NÃO É PRECISO SER O MAIOR PARA SUBIR MAIS ALTO - CCT
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<strong>NÃO</strong> <strong>É</strong> <strong>PRECISO</strong> <strong>SER</strong> O <strong>MAIOR</strong><br />
<strong>PARA</strong> <strong>SUBIR</strong> <strong>MAIS</strong> <strong>ALTO</strong><br />
Basta ser melhor. Ser melhor quer dizer oferecer ao cliente uma ou várias vantagens que ele reconheça e aprecie. Isso assenta no esforço<br />
alavancado pela inovação. E aqui uma janela que o nosso tempo abriu para mostrar uma verdade que dispensa demonstração: um golpe<br />
de génio pode rasgar uma pista para um destino novo mas para percorrer a distância que vai daqui até lá, quantas colaborações, grandes<br />
e pequenas, afinal quantos outros golpes de génio foram – são sempre – necessários? Isto quer dizer que para ser melhor e desse modo<br />
voar mais alto é preciso ter vistas largas, autoconfiança, capacidade para arrastar no mesmo sonho outras asas desejosas de voar a outras<br />
alturas. Em português há uma forma mais clara:<br />
Para subir mais alto é preciso inovar e diferenciar-se. Para isso, há uma exigência incontornável: abertura à cooperação com outras empresas,<br />
outros especialistas, outras competências. Só o conjunto ganhará para o projecto o poder de elevação que fará dele um vencedor.<br />
Ou de outro modo: são precisos mais miolos para ser o melhor do que para ser o maior.<br />
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<br />
número 4
editorial<br />
Este é o último número de PIRÂMIDES&OBELISCOS<br />
como publicação integrada no estudo materiais de construção –<br />
Conhecer as Necessidades de Qualificação dos Recursos Humanos<br />
para Melhorar o Desempenho das Empresas – Fase 2. A partir de<br />
agora e até que se ofereça uma nova oportunidade para intervir num<br />
qualquer modelo de Estudo ‑Acção (Um conceito a que cada vez mais<br />
nos apegaremos), a nossa revista verá reduzida a sua dimensão e será<br />
disponibilizada apenas on ‑line, no site do Conservatório de Ciências<br />
e Tecnologias – www.cct.org.pt , que oferece agora uma consulta da<br />
revista ainda mais fácil: não precisa de folhear para chegar ao artigo que<br />
escolheu. Basta chamá ‑lo com um simples clique. Lá esperamos por si,<br />
lá encontrará um espaço que é destinado a dar conta das suas sugestões<br />
e críticas e, naturalmente, das suas opiniões sobre a valorização urgente<br />
dos recursos humanos que se ocupam nas empresas, a todos os níveis.<br />
Entretanto, o nº 3 da revista ficou pronto na última semana de Junho,<br />
ocupou imediatamente o seu lugar na Internet e logo começaram a<br />
chegar algumas reacções de leitores que manifestaram o seu agrado pela<br />
capa que consideraram … a melhor das três já conhecidas. Nos dias<br />
seguintes, outros sublinharam o interesse de algumas das colaborações<br />
publicadas e deram ‑nos conta de que a P&O, na sua opinião, estava<br />
a fazer um acompanhamento válido do estudo em que se enquadrou.<br />
Nesta oportunidade, a PIRÂMIDES&OBELISCOS trans‑<br />
mite ao Senhor Secretário de Estado do Emprego e da Formação<br />
Profissional, Dr. Fernando Medina, os mais vivos agradecimentos<br />
do Conservatório de Ciências e Tecnologias por, vencendo todas as<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS<br />
Número 4 – Junho de 2009<br />
Publicação integrada no Estudo MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO –<br />
– Conhecer as Necessidades de Qualificação dos Recursos<br />
Humanos para Melhorar o Desempenho das Empresas – Fase 2<br />
Edição on ‑line em www.cct.pt<br />
naturais dificuldades de agenda, ter vindo encerrar o Seminário com<br />
que se deu por terminado o trabalho de campo, suporte do estudo que<br />
visava conhecer as necessidades de qualificação dos recursos humanos<br />
aplicados no sector dos materiais de construção. Da mensagem que<br />
nos deixou, retivemos a importância dada à urgência da valorização<br />
dos portugueses, abrindo a todos novas perspectivas e horizontes atra‑<br />
vés do reconhecimento, valorização e certificação de competências, de<br />
modo a atingir ‑se, numa década dizemos nós, uma posição em que, no<br />
domínio e aplicação generalizada do conhecimento, estaremos ao nível<br />
actual dos nossos parceiros europeus mais desenvolvidos. A alternativa,<br />
assente exclusivamente na renovação geracional e na acção normal da<br />
escola, exigiria sessenta anos ou mais. Ora, quando, daqui por sessenta<br />
anos, atingíssemos o patamar actual dos europeus avançados, eles terão<br />
progredido o suficiente para que, nessa altura, o nosso atraso seja ainda<br />
maior do que é hoje. Quer dizer, o que na aparência seria uma alterna‑<br />
tiva à valorização inadiável, não é senão um logro em que não podemos<br />
cair 1 . E não cairemos.<br />
Director<br />
1 Não nos cansamos de recomendar a leitura do artigo do Prof. Carlos Fiolhais O Atraso<br />
Português reproduzido no n.º 2 da PIRÂMIDES&OBELISCOS<br />
Propriedade: Conservatório de Ciências e Tecnologias ‑Associação para a Divulgação das<br />
Novas Tecnologias e Avanços da Ciência | Praça da República, 13 ‑6º 4050 ‑495 Porto<br />
Telefone 222 083 208 · Fax 222 081 031 | geral@cct.org.pt * www.cct.pt<br />
Director: Almor Viegas | Edição e Coordenação: F+G – FORMAÇÃO E GESTÃO, SA |<br />
Relações Institucionais: António F. Lopes | Textos de: Célio de Melo Costa, Fernando<br />
Ferreira, Almor Viegas, Manuel Lourenço, Ernesto Matos, Fernanda Romero (Trd.) |<br />
Fotografia: Ernesto Matos, António Fernandes Lopes.<br />
Delegada no Centro: Ana Maria Mota (anitatome@cct.org.pt) | Delegada em Lisboa:<br />
Fernanda Ramalho (mfernandaramalho@cct.org.pt)| Coordenação gráfica e redactorial: F+G<br />
Distribuição gratuita pelos Associados da APCMC, APICER, APIMM, ASSIMAGRA, AIMM |<br />
Base de Dados do <strong>CCT</strong>.<br />
Tiragem de 5000 exemplares.
18<br />
PERFIL DA AIMMP<br />
25<br />
Um depoimento do Eng. Pedro Martins Pereira,<br />
sócio gerente da Larus<br />
ÍNDICE DE CONTEÚDOS<br />
04<br />
08<br />
15<br />
17<br />
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO<br />
Conhecer as Necessidades de Qualificação<br />
dos Recursos Humanos para Melhorar o<br />
Desempenho das Empresas ‑ Fase 2<br />
EMPREENDER EM PORTUGAL PELA VIA<br />
DA RETOMA DE UMA PME (V e VI)<br />
SEMINÁRIO DE ENCERRAMENTO<br />
BREVES NOTAS DE RECENSÃO<br />
31 TRANSVERSALIDADES<br />
• Constrangimentos do Desenvolvimento<br />
Português ‑ O ANALFABETISMO<br />
PERSISTENTE<br />
• FERNANDO PESSOA<br />
Preceitos Práticos / Generalidades<br />
• O CONTRIBUTO DAS CRISES<br />
<strong>PARA</strong> A CRISE ‑ José L Sequeira<br />
(Presidente da Associação Portuguesa<br />
dos Industriais de Cerâmica<br />
• 10 Regras de “Fazer & Não Fazer” para<br />
Aspirantes a Empresários<br />
• COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESAS<br />
‑ Notícias Relacionadas<br />
• COOPERAÇÃO COM ROSTO HUMANO<br />
• VALE A PENA RECORDAR<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 03
Não temos a pretensão de que o estudo a<br />
que procedemos venha oferecer respostas<br />
ou soluções miraculosas para os problemas<br />
e constrangimentos de que o sector padece.<br />
Quisemos produzir e oferecer um contributo<br />
empenhado para um melhor conhecimento<br />
da realidade multifacetada que os Recursos<br />
Humanos aplicados no sector constituem.<br />
Assumimos ao mesmo tempo, como verdade<br />
anterior a todas as conclusões, que as pessoas<br />
e a sua competência suportada por uma valo‑<br />
rização permanente são a base e o vértice do<br />
sucesso consistente das empresas.<br />
Se de alguma forma concretizarmos este<br />
intento, então consideramo ‑nos recompensa‑<br />
dos pelo esforço dispendido.<br />
A CRISE DO SECTOR<br />
CONSTRUçãO<br />
<strong>É</strong> sabido que o sector Construção está em<br />
crise corrigindo do boom dos anos 90. Crise<br />
que se arrasta desde 2003, em contra ciclo<br />
com a Europa a 15, com consequências sociais<br />
constrangedoras que todos os indicadores<br />
económicos e sociais evidenciam. Ninguém<br />
duvida também do peso decisivo do sector<br />
Construção na economia portuguesa.<br />
• Responsável por 7% do VAB;<br />
• Visto em conjunto com actividades relacio‑<br />
nadas, nomeadamente as abrangidas pelo<br />
Manuel Lourenço<br />
Sociólogo, Coordenador do Estudo<br />
mlourenco@fmaisg.pt<br />
MATERIAIS DE CONSTRUçãO:<br />
CONHECER AS NECESSIDADES DE QUALIFICAçãO<br />
DOS RECURSOS HUMANOS <strong>PARA</strong> MELHORAR<br />
O DESEMPENHO DAS EMPRESAS – FASE 2<br />
04 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
imobiliário, o sector Construção responde<br />
por 14% do VAB;<br />
• <strong>É</strong> responsável por 11% do emprego privado<br />
em Portugal.<br />
Dados do INE mostram que no 1.º Trimestre<br />
de 2009 a crise se acentuou, seguindo a ten‑<br />
dência dos anos anteriores:<br />
• Quebra do investimento de 15%;<br />
• Quebra homóloga do PIB de 3,7%;<br />
• Quebra homóloga do VAB de 13,4%.<br />
A crise da Construção, com a retracção dos<br />
mercados, onde a oferta excede largamente<br />
a procura sobretudo no que diz respeito à<br />
habitação com a inevitável quebra do inves‑<br />
timento, estende ‑se a todas as actividades<br />
a ela associadas, nomeadamente às empre‑<br />
sas de produção e comércio de materiais de<br />
construção.<br />
O ESTUDO<br />
Este estudo foi projectado neste contexto.<br />
Consideramos que é nos momentos em que<br />
o mercado se retrai e se confronta com difi‑<br />
culdades sérias que os empresários/decisores<br />
com competências distintivas podem contri‑<br />
buir para reforçar a competitividade das suas<br />
empresas e apontarem caminhos de futuro<br />
de que aproveitem todas as outras mesmo de<br />
sectores muito diferentes. <strong>É</strong> em contexto de<br />
crise que as pessoas mostram mais vivamente<br />
o seu carácter insubstituível.<br />
O estudo foi projectado para, de uma forma<br />
resumida, diagnosticar as necessidades de for‑<br />
mação dos trabalhadores e gestores de empre‑<br />
sas produtoras e distribuidoras de materiais de<br />
construção, procurando averiguar da dispo‑<br />
nibilidade para a integração em projectos de<br />
cooperação empresarial.<br />
Não cabe aqui uma análise detalhada dos<br />
resultados alcançados. Estes serão registados<br />
numa publicação que será distribuída a todos<br />
os intervenientes no trabalho realizado e a<br />
todos os interessados, para lá, naturalmente,<br />
da assegurada disponibilidade na Internet.<br />
Em todo o caso, registam ‑se desde já alguns<br />
dados que, pela sua relevância, merecem ser<br />
destacados.<br />
Foram realizadas e consideradas válidas 156<br />
entrevistas. A quotização considerada teve em<br />
conta critérios geográficos e dimensionais de<br />
acordo com os quadros seguintes.<br />
NUTS II n<br />
Norte 69<br />
Centro 35<br />
Lisboa 45<br />
Alentejo 5<br />
Algarve 2<br />
Total 156
Tipo empresa n<br />
Micro empresas 12<br />
Pequenas Empresas 91<br />
Médias Empresas 51<br />
Grandes empresas 2<br />
Total 156<br />
ESCOLARIDADE<br />
Como é sabido, o subsector da construção,<br />
de que nos ocupamos, evidencia as mesmas<br />
características dos sectores tradicionais do<br />
País, as quais condicionam o seu desenvol‑<br />
vimento: défice de qualificação da população<br />
activa e baixos índices de produtividade dos<br />
factores aplicados. Referimo ‑nos especifica‑<br />
mente aos níveis de escolaridade dos trabalha‑<br />
dores e dos gestores. Os dados do estudo são,<br />
a este respeito, bem reveladores:<br />
• 20,2% dos decisores tem apenas o 1º ciclo;<br />
• 54% dos trabalhadores são detentores do<br />
2º ciclo ou inferior;<br />
• 34,4% dos trabalhadores são considerados<br />
semi ‑qualificados ou não qualificados.<br />
O problema da falta de qualificações está a<br />
par, sob o ponto de vista dos constrangimen‑<br />
tos que causa, com um modelo de gestão<br />
tradicional em Portugal, marcado acima de<br />
tudo pela utilização de mão de obra inten‑<br />
siva, pouca ou nenhuma diferenciação pelo<br />
produto, baixos salários, fraca produtivi‑<br />
dade, resistência à cooperação, dificuldades<br />
em encarar processos de internacionalização,<br />
quase completa ausência de inovação como<br />
actividade regular das empresas.<br />
FORMAçãO PROFISSIONAL<br />
No que diz respeito às práticas formativas,<br />
verificámos que 20,5% das empresas não dis‑<br />
ponibilizaram qualquer formação profissional<br />
aos trabalhadores, contrariando inclusive as<br />
disposições legais. <strong>É</strong> residual o número de<br />
empresas com estruturas orgânicas vocaciona‑<br />
das para a inovação e são quase inexistentes as<br />
que detêm estruturas e mecanismos internos<br />
orientados para a formação.<br />
Utilizando o modelo de discrepância, que<br />
confronta as qualificações disponíveis com<br />
as qualificações necessárias para a prossecu‑<br />
ção dos objectivos organizacionais, pedimos<br />
aos empresários/decisores que avaliassem a<br />
empresa tendo em conta onze áreas, dividi‑<br />
das em várias dimensões e indicadores. Para<br />
cada indicador foi solicitada uma avaliação<br />
que atribuísse um score de 1 a 10, correspon‑<br />
dendo aos valores inferiores maiores carências<br />
da empresa.<br />
As áreas que apresentaram médias inferiores,<br />
e como consequência evidenciam maiores<br />
carências de intervenção foram:<br />
• Marketing – Modelos e ferramentas<br />
– média de 5,82 (Escala 1:10)<br />
• Estratégia e Gestão – média de 5,93<br />
(Escala 1:10)<br />
• Comercial e vendas – média de 6,13<br />
(Escala 1:10)<br />
• Gestão de RH – média de 6,26 (Escala 1:10)<br />
Em geral, os empresários desconhecem o qua‑<br />
dro legal que se ocupa da formação e têm dela<br />
uma imagem negativa. Vem à colação, mais<br />
uma vez, o papel da escolaridade. Das empre‑<br />
