grosso. Depois <strong>de</strong> 1995, o programa <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser regio<strong>na</strong>l e foi assumi<strong>do</strong> pelas dioceses.<br />

Irmã Anto<strong>na</strong>, <strong>do</strong>m Marcelino,<br />

padre Almeida, irmã Hermínia.<br />

proJeto igreJAs-irMãs No MArANhão<br />

Curso <strong>de</strong> catequese em Caroli<strong>na</strong>, 1976.<br />

Senta<strong>do</strong> no pára-lama, frei Defen<strong>de</strong>nte Riva<strong>do</strong>ssi;<br />

atrás <strong>do</strong>s jovens, irmã Hermínia, gaúcha das irmãs<br />

<strong>de</strong> Santa Teresa; padre Almeida ao volante<br />

(<strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito: veículo europeu antigo).<br />

Irmã Anto<strong>na</strong> com jovens<br />

catequistas da prelazia.<br />

251<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


252<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

Des<strong>de</strong> os inícios da década passada, <strong>Maringá</strong> vinha manten<strong>do</strong> parceria com a <strong>Igreja</strong> da Amazônia. Aten-<br />

<strong>de</strong>n<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Geral<strong>do</strong> Verdier, bispo <strong>de</strong> Guajará-Mirim (RO), pelo espaço <strong>de</strong> três anos, padres que<br />

lecio<strong>na</strong>vam no Seminário Arquidiocesano <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> <strong>de</strong>slocaram-se, <strong>na</strong>s férias escolares, até à se<strong>de</strong> daquela<br />

diocese, <strong>na</strong> fronteira com a Bolívia, a fim <strong>de</strong> ministrar aulas a alunos <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Filosofia. Entre 1992-1994<br />

lá cumpriram temporadas letivas os padres Júlio Antônio da Silva, Leomar Antônio Montag<strong>na</strong>, Paulo Campos<br />

e Luiz Antônio Bento. A partir <strong>de</strong>ssa ajuda, Verdier pediu a <strong>Maringá</strong>, por “empréstimo”, um padre disposto<br />

a fazer uma experiência <strong>de</strong> missão. Por três anos inteiros (2002-2004), trabalhou como missionário em<br />

Guajará-Mirim padre Francisco Gecivam Vieira Garcia. No biênio 2005-2006 substituiu-o padre Luiz Carlos<br />

<strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> que, por sua vez, no início <strong>de</strong> 2007, ce<strong>de</strong>u lugar a padres Obelino Silva <strong>de</strong> Almeida e Maurício<br />

Vicente <strong>de</strong> Oliveira.<br />

proJeto igreJAs-irMãs Nos ANos 90<br />

Pe. Francisco Gecivam em Guajará-Mirim-RO.<br />

Des<strong>de</strong> então, além <strong>do</strong> envio <strong>de</strong> padres, <strong>Maringá</strong> tem recebi<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s os anos, semi<strong>na</strong>ristas <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong><br />

Filosofia e Teologia das dioceses <strong>de</strong> Guajará-Mirim e <strong>de</strong> também <strong>de</strong> Caroli<strong>na</strong>, colaboran<strong>do</strong> assim <strong>na</strong> formação<br />

<strong>do</strong> clero <strong>de</strong>ssas <strong>Igreja</strong>s. O programa <strong>Igreja</strong>s-irmãs procura manter aguçada <strong>na</strong> arquidiocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong> a<br />

sensibilida<strong>de</strong> para com o sofrimento <strong>de</strong> outras <strong>Igreja</strong>s em situação semelhante (quan<strong>do</strong> não pior) à enfrentada<br />

por <strong>do</strong>m Jaime nos i<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 50.


O que ninguém escreveu<br />

espetáculo<br />

Padre Júlio Hartmann, vigário <strong>de</strong> Tamboara, era um gaúcho imen-<br />

so. Além <strong>de</strong> alto como um pinheiro, ostentava uma gordura <strong>de</strong>scomu<strong>na</strong>l.<br />

Sua massa corpórea próxima <strong>do</strong>s 200kg tor<strong>na</strong>va-o uma ameaça para ca<strong>de</strong>iras<br />

e camas. Quan<strong>do</strong> vinha ao retiro espiritual no seminário, era preciso<br />

“importar” da Santa Casa uma cama <strong>de</strong> hospital, <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> ferro,<br />

suficientemente forte para não arriar com o ocupante. Por um tempo,<br />

em 1967, esteve <strong>na</strong> paróquia <strong>de</strong> Mandaguaçu ajudan<strong>do</strong> padre Berniero<br />

