NAVEGANTES, NAVEGAR É PRECISO VIVER Veridiana ALMEIDA ...
NAVEGANTES, NAVEGAR É PRECISO VIVER Veridiana ALMEIDA ...
NAVEGANTES, NAVEGAR É PRECISO VIVER Veridiana ALMEIDA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>ALMEIDA</strong>, V. Navegantes, navegar é preciso viver. Anais do 1º Simpósio de Estudos Linguísticos e Literários da<br />
Universidade Tuiuti do Paraná.<br />
Eletras, vol. 20, n.20, dez.2010.<br />
www.utp.br/eletras<br />
diversas literaturas no que diz respeito à inspiração, ao conteúdo, à forma e ao estilo – numa<br />
visão tão ampla quanto possível das potencialidades do território comparatista.<br />
Concomitantemente, coloca-se um obstáculo: como focalizar uma questão se a experiência de<br />
convívio com ela demonstra a natureza multifacetária de seus problemas? Tratar um tema<br />
multifacetário é sempre um risco. Risco que se apresenta de duas formas: ou bem o<br />
especialista restringe-se ao ponto de vista de sua disciplina, excluindo outros em nome da<br />
conveniência de delimitar a questão, ou bem “corre à rédea solta na multidisciplinaridade e<br />
cai numa deriva que leva frequentemente a deixar o campo de sua disciplina para tudo dizer,<br />
tudo descrever, ser especialista em tudo e de fato nada dizer.” (FALL 1998, p. 14).<br />
Supostamente, a ausência de inquietações ou perturbações da escolha de um foco<br />
poderia ser atingida pela seleção do próprio objeto: um paralelo entre Sophia de Mello<br />
Breyner Andresen e João Cabral de Mello Neto (a autora compartilha com João Cabral o rigor<br />
dos versos, a secura da composição), ou um paralelo entre Sophia e Cecília, ou até mesmo<br />
estudos entre Sophia e Literatura Infantil, já que a autora foi exímia nessa área. Destaco<br />
alguns títulos, como: O Rapaz de Bronze, A Fada Oriana e A Menina do Mar. No entanto,<br />
iluminar minha compreensão acerca da obra de Sophia e construir, a partir daí, alternativas<br />
possíveis de estudo, tomando como foco a própria autora e pensando que desta forma afasto<br />
todos os riscos, é uma ilusão.<br />
Dessa forma, ao escolher o diálogo entre Sophia e Ricardo Reis como posto de<br />
observação para a compreensão das questões, não evito o risco apontado por Fall e tampouco<br />
posso esquecer que a ausência de inquietações e perturbações pode se chocar com a<br />
tranquilidade das respostas de outros especialistas. Assim, temos que compreender que nada<br />
no universo humano guarda estrita fidelidade à mera aparência de realidade e que a<br />
interpretação da realidade se justifica mediante a certeza de se fazer dela uma abordagem que<br />
leve em conta sua absurda e infinita complexidade.<br />
Face ao reconhecimento, tácito ou explícito, de que a questão da Literatura Comparada<br />
permite aos sujeitos compreender o mundo e nele agir; de que ela é ainda a mais usual forma<br />
de encontros, desencontros e confrontos de posições, já que é por ela que estas posições se<br />
tornam públicas, considero crucial dar à literatura o relevo que de fato tem: não se trata<br />
evidentemente de confinar a questão, mas se trata da necessidade de pensá-la à luz de suas<br />
próprias condições de produção, que se fazem no tempo e constroem a história. Escolha-se,<br />
por inevitabilidade, o posto. Escolhido, o posto é movediço. <strong>É</strong> preciso desenhá-lo.<br />
Eletras, vol. 20, n.20, dez.2010<br />
145