sas que disponibilizaram formação aos seus<br />
trabalhadores, cerca de 65% dos seus deciso‑<br />
res completaram o ensino secundário ou con‑<br />
cluíram um curso do ensino superior.<br />
Interessante é verificar também que 34,7%<br />
das empresas que beneficiaram de formação<br />
profissional o fizeram com recurso à sua asso‑<br />
ciação empresarial, destacando deste modo o<br />
papel desempenhado por estas entidades na<br />
divulgação e disseminação de boas práticas a<br />
nível de formação profissional.<br />
No que diz respeito à oferta formativa exis‑<br />
tente e generalizando, parece evidente que<br />
esta, se em quantidade será suficiente, não<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 05
parece ser ajustada às necessidades das empre‑<br />
sas. Quando colocados perante a questão da<br />
classificação da oferta formativa obtivemos uma<br />
classificação de 2,83 num intervalo de 1 a 5.<br />
Pontuação no limiar da insuficiência, portanto.<br />
PISTAS A CAMINHO DAS<br />
CONCLUSõES<br />
Se o trabalho de recolha de informação para<br />
este estudo chegou ao fim, inicia ‑se a fase da<br />
identificação das conclusões e da construção<br />
das propostas decorrentes. Isto, porque não<br />
abandonámos a ideia de que este tem de ser<br />
um estudo que se traduza num conjunto de<br />
linhas de pensamento que conduzam a medi‑<br />
das concretas, isto é, à acção.<br />
06 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
Temos como objectivo deste trabalho a apre‑<br />
sentação de um plano de formação que res‑<br />
ponda às reais necessidades das empresas.<br />
Assumimos que, uma intervenção formativa<br />
eficaz não dispensa a alavancagem do envol‑<br />
vimento dos empresários/decisores. Assu‑<br />
mimos também que, face à multiplicidade<br />
de realidades empresariais, cada empresa é<br />
um caso singular e portanto o que é válido<br />
para uma empresa não é generalizável ou só<br />
raramente o será. Pensamos que os modelos<br />
formativos terão que se enquadrar na filosofia<br />
da formação ‑acção permitindo um diagnós‑<br />
tico mais aprofundado das realidades empre‑<br />
sariais. A vantagem reside principalmente no<br />
facto deste tipo de projecto formativo ser tra‑<br />
çado com e para a empresa visando atingir um<br />
fim organizacional, com objectivos concretos.<br />
Recusa ‑se assim a formação avulsa, determi‑<br />
nada por impulsos. Os objectivos da formação<br />
são estabelecidos com base nas necessidades<br />
concretas das empresas, tendo em conta as<br />
qualificações e disponibilidade dos seus traba‑<br />
lhadores como condições básicas do proveito<br />
colhido a partir do projecto de formação em<br />
que a empresa se envolva.<br />
O facto de se alcançarem não apenas compe‑<br />
tências (formação) mas também resultados<br />
concretos (acção) para serem incorporados<br />
na organização traduz ‑se num maior reco‑<br />
nhecimento da aplicabilidade imediata por<br />
parte da empresa que, envolvendo ‑se no<br />
desenvolvimento do projecto e da mudança<br />
inerente, garante o seu empenhamento em<br />
posteriores extensões e desenvolvimentos que<br />
podem conduzir a uma progressiva mudança
do ambiente de trabalho, a um novo modo<br />
de estar. Diríamos que a uma nova cultura da<br />
organização, pronta para incentivar o aprovei‑<br />
tamento da capacidade de pensar e reflectir<br />
de todas as pessoas envolvidas, independente‑<br />
mente do nível em que operem.<br />
Os empresários reconheceram que, nas áreas<br />
estratégicas, as empresas não estão suficien‑<br />
temente preparadas. Encaramos aqui as áreas<br />
da cooperação, da internacionalização e da<br />
inovação e acrescentaremos que, também<br />
neste ponto, o nível de escolaridade/experi‑<br />
ência qualificada dos decisores tem aqui um<br />
papel de superlativa importância. Torna ‑se<br />
para nós evidente que um apoio às empre‑<br />
sas nestes domínios é imperativo para que<br />
possa encarar ‑se uma ligação mais estreita e<br />
próxima da escola à empresa, numa moldura<br />
de ensino/aprendizagem em alternância: uma<br />
parte do tempo escolar dos estudantes é apli‑<br />
cado na fábrica e uma parte da jornada diária<br />
dos trabalhadores beneficiará da frequência<br />
da escola ou do que realmente a substituir. E<br />
assumiremos o nosso convencimento de que,<br />
com todos os objectivos e os papéis dos acto‑<br />
res devidamente esclarecidos, será possível<br />
alargar os horários de ocupação da escola, do<br />
escritório, da fábrica, com a empenhada cola‑<br />
boração dos sindicatos e dos trabalhadores<br />
que representem. A mudança para adoptar o<br />
paradigma da educação para o progresso não<br />
irá deixar ninguém de fora. Por uma razão<br />
evidente:<br />
ESTAMOS<br />
NO LIMIAR DO S<strong>É</strong>CULO XXI.<br />
Cooperação, inovação e internacionalização<br />
são inevitáveis para as micro empresas e para<br />
as PME. Resta saber se os responsáveis pela<br />
gestão das empresas compreendem esta rea‑<br />
lidade e estão preparados para responder às<br />
exigências que ela coloca.<br />
SEMINáRIO DE<br />
ENCERRAMENTO<br />
No âmbito deste projecto realizou ‑se no dia<br />
30 de Junho o seminário com que se deu por<br />
concluído o trabalho de campo que serve de<br />
suporte ao estudo. O Seminário contou com<br />
a presença do Senhor Secretário de Estado<br />
do Emprego e da Formação Profissional, do<br />
Senhor Delegado Regional do Instituto do<br />
Emprego e Formação Profissional e de repre‑<br />
sentantes das associações empresariais que<br />
colaboraram na elaboração do estudo.<br />
Das intervenções efectuadas concluímos que as<br />
entidades com responsabilidades nestes domí‑<br />
nios estão atentas e reconhecem a importância<br />
de estudos como este que agora se concluirá.<br />
Regista ‑se com apreço a vontade evidenciada<br />
de não baixar os braços e continuar a procu‑<br />
rar soluções para dar resposta aos problemas e<br />
desafios que se colocam aos portugueses.<br />
*Sociólogo, Coordenador do Estudo<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 07
Fernando Ferreira<br />
Economista e Consultor de Empresas<br />
fferreira@fmaisg.pt<br />
EMPREENDER EM PORTUGAL<br />
PELA VIA DA RETOMA<br />
DE UMA PME<br />
PARTE V<br />
Avaliar a empresa<br />
a retomar.<br />
No segundo e no terceiro números da P&O<br />
tivemos a oportunidade de desenvolver um capí‑<br />
tulo dedicado à análise da empresa a retomar.<br />
Nesta altura, é pressuposto que o candidato à<br />
retoma já completou a referida análise e que as<br />
indicações colhidas reforçaram o seu interesse<br />
em prosseguir na discussão do negócio com<br />
o cedente.<br />
No âmbito da mesma análise, o candidato<br />
ponderou e validou o quadro – base de pres‑<br />
supostos que deseja ver considerado na elabo‑<br />
ração de contas previsionais da empresa.<br />
O consultor externo contratado para a reali‑<br />
zação de uma auditoria às contas da empresa<br />
concluiu o seu trabalho.<br />
A transmissão da propriedade da empresa está<br />
em aberto pelo que, é chegado o momento de<br />
se proceder à sua avaliação.<br />
08 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
Nestas circunstâncias, a empresa é normalmente<br />
objecto de duas avaliações. Uma, promovida<br />
pelo comprador, outra, pelo vendedor. Isto, por‑<br />
que é natural que cada um deles pretenda dispor<br />
de uma avaliação que configure a sua própria<br />
visão actual e futura do negócio e, em conformi‑<br />
dade, defina justificadamente o valor ou, o inter‑<br />
valo de valores que lhe deverá servir de referência<br />
para a negociação final da transmissão.<br />
A avaliação de uma empresa é, por natureza,<br />
uma operação subjectiva.<br />
Se, por hipótese, dois peritos forem contrata‑<br />
dos para a avaliação de um mesmo bem, móvel<br />
ou imóvel, num determinado momento, o<br />
resultado mais provável é que eles não con‑<br />
cluam por um mesmo valor. Se o objecto da<br />
avaliação for uma empresa então poderemos<br />
dizer que só por mero acaso os dois peritos<br />
chegarão a um mesmo resultado.<br />
A avaliação de uma empresa requer conheci‑<br />
mentos técnicos específicos.<br />
Contudo, ao candidato à retoma não é exigí‑<br />
vel o domínio das diferentes técnicas de ava‑<br />
liação. O trabalho é normalmente contratado<br />
a consultores externos independentes, e será<br />
aconselhável que o seja. <strong>É</strong>, no entanto, funda‑<br />
mental que o candidato permaneça implicado<br />
Se pensa poder vir a tomar uma posição dominante numa PME<br />
já existente, reserve algum do seu tempo para ler este artigo.<br />
No n.º 1 da P&O publicamos a I.ª Parte, no n.º 2, a II e III. as Partes e,<br />
no n.º 3, a IV.ª Parte do artigo. Nesta edição concluímos o tema com a<br />
apresentação das V.ª e VI.ª Partes.<br />
A P&O está disponível para consulta on ‑line em www.cct.pt.<br />
Querendo, poderá solicitar em geral@cct.org o envio de qualquer um<br />
dos números já editados, em suporte de papel. Para efeito indique por<br />
favor: Nome, Endereço, Formação Académica e Profissão.<br />
no processo de avaliação e compreenda cla‑<br />
ramente os seus resultados e o que está em<br />
causa em cada um dos métodos de avaliação<br />
utilizados.<br />
O objectivo da avaliação não é nem pode ser<br />
a fixação de um preço para a transacção da<br />
empresa.<br />
A avaliação destina ‑se tão ‑somente a fornecer,<br />
quer ao comprador quer ao vendedor, uma<br />
estimativa fundamentada de um intervalo de<br />
preços dentro da qual cada um deles se deverá<br />
posicionar inicialmente para negociar. A fixa‑<br />
ção do preço final da transacção é matéria do<br />
domínio exclusivo de ambos.<br />
Os métodos de avaliação de empresas mais<br />
utilizados são:<br />
• o método do valor patrimonial e,<br />
• o método do valor rendimento.<br />
Pelo primeiro, o valor da empresa é definido<br />
com base exclusiva na sua situação contabilís‑<br />
tica (corrigida).<br />
Este método pondera apenas a vertente patri‑<br />
monial da empresa e conduz a um resultado<br />
que reporta a um momento passado e ignora,<br />
por completo, a rentabilidade futura.
O segundo método, pelo contrário, considera<br />
que o valor de uma empresa se deve aferir pela<br />
capacidade de geração de meios que ela evi‑<br />
dencia para futuro. Como é óbvio, esta capa‑<br />
cidade só é mensurável através do recurso a<br />
projecções económico ‑financeiras. E, o maior<br />
inconveniente deste método é precisamente<br />
o grau de imprevisibilidade que se encontra<br />
associado a tais projecções.<br />
Temos pois aqui em presença duas diferentes<br />
perspectivas. Tomadas isoladamente, nenhuma<br />
delas é insusceptível de crítica 1 . Entretanto,<br />
como veremos adiante, é possível aliá ‑las de<br />
algum modo.<br />
1 Na verdade não há nenhum método de avaliação inques‑<br />
tionável. No entanto, não utilize mais do que dois ou<br />
três métodos, a partir daí será mais útil ensaiar cenários<br />
alternativos para a evolução económico ‑financeira da<br />
empresa e mensurar os seus efeitos no valor de rendi‑<br />
mento e no valor de goodwill. O método do valor patri‑<br />
monial deverá contudo estar sempre presente numa<br />
avaliação.<br />
O método do valor patrimonial<br />
Este método tem como instrumento de refe‑<br />
rência para o apuramento do valor da empresa<br />
o respectivo Balanço. Este, deverá ser corri‑<br />
gido em função das recomendações do relató‑<br />
rio de auditoria externa que, oportunamente,<br />
se contratou, e a que atrás nos referimos.<br />
Uma vez identificadas as incorrecções no<br />
Balanço da empresa, são apurados os efeitos<br />
(positivos ou negativos) que elas produzem<br />
no valor do Capital Próprio ( = Activo – Pas‑<br />
sivo) e, em conformidade, a este é atribuído<br />
um novo valor, fruto dos ajustamentos que se<br />
revelaram necessários.<br />
Este novo valor, é o valor patrimonial da empresa.<br />
Na contratação do trabalho do auditor seja<br />
exigente quanto ao seu âmbito. Á partida, a<br />
sua posição deverá ser a de que todos os activos<br />
e passivos da empresa, sem excepção, deverão<br />
ser objecto de análise. Consequentemente,<br />
não recuse, caso se justifique, a contratação<br />
adicional de peritos – avaliadores para bens<br />
específicos.<br />
Atente que as incorrecções mais frequentes no<br />
Balanço das empresas se relacionam com:<br />
• Sobrevalorização das existências<br />
• Créditos incobráveis ou de cobrança duvi‑<br />
dosa, insuficientemente provisionados<br />
• Títulos negociáveis com valor contabilístico<br />
diverso do seu valor actual de mercado<br />
• Bens do imobilizado (nomeadamente, ter‑<br />
renos, construções e bens de equipamento)<br />
sub ou sobrevalorizados<br />
• Bens corpóreos contabilizados mas não dispo‑<br />
níveis para uso da empresa e, inversamente,<br />
bens utilizados pela empresa mas não releva‑<br />
dos nas contas<br />
• Disponibilidades representadas por docu‑<br />
mentos de carácter transitório e, em algum<br />
grau, inexistentes na prática<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 09
• Provisões para riscos diversos (processos judi‑<br />
ciais em curso, pensões, etc.) subestimadas<br />
• Inobservância do princípio da especialização<br />
dos exercícios com reflexos no valor dos últi‑<br />
mos resultados apurados e, assim sendo, no<br />
valor dos capitais próprios.<br />
Por ora, admitamos que, após os ajustamentos<br />
revelados como necessários, o valor patrimo‑<br />
nial apurado para a empresa a retomar foi de<br />
Eur 200.000. Mais adiante, faremos uso deste<br />
valor.<br />
Quadro 1<br />
Cash‑IN = Investimentos anuais previstos<br />
Cash‑OUT=<br />
Investimentos<br />
previstos<br />
Cash‑LÍQUIDO= Cash‑IN ‑ Cash‑OUT<br />
O método do<br />
valor rendimento<br />
Conforme vimos, a configuração deste método<br />
exige a disponibilidade de contas previsionais da<br />
