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19.06.2013 Views

10 A Musa do Bafômetro A jornalista Barbara Gancia, colunista da Folha de S. Paulo e da Band News FM, é conhecida por seu humor ferino e pelas opiniões polêmicas que apresenta nas suas colunas. Em 23 de maio, Barbara publicou um artigo com o título “Chegou a Zeca-Hora de dar um basta”, em que falava sobra mortes de jovens no trânsito, associadas ao álcool. Ela recebeu apoio unânime e inédito à sua coluna e o texto teve tanta repercussão que Barbara foi convidada pela Secretaria Nacional Antidrogas a comparecer à abertura da 10ª Semana Nacional Antidrogas. O convite dizia o seguinte: “Depois da publicação da sua coluna [que falava sobre a combinação de jovens, álcool e direção], o projeto Como foi a reação dos leitores? Eu sou considerada uma pessoa bastante polêmica. Então, normalmente metade dos leitores se manifesta contra a minha opinião, metade a favor, ou 20% a favor, 80% contra. Nesse caso, aconteceu uma surpreendente reação pela unanimidade do público em apoio à coluna. Acho que recebi mais de 200 mensagens, das quais só umas quatro contra, naturalmente de adolescentes que se acharam injustiçados com a matéria, mas 99% das reações foram de apoio, o que é uma coisa muito rara. E isso teve um impacto muito positivo sobre o resultado da votação. Os leitores se manifestaram, escreveram para Brasília e isso ajudou os deputados a mudarem de opinião. Claro que não fui eu sozinha quem provocou a aprovação da lei; já havia uma comoção em torno do tema, a sociedade já estava cansada disso, de tantas mortes no trânsito. Você foi ao velório dos filhos de várias amigas? Eu escrevi essa coluna quando estava vivendo esse momento pessoal, quando tinha ido recentemente a dois velórios de filhos de amigas (da coluna: “Na sexta­feira passada, pela segunda vez em menos de dois meses, fui ao velório do filho de uma amiga, morto aos 24 anos em um acidente de trânsito ocorrido na madrugada. A dor que presenciei chega a ser obscena de tão intensa.”), e tinha que escrever sobre isso. Por que é que essa geração se mata dessa forma? www.redevita.com.br Como sempre, a impunidade nesse país é o pai e a mãe de todos os males. As pessoas acham que podem fazer o que quiserem e não acontece nada mesmo. Junte a isso uma geração de pais e mães que: na juventude também beberam; bebem em casa; ensinam seus filhos a beber e querem fazer dos seus filhos os seus amigos. Eu tenho 50 anos e na minha geração muita gente acha que o filho é amigo. Só que vagas para amigos têm muitas, enquanto que para pai e mãe só tem duas, e eles não precisam ocupar esse espaço. E o que é pior. Se você quer ser amigo do seu filho, não vai querer impor disciplina, amigo não dá sermão. E não é só a questão da bebida. Muita gente da minha geração fumou maconha na frente dos filhos, o que é uma contravenção, e isso gera uma grande contradição na cabeça dos filhos. Eles chegam muito naturalmente à conclusão de que “se o meu pai está cometendo uma contravenção, eu também posso”. Além disso, tem também a questão dos pais separados, que disputam o amor dos filhos: os dois querem ser legais com os filhos, amigos dos filhos, e ninguém quer fazer papel de pai ou de mãe. Converso muito sobre isto com a Rosely Sayão, psicóloga e também colunista da Folha, em como a disputa entre os pais, para ver quem conquista a preferência dos filhos, sacrifica esse papel que eles precisam exercer. Qual a responsabilidade da propaganda no consumo de álcool? Afinal, ela só sugere. Esse discurso furado é o mesmo da história de lei proibindo a venda de bebidas alcoólicas nas estradas, que havia sido derrubado pelo Senado, voltou à Câmara dos Deputados e foi aprovado. É uma vitória e tanto”. E em 19 de junho, ainda durante a X Semana Nacional Antidrogas, o presidente Lula sancionou a famosa Lei 11.705, que proíbe o motorista de beber e dirigir. Assim, Barbara tornou-se uma espécie de “Musa do Bafômetro”, por ter apadrinhado a mudança que provocou uma queda drástica no número de mortes no trânsito: em São Paulo, o Instituto Médico Legal registrou uma redução de 57% no número de mortes violentas em relação ao período anterior, antes da “lei seca”. das armas, que a National Rifle Association (NRA) dos EUA ­ a associação nacional dos fabricantes de armas ­ usa para dizer que os americanos têm direito de portar armas. O que ocorre é que a publicidade gosta de frases curtas, de efeito, que simplificam as questões. São frases feitas que não demonstram o que acontece na realidade. Estudos claros mostram que os ídolos (cantores, os jogadores de futebol, atores) influenciam, e muito, o comportamento dos jovens. É uma mentira dizer que isso não tem impacto. O Brasil é um dos países com os mais altos índices de alcoolismo do mundo, que tem um custo altíssimo para a saúde pública e onde a cerveja não é considerada uma bebida alcoólica. A gente faz de conta que não vê o problema e, até hoje, o alcoolismo não é encarado como uma questão de saúde pública no País. Desde os anos 50 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o alcoolismo como um problema de saúde pública. E no Brasil isso ainda não acontece. Você acha que a lei “pega”? Vai mudar a mentalidade dos motoristas, como no caso do cinto de segurança? Se a fiscalização continuar, a lei já pegou. Mas tem que fiscalizar inclusive durante o dia. Teve uma cidade no Amapá onde a lei não teve repercussão nenhuma; mas isso porque lá não tem fiscalização. Ou seja, a lei “pegar” só depende da continuidade da fiscalização. Será que esse abuso do álcool também não é nosso medo de sermos chamados de ‘caretas’?

