Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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98 Tor Sellström embustes, que os agentes do inimigo poderão usar, oferecendo bebidas, convidando para festas diplomáticas ou dando subornos baratos. 84 Ao mesmo tempo, o racismo contra os brancos, acicatado pelo Padre Gwenjere, e umas vezes mais e outras menos, apoiado pelos membros do governo de Nyerere 85 , levou à expulsão imediata da Tanzânia de três moçambicanos brancos, membros da FRELIMO, e de Birgitta Karlström, uma jovem voluntária sueca junto do Instituto Moçambicano. Entre os moçambicanos a quem, a 27 de Maio de 1968, foram dadas 48 horas para deixar o país contava-se o Dr. Helder Martins, responsável pelos serviços médicos da FRELIMO na Tanzânia e que viria a ser Ministro da Saúde de Moçambique depois da independência. Outro foi o futuro membro do Bureau Político da FRELIMO, Ministro da Segurança, Assuntos Económicos e Cooperação, Jacinto Veloso que, como tenente, desertou de forma espectacular da Força Aérea portuguesa ao pilotar o seu aparelho para a Tanzânia em 1963. 86 Foi a expulsão de Karlström que atraiu a atenção dos grandes jornais suecos, dando nota de que a motivação para uma acção tão inusitada não era clara. 87 O presidente da FRELIMO e a Embaixada da Suécia em Dar es Salaam tentaram obter esclarecimentos quanto às razões e anular a decisão, em debates com o governo tanzaniano. 88 As autoridades da emigração faziam alusão a uma instrução do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o vice presidente Rashidi Kawawa explicou que Karlström não tinha um visto de trabalho válido. 89 Segundo Mondlane, a verdadeira razão da expulsão foi o facto de ter uma relação muito próxima com um dos moçambicanos expulsos. 90 Apesar de a decisão de expulsar Karlström e os três professores moçambicanos brancos ter sido vista inicialmente como uma posição oficial tanzaniana a favor dos estudantes 84.
Os Mondlane e a FRELIMO de Moçambique dissidentes, 91 os acontecimentos que se seguiram mostraram que o Instituto Moçambicano continuava a desfrutar do apoio do governo anfitrião. Uma comissão de inquérito rejeitou as alegações de Gwenjere e dos estudantes dissidentes como ”injustificadas” 92 e o presidente Nyerere deixou claro que desejava que as actividades do instituto prosseguissem. 93 Apesar disso, por forma a exercer um controlo mais apertado sobre o instituto, inicialmente constituído como uma fundação privada, o governo solicitou que se estreitassem os vínculos com o Ministério tanzaniano da Educação. A questão ficou resolvida em meados de 1968. Ao mesmo tempo que o Comité Central da FRELIMO declarava formalmente que o Instituto fazia parte integrante do movimento de libertação, a escola secundária foi oficialmente registada como uma instituição sob a jurisdição do governo da Tanzânia. 94 Uma carência de professores, provocada pelas expulsões de 1968, pelo assassinato de Eduardo Mondlane e pela posterior crise na FRELIMO levaria, contudo, a que se registassem atrasos significativos na reabertura da escola secundária e no reinício da ajuda oficial sueca. Para além disso, o facto de o representante oficial da FRELIMO na Suécia, Lourenço Mutaca, nomeado pessoalmente por Eduardo Mondlane e que dispunha de uma forte base na Suécia, ter deixado repentinamente o movimento no início de 1970 deu azo a dúvidas quanto à situação da organização. Por fim, ao fim de dois anos e meio, a escola secundária do Instituto Moçambicano reabriu em Bagamoyo, nos finais de Outubro de 1970. A reabertura tinha sido bem preparada por Janet Mondlane e seu staff. 