empresa, elaboradas dentro do quadro – base de<br />
pressupostos que o candidato à retoma definiu.<br />
Vamos dedicar atenção à variante mais fre‑<br />
quente deste método que é a do apuramento<br />
do valor rendimento da empresa com base na<br />
actualização dos cash ‑flows anuais esperados.<br />
Neste contexto, o valor da empresa correspon‑<br />
derá ao valor actual dos fluxos de cash ‑flow<br />
Resultados líquidos anuais<br />
( depois de impostos )<br />
*+ Amortizações do ano<br />
*+ Provisões do ano<br />
*+ Encargos Financeiros do ano<br />
*+ Valor residual do investimento no<br />
final do 10º ano<br />
Cash ‑ OUT menos o<br />
Cash ‑ IN<br />
Valores anuais dos Resultados Líquidos (depois de impostos)+Amortizações+<br />
Provisões+Encargos financeiros e, no final do 10º ano, acresce o Valor Residual.<br />
Taxa anual de<br />
actualização utilizada<br />
10%<br />
( valores em Eur ) ( valores em Eur )<br />
Período Cash - IN Cash - OUT Cash - LÍQUIDO<br />
Cash - LÍQUIDO<br />
(actualizado )<br />
Ano 01 250,000 45,000 ‑205,000 ‑186,364<br />
Ano 02 20,000 65,000 45,000 37,190<br />
Ano 03 22,000 72,800 50,800 38,167<br />
Ano 04 24,200 81,536 57,336 39,161<br />
Ano 05 26,620 91,320 64,700 40,174<br />
Ano 06 29,282 102,279 72,997 41,205<br />
Ano 07 32,210 114,552 82,342 42,254<br />
Ano 08 35,431 128,298 92,867 43,323<br />
Ano 09 38,974 143,694 104,720 44,411<br />
Ano 10 42,872 280,938 238,066 91,785<br />
TOTAIS 521,590 1,125,418 603,828 231,307<br />
10 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
anualmente previstos, sendo estes actualiza‑<br />
dos a uma taxa que deverá reflectir o custo de<br />
oportunidade do capital investido e um pré‑<br />
mio de risco atribuído à empresa pelo compra‑<br />
dor/retomador. Este prémio deverá ser tanto<br />
maior quanto maior for o risco considerado.<br />
Ilustremos este método com um exemplo.<br />
Uma vez aplicada à empresa a retomar, a abor‑<br />
dagem pela via da actualização dos cash ‑flows<br />
anuais esperados conduziu aos resultados<br />
expressos no Quadro 1.<br />
2 Ou seja, a remuneração possível para esse capital numa<br />
possível aplicação alternativa<br />
VALOR<br />
RENDIMENTO
O valor rendimento apurado para a empresa é<br />
assim de Eur 231.307.<br />
Sendo de observar o seguinte:<br />
• Os valores de Cash ‑IN e Cash ‑OUT, tal<br />
como definidos no Quadro 1, são directa‑<br />
mente recolhidos das contas previsionais<br />
elaboradas<br />
• O cash ‑IN integra o valor dos investimentos<br />
previstos não só em capital fixo como tam‑<br />
bém em capital circulante<br />
• O horizonte temporal considerado para a<br />
análise foi de dez anos, havendo o compra‑<br />
dor/retomador atribuído à empresa, com<br />
referência ao final do décimo ano, um valor<br />
residual de Eur 120.000<br />
• Na actualização dos cash ‑flows anuais foi<br />
utilizada uma taxa anual de 10%, conside‑<br />
rando que 5% correspondem à remuneração<br />
certa e sem risco de uma aplicação alterna‑<br />
tiva no mercado para os capitais projectados<br />
investir e, os restantes 5% dizem respeito ao<br />
prémio de risco de que o comprador/reto‑<br />
mador pretende beneficiar, atentas as carac‑<br />
terísticas do negócio e o grau de risco que<br />
lhe atribui.<br />
De notar que o valor rendimento agora apu‑<br />
rado para a empresa a retomar (Eur 231.307) é<br />
superior ao seu valor patrimonial (Eur 200.000,<br />
cfr. antes assumido). Sempre que esta situação<br />
ocorre há lugar a goodwill.<br />
Na óptica contabilística, o goodwill representa<br />
o valor dos elementos associados à empresa<br />
que lhe conferem, no caso de transacção do<br />
seu capital, um valor superior ao valor que o<br />
seu Balanço expressa.<br />
Na mesma óptica, mas visto de outra forma,<br />
o goodwill corresponde à diferença positiva<br />
entre o valor efectivamente praticado na<br />
transmissão da propriedade da empresa e, o<br />
seu valor patrimonial.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 11
Na perspectiva que aqui queremos fazer preva‑<br />
lecer e que é a da determinação prévia do seu<br />
valor para efeitos de avaliação da empresa, o<br />
goodwill é o super benefício ou lucro supranor‑<br />
mal que o comprador/retomador espera obter<br />
com a transacção, para lá da remuneração<br />
Quadro 2<br />
Período<br />
Capitais investidos<br />
acumulados<br />
Remuneração normal<br />
dos cap. Investidos<br />
(tx. 5%/ano)<br />
Ganho real anual<br />
obtido / CF<br />
Goodwill / lucro<br />
supra‑normal anual<br />
( valores em Eur )<br />
Goodwill anual<br />
actualizado<br />
Ano 01 250,000 12,500 ‑205,000 ‑217,500 ‑197,727<br />
Ano 02 270,000 13,500 45,000 31,500 26,033<br />
Ano 03 292,000 14,600 50,800 36,200 27,198<br />
Ano 04 316,200 15,810 57,336 41,526 28,363<br />
Ano 05 342,820 17,141 64,700 47,559 29,531<br />
Ano 06 372,102 18,605 72,997 54,392 30,703<br />
Ano 07 404,312 20,216 82,342 62,126 31,881<br />
Ano 08 439,743 21,987 92,867 70,880 33,066<br />
Ano 09 478,718 23,936 104,720 80,784 34,260<br />
Ano 10 521,590 26,079 238,066 211,986 81,730<br />
TOTAIS 184,374 603,828 419,454 125,036<br />
12 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
normal que conseguiria obter no mercado<br />
para os capitais investidos.<br />
O cálculo do goodwill utiliza também as pro‑<br />
jecções económico ‑financeiras realizadas para<br />
a empresa.<br />
Valor da empresa = Valor<br />
patrimonial<br />
Valor da empresa = Valor<br />
rendimento<br />
( valores em Eur )<br />
200,000<br />
231,307<br />
Valor de goodwill apurado 125,036<br />
Valor da empresa = Valor<br />
patrimonial + 30% do<br />
goodwill<br />
237,511<br />
No Quadro 2, apresentamos um exemplo<br />
deste cálculo.<br />
No referido Quadro, verificamos que o valor<br />
de goodwill esperado para a empresa a retomar<br />
é de Eur 125.036.<br />
Taxa anual de<br />
actualização utilizada<br />
10%
Sendo de observar o seguinte:<br />
• A remuneração anual que foi considerada<br />
como normal para os capitais investidos foi<br />
de 5%<br />
• O ganho anual previsto foi considerado ao<br />
nível dos cash ‑flows anuais projectados<br />
• O valor anual do goodwill (ou, lucro supra‑<br />
normal) foi calculado deduzindo ao ganho<br />
real anual a remuneração normal anual dos<br />
capitais investidos<br />
• Na actualização dos valores anuais calcula‑<br />
dos para o goodwill foi igualmente utilizada<br />
uma taxa anual de 10%, considerando que<br />
5% correspondem à remuneração normal<br />
de uma aplicação alternativa no mercado<br />
para os capitais investidos e, os restantes 5%<br />
dizem respeito ao prémio de risco de que o<br />
comprador/retomador pretende beneficiar,<br />
atentas as características do negócio e o grau<br />
de risco que lhe atribui.<br />
Já vimos que o valor da empresa é de:<br />
• Eur 200.000, se utilizado o método do valor<br />
patrimonial ou de,<br />
• Eur 231.307, se utilizado o método do valor<br />
rendimento (via actualização dos cash ‑flows<br />
anuais esperados).<br />
Os dois métodos são concebidos com base<br />
em diferentes abordagens ao valor de uma<br />
empresa e conduzem a resultados autónomos<br />
e alternativos.<br />
A introdução da noção de goodwill 3 permite<br />
entretanto conciliar, de algum modo, os dois<br />
tipos de abordagem e conceber uma solução<br />
de compromisso para o apuramento do valor<br />
de uma empresa.<br />
Valor de uma empresa = Valor<br />
Patrimonial + x% * Valor de Goodwill<br />
Esta é uma perspectiva que se insere dentro<br />
dos métodos combinados de determinação<br />
do valor de uma empresa e que se nos afigura<br />
interessante como referência adicional para<br />
uma avaliação.<br />
O método do valor patrimonial tem tudo a<br />
ver com passado. E, passado tem a ver com<br />
o vendedor. O método rendimento tem tudo<br />
a ver com futuro. E, futuro tem a ver com o<br />
comprador.<br />
3 De notar que o cálculo do goodwill tem também por<br />
subjacente uma óptica rendimento para a empresa<br />
Interpretada pelo lado do comprador, a pers‑<br />
pectiva agora em causa corresponde a con‑<br />
siderar que este estará disposto a pagar pela<br />
empresa, no máximo, o valor seus Capitais<br />
Próprios (corrigidos) acrescidos de uma per‑<br />
centagem do valor actual dos lucros supra‑<br />
normais que espera obter. O comprador não<br />
admite quinhoar com o vendedor qualquer<br />
parcela dos lucros normais pois eles são parte<br />
integrante e indissociável da sua decisão de<br />
compra mas, admite repercutir no preço da<br />
transacção – em benefício do vendedor – uma<br />
parcela dos lucros supranormais.<br />
Por sua vez, pelo lado do vendedor, é natural<br />
que este pretenda receber, no mínimo, o valor<br />
dos Capitais Próprios da empresa acrescidos<br />
de uma compensação que represente o que<br />
no passado fez em prol de um negócio que se<br />
mantém vivo e com potencial de desenvolvi‑<br />
mento. O vendedor compreende que o futuro<br />
da empresa repousará no comprador e que,<br />
por natureza, os lucros vindouros a este dirão<br />
respeito contudo, considera justo obter a refe‑<br />
rida compensação na parte supranormal que<br />
esses lucros puderem vir a assumir. Ou seja,<br />
pelo seu desempenho no passado pretende<br />
auferir uma percentagem do potencial valor<br />
de goodwill que a empresa encerra.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 13
Na negociação final do preço de transmissão<br />
da empresa estará indirectamente em causa o<br />
valor da referida percentagem.<br />
PARTE VI<br />
Negociação<br />
do preço da<br />
transmissão e de<br />
outras condições.<br />
Pese embora o comprador/retomador e o<br />
cedente prossigam neste âmbito interesses<br />
divergentes – o primeiro, deseja obter no final<br />
o menor preço possível e, o segundo, o inverso<br />
– a negociação das condições para a transmis‑<br />
são da empresa não pode nem deve ser enca‑<br />
rada como uma contenda da qual tem que vir<br />
a sair um vencedor e um vencido.<br />
O êxito de qualquer negociação é atingido no<br />
momento em que ambas as partes se podem<br />
considerar como ganhadoras, o mesmo é dizer,<br />
quando for alcançado um preço de equilíbrio<br />
(eventualmente, complementado com outras<br />
condições) que mutuamente as satisfaz.<br />
Em princípio, tanto o comprador como o<br />
vendedor, partem para a negociação com uma<br />
ideia bem definida sobre o intervalo de preços<br />
que cada um deles considera aceitável para a<br />
transacção. A avaliação da empresa que indivi‑<br />
dualmente promoveram foi certamente impor‑<br />
tante para o efeito. Para uma negociação bem<br />
sucedida, os dois intervalos referidos – que<br />
só os próprios devem conhecer – idealmente<br />
deverão comportar preços de convergência<br />
entre os dois, caso contrário, a negociação<br />
resultará difícil ou mesmo prejudicada.<br />
14 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
O objectivo final da negociação é encontrar o<br />
preço de equilíbrio e, se for caso disso, acordar<br />
sobre condições complementares.<br />
Na qualidade de comprador/retomador, note<br />
que o melhor resultado de negociação que<br />
poderá obter é igual ao pior resultado que<br />
o vendedor ainda admite como aceitável ou<br />
seja, é igual ao limite inferior do intervalo<br />
de preços com que o vendedor partiu para a<br />
negociação.<br />
Não há talentos inatos em negociação. Há<br />
sim negociadores bem e mal preparados, com<br />
diferentes graus de experiência.<br />
Tente pertencer ao primeiro grupo e construa<br />
a sua experiência na observância dos seguintes<br />
pontos:<br />
• Identifique claramente os objectivos que<br />
pretende prosseguir, atribua ‑lhes um grau<br />
de flexibilidade em termos de negociação e<br />
pondere todas as opções que se lhe colocam<br />
• Tente fazer o mesmo, agora na óptica do<br />
cedente<br />
• Conceba um plano de acção para a<br />
negociação 4<br />
• Tendo em vista a obtenção de um clima de<br />
amenidade e um reforço das relações inter‑<br />
‑pessoais, preencha os primeiros minutos de<br />
cada reunião de negociação com conversa<br />
informal<br />
• Em cada reunião, se possível, chame a si os<br />
primeiros passos e, então, defina o ponto<br />
de situação da negociação e perspective, em<br />
acordo com o cedente, o rumo a seguir<br />
4 Por onde começar? Por onde seguir? Onde chegar? Se<br />
necessário, reajuste o plano em função da evolução da<br />
negociação<br />
• Dedique a sua melhor atenção aos pontos de<br />
vista que a contraparte lhe vai expressando<br />
• Coloque‑se frequentemente na posição do<br />
cedente para melhor a interpretar e, eventu‑<br />
almente, para reajustar o seu plano de acção<br />
• Não formule os seus pontos de vista ou as<br />
suas propostas como exigências<br />
• Na sua primeira proposta, expresse as condi‑<br />
ções mais favoráveis que antevê para si e que<br />
ainda admite como aceitáveis pelo cedente<br />
• Nunca revele o seu intervalo de preços, caso<br />
contrário, “fica nas mãos” do cedente<br />
• Desenvolva a negociação dentro de parâme‑<br />
tros de concessão mútua<br />
• Mantenha‑se, entretanto, determinado rela‑<br />
tivamente às questões que são fundamentais<br />
para si, nas restantes mostre ‑se flexível<br />
• Tente não fazer rápidas e grandes concessões,<br />
em vez disso, prefira fazer pequenas conces‑<br />
sões, se necessário, em vários momentos<br />
• Deixe sempre margem para futuras cedên‑<br />
cias e lembre ‑se que para trás, estará sem‑<br />
pre a tempo de vir, para a frente será muito<br />
difícil ir<br />
• Em qualquer circunstância, evite colocar‑se<br />
numa posição de irredutibilidade<br />
• Sublinhe sempre as situações que se revelam<br />
capazes de produzir efeitos benéficos para<br />
ambas as partes<br />
• Não formule propostas absurdas pois elas<br />
desacreditam ‑no<br />
• Se no final das negociações considerar que<br />
atingiu um bom resultado nunca se vanglo‑<br />
rie do feito.