Não tenho medo de ser chamada de careta, já fui chamada de coisas muito piores. Gostei foi do apelido de musa do bafômetro, é uma maravilha. São os meninos que mais se matam, não são? Recentemente, conversei com professores da Escola Paulista de Medicina (atual Universidade Federal de São Paulo) e eles dizem que estão chocados, porque nunca viram as mulheres beberem tanto e tão jovens quanto hoje. E isso é muito preocupante porque as mulheres têm muito mais facilidade em se tornarem alcoólatras que os homens, devido a questões como massa corporal, quantidade de gordura e outros. As mulheres alcoólatras aparecem menos, por uma questão social, autocensura, comportamento, mas elas estão bebendo muito jovens. Os meninos se matam mais, seja na periferia das cidades, em brigas, com armas de fogo; mas na questão do trânsito, as vítimas mulheres começam a se equiparar aos homens. E como é a sensação de ser a rainha da cocada preta? (na coluna em que contou aos leitores sobre o convite para ir a Brasília, Barbara estava se sentindo a rainha da cocada preta) Não acredito que eu tenha sido a propulsora dessas mudanças. O que acontece é que (acho) a sociedade não agüenta mais. Todo mundo que mora em São Paulo sabe que sair de carro na sexta e no sábado à noite era enfrentar um boliche, um strike de carros, porque a garotada que ganhava carro novo saía barbarizando. Era uma aglomeração naquelas lojas de conveniência nos postos de gasolina, a meninada tomando cerveja no “esquenta” pra depois sair pra balada, uma coisa absolutamente intolerável. Essa lei demorou demais para sair e as pessoas criticam o fato de ser nível zero, mas é muito mais fácil de medir quando o nível é zero. É preciso fazer uma lei para todos, porque a gente não sabe como é que a quantidade de bebida vai influenciar em cada um. Tem mulher que bebe uma lata de cerveja e sai barbarizando, então fica muito difícil estabelecer outro critério que não seja zero. A gente tem que prever todas as situações. Embora todo mundo fale do presidente Lula, que ele gosta de beber, que não tinha interesse na restrição ao uso do álcool e coisa e tal, o que se viu foi bem diferente. Eu acho que a atuação dele foi muito positiva para o País, nesse ponto, ainda que não ache em outros. O que acontece é que a sociedade avançou o sinal de tal forma que tem de haver medidas drásticas como essa. Quem sabe daqui a dez anos a lei possa ser revista, e relaxada, mas eu acho que hoje é a coisa certa a fazer. O Drauzio Varella tem publicado alguns textos muito interessantes sobre alcoolismo, nesse contexto da nova lei. Você quer dizer, da “lei seca” Eu acho péssimo esse nome, lei seca, porque remete à lei seca dos Estados Unidos, em que as pessoas ficavam bebendo escondidas em porões porque era proibido beber. Aqui não. Você pode beber à vontade, cair na calçada, vem o cachorro lambe a sua boca, tudo bem. O que não pode é beber e dirigir. A imprensa é que inventou esse nome, ‘lei seca’, e fizeram todo tipo de matéria para testar a lei, comendo bombom de licor, usando higienizador bucal. Eu acho que a imprensa não precisava nem devia fazer esse tipo de matéria que é só um desserviço à sociedade. O que devia, sim, era olhar as estatísticas e ver como foi positivo, como os acidentes diminuíram. Que idéia é essa de associar liberdade e álcool? A publicidade passa mais do que uma idéia de liberdade quando fala de álcool. Ela fala de sucesso, de felicidade, como era a propaganda de cigarro. Associa coisas que não têm nada a ver com a bebida. Eles associam à idéia de o jovem conseguir namorar uma mulher bonita; basta ver que transforma a bebida na imagem de uma mulher sempre, tanto que a cerveja é a loura gelada. Você ter sucesso profissional, sucesso físico, são todas coisas associadas ao álcool, e que são coisas que o ser humano naturalmente nunca associaria ao álcool. Eu, por exemplo, associo ao álcool desgraça, tragédia, morte, briga, vergonha, humilhação, problemas no trabalho, e a propaganda miraculosamente, não se sabe por que, associa o álcool a essas outras coisas. Ana Paula S. R. Oliveira/Folha Imagem www.redevita.com.br 11