95 A ajuda do governo sueco, incluindo a substituição dos dois professores de ciências 96 recomeçou pouco tempo depois, mas agora integrada num programa de ajuda humanitária mais global e directamente vocacionado para o movimento de libertação. Por volta dessa data já as campanhas de angariação de fundos (com uma base geográfica muito dilatada), realizadas por estudantes do ensino secundário e superior suecos, tinham feito do Instituto Moçambicano e da FRELIMO nomes perfeitamente do domínio público na Suécia. Apoio através da Igreja Metodista de Moçambique Antes de nos debruçarmos sobre as campanhas da juventude e dos estudantes suecos, deve notar-se que uma das igrejas livres da Suécia, a Igreja Metodista Unida da Suécia, canalizou apoio oficial sueco, a partir da segunda metade dos anos sessenta, para um programa de ensino secundário para estudantes negros do interior de Moçambique. A ajuda humanitária oficial sueca à África Austral começou em meados dos anos sessenta em forma de apoio à educação dos jovens africanos no exílio. Com a excepção 91. ”Promemoria” do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 10 de Junho de 1968. 92. Ibid. 93. Ibid. A crise do Instituto Moçambicano centrou-se na escola secundária de Dar es Salaam, afectando pouco e indirectamente as restantes actividades do Instituto. 94. Carta de Eduardo Mondlane a Lourenço Mutaca, Dar es Salaam, 21 de Junho de 1968 (AHM). 95. Houve quem, na altura, questionasse o papel desempenhado por Janet Mondlane, entre os funcionários do governo sueco e no movimento de solidariedade. Mas tal já não foi o caso no interior da FRELIMO. Em meados dos anos setenta, o Comité Central da FRELlMO deu especial atenção às actividades do Instituto Moçambicano, ”elogiando os seus responsáveis pelo importante trabalho levado a cabo no sentido de angariar verbas e garantir assistência técnica para os nossos programas nos campos da saúde, educação, assuntos sociais, informação e desenvolvimento” (A Voz da Revolução, Julho de 1970, p. 7). O órgão oficial da FRELlMO, A Voz da Revolução era sobretudo distribuído em Moçambique. 96. Bo e Ulla Hammarström (carta (”Descrição de tarefas de Bosse e Ulla Hammarström”) de Gabriel Simbine, Reitor do Instituto Moçambicano, à ASDI, Dar es Salaam, 11 de Dezembro de 1969) (SDA). 99
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Tor Sellström<br />
embustes, que os agentes do inimigo poderão usar, oferecendo bebidas, c<strong>on</strong>vidando para festas<br />
diplomáticas ou dando subornos baratos. 84<br />
Ao mesmo tempo, o racismo c<strong>on</strong>tra os brancos, acicatado pelo Padre Gwenjere, e umas<br />
vezes mais e outras menos, apoiado pelos membros do governo de Nyerere 85 , levou à<br />
expulsão imediata da Tanzânia de três moçambicanos brancos, membros da FRELIMO,<br />
e de Birgitta Karlström, uma jovem voluntária sueca junto do Instituto Moçambicano.<br />
Entre os moçambicanos a quem, a 27 de Maio de 1968, foram dadas 48 horas para<br />
deixar o país c<strong>on</strong>tava-se o Dr. Helder Martins, resp<strong>on</strong>sável pelos serviços médicos da<br />
FRELIMO na Tanzânia e que viria a ser Ministro da Saúde de Moçambique depois da<br />
independência. Outro foi o futuro membro do Bureau Político da FRELIMO, Ministro<br />
da Segurança, Assuntos Ec<strong>on</strong>ómicos e Cooperação, Jacinto Veloso que, como tenente,<br />
desertou de forma espectacular da Força Aérea portuguesa ao pilotar o seu aparelho para<br />
a Tanzânia em 1963. 86<br />
Foi a expulsão de Karlström que atraiu a atenção dos grandes jornais suecos, dando<br />
nota de que a motivação para uma acção tão inusitada não era clara. 87 O presidente da<br />
FRELIMO e a Embaixada da Suécia em Dar es Salaam tentaram obter esclarecimentos<br />
quanto às razões e anular a decisão, em debates com o governo tanzaniano. 88 As autoridades<br />
da emigração faziam alusão a uma instrução do Ministério dos Negócios Estrangeiros,<br />