Senhor Secretário de Estado do Emprego<br />
e da Formação Profissional<br />
Senhoras e senhores<br />
Quero apresentar a todos, o mais vivo agrade‑<br />
cimento pela vossa presença neste seminário<br />
com que pretendemos assinalar a conclusão<br />
do estudo<br />
materiais e construção – Conhecer as<br />
Necessidades de Qualificação dos Recursos<br />
Humanos para Melhorar o Desempenho das<br />
Empresas.<br />
Seja‑me entretanto permitido destacar, neste<br />
passo da minha curtíssima intervenção, o<br />
Senhor Secretário de Estado do Emprego e da<br />
Formação Profissional, a quem o Conservató‑<br />
rio de Ciências e Tecnologias, pela minha voz,<br />
quer exprimir o um especial reconhecimento<br />
pela honra da sua presença, assegurando‑lhe<br />
que ela constitui um factor acrescido de res‑<br />
ponsabilização da entidade que represento e<br />
de todas as pessoas que se empenharam na<br />
realização do trabalho.<br />
Falei‑lhes de conclusão para assinalar o fim de<br />
um conjunto de operações mas gostava de<br />
lhes dizer que esta palavra conclusão, como em<br />
vez dela as palavras fim ou encerramento, me<br />
deixam sempre, em situações idênticas, uma<br />
sensação de falta de rigor, um sentimento de<br />
incompletude.<br />
Almor Viegas<br />
Economista e Consultor de Empresas<br />
almorviegas@fmaisg.pt<br />
SEMINÁRIO DE<br />
ENCERRAMENTO<br />
<strong>É</strong> que, nestes domínios da aprendizagem, da<br />
captura do conhecimento e do seu manejo, não<br />
poderá nunca falar‑se de conclusão ou fecho<br />
porque afinal nenhum destes percursos tem<br />
verdadeiramente fim, nenhum processo se con‑<br />
clui ou encerra. Diria que, pelo contrário, tudo<br />
o que entendemos ser o fim de um estudo, a<br />
conclusão ou o fecho de um processo de aquisi‑<br />
ção e conhecimentos, não é senão a descoberta<br />
de novas áreas de ignorância e, quando tudo<br />
corre bem, pode ser o esboço de algumas pis‑<br />
tas, alguns trilhos, para prosseguir na procura<br />
de respostas a que as conclusões atingidas, sem‑<br />
pre provisórias e incompletas, não chegaram<br />
ou ainda não chegaram. E quando as respostas<br />
se alcançarem ou se presumirem alcançadas,<br />
serão, também elas, repita‑se e acentue‑se uma<br />
vez mais, provisórias e incompletas. Ou seja,<br />
nenhum estudo, nenhum processo de apren‑<br />
dizagem se encerra, se fecha, se enclausura nas<br />
conclusões provisórias a que tenha chegado.<br />
Não termina a necessidade de estudar quando<br />
se conclui a escolaridade obrigatória, a licencia‑<br />
tura, o mestrado, o doutoramento.<br />
Por incontornável necessidade resultante da<br />
emergência de novos contextos que é necessário<br />
saber descodificar, pelo desenvolvimento das<br />
novas tecnologias que encolhem as distâncias e<br />
alteram o sentido que íamos tendo do tempo<br />
… pelos avanços da ciência que constantemente<br />
nos anunciam a crise dos fundamentos do saber<br />
antigo. Tudo recomeça sempre no momento<br />
em que julgávamos que tinha acabado.<br />
Mas, animemo‑nos por um instante: não será<br />
contestável que passo a passo se vai fazendo<br />
um caminho, conquistando parcelas de poder<br />
ao tenebroso território da ignorância e que,<br />
portanto, o desconhecido de hoje não é o<br />
mesmo que era o do ponto de partida. <strong>É</strong> qua‑<br />
litativamente diferente porque os instrumen‑<br />
tos com que o abordamos foram sem dúvida<br />
enriquecidos com o estudo e com a experi‑<br />
ência e pode ter uma extensão imensamente<br />
maior. O conhecimento é, por sua natureza,<br />
insatisfação e estímulo desafiador da ambi‑<br />
ção dos homens: cada resposta obtida suscita<br />
novas perguntas, aponta para novos trajectos.<br />
E é isso que torna a observação e o estudo acti‑<br />
vidades fascinantes: sentimos que avançámos e,<br />
ao mesmo tempo, observamos que o objectivo<br />
final se afasta e se dilata também à medida que a<br />
nossa ambição cresce acompanhada pelo nosso<br />
sentido da responsabilidade. Mas este fascínio<br />
de vencer everestes que prodigaliza seguramente<br />
elevadíssimos níveis de satisfação e prazer pes‑<br />
soal, envolve‑se e desdobra‑se na obrigação de<br />
responder a uma necessidade das nossas vidas<br />
profissionais e mesmo de fazer face a um inde‑<br />
clinável compromisso social. Tomemos por‑<br />
tanto consciência de que o nosso saber, todo<br />
o conhecimento afinal, é precário e que tê‑lo<br />
adquirido nos impõe o dever de o completar, de<br />
o alargar e aferir por novos padrões, sem pausas<br />
nem férias. Este será porventura o mais forte e<br />
indeclinável compromisso que, cumprido, fará<br />
dos homens seres verdadeiramente superiores.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 15
Aprender ao longo da vida, sempre!<br />
Esta é uma palavra de ordem, verdadeira<br />
alavanca modificadora da vida dos homens,<br />
capaz de permitir ultrapassar conflitos resul‑<br />
tantes de aparentes ou reais diferenças ideoló‑<br />
gicas de todas as naturezas.<br />
Não há outro caminho que leve à emergência<br />
do indispensável homem novo a que se referia<br />
Aragon quando falava de uma sociedade soli‑<br />
dária em que os desregramentos e iniquida‑<br />
des de que somos testemunhas assustadas não<br />
sejam senão capítulos da História que é pre‑<br />
ciso estudar. Como vamos fazendo, com mais<br />
ou menos rigor, a propósito da comunidade<br />
primitiva, do esclavagismo ou do feudalismo.<br />
O estudo que fizemos e foi coordenado pelo<br />
Dr. Manuel Lourenço, não foge a este modelo<br />
nem se liberta do espartilho condicionante<br />
que aqui se convoca de novo: o que apren‑<br />
demos insinua mais a imensidão do que falta<br />
saber e comprovar do que aquilo que possa‑<br />
mos tomar como verdadeiramente adquirido.<br />
E mesmo este verdadeiramente adquirido …<br />
exige vigilância … porque com demasiada<br />
frequência, frustra as expectativas que nos<br />
consentiu.<br />
16 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
O que fizemos será, poderá ser, o princípio de<br />
um processo em que as conclusões se apres‑<br />
tem para ser testadas, experimentadas em con‑<br />
fronto directo com a realidade, aperfeiçoadas<br />
a essa luz para serem submetidas à avaliação<br />
científica e aí ganharem nova consistência e<br />
fôlego de generalização para serem de novo<br />
confrontadas com a prática. E o processo<br />
não se interromperá para, desejavelmente, ir<br />
sempre crescendo para oferecer às soluções<br />
resultantes mais elevados níveis de eficácia.<br />
Os patamares alcançados constituem‑se como<br />
um sistema de certezas que vão desaparecendo<br />
ou ganhando consistência, a caminho de uma<br />
nova plataforma.<br />
Ora, no nível em que nos encontramos, regis‑<br />
támos algumas certezas em que acreditamos<br />
(Eu disse acreditamos…) estarem suficiente‑<br />
mente consolidadas pela experiência e pela<br />
reflexão. Desde logo duas que se interligam ou<br />
até diria que uma só com as suas implicações:<br />
O mundo em geral e o mundo dos negócios<br />
em particular, é hoje incomparavelmente mais<br />
complexo do que era há poucos anos: muito<br />
mais vastos os horizontes porque podemos<br />
operar praticamente em todos os recantos do<br />
planeta e este se tornou muito mais pequeno<br />
porque a todo o lado podemos chegar numa<br />
porção de tempo infinitamente menor do que<br />
seria necessário há poucos anos.<br />
São muito diferenciadas as culturas com que<br />
temos de conviver e isso exprime‑se justa‑<br />
mente em hábitos, formas de pensar e de agir<br />
que em muitos casos conflituam com os nos‑<br />
sos modos naturais de ser e de comunicar; os<br />
negócios desenvolvem‑se à velocidade da luz,<br />
a vida dos produtos é efémera … as novas tec‑<br />
nologias decretam a obsolescência dos equipa‑<br />
mentos no dia seguinte ao da sua aquisição; a<br />
fidelidade das clientelas é uma figura do pas‑<br />
sado, … … … sem futuro.<br />
E aí temos as implicações<br />
Lidar com estas novas realidades exige que se<br />
disponha de um arsenal de competências que<br />
só o estudo empenhado e contínuo, assente<br />
numa educação de base sólida, que mais ensine<br />
a pensar e resolver problemas do que a entoar<br />
salmos e teoremas, – ajude as pessoas a pre‑<br />
pararem‑se para aceder ao degrau seguinte do<br />
conhecimento. Sim, sobretudo isso: que ajude<br />
as pessoas a aprender com esforçado prazer.<br />
Assim sendo, senhoras e senhores,<br />
Atrevo‑me a admitir, porque o presente terá<br />
de ser formatado à luz do que quisermos ser,<br />
do futuro que escolhermos de entre os futuros<br />
possíveis, acentuar‑se‑á a tendência para que<br />
quem pretenda assumir a qualidade de gestor,<br />
seja titular de um nível certificado de educação<br />
compatível com a complexidade das funções<br />
que irá desempenhar. Ou, em vez disso, se<br />
sujeite a um processo de avaliação credível.<br />
Esta parece ser uma tendência pesada observá‑<br />
vel neste nosso tempo, tal é a importância que<br />
as empresas assumem como células básicas do<br />
corpo social em que todos nós nos integramos.<br />
Muito obrigado.
1. O Comércio na cadeia de<br />
valor da fileira<br />
O Secretário Geral da apcmc, Dr. José de<br />
Matos, com o reconhecido empenhamento e<br />
brilho, disponibilizou uma extensa e bem ela‑<br />
borada documentação que serviu de suporte à<br />
sua intervenção. Talvez por deformação pro‑<br />
fissional, não resisto a destacar uma das suas<br />
mais significativas expressões, por si só, tema<br />
de reflexão aprofundada<br />
As novas exigências tornarão mais importante<br />
e mais valorizada a componente de serviço de<br />
carácter profissional e qualificado, em todos os<br />
níveis de intervenção na fileira da construção.<br />
Acrescentar aos produtos o valor do serviço é<br />
para isso que existem os comerciantes de materiais<br />
de construção!<br />
Fica aí, nas páginas deste número da p&o e<br />
no site do Conservatório de Ciências e Tecno‑<br />
logias, www.cct.org.pt, a reprodução dos dia‑<br />
positivos projectados numa intervenção que<br />
valorizou o seminário e abriu perspectivas de<br />
desenvolvimentos futuros que podem contri‑<br />
buir fortemente para a mudança esperada.<br />
Muito obrigado à apcmc e ao Dr. José de<br />
Matos.<br />
BREVES NOTAS<br />
DE RECENSãO<br />
2. Inovação e Competitividade<br />
Impossibilitado à última hora de estar presente<br />
no Seminário, o Eng. António Corte Real<br />
fez‑se substituir pelo Director Comercial da<br />
Construcer, senhor Dr. Ivo Quintas que veio<br />
falar do esforço de inovação que a empresa tem<br />
desenvolvido e que lhe tem permitido encarar<br />
a crise e as suas consequências com alguma<br />
tranquilidade, se compararmos o seu estado<br />
de espírito com o resultante das preocupações<br />
que podem adivinhar‑se na generalidade dos<br />
empresários do sector. O Dr. Ivo Quintas que<br />
se exprimiu com a desenvoltura de um profis‑<br />
sional qualificado, revelou‑se além disso como<br />
um quadro que vive a empresa como se sua<br />
fosse, orgulhoso do que faz. Seguiu de perto,<br />
diria que com rigor, o que pode saber‑se da<br />
orientação do Eng. António Corte Real e mos‑<br />
trou ter interiorizado o que constitui a razão<br />
do sucesso do seu Tecnotijolo: A Construcer não<br />
vende tijolos, vende paredes que não são mais<br />
caras do que as construídas com tijolos convencio‑<br />
nais e são mais resistentes porque não pode nem<br />
deve confundir‑se resistência com rigidez.<br />
Aprendemos todos o que é um Director<br />
Comercial entusiasmado com o que faz, com<br />
os produtos que vende, com a empresa que o<br />
emprega e consigo próprio.<br />
A informação essencial foi já publicada no nº<br />
2 da P&O, integrando a entrevista que o Eng.<br />
António Corte Real concedeu ao Dr. Manuel<br />
Lourenço, Coordenador do Estudo.<br />
3. A Palavra às associações<br />
A aimmp apresenta neste n.º 4 da p&o uma<br />
parte do que teria sido a sua intervenção no<br />
ponto em que era suposto as associações usa‑<br />
rem da palavra enquanto tais. Uma imprevista<br />
e imprevisível alteração do programa, de que<br />
nos penitenciamos, impediu que pudéssemos<br />
escutar a intervenção do Senhor Vasco Pedro.<br />
A. da Silveira<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 17
Já com 50 anos de história, a Associação<br />
das Indústrias de Madeira e Mobiliário de<br />
Portugal (aimmp) orgulha ‑se de ser a única<br />
organização nacional representativa de toda a<br />
Fileira de Madeira e Mobiliário do país, tendo<br />
como missão ser o seu motor de desenvolvi‑<br />
mento. Assim, são cinco as divisões sectoriais<br />
que representa, promove e defende: corte, abate,<br />
serração e embalagem de madeira; painéis e apai‑<br />
nelados de madeira; carpintaria e afins; mobiliá‑<br />
rio e afins; exportação, importação e distribuição<br />
de madeiras.<br />
Além disso, a aimmp participa nas principais<br />
instituições nacionais e europeias dedicadas ao<br />
18 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
PERFIL DA AIMMP<br />
“Somos a única associação nacional que representa toda<br />
a Fileira de Madeira e Mobiliário de Portugal”<br />
desenvolvimento do sector, tais como o cfpimm<br />
– Centro de Formação Profissional das Indús‑<br />
trias de Madeira e Mobiliário, o cffp – Conse‑<br />
lho da Fileira Florestal Portuguesa, a cei ‑Bois<br />
– Confederação Europeia das Indústrias de<br />
Madeira e a efic – Confederação das Indús‑<br />
trias de Mobiliário Europeu.<br />
Mas, porque é uma associação dotada de uma<br />
estrutura orgânica forte e profissional, que tem<br />
sempre em vista a proximidade com os seus<br />
associados, e porque tem lutado arduamente<br />
para alterar a percepção que se tem do asso‑<br />
ciativismo em Portugal, a aimmp assume ‑se,<br />
sobretudo, como uma empresa prestadora de<br />
serviços, procurando dar resposta a todas as<br />
necessidades dos seus clientes, os associados.<br />
Eis alguns dos serviços prestados pela aimmp:<br />
Diagnóstico, Estudos e Estratégias Empresa‑<br />
riais; Auditorias; Assistência técnica e tec‑<br />
nológica; Gestão da qualidade; Gestão do<br />
ambiente e da floresta; Formação profissional;<br />
Observatório da competitividade do sector;<br />
Estratégias de internacionalização e inovação;<br />
Assistência em marketing e comunicação;<br />
Cooperação industrial; Assistência nas candi‑<br />
daturas de projectos; Assistência jurídica.
Perfil da Fileira de Madeira e Mobiliário<br />
Sector de inquestionável importância socioeconómica<br />
Embora caracterizadas por realidades muito<br />
diferentes, no seu conjunto, as empresas que a<br />
aimmp representa, enquanto fazendo parte da<br />
Fileira de Transformação Florestal, são respon‑<br />
sáveis, em Portugal, por cerca de 5,3% do vab<br />
total da economia, 14% do PIB industrial, 9%<br />
do emprego industrial e 12% das exportações<br />
nacionais.<br />
De acordo com os últimos dados estatísticos<br />
disponibilizados pelo ine, as Indústrias de<br />
Madeira e Mobiliário contabilizam: cerca de<br />
5000 empresas; 54 500 trabalhadores; 2,1<br />
mil milhões de euros de volume de vendas;<br />
1,5 mil milhões de euros de exportação,<br />
sendo o mobiliário, os painéis de madeira e as<br />
madeiras de pinho e de eucalipto, em rolaria<br />
e serradas, os principais responsáveis por estes<br />
valores; e um saldo de balança comercial posi‑<br />
tivo de quase 400 milhões de euros. <strong>É</strong>, assim,<br />
inquestionável a sua importância na economia<br />
nacional, na criação de emprego e na fixação<br />
de pessoas nas regiões mais desfavorecidas.<br />
SECTOR COM FUTURO<br />
A aimmp acredita no valor da indústria que<br />
representa. Na verdade, esta é uma das poucas<br />
fileiras que rentabiliza os recursos endógenos do<br />
país e nos quais Portugal tem vantagens com‑<br />
petitivas, ou não estivéssemos a referirmo ‑nos<br />
a um sector cujas raízes são das mais profundas<br />
no tecido empresarial nacional. O saber dos<br />
carpinteiros e marceneiros de outrora passou de<br />
geração em geração até possuirmos hoje uma das<br />
Indústrias de Madeira e Mobiliário com mais<br />
tradição e saber ‑fazer do mundo. Simultanea‑<br />
mente, é uma indústria moderna que tem pro‑<br />
curado adaptar ‑se às novas exigências, apostando<br />
no design, nas tecnologias de ponta e em políti‑<br />
cas estratégicas que assentam no marketing, nas<br />
marcas nacionais, na melhoria dos seus processos<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 19
de produção e no desenvolvimento de novos<br />
produtos.<br />
Além disso, este sector trabalha com a<br />
madeira que é um material do futuro: é<br />
100% utilizável, reciclável e biodegradável.<br />
Para além de verdes e sustentáveis, afirmando‑<br />
‑se como instrumentos essenciais na luta con‑<br />
tra as alterações climáticas, os produtos de<br />
madeira são excelentes materiais em relação às<br />
aplicações de construção, ao design de interio‑<br />
res, às embalagens ou aos transportes. A isto<br />
soma ‑se a apetência do consumidor para os<br />
produtos de madeira.<br />
20 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
OBSTáCULOS<br />
Mas este sector enfrenta vários constrangimen‑<br />
tos. Entre os principais problemas encontram‑<br />
‑se: a crise de consumo; as dificuldades de<br />
abastecimento de matéria ‑prima; a subida dos<br />
preços de produção; a ausência generalizada<br />
de estratégias de médio e longo prazo e a baixa<br />
massa crítica das empresas. Uma realidade agra‑<br />
vada pela classificação de todo o país como área<br />
afectada pelo Nemátodo da madeira do pinheiro<br />
e consequente publicação legislativa de medi‑<br />
das substitivas à exportação de madeira, bem<br />
como pela actual crise económica‑financeira.<br />
O sector defronta, pois, uma conjuntura com‑<br />
plicada: há uma tendência para o aumento de<br />
stocks, a redução drástica de encomendas e<br />
o decréscimo das vendas, consequentemente<br />
há cortes na produção, períodos de para‑<br />
gem, redução de emprego, empresas a labo‑<br />
rar a 50% da capacidade instalada e unidades<br />
industriais a encerrar.
DESAFIOS<br />
Para enfrentar estes constrangimentos, são<br />
vários os desafios que se colocam ao sector.<br />
A tendência é a de crescimento das empresas<br />
voltadas para a produção com qualidade e<br />
valor acrescentado e para a internacionaliza‑<br />
ção. Neste contexto, o grande desafio é fugir<br />
dos mercados ditos tradicionais e avançar para<br />
as economias emergentes, como são exemplo<br />
os países africanos.<br />
O futuro passa também pelo crescente recurso<br />
a parcerias empresariais e à concentração<br />
O sector conta com vários programas da aimmp para<br />
poder exportar, competir e enfrentar a crise<br />
A aimmp, no âmbito da sua actividade, tem<br />
vindo a desenvolver um conjunto de projectos de<br />
inquestionável mais ‑valia para o desenvolvi‑<br />
mento sustentado e para competitividade das<br />
empresas do sector. Em 2009, estão em curso:<br />
empresarial, o que permite melhorar a efi‑<br />
cácia das estratégias comerciais e de marke‑<br />
ting, obtendo ‑se massa crítica, economias de<br />
escala e dimensão para chegar à distribuição<br />
e canais de comercialização. Já para fomen‑<br />
tar a cooperação e o funcionamento em rede<br />
entre empresas e entre estas e outras entidades<br />
relevantes para o desenvolvimento do sector e<br />
incremento da competitividade, foram cria‑<br />
das a Associação para a Competitividade da<br />
Indústria da Fileira Florestal – que agrega as<br />
várias indústrias de base florestal (pinheiro, euca‑<br />
lipto e sobreiro) – e a Associação para o Pólo de<br />
I. Pacote de medidas anti ‑crise<br />
A aimmp apresentou ao primeiro ‑ministro por‑<br />
tuguês, no final do ano passado, um pacote de<br />
medidas anti ‑crise dirigido às empresas da<br />
Excelência e Inovação das Empresas de Mobili‑<br />
ário de Portugal – que tem por missão a criação<br />
do Cluster do Mobiliário e Afins. Ambas con‑<br />
tam com a participação da aimmp.<br />
O desenvolvimento de novos produtos; a<br />
redução do impacto ambiental dos materiais e<br />
tecnologias utilizadas; a aposta no marketing;<br />
a reorganização da estrutura empresarial; a<br />
qualificação dos recursos humanos nas áreas<br />
de gestão, tecnologias, marketing e design<br />
são outros dos eixos de desenvolvimento do<br />
sector.<br />
Fileira de Madeira e Mobiliário. Este con‑<br />
siste, sobretudo, numa adaptação das medi‑<br />
das transversais ao sector, às suas necessidades<br />
e cultura, complementada por um conjunto<br />
de especificidades necessárias.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 21
<strong>É</strong>, pois, um programa de trabalho, assente<br />
em ideias claras e enquadradas, com o qual se<br />
pode contribuir para as políticas do Governo,<br />
fazendo chegar os apoios já disponíveis aos<br />
nossos empresários.<br />
22 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
Foi a 20 de Abril de 2009 que o secretário<br />
de Estado Adjunto, da Indústria e Inovação,<br />
Castro Guerra, reuniu com todas as associações<br />
sectoriais, regionais e nacionais, saindo deste<br />
encontro o pasimm – Plano de Apoio ao Sector<br />
das Indústrias de Madeira e Mobiliário, que foi<br />
dado a conhecer publicamente a 6 de Maio.