Não tenho medo de ser chamada de careta,<br />

já fui chamada de coisas muito piores. Gostei<br />

foi do apelido de musa do bafômetro, é <strong>um</strong>a<br />

maravilha.<br />

São os meninos que mais se matam, não são?<br />

Recentemente, conversei <strong>com</strong> professores da<br />

Escola Paulista de Medicina (atual Universidade<br />

Federal de São Paulo) e eles dizem<br />

que estão chocados, porque nunca viram as<br />

mulheres beberem tanto e tão jovens quanto<br />

hoje. E isso é muito preocupante porque as<br />

mulheres têm muito mais facilidade em se<br />

tornarem alcoólatras que os homens, devido<br />

a questões <strong>com</strong>o massa corporal, quantidade<br />

de gordura e outros. As mulheres alcoólatras<br />

aparecem menos, por <strong>um</strong>a questão social,<br />

autocensura, <strong>com</strong>portamento, mas elas estão<br />

bebendo muito jovens. Os meninos se matam<br />

mais, seja na periferia das cidades, em<br />

brigas, <strong>com</strong> armas de fogo; mas na questão<br />

do trânsito, as vítimas mulheres <strong>com</strong>eçam a<br />

se equi<strong>para</strong>r aos homens.<br />

E <strong>com</strong>o é a sensação de ser a rainha da<br />

cocada preta?<br />

(na coluna em que contou aos leitores sobre<br />

o convite <strong>para</strong> ir a Brasília, Barbara estava<br />

se sentindo a rainha da cocada preta)<br />

Não acredito que eu tenha sido a propulsora<br />

dessas mudanças. O que acontece é que<br />

(acho) a sociedade não agüenta mais. Todo<br />

mundo que mora em São Paulo sabe que<br />

sair de carro na sexta e no sábado à noite<br />

era enfrentar <strong>um</strong> boliche, <strong>um</strong> strike de carros,<br />