o vice presidente Rashidi Kawawa explicou que Karlström não tinha um visto de<br />
trabalho válido. 89 Segundo M<strong>on</strong>dlane, a verdadeira razão da expulsão foi o facto de ter<br />
uma relação muito próxima com um dos moçambicanos expulsos. 90<br />
Apesar de a decisão de expulsar Karlström e os três professores moçambicanos brancos<br />
ter sido vista inicialmente como uma posição oficial tanzaniana a favor dos estudantes<br />
84. <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Nati<strong>on</strong>alist, 28 de Maio de 1968.<br />
85. Entrevistada em 1996, Janet M<strong>on</strong>dlane disse que ”muitas coisas estranhas foram ditas sobre mim por alguns<br />
membros da FRELIMO aliados a alguns membros do governo tanzaniano. Isso complicou-me muito a vida” (entrevista<br />
com Janet M<strong>on</strong>dlane, p. 41).<br />
86. O terceiro ”assim-chamado” português, nascido em Moçambique, a ser expulso foi Fernando Ganhão que,<br />
anteriormente, tinha desertado de um batalhão português colocado em Moçambique e que tinha sido representante<br />
do c<strong>on</strong>selho de professores do Instituto Moçambicano.<br />
87. Por exemplo, no Svenska Dagbladet, 2 e 5 de Junho de 1968 e no Dagens Nyheter (”Utvisad ur Tanzania utan att<br />
veta orsaken”/”Expulsa da Tanzânia sem saber porquê”), 5 de Junho de 1968.<br />
88. ”Promemoria” (”Memorando”) do Ministério dos Negócios Estrangeiros (com base em comunicações com a<br />
Embaixada da Suécia em Dar es Salaam) para Ernst Michanek, ASDI, Estocolmo, 10 de Junho de 1968 (SDA).<br />
89. Ibid.<br />
90. Ibid. Jacinto Veloso e Birgitta Karlström eram amigos íntimos. Veloso também tinha travado amizade com o<br />
jornalista sueco Anders Johanss<strong>on</strong>, devido à sua visita à Tanzânia e às z<strong>on</strong>as libertadas no norte de Moçambique em<br />
princípios de 1968. Estabelecido em Argel depois da sua expulsão da Tanzânia, Veloso manteve-se nos anos que se<br />
seguiram em c<strong>on</strong>tacto próximo com Karlström e Johanss<strong>on</strong>, tentando por seu intermédio obter uma bolsa para ir<br />
estudar para a Suécia. Aviador militar experiente, começou por manifestar v<strong>on</strong>tade de estudar para obter uma licença<br />
de piloto comercial (Carta de Jacinto Veloso a Anders Johanss<strong>on</strong>, Argel, 31 de Janeiro 1969) (AJC). Veloso participava<br />
empenhadamente no trabalho político da FRELIMO, mas mudou mais tarde de ideias e optou por fazer uma<br />
formação como produtor de documentários. Depois de uma visita privada à Suécia em meados de 1969, <strong>on</strong>de ”os<br />
campos me trouxeram à memória as savanas africanas”, Veloso escreveu a Johanss<strong>on</strong>, informando-o de que a ASDI<br />
e a IUEF tinham recusado o seu pedido de bolsa, mas que ”os noruegueses” estavam pr<strong>on</strong>tos a dar-lhe apoio (carta<br />
de Jacinto Veloso a Anders Johanss<strong>on</strong>, Argel, 3 de Outubro de 1969). (AJC) Johanss<strong>on</strong> escreveu depois uma carta,<br />
em nome de Veloso, ao director da escola de cinema Dramatiska Institutet de Estocolmo, mas Veloso nunca foi aceite<br />
como aluno e os seus planos cinematográficos acabaram, com relutância, por ser aband<strong>on</strong>ados. Em Abril de 1970, o<br />
futuro líder das negociaçoes entre Moçambique e a África do Sul para o Acordo de Nkomati em 1984 e também com<br />
os americanos para a questão de Angola e da Namíbia, escreveu a Johanss<strong>on</strong> dizendo: ”É um choque terrível para<br />
mim! Estou permanentemente deprimido!. .. Isto vai acabar por me matar! É uma sensação de impotência perante a<br />
’maquinaria política’!” (carta de Jacinto Veloso a Anders Johanss<strong>on</strong>, Argel, 12 de Abril 1970) (AJC).