II. Plano Estratégico<br />
para a Reestruturação<br />
e Modernização da<br />
Indústria de Primeira<br />
Transformação de<br />
Madeira em Portugal<br />
Desenvolvido pela aimmp, este Plano, mais<br />
comummente conhecido como Estudo das Ser‑<br />
rações, arrancou este ano, contando com um<br />
apoio de 144 mil euros atribuídos pelo Fundo<br />
Florestal Permanente.<br />
Este estudo enforma um trabalho de campo<br />
intensivo, que permitirá à aimmp informar a<br />
Produção e os Agentes reguladores da Admi‑<br />
nistração Pública sobre os consumos anuais<br />
de madeira de pinho previstos para os próxi‑<br />
mos anos. Informação de crucial importância<br />
para fazer face à propagação do Nemátodo<br />
da Madeira do Pinheiro, na medida em que<br />
a oferta de material lenhoso necessita de ser<br />
repensada, e que as serrações carecem de uma<br />
profunda reestruturação de modo a dar res‑<br />
posta aos novos desafios.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 23
III. PRODIMMP – Programa para o Desenvolvimento das<br />
Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal<br />
O prodimmp constitui a grande aposta da<br />
aimmp no sentido de levar um número signi‑<br />
ficativo de empresas do sector a participar na<br />
implementação integrada de um conjunto de<br />
factores de competitividade que assegurem o<br />
desenvolvimento sustentado do seu negócio.<br />
Visando, essencialmente, apoiar as empresas<br />
a posicionarem ‑se no mercado global com<br />
sucesso, este projecto apresenta quatro gran‑<br />
des eixos:<br />
• O interwood: programa de acções inte‑<br />
gradas e sucessivas que garantem às empre‑<br />
sas uma boa preparação para a entrada em<br />
novos mercados internacionais de forma<br />
sustentada;<br />
24 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
• O cooperwood: programa de acções que<br />
tem por missão promover uma rede de coo‑<br />
peração entre as empresas do sector. Neste<br />
contexto, foi criada a associative design<br />
– marca que representa a Fileira Casa e<br />
tem por objectivo promover a qualidade<br />
e o design dos produtos portugueses nos<br />
melhores mercados internacionais;<br />
• O consultwood: conjunto de acções de<br />
consultadoria nas áreas de gestão, ambiente<br />
e floresta, pensado em função das reais<br />
debilidades e potencialidades do sector,<br />
com vista a potenciar as vantagens competi‑<br />
tivas das empresas;<br />
• O formwood: programa de formação‑<br />
‑acção para valorização do capital humano<br />
do sector.<br />
IV. Estudo de Viabilidade<br />
Técnica ‑Económica para<br />
Instalação de Indústrias de<br />
Madeira, Mobiliário e Afins em<br />
Angola<br />
Este Estudo foi apresentado pela aimmp ao<br />
Governo angolano, no ano passado, tendo por<br />
objectivo aproveitar a experiência portuguesa<br />
para, em 15 anos, criar em Angola uma Indús‑<br />
tria de Transformação Florestal semelhante à<br />
que, em Portugal, demorou 35 anos a construir.<br />
O projecto, encomendado pelo ministro ango‑<br />
lano da Indústria, consiste na construção de<br />
seis fábricas – uma de aglomerados de madeira,<br />
outra de pavimentos, duas de móveis e duas car‑<br />
pintarias – e num centro de formação profissio‑<br />
nal, o que se traduz em 100 milhões de euros de<br />
investimento e 720 postos de trabalho directos e<br />
dois mil indirectos. Prevê ‑se que os investimen‑<br />
tos estejam no terreno em Abril do próximo ano<br />
e sejam concluídos até ao final de 2010.<br />
Contactos<br />
AImmP – Associação das Indústrias<br />
de madeira e mobiliário de Portugal<br />
Rua Álvares Cabral, 281, 4050 ‑041 Porto<br />
Telf.: 223 394 200 | Fax: 223 394 210<br />
E ‑mail: aimmp@aimmp.pt<br />
URL: www.aimmp.pt
UM FEIXE DE PERGUNTAS QUE ESPERA <strong>MAIS</strong> DO QUE UM FEIXE<br />
DE RESPOSTAS. ESPERA UMA REFLEXãO PACIENTE DE QUEM SABE<br />
QUANTO PESA A RODA DO LEME.<br />
Um depoimento do Eng. Pedro martins Pereira, sócio gerente da Larus em 22/06/2009<br />
Suscitado por AV<br />
Um problema inquietante será<br />
sem dúvida a baixa competiti‑<br />
vidade das empresas portugue‑<br />
sas. Ou seja, parece que, em<br />
geral, os nossos custos são mais elevados do<br />
que os dos nossos concorrentes estrangeiros.<br />
E, se calhar, também nos movimentamos pior<br />
na área comercial porque muitos dos nossos<br />
empresários não sabem línguas, por exemplo,<br />
nem terão um suficiente conhecimento das<br />
ferramentas do Marketing. Por outro lado,<br />
será que os empresários não fazem tudo o que<br />
podem para se diferenciar?<br />
Quer fazer o favor de me ajudar a compreen‑<br />
der esta realidade?<br />
Quando nos comparamos com concorrentes<br />
europeus, temos custos individuais, de mão‑<br />
de‑obra, de matérias‑primas, de aquisição de<br />
equipamentos, que não são superiores aos<br />
deles e por vezes são mesmo inferiores, como<br />
sabemos. Passados alguns anos, lembro‑me<br />
de um programa da televisão alemã, que tra‑<br />
tava problemas de lay‑out e de organização<br />
de empresas. As soluções encontradas, eram<br />
consequência da análise e discussão entre os<br />
participantes, recrutados entre colaboradores<br />
da empresa e consultores externos. Um dia,<br />
um empresário que via o programa comigo,<br />
não escondia o enfado. Dizia: “isto é tudo tão<br />
lógico, tão primário. Não vejo qual o interesse<br />
em perder tempo com um programa destes”.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 25
coluna de iluminação 17 graus_Francisco Providência<br />
Pois é, entretanto a empresa que tinha, já faliu.<br />
Não encontrou solução para os seus cons‑<br />
trangimentos. E, frequentemente, a solução é<br />
muito simples. Só que não aparece por si só.<br />
Quando se discute a Marca Portugal, tenta‑<br />
mos, seja por vício, por inércia ou incompe‑<br />
tência, copiar a Marca Espanha, porque esta<br />
tem sucesso. Realmente, temos vendido uma<br />
imagem de ruralidade/primitivismo (carros de<br />
bois, pesca artesanal, aldeia do interior, fado),<br />
de identidade frágil. Num teste “cego”, pedido<br />
a compradores estrangeiros, verificou‑se que a<br />
venda de calçado é penalizada em 30% por ser<br />
de fabrico português. Para definir como deve‑<br />
mos ser percebidos e promovidos, um amigo,<br />
o Francisco Providência, designer, entende que<br />
devemos pesquisar os argumentos coordena‑<br />
dos das nossas actividades, os conceitos que<br />
26 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
generalizem as nossas capacidades. Numa cor‑<br />
recta interpretação, conclui que “sempre fomos<br />
especialistas em estabelecer relações”. Fomos o<br />
primeiro país ocidental a se relacionar com o<br />
Oriente. A Itália falsificava moeda portuguesa<br />
para manter relações comerciais com a China.<br />
Por se encontrarem de relações diplomáticas<br />
cortadas, no séc. XVII, o comércio entre o<br />
Japão e a China era feito pelos portugueses,<br />
com margens de intermediação que chegavam<br />
aos 800%!...<br />
Ou seja, temos condições para naturalmente<br />
nos movimentarmos bem na área comercial,<br />
mas não aprendemos línguas, nem nos sensi‑<br />
bilizamos para as ferramentas do marketing,<br />
embora estas cada vez mais entrem no conhe‑<br />
cimento generalizado. Outro amigo, o Dr.<br />
Almor Viegas, dizia‑me há algum tempo que<br />
“daqui a vinte anos, não se ensina marketing,<br />
da mesma forma como não se ensina a respi‑<br />
rar nas faculdades de medicina!...” Mas existe<br />
aqui ainda o peso da falta de instrução. Lem‑<br />
bremo‑nos de que o ensino só se generalizou<br />
há muito poucas décadas.<br />
A diferenciação abre uma brecha por onde a<br />
empresa encontra o seu rumo, no meio de<br />
tanta concorrência. Quem não a procura,<br />
tenta valer‑se de outros recursos, provavel‑<br />
mente menos consistentes ou até menos<br />
claros. Mas a diferenciação é um processo per‑<br />
manente. <strong>É</strong> quase um estado de espírito. E é<br />
preciso desenvolver esse espírito.<br />
Ouve‑se dizer, a cada passo, que há muitos<br />
licenciados e bacharéis desempregados. E já<br />
não falo dos que se prepararam para serem
professores. Falo dos outros, engenheiros de<br />
todas as áreas, juristas, contabilistas, gestores e<br />
economistas, até mesmo especialistas de rela‑<br />
ções internacionais.<br />
Ora eu sei, pelo que tenho lido, que em Por‑<br />
tugal há muito menos licenciados e bacharéis<br />
nas empresas do que na França ou na Alema‑<br />
nha. Então, há aqui uma situação que não<br />
compreendo muito bem: há muitos licencia‑<br />
dos desempregados e, ao mesmo tempo, as<br />
empresas têm poucos licenciados ao seu ser‑<br />
viço. Menos do que nos outros países, cujas<br />
empresas são, em princípio, mais competiti‑<br />
vas. Acho que me falta saber qualquer coisa<br />
verdadeiramente importante para poder com‑<br />
preender esta situação.<br />
Pode partilhar comigo um pouco da sua<br />
experiência?<br />
Creio que frequentemente o empresário não<br />
aposta em licenciados ou bacharéis, por não<br />
possuir formação superior, nem ser sensível a<br />
ela. Outras razões, têm a ver com a formação<br />
de uma parte razoável dos nossos licenciados<br />
e bacharéis, que se candidatam a emprego.<br />
Sinto a Universidade como estando frequen‑<br />
temente dissociada da realidade empresarial,<br />
funcionando como um mundo à parte. Por<br />
vezes com uma postura de cátedra, olham<br />
de soslaio, displicentemente, cá para baixo.<br />
Outras vezes a formação é enganadora, até<br />
para os próprios formandos, mal prepara‑<br />
dos, com cursos desadequados da realidade<br />
do mundo do trabalho. Outras vezes, são as<br />
dificuldades financeiras e de acesso ao crédito,<br />
que impedem o recurso a profissionais mais<br />
bem remunerados.<br />
Outros cursos são exigentes, bem formata‑<br />
dos. Assim como muitos alunos, pelas suas<br />
próprias qualidades e empenho, desenvolvem<br />
capacidades que fazem deles profissionais<br />
excelentes. A empresa que criei, tem aproxi‑<br />
madamente tantos colaboradores na produ‑<br />
ção, quantos os que se ocupam de tarefas de<br />
desenvolvimento, de promoção, de organiza‑<br />
ção, enfim, não produtivas, dos quais mais de<br />
60% são licenciados ou bacharéis. E não nos<br />
está a faltar trabalho!...<br />
Anda toda a gente preocupada com aquilo a<br />
que se chama mudança.<br />
Por mim, confesso que nem sei muito bem<br />
de que mudança se trata. O que é que se quer<br />
mudar? Em que sentido se quer mudar? A<br />
mudança é uma moda ou temos mesmo de<br />
mudar qualquer coisa de profundo no nosso<br />
modo de ser e de estar ou deveríamos antes<br />
tentar ir corrigindo o que está mal e preservar<br />
o que está bem? Ou seja, se é preciso mudar,<br />
é para mudar mesmo ou para ir mudando? …<br />
dissuasor vesúvio_Alcino Soutinho
anco e estacionamento linha rua_Carvalho de Araújo<br />
Sujeitos aos desafios da globalização e das<br />
insistentes travessuras do mundo difuso dos<br />
interesses financeiros, não nos resta tempo<br />
para “ir mudando”. Quem ainda não mudou,<br />
tem de mudar e já! Aliás, a mudança tem de<br />
ser permanente, a evolução tem de se tornar<br />
uma prática. Quem não o fizer, ficará para<br />
trás, perdendo o que obteve e qualidade de<br />
vida que adquiriu. O que estamos a fazer, tem<br />
de ser sistematicamente questionado. Esta<br />
postura é desejável, envolvendo toda a estru‑<br />
tura humana da empresa, na defesa de uma<br />
filosofia comum, inteligentemente pensada,<br />
discutida, transmitida e assumida. <strong>É</strong> a postura<br />
saudável. Envolve o conhecimento do mer‑<br />
cado, da concorrência, da envolvente, das nos‑<br />
sas características, das nossas potencialidades<br />
28 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
e da nossa capacidade para conseguir atingir<br />
aquilo que nos suplanta e que nos surpreende.<br />
Os trabalhadores e os quadros da Larus têm<br />
sido chamados a frequentar acções de for‑<br />
mação? Em que áreas? Que avaliação faz dos<br />
resultados da formação que disponibiliza‑<br />
ram? Os trabalhadores implicados consideram<br />
terem saído beneficiados? Notou diferenças<br />
positivas no desempenho dos trabalhadores<br />
que frequentaram a formação?<br />
As acções de formação incidem sobre diversas<br />
áreas. As mais elementares, embora não menos<br />
importantes, são efectuadas com maior frequên‑<br />
cia. Outras, debruçam‑se sobre todos os secto‑<br />
res específicos da empresa e vão‑se repetindo,<br />
banco individual linha rua_Carvalho de Araújo
anco linha serralves_Siza Vieira<br />
normalmente imbuídas de alguma evolução.<br />
De tempos em tempos, outras acções de forma‑<br />
ção com um carácter mais estratégico, envolvem<br />
auditorias, influenciam níveis de decisão mais<br />
elevados, orientando a empresa para a tomada<br />
de decisões com vista ao seu futuro.<br />
Acreditando que a formação é uma necessi‑<br />
dade, há alguns anos era necessário motivar<br />
alguns colaboradores das virtudes da forma‑<br />
ção. Situação que já não se verifica, sendo<br />
identificadas estas intervenções como forma<br />
de valorização pessoal. Frequentemente ao<br />
nível dos quadros, a adesão ganha ainda outro<br />
fôlego. Em qualquer dos casos, a formação é<br />
entendida como fazendo parte de uma evolu‑<br />
ção natural. Curioso, foi um acontecimento<br />
recente. Visitados por um novo representante<br />
da Larus num país da Europa central, este<br />
observou acreditar na capacidade da Larus<br />
para se internacionalizar, ao constatar que<br />
um terço da empresa estava envolvido numa<br />