porque a garotada que ganhava carro novo<br />

saía barbarizando. Era <strong>um</strong>a aglomeração<br />

naquelas lojas de conveniência nos postos<br />

de gasolina, a meninada tomando cerveja no<br />

“esquenta” pra depois sair pra balada, <strong>um</strong>a<br />

coisa absolutamente intolerável.<br />

Essa lei demorou demais <strong>para</strong> sair e as pessoas<br />

criticam o fato de ser nível zero, mas é muito<br />

mais fácil de medir quando o nível é zero. É<br />

preciso fazer <strong>um</strong>a lei <strong>para</strong> todos, porque a<br />

gente não sabe <strong>com</strong>o é que a quantidade<br />

de bebida vai influenciar em cada <strong>um</strong>.<br />

Tem mulher que bebe <strong>um</strong>a lata de<br />

cerveja e sai barbarizando, então fica<br />

muito difícil estabelecer outro critério<br />

que não seja zero. A gente tem<br />

que prever todas as situações.<br />

Embora todo mundo fale do presidente<br />

Lula, que ele gosta de beber,<br />

que não tinha interesse na restrição<br />

ao uso do álcool e coisa e tal, o que<br />

se viu foi bem diferente. Eu acho que a atuação<br />

dele foi muito positiva <strong>para</strong> o País, nesse<br />

ponto, ainda que não ache em outros.<br />

O que acontece é que a sociedade avançou o<br />

sinal de tal forma que tem de haver medidas<br />

drásticas <strong>com</strong>o essa. Quem sabe daqui a dez<br />

anos a lei possa ser revista, e relaxada, mas<br />

eu acho que hoje é a coisa certa a fazer. O<br />

Drauzio Varella tem publicado alguns textos<br />

muito interessantes sobre alcoolismo, nesse<br />

contexto da nova lei.<br />

Você quer dizer, da “lei seca”<br />

Eu acho péssimo esse nome, lei seca, porque<br />

remete à lei seca dos Estados Unidos, em que<br />

as pessoas ficavam bebendo escondidas em<br />

porões porque era proibido beber. Aqui não.<br />

Você pode beber à vontade, cair na calçada,<br />

vem o cachorro lambe a sua boca, tudo bem.<br />

O que não pode é beber e dirigir.<br />

A imprensa é que inventou esse nome, ‘lei seca’,<br />

e fizeram todo tipo de matéria <strong>para</strong> testar a lei,<br />

<strong>com</strong>endo bombom de licor, usando higienizador<br />

bucal. Eu acho que a imprensa não precisava<br />

nem devia fazer esse tipo de matéria que é só<br />

<strong>um</strong> desserviço à sociedade. O que devia, sim,<br />

era olhar as estatísticas e ver <strong>com</strong>o foi positivo,<br />

<strong>com</strong>o os acidentes diminuíram.<br />

Que idéia é essa de associar liberdade e<br />

álcool?<br />

A publicidade passa mais do que <strong>um</strong>a idéia<br />

de liberdade quando fala de álcool. Ela fala de<br />

sucesso, de felicidade, <strong>com</strong>o era a propaganda<br />

de cigarro. Associa coisas que não têm nada a<br />

ver <strong>com</strong> a bebida. Eles associam à idéia de o<br />

jovem conseguir namorar <strong>um</strong>a mulher bonita;<br />

basta ver que transforma a bebida na imagem<br />

de <strong>um</strong>a mulher sempre, tanto que a cerveja é<br />

a loura gelada. Você ter sucesso profissional,<br />

sucesso físico, são todas coisas associadas ao<br />

álcool, e que são coisas que o ser h<strong>um</strong>ano<br />

naturalmente nunca associaria ao álcool.<br />

Eu, por exemplo, associo ao álcool desgraça,<br />

tragédia, morte, briga, vergonha, h<strong>um</strong>ilhação,<br />

problemas no trabalho, e a propaganda miraculosamente,<br />

não se sabe por que, associa<br />

o álcool a essas outras coisas.<br />

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