Lauria. Por mais que tentassem, as pessoas não conseguiam disfarçar a<br />

curiosida<strong>de</strong>. Era volumoso <strong>de</strong>mais para não atrair os olhares. Cansa<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

servir <strong>de</strong> diversão, quan<strong>do</strong> via alguém tentan<strong>do</strong> disfarçar o riso, padre Júlio<br />

não perdia a calma: “Po<strong>de</strong> rir. Você provavelmente nunca se divertiu com<br />

algo tão honesto”.<br />

receitA<br />

Quem viajou, antes <strong>de</strong> 1960, pelas estradas <strong>de</strong>ste Norte <strong>do</strong> Paraná,<br />

jamais vai esquecer. Não era só a poeira, fi<strong>na</strong> como talco, que penetrava<br />

nos poros: ao fim <strong>de</strong> uma viagem <strong>de</strong> poucos quilômetros, <strong>do</strong> rosto <strong>do</strong> viajante<br />

se só se viam os olhos. Nem só a lama, que <strong>de</strong>ixava atola<strong>do</strong>s cente<strong>na</strong>s<br />

<strong>de</strong> carros. A consistência da terra era outro <strong>de</strong>safio. Duas horas <strong>de</strong>pois da<br />

chuva, o barro secava assumin<strong>do</strong> a rigi<strong>de</strong>z <strong>do</strong> vidro. Os veículos da época,<br />

quase sempre utilitários ru<strong>de</strong>s, não ofereciam o conforto nem a maciez <strong>de</strong><br />

hoje. Resulta<strong>do</strong>: problemas <strong>de</strong> colu<strong>na</strong>, lombalgias, o corpo inteiro <strong>do</strong>lori<strong>do</strong>.<br />

O mineiro <strong>do</strong>m Geral<strong>do</strong> Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s, bispo <strong>de</strong> Londri<strong>na</strong>, com <strong>do</strong>res<br />

<strong>na</strong>s costas, foi, um dia, ao médico, que diagnosticou: − “Com esses bicos-<br />

-<strong>de</strong>-papagaio, sua colu<strong>na</strong> não agüenta solavancos <strong>de</strong> jipe nessas estradas. É<br />

melhor o senhor andar <strong>de</strong> Impala” (carro da Chevrolet lança<strong>do</strong> em 1957,<br />

importa<strong>do</strong> por ricos). E o bispo, com ar maroto: − “Gostei <strong>do</strong> remédio,<br />

<strong>do</strong>utor. O senhor não tem amostra grátis?”.<br />

telefoNe<br />

Pai <strong>do</strong>s padres Antônio Carlos e José Maria, o construtor Marcos<br />

Baggio, com sua opa vermelha <strong>de</strong> irmão <strong>do</strong> Santíssimo, era figura obrigatória<br />

<strong>na</strong> catedral em to<strong>do</strong>s os pontificais <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Manuel da Silveira<br />

Episódios pitorescos vivi<strong>do</strong>s por nossos padres<br />

<strong>do</strong>s primeiros tempos, alguns já chama<strong>do</strong>s à casa <strong>do</strong> Pai.<br />

253<br />

Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>


254<br />

A <strong>Igreja</strong> que brotou da mata<br />

D’Elboux, arcebispo <strong>de</strong> Curitiba. De integrida<strong>de</strong> a toda prova e católico<br />

exemplar, era queridíssimo <strong>do</strong> arcebispo, a quem, por sua vez, <strong>de</strong>dicava<br />

profunda veneração. Sua construtora tinha ergui<strong>do</strong> o Seminário São José,<br />

em Orleans, i<strong>na</strong>ugura<strong>do</strong> em 1959, além <strong>de</strong> outras obras da arquidiocese.<br />

Por causa da ida<strong>de</strong>, já não cuidava <strong>do</strong>s negócios. Tinha passa<strong>do</strong> a empresa<br />

ao filho Marquinhos, que a tocava com o cunha<strong>do</strong> e sobrinhos. Mas continuava<br />

in<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s os dias, ao escritório para ocupar a escrivaninha on<strong>de</strong>,<br />

por décadas, tinha <strong>de</strong>spacha<strong>do</strong>. Lia os jor<strong>na</strong>is, olhava o movimento, conversava<br />

com algum <strong>do</strong>s muitos conheci<strong>do</strong>s que entravam... Um dia retiniu<br />

o telefone e, por infeliz coincidência, no escritório, ninguém, a não ser o<br />

patriarca. “Telefone!” gritou, <strong>na</strong> esperança <strong>de</strong> que alguém viesse aten<strong>de</strong>r.<br />

Nada. Entre as suas muitas virtu<strong>de</strong>s, contu<strong>do</strong>, a origem italia<strong>na</strong> não incluíra<br />

a mansidão. Incomoda<strong>do</strong>, olhou para to<strong>do</strong> canto, procuran<strong>do</strong> um<br />

filho <strong>de</strong> Deus no escritório. Nem si<strong>na</strong>l. E o ruí<strong>do</strong> irritante insistin<strong>do</strong>, sem<br />

trégua. Com o rosto afoguea<strong>do</strong>, caminhou até o aparelho, ergueu o fone<br />

e berrou: “− Prrrronto, <strong>de</strong>môôôônio!!!”. Do outro la<strong>do</strong>, uma voz muito<br />

educada, perguntou: “− É o senhor Marcos?” “− Siiiim!!!” explodiu. E a<br />

voz: “− Aqui é o arcebispo...” O velho construtor jamais soube o que o<br />

arcebispo queria. Ator<strong>do</strong>a<strong>do</strong>, ficou sur<strong>do</strong> e mu<strong>do</strong>. Levou meses para olhar<br />