acção de formação em espanhol.<br />
<strong>É</strong> forçoso abordar a crise. Para lhe pôr uma<br />
questão concreta porque já vamos estando far‑<br />
tos de analistas e comentadores: Se lhe pedissem<br />
para escrever um manual de sobrevivência<br />
em tempo de crise destinado aos industriais<br />
de todos os ramos de Portugal, quais seriam os<br />
títulos dos seis principais capítulos?<br />
Manual de sobrevivência em tempo de<br />
crise:<br />
1. A necessidade aguça o engenho;<br />
2. Uma análise swot por cada<br />
departamento;<br />
3. Mitigar a ameaça, exponenciar a<br />
oportunidade;<br />
4. Estabelecer um rumo e um plano;<br />
5. Adequar as necessidades aos recursos;<br />
6. Tomar decisões e implementá‑las.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 29
papeleira linha serralves_Siza Vieira estacionamento contínuo_Pedro martins Pereira<br />
Currículo de Pedro Martins<br />
Pereira<br />
1. identificação<br />
Pedro Manuel de Oliveira Martins<br />
Pereira<br />
Nascimento<br />
15 de Janeiro de 1952<br />
2. habilitações académicas<br />
1977 – Licenciatura em Engenharia<br />
Metalúrgica, pela Faculdade de<br />
Engenharia da Universidade do<br />
Porto.<br />
3. outras habilitações<br />
1979‑80 – Curso de Formação de<br />
Oficiais da Reserva Naval (cforn)<br />
– Oficial de Navegação.<br />
1985 – Participação no 1º Projecto<br />
JEEP – Jovens Empresários de<br />
Elevado Potencial, criado e finan‑<br />
ciado pelo BPA‑Banco Português o<br />
Atlântico a partir de uma ideia do<br />
Dr. Miguel Cadilhe, então Direc‑<br />
tor do seu Gabinete de Estudos.<br />
O Projecto beneficiou dos apoios<br />
institucionais da Secretaria e<br />
Estado do Emprego, da Associação<br />
Industrial Portuense e da flad –<br />
Fundação Luso‑Americana para o<br />
Desenvolvimento.<br />
30 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
– Participação no Projecto Pinova<br />
(Gestão Estratégica, Recursos<br />
Humanos, Análise Financeira e<br />
Gestão da Produção), promovido<br />
pela Formédia, com orientação<br />
pedagógica do Dr. Eduardo Cruz e<br />
coordenação do Dr. Almor Viegas.<br />
2003 – Participação no Projecto<br />
pme – Indústria, promovido pela<br />
aep, com a colaboração da aida –<br />
Associação Industrial do Distrito<br />
de Aveiro.<br />
4. experiência profissional<br />
1977‑78 – Chefe do Departa‑<br />
mento de Fundição das Fábricas<br />
Metalúrgicas alba.<br />
1977‑79 – Vogal do Conselho<br />
Fiscal da aimmn – Associação dos<br />
industriais Metalúrgicos e Meta‑<br />
lomecânicos do Norte (posterior‑<br />
mente aimmap).<br />
1979‑80 – Oficial Adjunto do<br />
Comando da Zona Marítima do<br />
Norte.<br />
– Oficial de Ligação a Unidades<br />
Navais Estrangeiras.<br />
1981‑89 – Director Técnico das<br />
Fábricas Metalúrgicas alba.<br />
1983‑84 – Membro da Comissão<br />
Técnica de Normalização das<br />
Tampas de Saneamento, CT‑48.<br />
1988‑05 – Fundador e Sócio‑<br />
Gerente da empresa larus‑Artigos<br />
para Construção e Equipamentos,<br />
Lda., que se dedica ao projecto,<br />
fabrico e comercialização de mobi‑<br />
liário urbano.<br />
2003‑05 – Fundador e Admi‑<br />
nistrador da empresa Metalurgia<br />
e Fundição metafalb, s.a., que<br />
adquiriu as Fábricas Metalúrgicas<br />
alba, dedicando‑se à produção<br />
de peças e equipamentos em ferro<br />
fundido, aços ligados e não ferro‑<br />
sos, obtidos por moldação em areia<br />
verde e auto‑secativa.<br />
2009 – Fundador e gerente da<br />
empresa projectoalba, que recu‑<br />
pera a marca alba e os seus produ‑<br />
tos de catálogo.<br />
5. distinções<br />
1985 – Finalista Aprovado no 1.º<br />
projecto jeep – Jovens Empresários<br />
de Elevado Potencial.<br />
1991 – Prémio Nacional de<br />
Design de Mobiliário Metálico.<br />
1993 – Atribuição de 5 Selos de<br />
Design (Prémios de Produto), à<br />
empresa larus, pelo Centro Portu‑<br />
guês de Design.<br />
1994 – Nomeação da empresa<br />
larus para Representar Portugal<br />
no Prémio Europeu de Design ’94.<br />
2000 – Prémio Nacional de<br />
Design ’98‑99, atribuído à<br />
empresa larus, pela Gestão Global<br />
do Design, envolvendo o Design de<br />
Produto, o Design de Comunica‑<br />
ção e o Design de Ambientes.<br />
– Prémio Nacional de Design<br />
de Produto ’98‑99, atribuído à<br />
empresa larus, pela produção do<br />
Sistema de Sinalética e Comunica‑<br />
ção da expo ’98.<br />
2003 – Participação na equipa<br />
vencedora do Concurso de Sina‑<br />
lética para as Cidades Polis, junta‑<br />
mente com os designers Henrique<br />
Cayatte e Filipe Alarcão.<br />
2007 – Com a larus, é distin‑<br />
guido no dme Award, Prémio<br />
Europeu de Gestão de Design.<br />
Igualmente os seus produtos são<br />
escolhidos pelo hall of fame,<br />
selecção de peças de design de todo<br />
o mundo.<br />
2008 – A larus obtém um red<br />
dot, prémio internacional de<br />
design, na Alemanha.
TRANSVERSALIDADES<br />
“...QUEM SÓ SABE DE MEDICINA,<br />
NEM DE MEDICINA SABE”<br />
Prof. Abel Salazar
Constrangimentos do Desenvolvimento Português<br />
<strong>É</strong><br />
baixa a escolaridade dos portu‑<br />
gueses que povoam as empresas,<br />
expressa no número de activos<br />
que não dispõem de mais do que<br />
o nível básico, no ainda excessivo resto de<br />
analfabetos integrais, no carácter excepcional<br />
da presença de titulares de cursos superiores<br />
aplicados nas actividades produtivas em parti‑<br />
cular nas pme, coexistindo com um volumoso<br />
contingente de recém licenciados desocupados<br />
e nas dificuldades que experimentam para<br />
contratar estágios de que as empresas e eles pró‑<br />
prios pudessem colher os desejáveis benefícios.<br />
Para ter uma noção mais próxima da realidade,<br />
deverá acrescentar‑se a situação que justificou<br />
o alerta lançado pela unesco acerca do analfa‑<br />
betismo funcional de largas camadas da popu‑<br />
lação portuguesa que, em Portugal, era suposto<br />
saberem ler mas que, mesmo quando frequen‑<br />
taram a escola e venceram nos exames, nunca<br />
mais ou só raramente usam tal competência e<br />
vivem como se a não tivessem. Pesem embora<br />
alguns exemplos que se vêm afirmando, não<br />
ficará sem uma nota de reparo a extrema<br />
dificuldade em que a Escola se vê, entre nós,<br />
para se aproximar das empresas. Trata‑se de<br />
um bloqueamento que assenta, a nosso ver,<br />
1 A partir de: Viegas, Almor, a formação dos empresá‑<br />
rios, factor essencial de competitividade das pme,<br />
Dissertação de Mestrado em Supervisão da Formação<br />
Profissional, Universidade de Aveiro,1998.<br />
32 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
O ANALFABETISMO<br />
PERSISTENTE 1<br />
em três pontos: por um lado, a falta de auto<br />
confiança dos empresários nas suas próprias<br />
capacidades e na capacidade das suas empre‑<br />
sas para integrar novos saberes, novas compe‑<br />
tências que, em vez de fazer perigar o estatuto<br />
de que beneficiam, lhes dariam consistência;<br />
por outro, a circunstância de o saber ensinado<br />
na Escola estar muitas vezes voltado para a<br />
necessidade de dominar o conhecimento, sem<br />
a preocupação de o usar para resolver proble‑<br />
mas e formular questões – a rentabilização dos<br />
saberes é, em geral, um ponto em aberto nas<br />
nossas unidades produtivas; por fim, o uso<br />
que, em geral, os professores fazem do esta‑<br />
tuto social de que beneficiam (por muito que<br />
se diga em contrário…) não facilita a aproxi‑<br />
mação às empresas. Propendemos a acreditar<br />
que consideram a actividade empresarial como<br />
um factor de desvalorização da sua carreira<br />
docente quando, efectivamente, esta só pode‑<br />
ria beneficiar do confronto do professor com a<br />
multiplicidade de problemas e situações que a<br />
realidade da empresa lhe proporcionaria. Com<br />
óbvio proveito próprio, dos alunos, da escola,<br />
… do País. Porque, tome‑se como uma ver‑<br />
dade axiomática, o verbo aprender não admite<br />
imperativo: só aprende quem está disposto a<br />
aprender. Para conquistar essa disponibili‑<br />
dade dos alunos ou da maior parte dos alu‑<br />
nos, é necessário que, para lá do domínio dos
conteúdos stricto sensu, o professor exprima o<br />
seu empenhamento na importância do conhe‑<br />
cimento a transmitir, colocando‑o no plano do<br />
entendível e do aplicável. Não podem faltar‑<br />
lhe, nesses momentos essenciais, os exemplos<br />
conhecidos – sobretudo os vividos – e a artistry<br />
de que falava Donald Schön. Esta artistry, esta<br />
capacidade de prender e segurar a atenção e<br />
o interesse dos participantes no processo de<br />
aprendizagem, torna‑se poderosamente eficaz e<br />
contagiante, se assenta em narrativas de factos<br />
e situações próximas, vividas por pessoas reais.<br />
Os exemplos compendiais da coca‑cola, da<br />
ibm, da gm ou de qualquer outra grande e dis‑<br />
tante organização, despertam menos interesse<br />
que os episódios da Bíblia, sobretudo se estes<br />
forem comentados … com artistry.<br />
Mas, para lá de tudo, a escola de que falamos<br />
sempre com o entusiasmo dos fieis, dos que<br />
acreditam no seu poder transformador, não foi<br />
sempre olhada com os olhos com que a vemos.<br />
São elucidativas as posições públicas assumi‑<br />
das por algumas personalidades relevantes<br />
da vida portuguesa no período que vai de<br />
1926/27 a 1974 – 48 anos, quase meio século!<br />
– que, pela sua condição e pelo contexto polí‑<br />
tico que envolveu toda a acção, emprestou a<br />
tais opiniões um carácter orientador impe‑<br />
rativo relativamente à Escola em geral e aos<br />
perigos e ameaças que, segundo elas, a instru‑<br />
ção transportava.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 33
34 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
Citam‑se a seguir algumas destas posições<br />
públicas, subscritas por pessoas que assumi‑<br />
ram por essa forma uma responsabilidade his‑<br />
tórica difícil de apagar. Julgamos ser de grande<br />
utilidade conhecer esta realidade para que se<br />
possa ter consciência da dimensão da tarefa<br />
que todos temos pela frente se, como é for‑<br />
çoso, quisermos contribuir para a construção<br />
de um País moderno e progressista, capaci‑<br />
tado para dar satisfação aos mais que legítimos<br />
anseios das pessoas.<br />
“A população escolar pode e deve dividir‑se em<br />
cinco grupos, a saber:<br />
1.° Ineducáveis 8 %<br />
2.° Normais estúpidos 15%<br />
3.° Inteligência média 60%<br />
4.° Inteligência superior 15 %<br />
5.° Notáveis 2 %”<br />
Tamagnini, E. (1934). Citado por Cortesão,<br />
L. (1982) Educação, Sociedade – Que Relação?<br />
Porto: Ed. Afrontamento<br />
“Deve‑se ensinar o povo a ler? [...] sabendo ler e<br />
escrever, nascem‑lhes ambições: querem ir para as<br />
cidades ser marçanos, caixeiros, senhores; querem<br />
ir para o Brasil. Aprenderam a ler! Que lêem?<br />
Relações de crimes; noções erradas de política;<br />
livros maus; folhetos de propaganda subversiva.<br />
Largam a enxada, desinteressam‑se da terra e só<br />
têm uma ambição: serem empregados públicos.<br />
Que vantagens foram buscar à escola? Nenhu‑<br />
mas. Nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os<br />
que esquecem e voltam à enxada. A parte mais<br />
linda, mais forte e mais saudável da alma portu‑<br />
guesa reside [nos] 75% de analfabetos. “<br />
Virgínia de Castro e Almeida, in O Século,<br />
5 de Fevereiro de 1927,<br />
in Mónica, M.F. (1978) Educação e Sociedade no<br />
Portugal de Salazar. Lisboa: Editorial Presença
“O ensino primário elementar trairia a sua mis‑<br />
são se continuasse a sobrepor um estéril enciclo‑<br />
pedismo racionalista, fatal para a saúde moral<br />
e física da criança, ao ideal prático e cristão de<br />
ensinar bem a ler, escrever e contar e a exercer<br />
as virtudes morais e um vivo amor a Portugal.”<br />
DL 27 279, de 24 de Novembro de 1936,<br />
in Nóvoa, A. (1992) A Educação Nacional 11<br />
in AA VV (1992) Nova História de Portugal.<br />
Portugal e o Estado Novo (1930 – 1960).<br />
Lisboa: Presença<br />
O prisma pelo qual o Estado Novo via a<br />
criança teve, como é óbvio, implicações no<br />
processo educacional, que se tornou essencial‑<br />
mente repressivo. Em 1931, na inauguração<br />
do X Congresso de Protecção à Criança, o<br />
então Ministro da Justiça definia a educação<br />
nos seguintes termos:<br />
“Educar é sempre torcer, podar,<br />
cortar, contrariar, esmagar!”<br />
Outro importante adepto do Estado Novo,<br />
Cunha Gonçalves, perfilhava as mesmas<br />
ideias:<br />
“Assim como se modificam as plantas pela cul‑<br />
tura, sendo preciso regá‑1as, podá‑las, adubá‑<br />
las, especá‑las para lhes endireitar o caule, e<br />
dar‑lhes resistência contra os impulsos do<br />
vento, guiar‑lhes e torcer‑lhes os ramos que<br />
seguem em má direcção,”<br />
In Mónica, M.F. (1978) Educação e<br />
Sociedade no Portugal de Salazar. Lisboa:<br />
Editorial Presença<br />
“O ferreiro quer o filho médico; o alfaiate quer<br />
o filho matemático; o carcereiro quer o filho Juiz<br />
do Supremo; a operária quer a filha formada em<br />
letras;<br />
Se está certíssimo que os dotados com real talento,<br />
provenham de onde provierem, queiram atingir<br />
a aristocracia e supremacia mental no seu país,<br />
está erradíssimo que as facilidades de instrução<br />
aproveitadas por quem, por mera estultícia ou<br />
desmesurada ambição, se não resigna às profis‑<br />
sões menos exigentes, mais modestas, mas uti‑<br />
líssimas e nobres, as únicas, em todo o caso, a<br />
condizerem com as suas aptidões naturais (…)”.<br />
