NAVEGANTES, NAVEGAR É PRECISO VIVER Veridiana ALMEIDA ...
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<strong>ALMEIDA</strong>, V. Navegantes, navegar é preciso viver. Anais do 1º Simpósio de Estudos Linguísticos e Literários da<br />
Universidade Tuiuti do Paraná.<br />
Eletras, vol. 20, n.20, dez.2010.<br />
www.utp.br/eletras<br />
<strong>É</strong> pertinente reportar, também, a estrutura do poema, já que há similaridade entre os<br />
autores em estudo. Sophia utiliza estrofes regulares de versos decassílabos alternados ou não<br />
com hexassílabo, do mesmo modo com que Reis os emprega. Cabe ressaltar que na poética de<br />
Sophia, em geral, não encontramos a regularidade métrica e, nesse poema, por se tratar de<br />
uma intertextualidade com um poeta que sofreu forte influência clássica (como já foi<br />
mencionado), principalmente de Horácio - o estilo configura-se com aquele utilizado pelos<br />
clássicos, a ode, o epigrama e a elegia.<br />
Em semelhante proporção, tanto Sophia como Ricardo Reis discorrem sobre a<br />
temática Fatum (destino), a irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida e do tempo.<br />
Porém, as obras dissentem entre si precisamente na incidência da visão de mundo e da<br />
inclinação que cada um tem a respeito dessa temática. Estas ideias contrastantes, em aparente<br />
conflito indiciam os seguintes versos, respectivamente, de Reis e Sophia:<br />
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.<br />
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.<br />
Mais vale saber passar silenciosamente<br />
E sem desassossegos grandes<br />
(PESSOA 2000)<br />
Cada dia te é dado uma só vez<br />
E no redondo círculo da noite<br />
Não existe piedade<br />
Para aquele que hesita<br />
(ANDRESEN 1991)<br />
Enfim, a homenagem a Ricardo Reis, prestada por Sophia, na obra Dual, (essa<br />
coletânea apresenta-se dividida em seis seções, a saber: A casa, Delphica, Homenagem a<br />
Ricardo Reis, Dual, Arquipélago e Em memória), consiste em recuperar os temas e as formas<br />
utilizadas por ele mas, concomitantemente, contrasta por completo o pensamento do autor em<br />
questão. <strong>É</strong> sólido afirmar que, enquanto Sophia é poeta que se ocupa das coisas concretas,<br />
Reis é poeta da imaginação e do não-ser. A poesia de Ricardo Reis vem de um profundo pesar<br />
pela consciência da finitude e do sentimento de falta de sentido da vida, o que gera uma<br />
recusa de envolvimento com as coisas do mundo e com os homens. Já a poesia de Sophia<br />
insurge de uma atenção especial ao mundo exterior, de um inexorável amor à vida e da crença<br />
numa unidade primordial de todas as coisas.<br />
Para encerrar, vejo Sophia como mulher, nascida na história e constrangida pela<br />
história, que foi construindo soluções (que a cada vez não se querem paliativas), consciente de<br />
Eletras, vol. 20, n.20, dez.2010<br />
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