<strong>de</strong> novo <strong>do</strong>m Manuel nos olhos.<br />

AcolhidA<br />

Quan<strong>do</strong> abriu diante <strong>de</strong> <strong>do</strong>m Benjamin o mapa da diocese <strong>de</strong> Para<strong>na</strong>vaí,<br />

que se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alto Paraná até as ilhas <strong>do</strong> rio Paraná, <strong>do</strong>m Jaime<br />

lhe garantiu: “Ninguém po<strong>de</strong> me acusar <strong>de</strong> egoísmo. Ao contrário, sou<br />

tão generoso que <strong>de</strong>i a maior parte da minha diocese para você.” No dia da<br />

posse, em Para<strong>na</strong>vaí, ao <strong>de</strong>scerem <strong>do</strong> carro, i<strong>na</strong>dvertidamente <strong>do</strong>m Jaime<br />

bateu a porta <strong>na</strong> mão <strong>do</strong> novo bispo. Embora leve, a ferida apresentou<br />

discreto sangramento. E <strong>do</strong>m Jaime, rápi<strong>do</strong>: “Está ven<strong>do</strong>, <strong>do</strong>m Benjamin?<br />

Ninguém po<strong>de</strong> dizer que você não <strong>de</strong>rramou o sangue pela sua diocese”.<br />

Nisso, algumas religiosas correram para cumprimentar o recém-chega<strong>do</strong>.<br />

Na época, era costume beijar o anel <strong>do</strong> bispo. Ao ver o grupo que se aproximava,<br />

<strong>do</strong>m Benjamin, bo<strong>na</strong>chão, não teve dúvida: tirou <strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>do</strong> o anel e<br />

o entregou à primeira, recomendan<strong>do</strong>: “Irmã, beije e passe para as outras.<br />

Depois, as senhoras me <strong>de</strong>volvem”.<br />

pipocA<br />

Tempo houve em que <strong>Maringá</strong> inteira conhecia o Corcel preto 1975,<br />

que o bispo mesmo dirigia, sem precisão <strong>de</strong> motorista. Conheci<strong>do</strong> pela<br />

palavra fácil, correção lingüística e oratória inflamada, <strong>na</strong>s missas costumava<br />

esten<strong>de</strong>r a homilia para além <strong>do</strong>s costumeiros <strong>de</strong>z ou quinze minutos<br />

<strong>do</strong>s padres <strong>na</strong>s paróquias. Por causa da pregação, alguns consi<strong>de</strong>ravam<br />

sua missa <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> longa. Certo <strong>do</strong>mingo, um senhor acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

filhinho chegou à catedral. Ao passar pelo pipoqueiro que ali faz ponto, o<br />

garoto pediu: “Papai, compra pipoca”. E o pai: “Depois da missa, papai


compra, queri<strong>do</strong>”. Nisso pára o carro preto e, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, salta <strong>do</strong>m Jaime.<br />

O garotinho dirige-se a ele: “É você que vai ‘dar’ a missa?” Ante a resposta<br />

positiva <strong>do</strong> bispo, o menino <strong>de</strong>sola<strong>do</strong> volta-se para o pai: “Papai, compra<br />

pipoca agora!”.<br />

irMãos<br />

No princípio <strong>do</strong>s anos 90, para a paróquia São José, regida pelos padres<br />

jesuítas, foi nomea<strong>do</strong> padre Silvino Pedro Rabuske, vigoroso rapagão<br />

que, pela sua pouca ida<strong>de</strong> e cara <strong>de</strong> menino, era chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pedrinho.<br />

Tinha-se or<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong> há pouco, tanto que nem recebeu nomeação <strong>de</strong> pároco,<br />

mas <strong>de</strong> administra<strong>do</strong>r paroquial. Padre Arthur Frantz, seu auxiliar, ao<br />

contrário, já passara <strong>do</strong>s setenta. Ambos jesuítas, <strong>de</strong> sólida formação para<br />

a vida comum, sua convivência era admirada como algo raro, sobretu<strong>do</strong><br />

porque o mais novo exercia o coman<strong>do</strong> e o mais velho era seu subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>.<br />

Certo dia, não conten<strong>do</strong> a curiosida<strong>de</strong>, alguém quis saber: “Padre<br />

Arthur, o senhor tem mais <strong>de</strong> setenta anos, padre Pedrinho, só uns trinta:<br />

vocês combi<strong>na</strong>m bem? Como é que vivem <strong>na</strong> mesma casa?” Com a maior<br />

tranqüilida<strong>de</strong>, o velho padre respon<strong>de</strong>u: “Ora, vivemos como irmãos”. E<br />

emen<strong>do</strong>u, para esclarecer: “Brigamos to<strong>do</strong>s os dias.”<br />

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Os 50 anos da Diocese <strong>de</strong> <strong>Maringá</strong>

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