Relatório em que se baseia o Dec. 14 900<br />
de 16 de Janeiro de 1928<br />
“Foi o querer saber que fez o homem pecar …<br />
Insisto: não preconizo o analfabetismo sistemá‑<br />
tico; digo que a Instrução é um instrumento peri‑<br />
goso que não pode andar em todas as mãos. Como<br />
um explosivo. Como um veneno. Só num carácter<br />
são ela é útil, ou pelo menos inofensiva. …”<br />
Alfredo Pimenta, 1927<br />
“Uma criança inteligente filha de um operário<br />
hábil e honesto, pode na profissão de seu pai ser<br />
um trabalhador exímio, progressivo e apreciado,<br />
pode chegar a fazer parte do escol da sua pro‑<br />
fissão e assim deve ser. Na mecânica da escola<br />
única, seleccionado pelo professor primário para<br />
estudar ciências para as quais o seu espírito não<br />
tem a mesma preparação hereditária que tem<br />
para o ofício, não passará nunca de um medíocre<br />
intelectual.”<br />
Marcelo Caetano, num artigo de A Voz,<br />
de 26 de Janeiro de 1928<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 35
36 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
Não se trata de frases, ditas por graça, tro‑<br />
cadas entre amigos à mesa do café. Tiveram<br />
consequências ainda hoje sentidas, inspiraram<br />
políticas e comportamentos, impregnaram o<br />
tecido social.<br />
Muitas outras citações poderiam ser feitas se<br />
não soubéssemos que as que aí ficam chegam<br />
e sobram para nos alertar e fazer compreen‑<br />
der que estamos perante uma tarefa enorme –<br />
ciclópica, já agora, como lhe chamaria o Prof.<br />
Marcelo Caetano. E, sobretudo, uma tarefa<br />
que ninguém realizará por nós.<br />
Os efeitos de tais orientações exigirão muitas<br />
dezenas de anos para serem definitivamente<br />
erradicados. E só serão vencidos e não se eter‑<br />
nizarão contaminando as novas gerações se<br />
tivermos coragem e determinação suficientes<br />
para levar o combate até ao fim. Empresários e<br />
trabalhadores, políticos e intelectuais, a Escola<br />
e a Empresa, são actores, encenadores e palcos<br />
com quem e onde se representará a peça essen‑<br />
cial da nossa vida colectiva no futuro.<br />
Almor Viegas
FERNANDO<br />
PESSOA<br />
PRECEITOS PRÁTICOS Generalidades<br />
Agora, que tanto se fala de oportunidades, vale a pena pensar um<br />
pouco e adquirir a certeza de que, pelo menos as boas, não caem<br />
do céu…<br />
Fernando Pessoa alertava para esta verdade no n.º 4 da Revista de Contabilidade e<br />
Comércio. Nos anos vinte do século passado.<br />
O primeiro passo para uma regeneração, económica ou outra, de<br />
Portugal é criarmos um estado de espírito de confiança – mais, de<br />
certeza – nessa regeneração<br />
Uma reflexão de Fernando Pessoa publicada no n.º 6 da Revista de Contabilidade e<br />
Comércio há mais de oitenta anos, ainda não perdeu a actualidade.<br />
Pode dizer ‑se sem exagero mais que verbal, que<br />
temos duas espécies de pais: os nossos pais pro‑<br />
priamente ditos, a quem devemos o ser físico e<br />
a base hereditária do nosso temperamento; e,<br />
depois, o meio em que vivemos, e o conceito<br />
que formamos de nós próprios – mãe e pai,<br />
por assim dizer, do nosso ser mental definitivo.<br />
Se um homem criar o hábito de se julgar inte‑<br />
ligente, não obterá com isso, é certo, um grau<br />
de inteligência que não tem; mas fará mais<br />
da inteligência que tem do que se se julgar<br />
estúpido. E isto, que se dá num caso inte‑<br />
lectual, mais marcadamente se dá num caso<br />
moral, pois a plasticidade das nossas qualida‑<br />
des morais é muito mais acentuada que a das<br />
faculdades da nossa mente.<br />
Ora, ordinariamente, o que é verdade da psi‑<br />
cologia individual – abstraindo daqueles fenó‑<br />
menos que são exclusivamente individuais<br />
– é também verdade da psicologia colectiva.<br />
Uma nação que habitualmente pense mal de<br />
si mesma, acabará por merecer o conceito de<br />
si que anteformou. Envenena ‑se mentalmente.<br />
O primeiro passo para uma regeneração, eco‑<br />
nómica ou outra, de Portugal é criarmos um<br />
estado de espírito de confiança – mais, de cer‑<br />
teza – nessa regeneração. Não se diga que “os<br />
factos” provam o contrário. Os factos provam<br />
o que quer o raciocinador. Nem, propria‑<br />
mente, existem factos, mas apenas impressões<br />
nossas, a que damos, por conveniência aquele<br />
nome. Mas haja ou não factos, o que é certo é<br />
que não existe ciência social – ou pelo menos<br />
não existe ainda. E como assim é, tanto pode‑<br />
mos crer que nos regeneraremos, como crer o<br />
contrário. Se temos, pois, a liberdade de esco‑<br />
lha, porque não escolher a atitude mental que<br />
nos é mais favorável, em vez daquela que nos<br />
é menos?<br />
Uma das palavras que mais maltratadas têm<br />
sido, no entendimento que há delas, é a<br />
Caricatura de João Abel manta ‑ Publicação gentilmente autorizada<br />
pela Câmara municipal de Lisboa museu da Cidade<br />
palavra oportunidade. Julgam muitos que<br />
por oportunidade se entende um presente ou<br />
favor do Destino, análogo a oferecerem ‑nos o<br />
bilhete que há ‑de ter a sorte grande. Algumas<br />
vezes assim é. Na realidade quotidiana, porém,<br />
oportunidade não quer dizer isto, nem o apro‑<br />
veitar dela significa o simplesmente aceitá ‑la.<br />
Oportunidade, para o homem consciente e<br />
prático, é aquele fenómeno exterior que pode<br />
ser transformado em consequências vantajo‑<br />
sas por meio de um isolamento nele, pela inte‑<br />
ligência, de certo elemento ou elementos, e a<br />
coordenação, pela vontade, da utilização desse<br />
ou desses. Tudo mais é herdar do tio brasileiro<br />
ou não estar onde caiu a granada.<br />
In Fernando Pessoa – O Comércio e a<br />
Publicidade,<br />
Organização, introdução e notas<br />
de António Mega Ferreira,<br />
Cinevoz/Lusomedia, 1986<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 37
O CONTRIBUTO<br />
DAS CRISES <strong>PARA</strong><br />
Há muitas formas de abordar a<br />
crise, sendo certo que a quem<br />
o faz é atribuído normal‑<br />
mente o rótulo de “optimista”<br />
ou “pessimista”, conforme as conclusões se<br />
enquadram ou não na lógica do que é politi‑<br />
camente correcto ou até do formalmente ade‑<br />
quado a que se aliviem as tensões geradas por<br />
qualquer crise.<br />
Começando pelo fim, prefiro desde já dizer<br />
que sou dos optimistas quanto à recuperação<br />
nacional, ... se ...<br />
O diagnóstico está feito, e situa‑se normal‑<br />
mente no âmbito das questões de confiança<br />
que são as mais difíceis de combater, por<br />
demorar anos e gerações até que se ultrapassem<br />
os traumas que ficam da turbulência vivida.<br />
Daqui por 40 ou 50 anos, há‑de dizer‑se que<br />
estamos de novo perante uma crise financeira<br />
38 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
A CRISE<br />
José L Sequeira<br />
Presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Cerâmica<br />
internacional grave, talvez mais grave que a de<br />
2009 ... !!!<br />
Do meu ponto de vista, receio bem que todo<br />
o esforço que de boa fé (supostamente...) tem<br />
sido feito para ultrapassar as dificuldades do<br />
momento, produza um efeito nulo, já que se<br />
por um lado estamos a injectar doses maciças<br />
de uma terapêutica chamada dinheiro, teori‑<br />
camente adequada a combater a enfermidade,<br />
continuamos por outro lado a estar expostos<br />
aos mesmos agentes maléficos que nos condu‑<br />
ziram a esta situação.<br />
<strong>É</strong> caso para dizer que estamos a querer curar o<br />
mal com o veneno que o provocou !<br />
Creio a este propósito que ... o mundo está do<br />
avesso, e as raízes que o viraram continuam<br />
firmes, sadias e intocáveis.<br />
Vejamos.<br />
Tenho para mim que o que provocou a crise,<br />
não foram tanto as fraudes financeiras, nem<br />
o crash do imobiliário, já que a montante des‑<br />
tas anomalias está o vício de linguagem mas<br />
sobretudo de raciocínio, associado à mensa‑<br />
gem que continua a fazer‑se passar de que as<br />
ameaças se combatem com as oportunidades.<br />
De facto e em boa verdade, julgo que foi exac‑<br />
tamente isso que começou a desenhar‑se há<br />
alguns anos, com o resultado que hoje nos<br />
constrange !<br />
Quem sentiu as ameaças ou vislumbrou as<br />
oportunidades, agiu em conformidade com<br />
uma linha natural de sedução, em que a<br />
opção pelas oportunidades é seguramente<br />
mais razoável e aliciante.<br />
Por isso alguém aproveitou essas oportuni‑<br />
dades e as desenvolveu, alguém iniciou um<br />
percurso sem retorno, sendo que a partir de
dada altura deixou de poder controlar a situ‑<br />
ação que criou, momento em que passou a<br />
ter que alimentar e sustentar o “vício”, mesmo<br />
que há custa do património de confiança que<br />
eventualmente construiu.<br />
Esta era a ameaça que ninguém quis prever, e o<br />
resultado que ninguém se importou de prevenir.<br />
O erro desta lógica, é que não são as ameaças<br />
que suscitam as oportunidades, mas sim o uso<br />
e abuso das oportunidades que sempre exis‑<br />
tem, sem obrigar a uma ponderação quanto<br />
aos riscos e às ameaças que delas decorrem. E<br />
de facto, na prática, ninguém se preocupou<br />
em antecipar as ameaças, em adivinhar‑lhe os<br />
contornos e em refrear‑lhe os excessos.<br />
Por isso, todos agora se queixam dos Regu‑<br />
ladores, ainda que quem agiu com defeito ou<br />
com má fé, ... apenas se tivesse limitado a<br />
aproveitar oportunidades... !!!<br />
Certo é que no entanto e apesar disso, a<br />
legenda que prevalece e a análise convencional<br />
continua a ser a das ameaças vs. oportunida‑<br />
des, deixando que estas cresçam e se desen‑<br />
volvam, mesmo que feridas de enfermidade<br />
congénita, não visível e não detectada em<br />
tempo útil !<br />
Noutra área bem diferente mas igualmente<br />
sensível e importante, aquilo que parecem ser<br />
questões de natureza semântica, acabam por<br />
traduzir princípios e comportamentos que a<br />
realidade dos nossos dias já não comporta.<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 39
Refiro‑me ao Ensino, quando em boa verdade<br />
a nossa grande preocupação deverá estar na<br />
Aprendizagem.<br />
De facto, os estabelecimentos ditos de ensino<br />
já não cumprem esta missão, porque rara‑<br />
mente se ensina alguma coisa a alguém. Certo<br />
é que todos temos que aprender, ou melhor<br />
dizendo, ir aprendendo, nomeadamente os<br />
professores com os alunos, cabendo aos pri‑<br />
meiros o nobre e necessário papel de ajudar<br />
os alunos a aprender, com o compromisso de<br />
que é essencial uma postura que passará sem‑<br />
pre pelo respeito comum, enfim, pelo respeito<br />
pelas pessoas.<br />
Se assim for como me parece que é, perde sen‑<br />
tido a existência de duas frentes – professores<br />
e alunos , tornando‑se a escola num espaço<br />
de trabalho em que o PODER de ensinar se<br />
converte em OBRIGAçãO de aprender para<br />
todos.<br />
Por isso, perdemo‑nos em reformas do ensino,<br />
discutimos as avaliações de um ou de outro<br />
lado, questionamos o papel de cada um neste<br />
emaranhado de responsabilidades, que nin‑<br />
guém quer nem pode assumir por inteiro.<br />
Enquanto o papel do professor continuar<br />
a ser o de ensinar e o dos alunos o papel de<br />
40 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
aprender, o desgaste será crescente e o resul‑<br />
tado continuará a não servir.<br />
De resto, é um pouco assim também na<br />
saúde e na justiça, sendo certo que os visa‑<br />
dos só se apercebem das não conformidades<br />
do sistema, quando os médicos passam a<br />
doentes, ou quando os magistrados passam<br />
a arguidos.<br />
Uma terceira vertente em que estamos vira‑<br />
dos do avesso é a de que, por falta de uma cul‑<br />
tura aprendida e praticada aos vários níveis, a<br />
cooperação é muitas vezes apresentada como<br />
um mal necessário, justificado sobretudo por<br />
razões de defesa, o que nos faz concluir que a<br />
ela devemos recorrer quando for necessário.<br />
Daí, supostamente, a sua maior pertinência<br />
quando estamos em crise, e a mais valia do<br />
seu reconhecimento quando as dificuldades se<br />
generalizam.<br />
Na prática porém, as crises proporcionam<br />
muitas vezes intenções e práticas de poder,<br />
atributo com o qual sentimos tendência para<br />
não cooperar, receando por ventura que qual‑<br />
quer eventual “cooperante” venha a ser um<br />
potencial concorrente, que possa prejudicar o<br />
bem estar de cada um, a estabilidade do seu<br />
emprego, ou a ofensa do poder que exerce por<br />
vezes com duvidosa legitimidade.<br />
Posto isto, penso que poderemos construir<br />
uma fórmula nova que passa por cooperar para<br />
uma aprendizagem comum, que nos faça iden‑<br />
tificar e prevenir as ameaças, que resultam das<br />
oportunidades que criamos ou nos são criadas.<br />
Sou optimista afinal, por reconhecer que<br />
temos nesta fórmula uma banda de compor‑<br />
tamentos demasiado larga para crescimento, a<br />
qual pode e deve ser utilizada para reganhar‑<br />
mos o que não temos, e atingirmos os pata‑<br />
mares de modernidade e competitividade que<br />
queremos e de que precisamos.<br />
Estamos do avesso, e precisamos por isso de<br />
voltar à posição normal !<br />
Sem custos acrescidos, e sem grande teoriza‑<br />
ção em torno da crise, das suas causas e dos<br />
seus efeitos, podemos em grande parte con‑<br />
cluir que a crise será ultrapassada quando<br />
cada um de nós disser, mesmo que seja para<br />
si mesmo, que ... a culpa também foi sua ...
10<br />
FAzER NãO FAzER<br />
1. Comece alguma coisa: um blog, um site na internet, um<br />
grupo, qualquer coisa. A acção é o que conta, portanto aja,<br />
pois mesmo que não constitua um progresso significativo para<br />
o seu negócio, este passo vai pôr a bola a rolar. Experimente.<br />
2. Livre‑se de todas as suas dívidas. Isto é muito importante, não<br />
quererá ter dívidas quando estiver a iniciar o seu negócio, pois<br />
haverá muitas coisas com que se preocupar na sua empresa e<br />
pode ter necessidade de recorrer ocasionalmente ao seu cartão<br />
de crédito para apoiar o arranque. Portanto, a última coisa<br />
que vai querer é receber um telefonema do seu banco ou qual‑<br />
quer pedido de cobrança…<br />
3. Resolva um problema. Para descobrir qual vai ser o seu negó‑<br />
cio, observe os empresários no mercado e os seus serviços.<br />
Entreviste alguns clientes e identifique um problema ou qual‑<br />
quer questão relativamente aos produtos e serviços que já<br />
existem. Então, resolva‑o.<br />
4. “kiss – Keep It Simple, Stupid”. Não importa o que possa<br />
fazer, nada ultrapassa a simplicidade, seja um plano de negó‑<br />
cios, uma comunicação por email, ou qualquer coisa entre<br />
estas. Manter‑se simples torna‑o muito mais eficiente e irá<br />
poupar‑lhe muito tempo, dores de cabeça e até dinheiro.<br />
5. Relacione‑se em rede. Fale com toda a gente, fale‑lhes acerca<br />
da sua empresa quando lhe perguntam o que faz; rapida‑<br />
mente dominará a sua área de negócio e irá estar ligado com<br />
muitas pessoas. Nunca se sabe com quem se poderá cruzar<br />
no caminho…<br />
Regras de “Fazer & Não Fazer”<br />
para Aspirantes a Empresários<br />
1. Comprar mais um relatório sobre como ficar rico depressa<br />
por € 1,99, ou aquele programa de 6 dvd para obter a liber‑<br />
dade financeira por € 195,00, ou qualquer outro programa de<br />
como ficar rico de um dia para o outro… Teria mais hipóteses<br />
de ganhar a Roleta Russa.<br />
2. Esperar pelo momento perfeito é uma ilusão. Conte‑me<br />
alguma coisa que tenha feito no momento perfeito. O timing<br />
perfeito não existe, é agora ou nunca. Qual é a sua escolha?<br />
3. Contratar amigos, excepto se eles tiverem igual (se não mais<br />
ainda) entusiasmo e motivação para o negócio. Não é neces‑<br />
sário dizer mais nada.<br />
4. Tentar fazer tudo sozinho. Ninguém pode. Aprenda a arte da<br />
delegação e do outsourcing.<br />
5. Apaixonar‑se pela sua ideia. Isto é o mais importante pois não<br />
vai querer fechar os olhos à questão da viabilidade do negó‑<br />
cio. Um negócio, para ser lucrativo, tem que ter viabilidade e<br />
sustentabilidade.<br />
Devesh Dwivedi é um consultor de empresas bem sucedido em Nova Iorque.Foi o fundador do “Breaking the 9 to 5 Jail” (“Arrombar a jaula das 9H<br />
às 5H”), um grupo de apoio a aspirantes a empresários. Devesh gosta verdadeiramente de trabalhar com os elementos do grupo porque adora a energia,<br />
excitação, criatividade e entusiasmo que rodeiam o arranque de um negócio.<br />
No seu tempo livre, Devesh gosta de escrever no seu blog, cozinhar, viajar e jogar golfe (embora não necessariamente nesta ordem)…<br />
Para mais informações: ficamos ao seu dispor em info@cct.org.pt<br />
Traduzido por Fernanda Romero<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 41
1<br />
Internacionalização<br />
Um qualificado grupo de líderes empresariais<br />
comentava, há dias, num canal de televisão,<br />
as problemáticas da internacionalização e da<br />
cooperação envolvendo pme e mpe que cons‑<br />
tituem, como se sabe, o tipo de empresas<br />
esmagadoramente dominante, não apenas em<br />
Portugal mas em todo o mundo. E conclu‑<br />
íam que, quanto à internacionalização, será<br />
indispensável ganhar dimensão e, a respeito<br />
de cooperação, nada feito, antes que as men‑<br />
talidades mudem.<br />
COOPERAçãO ENTRE EMPRESAS<br />
NOTíCIAS RELACIONADAS<br />
e Dimensão<br />
42 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
Ambas as conclusões são verdadeiras a nosso<br />
ver. Mas pedimos licença para acrescentar que<br />
uma das formas de ganhar dimensão, a mais<br />
ajustada às pme e às mpe, é justamente através<br />
da cooperação. Toda a gente sabe que é possí‑<br />
vel ganhar no mercado a força, a notoriedade,<br />
que porventura faleça na fábrica. Conhecem‑<br />
se histórias edificantes de marcas de renome<br />
mundial resultantes de acordos de coopera‑<br />
ção. E não está demonstrado, de resto, que<br />
um brilhante gestor de uma pme seja capaz<br />
de gerir com igual acerto nas decisões, uma<br />
grande empresa. As pme e as mpe constituem<br />
realidades singulares que se não compaginam<br />
com comparações antropomórficas: não são<br />
como as crianças cujo desenvolvimento natu‑<br />
ral é crescer, tornarem‑se adultos.<br />
Quanto à mudança de mentalidades, con‑<br />
venhamos que por detrás desse problema há<br />
outro que é a causa de grande parte das nossas<br />
deficiências e dificuldades: a falta de instrução<br />
que é a fonte da insegurança que impede os<br />
responsáveis das pme e das mpe de se entende‑<br />
rem para encontrar melhores soluções para o<br />
desempenho de todas e de cada uma.<br />
<strong>É</strong> por estas e por outras que a instrução pública,
para utilizar uma expressão muito querida dos<br />
homens da Primeira República, tem de ser a<br />
prioridade das prioridades. Acabar com o anal‑<br />
fabetismo formal e funcional, trabalhar dura‑<br />
mente para acelerar a mudança, reconhecer as<br />
competências validadas e não ficar à espera do<br />
natural progresso resultante da dinâmica gera‑<br />
cional. Ele virá, certamente, mas tão tarde que<br />
praticamente nenhum dos cidadãos que por<br />
feliz acaso (meu) pousou os olhos neste texto<br />
poderá aproveitá‑lo. Com grande espírito de<br />
abnegação, disposto a muitos sacrifícios, com<br />
humildade democrática como agora é de uso<br />
dizer, modestamente, eu queria PROGRESSO<br />
JÁ ! E acho que não será muito pedir.<br />
2<br />
As<br />
Nestes últimos dias, a comunicação social<br />
destacou um facto de grande relevância inter‑<br />
nacional: 17 empresas produtores de<br />
telemóveis comprometeram‑se a tra‑<br />
balhar na produção de um carregador<br />
universal para telemóveis.<br />
Corresponderam deste modo ao desejo da<br />
Comissão da União Europeia que apontava<br />
como imperativo a defesa do ambiente decor‑<br />
rente da redução das emissões de CO2 com<br />
uma poupança de energia associada de cerca<br />
grandes empresas não<br />
têm medo da cooperação<br />
de 50% em relação aos gastos suportados<br />
actualmente.<br />
Como é evidente, esta decisão leva também a<br />
que o custo dos telemóveis possa baixar.<br />
As marcas envolvidas serão, para já, a<br />
Blackberry Storm, Motorola, Nokia, LG,<br />
Sony Ericsson, Samsung e Qualcomm.<br />
A uniformização das entradas de alimentação<br />
de todos os telefones, está prevista para 2012.<br />
Informação organizada por A. da Silveira<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 43
“Para as PME, o impacto do PQ7 é claramen‑<br />
te visível! Registamos um interesse e uma par‑<br />
ticipação nunca antes vista”, diz Imelda Lam‑<br />
bkin, do ponto de contacto nacional irlandês<br />
(PCN). Tanto mais encorajante quanto se<br />
sabe que as PME representa 99% das empre‑<br />
sas da União e fornecem cerca de 75 milhões<br />
de empregos. Para atingir os objectivos da Eu‑<br />
ropa do conhecimento, as PME constituem<br />
um viveiro incontornável.<br />
Na condição de que sejam ultrapassados os<br />
múltiplos obstáculos que marcam o caminho<br />
para os financiamentos dos programas‑quadro<br />
de pesquisa.<br />
No PQ7 colheram‑se lições do passado e<br />
adaptaram‑se tanto quanto possível os orça‑<br />
mentos e as condições de acesso às necessi‑<br />
dades das empresas. No pilar Cooperação, o<br />
co‑financiamento traduz‑se num aumento de<br />
COOPERAçãO<br />
COM ROSTO HUMANO<br />
Parece estarem a produzir os seus frutos as medidas específicas<br />
que no 7º Programa‑Quadro (PQ7) são destinadas às PME:<br />
participação acrescida, parcerias prometedoras, resultados e<br />
empregos muito concretos, além das evidências preliminares que<br />
encorajam o mundo das PME europeias e de todos os negócios<br />
que gravitam à volta delas.<br />
44 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
75% em relação PQ6 sendo que, pelo menos<br />
15% são reservados às PME.<br />
No terreno, contudo, a realidade é sobretudo<br />
humana. “As relações humanas são os facto‑<br />
res cruciais do sucesso e devem ser construí‑<br />
das muito antes da abertura dos períodos de<br />
candidaturas a estabelecer pela Comissão”,<br />
explica Constando Kostadinov, do PCN para<br />
as PME da Bulgária, engenheiro e professor<br />
de robótica que, conhece bem o mundo das<br />
PME por ter, ele próprio, criado vários spin‑<br />
offs”. “As PME devem estar activas nas redes<br />
internacionais de PME porque é lá que po‑<br />
dem encontrar eventuais futuros parceiros. As<br />
redes lançadas pela Comissão, como (EEN)<br />
Entreprise Europe Network que data de 2008<br />
ou ainda, no domínio da saúde, a iniciativa<br />
SMEs go Health (PME para a Saúde), são ou‑<br />
tras tantas oportunidades a agarrar. Mas isto<br />
não é suficiente. A R&D des PME (A I &<br />
D Investigação e Desenvolvimento das PME)<br />
deve articular‑se estreitamente com a pesquisa<br />
académica para oferecer um potencial de ino‑<br />
vação importante” Imelda Lambkin lembra<br />
que “na Irlanda e noutros países também, as<br />
PME que participam com sucesso nos con‑<br />
cursos são muitas vezes spin‑offs saídas dos<br />
laboratórios académicos, com fortes laços<br />
entre investigadores do privado e os das uni‑<br />
versidades”.<br />
Patrões<br />
visionários<br />
Para Michel Ganoote, do PNC francês, “a<br />
participação no financiamento europeu exige
da parte dos chefes de empresa que tenham<br />
uma visão estratégica, que se coloquem numa<br />
lógica de excelência e de colaboração, que<br />
escolham cuidadosamente os parceiros e con‑<br />
sagrem muito do seu tempo ao projecto …<br />
Quer dizer que será preferível considerar a sua<br />
participação como um investimento a médio<br />
ou longo prazo.”<br />
A competição é rude e daí a importância de<br />
saber como fazer boas escolhas relativamen‑<br />
te a quem o rodeia. “A Comissão Europeia<br />
criou e implementou várias redes e bases de<br />
conhecimentos que as PME têm interesse em<br />
explorar ao máximo, mas os parceiros mais<br />
experimentados que já conseguiram obter um<br />
financiamento europeu, constituem também<br />
uma fonte de informações preciosa”, conti‑<br />
nua Michel Ganoote. “E não deve hesitar‑se<br />
em recorrer a consultores especializados que<br />
dominam os processos, conhecem o calão e<br />
podem redigir o dossier convosco.”<br />
Pontos de ligação<br />
Mas por onde começar? Pelo lado da aju‑<br />
da em linha, a Comissão oferece um portal<br />
dedicado às PME. Trata‑se do serviço SME<br />
TechWeb, que guia os seus primeiros passos<br />
nas estruturas dos financiamentos europeias.<br />
Mas nada substitui o contacto humano: um<br />
dos actores‑chave na participação das PME<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 45
é o circuito PCN, das estruturas nacionais<br />
estabelecidas e financiadas pelos 27 Estados<br />
membros e pelos Estados associados ao pro‑<br />
grama‑quadro. As pessoas que aí trabalham<br />
são o interface e os interlocutores de qualquer<br />
PME que tenha a intenção de participar num<br />
projecto transnacional. A organização varia de<br />
um país para outro mas a missão é a mesma:<br />
oferecer um apoio personalizado imediato na<br />
língua materna dos candidatos. Os pontos de<br />
contacto nacionais (PCN) propõem, de uma<br />
forma proactiva, uma orientação, informações<br />
práticas e de ajuda sobre todos os aspectos<br />
respeitantes à participação no PC7. “Quando<br />
nós próprios não podemos oferecer um apoio<br />
personalizado, podemos estabelecer uma liga‑<br />
ção entre a PME e uma estrutura local mais<br />
próxima, por exemplo,<br />
Uma agência de transferência de inovação.<br />
Através dos contactos de que dispomos entre<br />
PCN nós funcionamos também como relais<br />
entre países, precisa Kostadin Kostadinov.<br />
Michel Ganoote bate‑se, de resto por uma<br />
formação acrescida e mais bem integrada dos<br />
PCN. “ Devemos ao mesmo tempo integrar<br />
as possibilidades de financiamento nacionais<br />
que são acessíveis às PME, coordenarmo‑nos<br />
melhor com os outros PCN à escala europeia,<br />
falar melhor da Europa às PME e das PME à<br />
Europa”.<br />
Imelda Lambkin também reconhece que as<br />
PME têm necessidade de mais assistência do<br />
que outros tipos de parceiros. Idealmente de‑<br />
veríamos poder indicar‑lhes o melhor finan‑<br />
ciamento para o seu projecto explorando e às<br />
vezes combinando os fundos europeus e os<br />
fundos nacionais. Experimentamos utilizar<br />
da melhor maneira toda a informação que foi<br />
recolhida, às vezes durante vários meses para<br />
a montagem de um projecto, em especial se o<br />
pedido de fundos falha.” Sublinha‑se a qua‑<br />
lidade das avaliações dos dossiers efectuada<br />
pelos especialistas da Comissão. São sempre<br />
explicadas e argumentadas o que permite ao<br />
consórcio, se for esse o caso, refazer os pontos<br />
fracos do seu dossier para o apresentar a quan‑<br />
46 | PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09<br />
do da abertura de novo período de candidatu‑<br />
ras”, como refere Michel Ganoote.<br />
Que benefícios<br />
para as PME?<br />
Para uma PME inovadora, o acesso a um fi‑<br />
nanciamento europeu traduz‑se em muito<br />
mais do que uma contribuição financeira.<br />
“ O apoio europeu é um reconhecimento a<br />
nível internacional. Isso significa que a PME<br />
triunfou numa competição muito severa”, re‑<br />
corda Kostadin Kostadinov.” Uma verdadeira<br />
marca de garantia, “que é necessário valorizar<br />
ao máximo”, assinala Michel Ganoote. “Par‑<br />
ticularmente junto das agências de inovação<br />
nacionais e regionais para que o financiamen‑<br />
to europeu possa ser completado por outras<br />
ajudas disponíveis”. Para lá do financiamento<br />
das suas actividades, “os projectos europeus<br />
representam também uma oportunidade para<br />
as PME trabalharem com grandes parceiros<br />
como as multinacionais, sublinha Imelda<br />
Lambkin. “ Possibilidade que não é forçoso<br />
verificar‑se fora deste contexto. Ora, em cer‑<br />
tos domínios como a aeronáutica, as cola‑<br />
borações deste tipo são pura e simplesmente<br />
indispensáveis”.<br />
A limitação dos meios disponíveis força evi‑<br />
dentemente a escolhas espinhosas de uma<br />
quantidade enorme de bons projectos acaba<br />
por ser rejeitada. Segundo a opinião dos ac‑<br />
tores no terreno, subsiste, apesar disso, um<br />
importante potencial de inovação que a Euro‑<br />
pa podia explorar recorrendo a instrumentos<br />
específicos como os projectos nacionais e re‑<br />
gionais ERA‑NET, complementares do PQ7,<br />
se não quiser passar ao lado da riqueza que as<br />
PME contêm.<br />
Kirstine de Caritat<br />
In Research∗eu<br />
Nº 61 – Julho 2009<br />
Tradução de A. da Silveira
VALE A PENA RECORDAR<br />
Augusto Mateus<br />
Professor catedrático convidado do ISEG.<br />
Na 2ª Conferência do FIEP, Fevereiro de 2000.<br />
“… Vejamos apenas alguns números:<br />
Nos últimos 40 anos, a produção mundial aumentou 6 vezes, o co‑<br />
mércio 18 vezes e os movimentos de capitais 27 vezes, tudo números<br />
divisíveis por 3, que nos dão uma boa ideia do que é a integração em<br />
profundidade que temos vindo a viver; se compararmos os ritmos da fase<br />
mais recente com os das fases anteriores, verificamos que a aceleração é<br />
brutal, ou seja, e tomando por exemplo a diferença entre produção e<br />
comércio, passa‑se de 1,7 vezes entre 1950 e 1980 para 5,2 vezes entre<br />
1980 e 1997.<br />
Quais são as grandes características dessa nova economia?<br />
Vítor Santos<br />
Secretário de Estado da Indústria e das<br />
Energias.<br />
Na 2ª Conferência do FIEP, Fevereiro de 2000.<br />
“…<br />
Há uma preocupação crescente das nossas empresas de apostarem cada vez<br />
mais na extensão da cadeia de valor (distribuição, etc.);<br />
Há também, por razões várias, uma aposta cada vez mais decisiva na co‑<br />
operação, não apenas determinadas pelo desenvolvimento das políticas pú‑<br />
blicas orientadas para o estímulo à cooperação – tanto mais quanto muitas<br />
vezes os casamenteiros não são devidamente eficazes – acredito mais que o<br />
estímulo à cooperação e o aparecimento progressivo e crescimento intensivo<br />
de uma prática empresarial que aposta cada vez mais na cooperação tem<br />
sobretudo a ver com as mutações que tem acontecido ao nível dos aspectos<br />
que são cada vez mais decisivos na formulação das estratégias empresa‑<br />
riais; e acredito que, para além de determinantes políticas e sociológicas,<br />
No meu entender e fundamentalmente, releva a morte da economia<br />
de oferta e o nascimento da economia de procura, Por outras palavras,<br />
o facto de a economia deixar de ser basicamente algo demasiadamente<br />
materializado, algo associado a decisões sobre capacidades e sobre di‑<br />
mensões, algo que nasce nos recursos, nas matérias‑primas ou na dispo‑<br />
sição desta ou daquela tecnologia, para passar a nascer hoje da identifi‑<br />
cação de necessidades e do modo como elas podem ser satisfeitas.<br />
Desse ponto de vista, impôs‑se um paradigma, de que podemos gostar ou<br />
não mas que é determinante do ponto de vista da competitividade, a sa‑<br />
ber: melhor, mais rápido, a mais baixo custo. Isto é, qualquer empresa,<br />
em qualquer parte do mundo, para ser uma realidade duradoura, tem<br />
que perceber que ou funciona desta maneira, independentemente de ser<br />
óbvio existirem inúmeras interpretações dentro desta visão global, ou di‑<br />
ficilmente conseguirá afirmar‑se; a empresa tem de ser a melhor, a mais<br />
rápida a chegar ao mercado, a de mais baixo custo a conseguir faze‑lo.”<br />
há motivações económicas que têm basicamente a ver com a passagem de<br />
estratégias empresariais ancoradas na competitividade‑custo para estratégias<br />
ancoradas em factores de natureza mais horizontal, ou seja, aqueles que<br />
podíamos designar de factores dinâmicos de competitividade e que apelam<br />
cada vez mais à cooperação; a cooperação passa a ser, nesse contexto, um<br />
factor imprescindível;<br />
Também me parece que é cada vez maior o número de empresas que não<br />
perspectivam o ambiente como um sobrecusto, mas que o procuram utilizar<br />
como um elemento de marketing, como um factor que pode constituir um<br />
benefício líquido para a empresa e ter reflexos positivos nas suas receitas e<br />
na sua rendibilidade;<br />
Finalmente, e não menos importante e entrando directamente no tema que<br />
aqui nos trouxe hoje, penso que se vai impondo o reconhecimento de que,<br />
por parte das nossas empresas, a internacionalização é um instrumento, e<br />
também uma pré‑condição, para garantir a competitividade sustentada das<br />
empresas portuguesas.”<br />
PIRÂMIDES&OBELISCOS | JUNHO 09 | 47